A MULHER FORTE E A VIGILÂNCIA NO LAR

mulherConsideravit semitas domus suae,et panem otiosa non comedit.Surrexerunt filie jus et beatissimam praedicaverunt; vir ejus et laudavit eam.

Considerou os corredores de sua casa e não comeu o pão na ociosidade; seus filhos levantaram-se e proclamaram-na feliz; seu marido levantou-se também e cantou-lhe os louvores.

(Prov., XXXI, 27-28)

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Uma força misturada de graças, uma dignidade cheia de encantos, são o vestuário da mulher forte. A sua beleza é pedida à alma, impõe respeito e inspira nobres e generosos sentimentos. Nada de lânguido, de afeminado e sensual; é a virtude que se pinta em seus órgãos, e que atrai para elevar mais alto. Ela também não conhece os amargos pesares que se reservam as mulheres, cuja beleza frívola foi a causa de deploráveis desvios.

A sua velhice é cercada de respeito e de afeição, e tem nos lábios, sobre o leito de morte o sorriso da alma predestinada: Et ridebit in die novissimo.

O Espírito Santo ajunta: – “Abriu a boca à sabedoria, e a lei da clemência está em seus lábios.”

Tiramos deste texto vários conselhos relativos à conversação, à oportunidade do discurso, e recomendamos, com instância, a sobriedade e a sabedoria nas palavras: máxima sempre repetida, é, no entanto, quase sempre esquecida na prática.

Afinal, senhoras, fostes apresentadas como rainhas da clemência, tendo na família o papel e as palavras da doçura e da ternura, votando pelas medidas pacíficas, fazendo inclinar o prato da justiça para o lado do perdão, e nas relações com a generalidade dos homens, inclinando-o para o lado da benevolência, que desculpa e justifica.

Sigamos hoje o nosso caminho que em breve será terminado.

“A mulher forte considerou os corredores de sua casa, e não comeu o seu pão na ociosidade; seus filhos levantaram-se e proclamaram-na feliz; seu marido levantou-se também e cantou-lhe os louvores.”

“Considerou os corredores de sua casa: Consideravit semitas domus suae.”

Já o dissemos muitas vezes: – a guarda da casa, pertence especialmente à mulher: ao homem, os negócios externos, as grandes empresas, as excursões longínquas. A mulher, semelhante à mãe dos passarinhos, fica no ninho da família, chocando tudo com o seu amor e com a sua ativa previdência. Nada lhe escapa; e se Deus lhe deu o sentido “advinhador”, que presente as coisas, se é dotada de rara perpiscácia, para entrever e suspeitar o que se quer afastar da sua vista, é então que ela tem uma missão providencial, qual a de guardar o interior da sua família, de a preservar do perigo, alimentando-lhe sempre uma vida cheia de confiança: – Sicut vir publicis officiis, ita mulier domesticis ministeriis habilior destimatur.
(Santo Ambrósio. De Parad., nº 50).

Feliz a família que repousa assim no coração de uma mulher piedosa!

Feliz o ninho em que as asas maternais se estendem para aquecer, ou voam ao redor dele, para se certificarem se nada há a recear pela ventura dos seus filhos!

A família pode repetir com a tranquilidade da confiança, a frase do Profeta: – “Morrerei no meu ninho de amor, e todavia multiplicarei os meus dias, como os da palmeira: In nidulo meo moriar” (Job. XXIX,18).

Tendes praticado este conselho do sábio?

Tendes considerado bem os corredores de vossa casa?
Sabeis por quem são frequentados e quais as suas desembocaduras?

Entremos, se quereis, nalgumas minuciosidades.

Tendes criados: sabeis bem quem eles são?

Estais suficientemente ao fato da sua moralidade, probidade e discrição?

Sabeis quais são as pessoas com quem convivem, e quais as que introduzem em casa? tendes, sobre a sua conduta, dados suficientes para vos certificardes? Não vos contentais com esses quases, que têm, ordinariamente, por conclusão, as mais deploráveis consequências?

