A AUTORIDADE É UMA CIÊNCIA

Imagem relacionadaPor que se pode dizer que a autoridade é uma ciência?

Porque o exercício do direito e o cumprimento do dever da autoridade exigem o conhecimento (a ciência) e o respeito dum certo número de princípios. Uns são remotos, outros imediatos: examiná-lo-emos sucessivamente.

Os princípios remotos

Quais são os princípios remotos a que está ligada a autoridade?

São cinco:

1º – É preciso começar a exercê-la muito cedo.

2º – É preciso que os pais sejam os primeiros a respeitar a fonte de toda a autoridade: Deus.

3º – É preciso que os pais apoiem a sua autoridade em Deus.

4º – É preciso que os pais mostrem em tudo um procedimento digno e nobre.

5º – É preciso que os pais evitem tudo que os possa colocar no mesmo pé de igualdade os filhos.

1º – É preciso começar muito cedo

Curva a cabeça de teu filho na sua mocidade” (Eccli)

Por que é preciso que os pais afirmem muito cedo a sua autoridade?

Por que a experiência ensina que “se a criança não for dominada dos três aos quatro anos, é quase certo que nunca o será.”

(F. Nicolay, As crianças mal educadas, p. 140)

Que sucederá se os pais se descuidarem na afirmação da sua autoridade logo nos primeiros anos dos filhos?

A criança cresce: a sua independência desenvolve-se com ela; as insubmissões são frequentes; tornam-se escandalosas; a sua arrogância é uma vergonha; os pais abrem enfim os olhos; decidem-se a reagir.

É muito tarde.

Se o pai e a mãe quiserem usar de rigor, encontram em face deles uma tal obstinação de resistência, que, com receio das conseqüências, renunciam à luta. Se os pais, apesar de tudo, querem impor-se pela força, a criança irrita-se, revolta-se interiormente, procura a causa daquela mudança de atitude, maldiz o lar onde o castigam, depois de a terem estragado: não aceita, nunca aceitará a autoridade.

2º – É preciso que os pais respeitem a fonte de toda a autoridade: Deus

Que todo o homem seja submisso às autoridades superiores, porque não há poder que não venha de Deus” (S. Paulo, Rom, XIII, 1.)

Por que é preciso que os pais respeitem a autoridade?

Porque a autoridade é uma: não há a autoridade deste, a autoridade daquele; há simplesmente a autoridade; e tudo o que a ofender, seja neste ou naquele superior, enfraquece-a em todos os outros.

E depois, a criança, já tivemos ocasião de o fazer notar, é duma lógica implacável: não se submeterá por muito tempo à autoridade dos pais, se eles, pais, não se submeterem à autoridade de Deus.

A autoridade não impõe o seu direito, quando aqueles que a exercem vivem duma maneira diferente da que recomendam aos outros.” (Sto. Agostinho).

3º – É preciso que os pais apoiem a sua autoridade em Deus

“Se o Senhor não edifica a casa, é em vão que trabalham aqueles que a construem” (Ps. CXXVI)

Por que devem os pais apoiar a sua autoridade em Deus?

Porque Deus é a única base lógica, imutável e durável da autoridade.

Como farão os pais para convencer a criança da verdade deste ponto de apoio?

Evitarão, no exercício da sua autoridade, toda a consideração egoísta ou apaixonada; inspirados sempre na idéia do dever, manifestarão por ele um apreço profundo e afetivo.

4º – É preciso que os pais mostrem em tudo um procedimento digno e nobre

Por que devem os pais mostrar um procedimento digno e nobre?

1º – Porque o exercício da autoridade é fácil, quando aqueles que são depositários dela merecem estima. Ora, a estima só se obtém pela nobreza, dignidade e virtude.

Um domínio de si mesmo, uma firmeza sempre calma, uma atitude virtuosa elevam os pais aos olhos dos filhos, atraem a estima e afirmam a autoridade. Dom Bosco, de Turim, dirigia em passeio e durante um dia, 300 prisioneiros. (J.B.Francesia, Vida de Bom Bosco, p. 158)

2º – Pelo contrário, tudo o que rebaixa o homem, como as palavras grosseiras, as pragas, o excesso na bebida, os acessos de cólera, etc., são como pequenos escândalos, que fatalmente deprimem a autoridade de quem os dá.

Não há faltas que prejudicam mais gravemente a autoridade dos pais?

Podemos apresentar, como principais, a mentira e as preferências.

Quais são as formas de mentira, em geral mais abundantes na educação?

1º – Fazerem-se falsas promessas;

2º – Iludir-se a boa fé;

3º – Servir-se de flagrantes contradições da verdade.

(Nicolay, ob. cit., p. 98 e seg.)

Em que consistem as falsas promessas?

Consistem em explorar os desejos conhecidos ou supostos da criança, prometendo satisfazer-lhos, se obedecerem; e, obtido o resultado, esquecer, como por encanto, as promessas feitas… A criança deixa-se levar, porque é naturalmente confiante, acaba por se convencer de que zombam dela e abusam da sua credulidade.

Qual é o resultado destas verificações?

1º – A criança é obrigada a pensar que a mentira não é uma falta, porque a sua mãe a emprega a cada momento.