Longe estou de querer transformar-vos em inspetoras oficiais, com a aspereza das posições e das palavras que se censuram na vigilância pedagógica: é necessário uma vigilância ativa, porém cheia de bondade; possuir o talento de ver sem espionagem; de inspecionar do modo mais natural e sem afetação.

Nestas condições, a fiscalização de uma dona de casa não pesa como um sonho horrível, aceita-se sem dificuldade, ainda mesmo que se receie, e compreende-se-lhe a necessidade, ainda que se procure fugir a ela.

A vigilância quotidiana e de quase todos os instantes, é exercida por vós, a respeito do que tendes de mais caro, em vossos filhos queridos?

Conheceis os lugares e as pessoas que frequentam? Sabeis qual a natureza das companhias que eles gostam de escolher? Que digo, sabeis o que eles se tornam em vossa própria casa?

Há mães, às quais estas interrogações admirariam profundamente, porque nunca as dirigiram a si, nem supunham que se pudesse fazer.

Seus filhos!

Elas ocupam-se pouco deles, exceto talvez na hora da refeição, porque é preciso fazer-lhes justiça, elas trabalham para que se saiba e se diga que seus filhos são perfeitamente alimentados, que a saúde passeia em rubras cores nos seus rostos, fazendo, deste modo, a honra à cozinha da casa. Em tudo o mais está a menor das suas ocupações.

Outras ligarão uma grande importância ao êxito dos seus filhos; e o que mais a lisonjeia, é o ponto de honra, a vaidade maternal que se acha assim agradavelmente acariciada; mas a moralidade, a conduta, o espírito religioso de seus filhos, é um cuidado a que nunca se entregaram, porque têm muitos outros.

Estou, por sem dúvida, muito longe de repreender as solicitudes e os passos para os legítimos e razoáveis sucessos dos filhos, e para o seu avançamento no mundo, contanto que as regras da moderação e da sabedoria cristã sejam observadas.

Mas o futuro dos filhos não consiste somente nestas coisas; e concedendo de boa vontade aos legítimos interesses um lugar conveniente nas previdências, é necessário não abandonar o mais essencial: Haec oportuit facere et illa non omittere (Math., XXIII,23).

Vigiai a educação de vossos filhos, a cultura do seu espírito, e empregai todos os meios que estão à vossa disposição para lhes preparardes bom êxito, mas não esqueçais a cultura da alma. Recordai-vos de que, no jardim da vida, há uma flor necessária, a da fé – e que aonde ela não medra, essa planta celeste – outras flores enmurchecem rapidamente, sobretudo, a da verdadeira ventura.

Como mulheres cristãs, podeis, sobre este assunto, exercer uma poderosa influência, pelos vossos exemplos, pelos vossos conselhos, pela vossa bondade, pela vossa paciência, e, sobretudo, pela oração.

Não há dúvida que, quando a criança chega a uma certa idade, parece escapar-vos a sua inteligência e fugirem-vos as rédeas do seu espírito, e, no entretanto, o vosso poder é mais forte e mais extenso do que aparenta.

É incessante a vossa influência sobre o coração quando sabeis dirigi-la, e a vossa palavra, quando é inspirada pelo amor maternal, é um orvalho que sabe sempre encontrar as raízes da vida, mesmo na vida intelectual.

O coração e a alma influem mais do que se julga nas convicções, e quando a mãe sabe ferir as cordas do coração nada há inteiramente perdido.

Um doce olhar, um conselho afetuoso, um nobre e doloroso silêncio, operarão, algumas vezes, prodígios sobre uma alma que tiver escapado às mais eloquentes predicas.

A recordação de Santa Mônica, fez mais, talvez, depois da graça, pela conversão de Santo Agostinho, que todos os outros meios exteriores.

Para preparardes de antemão todos estes felizes resultados, vigiai vosso filho deste tenra idade; examinai as frequentações externas e internas; dai-vos conta do emprego do seu dia; no momento em que a vossa vigilância ficar inativa, soará talvez a hora do perigo e da queda. O gênio do mal vela também a alma de vosso filho, e ele tem desgraçadamente uma inteligência inerente à natureza humana, e que é, muitas vezes, de uma precocidade espantosa nas crianças; é a corrupção nativa, que embaraça os mais hábeis esforços, e que inspira à mocidade meios conhecidos dela, para escapar à vigilância mais desenvolvida; é ela que lhe ensina os estratagemas e os desvios e que os colores com todas as aparências da candura.

Vigiai especialmente as leituras de vossos filhos, e insistimos neste ponto, embora tenhamos de repetir. Tende a precaução e a coragem de subtrair aos seus filhos todas publicações que tanto mal fazem na nossa época. Se tendes biblioteca, não a conserveis aberta à vossa jovem família, senão com a prudência da mais severa reserva.

Não falo aqui de obras essencialmente más, pois suponho que não as possuis. Muitas vezes, obras boas, ou, pelo menos, indiferentes, em si, podem ser relativamente perigosas para o coração de vossos filhos.

Há licores que sustentam e fortificam o homem chegado à idade madura, e que matariam o ser débil, cujo temperamento só suporta ainda o licôr do seio materno.

É este o princípio de sabedoria vulgar, que se põe habitualmente de lado, na prática da vida, e em particular na educação dos filhos; e, muitas vezes, uma ciência intempestiva, inoportuna e prematura, produziu na alma da mocidade horrorosos estragos.

Tais são, senhoras, os vossos principais deveres para a vigilância de vossos filhos.

Para melhor os cumprirdes ponde sempre nos vossos atos, nas vossas palavras e olhares, a bondade do coração maternal que obtêm facilmente tudo quanto quer porque se impõe com afeição.

Quanto mais ativa for a vigilância sobre a família, tanto mais deve ser cercada de amor e verdadeira dedicação: chegareis assim a fazer saborear, ou, pelo menos, a suportar o que em si é de natureza indigesta, para a independência da mocidade. Recordai-vos do que éreis outrora, e tende piedade dessa pobre mocidade: se as vossas apreciações se modificaram pela madureza dos anos e a experiência da vida, há uma coisa que não se modifica e cuja idade nos demonstra mais e mais a utilidade: é a benevolência, e a afeição, condimento sempre essencial no banquete da vida, sobretudo quando o alimento preparado tem alguma amargura.

Essa amargura é necessária, concordo; é indispensável para melhor assegurar o futuro; mas que, ao menos, seja temperada por uma mistura de amor e de suavidade.

A mulher forte considerou os corredores de sua casa.”

Não é bastante vigiar os criados e os filhos. Lançai os olhos e tudo quanto se passa em vossa casa, para que nada vos escape, para que certas idas e vindas, sejam por vós analisadas e compreendidas; sabei prever e impedir, tereis mil meios despercebidos de resistência, achareis mil processos naturalíssimos, para desfazer certas intrigas: e a mulher, sem que o pense, pode muito habilmente cortar os tramas mais invisíveis. Mas para isto é necessário que vigie, que conheça todos os caminhos que conduzem a sua casa, e todos os que lhe dão saída: – Consideravit semitas domus suae; é necessário que ela adeje, como a ave, sobre o seu ninho, e que saiba ver claramente, mesmo nas trevas. Nada de rumor, nada de violências, nada de palavras imprudentes; uma ação firme, lenta e doce; a energia e a tranquila ação da vaga tranquila, quando arrasta os restos do naufrágio sobre a praia, pois os conduz docemente sobre a areia, e a sua ação é tão forte, é tão irresistível quanto é calmo o seu movimento.

Ouço as almas indolentes soltarem um grito de espanto.

– Na verdade que trabalho nos tendes preparado! Que atividade exigis de nós! Que serviço constante! Que ocupações de todas as horas! Ainda mesmo que se pareça estar na ociosidade!

– É verdade senhoras, que para a prática destes conselhos é preciso não dormir, porque se dormis, o homem inimigo virá e semeará o joio no campo da vossa família. Para seguirdes estes conselhos é necessário estar sempre na brecha.