2º – Depois, um belo dia, mais desconfiada, porque a enganam sempre, deseja ver o que lhe prometem, ou então, escandalizada, revolta-se e grita:

Há quantos anos que me andam sempre a prometer recompensas que eu nunca vejo… Para troça, já basta!

Nada mais insolente, nada mais justo!

Como se ilude a boa fé da criança?

Servindo-nos da sua confissão, para obter a sua docilidade, e voltando contra ela própria o ato de boa vontade que praticou.

Porque fizeste isto muito bem, vou-te levar ao cinema.

E leva-se ao dentista!

Dá-me o teu comboio, e verás como o faço manobrar.

– Agora, não o tornas mais a ver!

Não há ainda uma coisa pior?

É a de servir-se de flagrantes contradições de verdade.

Trata-se, por exemplo, e fazer tomar uma poção desagradável.

Oh! não imaginas como isto é bom, diz a mãe, fazendo menção de provar.

A criança iludida, pega no remédio, e verifica imediatamente que a queriam obrigar a tomar uma beberagem de mau gosto… Enganaram-na: nunca se há de esquecer.

Se toma o remédio, é pior ainda, porque à humilhação de ter sido vítima dum logro, junta-se a indignação de ter sido enganada, e a ofensa do amor próprio produz, quase sempre, a raiva e o desejo de vingança.

Quais são as conseqüências que derivam destes métodos de engano odioso?

1º – Os pais rebaixaram-se a si próprios, desempenhando o papel de mentirosos.

2º- Educaram  às avessas, ensinando com gravidade a arte de enganar.

3º – Destruíram, para todo o sempre, a confiança na alma de seus filhos.

São frequentes as preferências?

Sim, infelizmente.

Algumas apoiam-se na semelhança física; sente-se naturalmente uma simpatia mais profunda por aqueles que apresentam as mesmas feições.

Outras derivam das qualidades exteriores de graça, de amabilidade e de inteligência. Um certo encanto nos liga mais fortemente àqueles cuja viveza adula o amor próprio, e faz conceber as mais belas esperanças.

Como se manifestam as preferências?

O preferido tem naturalmente mais preponderância; é mais acarinhado que seus irmãos e irmãs; poupam-no a trabalhos pesados; satisfazem-lhe os seus desejos; os próprios defeitos são considerados como virtudes, ou, pelo menos, tolerados; apontam-no como modelo, sem muitas vezes o merecer; e, atendendo a esta imaginária perfeição, a mãe declara bem alto que gosta mais dele que de todos os outros.

Vê o teu irmão, olha como ele é bonito que obedece depressa, como se porta bem… É por isso que eu gosto mais dele do que de ti. E tu bem o deves saber

Quais são os estragos causados por esta violência?

O preferido é uma criança cheia de mimos; torna-se orgulhoso, soberbo, cheio de caprichos, preguiçoso, impossível de aturar, sensual e transviado…

Os outros são quase necessariamente invejosos e odientos. O espírito deles torna-se sombrio, e o coração azeda-se-lhes e torna-se insensível porque é assaltado pela amargura e, frequentemente, pelo ódio.

Sim, pelo ódio.

Recordai-vos da história de José, pais e mães imprudentes: foi para vós que essa história se escreveu.

5º – É preciso que os pais evitem tudo o que os coloca no mesmo pé de igualdade com seus filhos

As crianças devem ter por amigos os companheiros, e não os pais e as mães

(Jaubert, pensamentos)

Por que se faz esta recomendação?

Porque a igualdade exclui a autoridade.

As liberdades na linguagem, as familiaridades no tratamento, um à-vontade nos divertimentos, diminuem as distâncias, produzem uma impressão de igualdade e prejudicam a autoridade.

Adulai o vosso filho, e ele causar-vos-á grandes desgostos; brincai com ele e ficareis contristados. Não vos divirtais a rir com ele: tende receio de que daí venha uma dor, e tenhais, por fim, que arrepender-vos.” (Eccli, XXX,9-10)

Não é também a opinião dos pensadores de todos os séculos?

Ouçamos Platão:

Quando no interior das famílias domina a igualdade insolente, tudo, até os seus animais, parece respirarem anarquia. O pai teme e respeita seu filho, e o filho em breve trata o pai como a um igual. Já não tem pelos autores dos seus dias nem respeito nem temor; quer poder dizer em todos os casos: sou livre.”

E de Bonald:

Afetos já fora da influência da razão, e uma educação doméstica mole e sem dignidade tomaram o lugar das relações de autoridade e submissão entre os pais e os filhos, das quais a geração passada viu na sua mocidade os últimos vestígios. Crianças que tinham no seu espírito idéias de igualdade com seus pais, e no coração sentimentos de insubordinação contra as suas vontades, praticavam o abuso de os tratar por tu, maneira de falar que, na nossa língua, exprime consciência da sua fraqueza, não ousavam dominar os filhos pela sua autoridade, aspirando tão somente a serem os seus amigos, confidentes e, muitas vezes, os seus cúmplices. Havia em França pais, mães, filhos, mas faltava a autoridade na família, e a sociedade política foi abalada até aos alicerces.”

Catecismo da educação – Abade René de Bethléem