Mas a verdadeira vida é uma atividade perpétua; essa atividade é uma fonte de ordem, de riqueza, de prosperidade e ventura. A preguiça, ao contrário, é a mãe de todos os vícios, de todas as desordens, de todas as desditas. Sem a atividade e o trabalho do corpo ou do espírito, vossa casa semelhar-se-á a um campo coberto de espinhos e silvedos; e oxalá que esse campo não seja o covil de serpentes venenosas!

O sábio compreendia muito bem essa atividade continua da mulher forte, porque ajunta:

“Ela não comeu o seu pão na ociosidade: Panem otiosa non comedit.”

São Paulo dizia:

Não deve comer quem não trabalha.” (II Tes. III,10)

Se se apertasse com o rigor da letra desta palavra, quantas pessoas deveriam jejuar absolutamente todos os dias!

A mulher forte, pelo contrário, não come o seu pão na ociosidade, porque está sempre ocupada. madruga, ordena tudo, distribui o serviço pelas suas pessoas, excita-as com o seu exemplo, gosta do trabalho manual, e não despreza a cultura da inteligência.
Navio carregado de ricas mercadorias, entra em cada tarde no porto da família, trazendo consigo preciosíssimos tesouros. Se às vezes parece inativa, é que, semelhante à abelha, esta encerrada na colméia, preparando o mel delicioso, o mel dos santos pensamentos, das conversações íntimas, o mel colhido nas flores mais delicadíssimas da sua inteligência e do seu coração.

Outras vezes, derramará secretamente o suor de sua alma, e a sua vida gastar-se-á num trabalho subterrâneo silencioso, e tanto mais ativo e mais penoso quanto menos o pensam os homens. Mas sejam quais forem a natureza do seu trabalho e a esfera da sua atividade, a mulher forte não come nunca o seu pão na ociosidade: Panem otiosa non comedit.

Quantas mulheres, ao contrário, que fazem da ociosidade vida, e cujos dias se arrastam pesadamente num estado que se assemelha a uma indolência perfeita! Dir-se-ia que dormem habitualmente, como a tardia criatura que os naturalistas chamam – preguiça. Em casa delas só um membro trabalha – a língua, e forçoso é confessar-se que trabalha superabundantemente, e que substitui, de um modo completo, a ação de todos. Parece que os outros lhe passaram procuração, e que, querendo descansar, lhe legaram a missão de se agitarem à vontade, e asseguro-vos que nenhum testamenteiro compreendeu tão bem o seu encargo.

No entretanto, a língua é o membro que precisamente, mais vezes devia descansar, e cujo exercício importuno é também nocivo aos nossos interesses e aos do próximo: e notou-se que, justamente quando está mais ativo é sempre com prejuízo das verdadeiras e serias ocupações.

Segui desde pela manhã até à noite a mulher leviana: que faz ela? Nada, ou quase nada. Passa metade do dia em visitas completamente inúteis, em conversações, pelo menos, frívolas, em entretendimentos, que se não deixam, de ordinário, sem se terem ferido pelo menos dois ou três mandamentos de Deus.

O resto da sua vida é uma nuvem que vagueia nos espaços: sonha, e, muitas vezes à beira dos abismos; a sua imaginação encandecente espalha-se como a lava nas proximidades; o seu espírito mais ou menos romanesco enche-se de chimeras, de planos impossíveis; ou então encerra-se nos seus aposentos e conversa com os livros frívolos e perigosos, de cujas páginas saem, mais ou menos emanações postilentas, em que o veneno está quase que sob cada palavra em dose invisível, matando as almas lentamente.

Valeria muito mais para esta desgraçada mulher um sonho completo e uma ociosidade em que todas as  faculdades do espírito e do corpo estivessem completamente adormecidas. Seria, ao menos, sob muitos pontos de vista, um sono inofensivo; mas a ociosidade do mal  da frivolidade, o sono, em que nos mergulham os sonos da imaginação, atacam a vida moral! É um veneno disfarçado sob formas que seduzem e conduzem em breve a uma letargia mortal.

A Bíblia acrescenta:

“Os filhos da mulher forte levantaram-se e proclamaram-na feliz; e seu marido levantou-se também e publicou-lhe os louvores.”

Que há mais belo e mais consolador, do que ver uma mulher venerável, uma mãe de família, cercada de estima, de confiança e de amor de seus filhos e de seu marido?
Quando anda em casa com um aspecto cheio e graça e de dignidade, dir-se-ia que toda a família se levanta, para lhe fazer um cortejo de honra e dizer à porfia: – Eis a nossa glória,  a raiz da nossa vida e da nossa ventura, o centro do nosso amor, centro querido onde todos os corações vão fundir-se e estreitar os seus laços, purificando-se.

É a sombra tutelar aonde íamos descansar e desencalmar-nos, e como os rendez-vous dados outrora junto ao velho carvalho, é junto do coração, sempre jovem, da esposa e da mãe, que a família se reúne, onde tudo se acalma, tudo se purifica, onde as nuvens da vida desaparecem, e onde a alegria renasce com amor puro.

Taça deliciosa do coração da mãe, vós sois necessária para ministrardes a todos a embriaguez da felicidade doméstica; perto de vós esquecem-se os pesares da existência, e o licor que dais a beber, junto à doce harmonia dos vossos sentimentos, recorda a palavra da Bíblia: – “O bom vinho e a música rejubilam o coração do homem:

– Vinum et musica laetificat cor.” (Eccl. XL,20)

Pode haver, senhoras, e há desgraçadamente muitas nuvens na vida da família: os caracteres são tão diferentes, as paixões tão múltiplas e tão complicadas no seu jogo, que a serenidade completa é impossível. Mas quando uma mulher cumpriu bem os seus deveres, quando foi seriamente cristã, quando constantemente fez face a todas as suas obrigações com a constância da força, a ternura perseverante do amor, e a longanimidade da paciência, a hora da justiça e do reconhecimento soa mais tarde ou mais cedo.

Um dia seu marido levanta-se fazendo sinal a seus filhos e todos se inclinam com respeito, saudando o anjo do lar doméstico, proclamando-a ditosa, e suplicando-lhe para alargar mais o seu coração, para nele dar abrigo a um novo amor da família, e que parece renascer para uma vida nova!Surrexerunt filii ejus, et beatissimam proedicaverunt; vir ejus et laudavit eam.

Nesse dia há um grande júbilo no coração da mãe, e ele é ainda mais feliz com a alegria da sua família do que com a sua própria, ou antes, estas suas alegrias só fazem uma.

O Profeta disse que, “ordinariamente se semeia em pena e em lágrimas, mas que se colhe em alegria“. (Ps., C.XXV,5)

Não é este o resumo da vida da mulher?

Semeia em penas, em dor e em trabalho: após as sementeiras vem, muitas vezes, o frio, as brumas, a neve e os ardores do sol. Mas que rico outono! Que doce estação aquela em que se recolhe o que se semeou, em que se recolhe uma colheita, tanto mais abundante, quanto maior foi o sofrimento!

A vida é assim: vai-se e vem-se, lançando a semente dos seus pensamentos, das suas palavras, dos seus atos e benefícios; espalha-se muitas vezes exteriormente, o que há de melhor na alma, e chora-se para a regar: – Euntes ibant et flebant, mittentes semina sua… Qui seminant in lacrymis.

Correi em abundância, lágrimas da vida, lágrimas do coração: correi sempre, e cai sobre a terra que deveis fecundar. A vossa emissão faz, às vezes, sofrer cruelmente o que vos dá, porque vos formais arrancando as gotas mais íntimas do coração: as lágrimas verdadeiras – dizem os santos – são o sangue da alma, e, algumas vezes, os suores da agonia. (S.Agostinho., Sermão. 351, nº 7).

Não importa: correi sempre; ou vos chamem o sangue do coração, o suor da vida íntima, ou a derivação de uma alma liquificada pela dor e por um penoso trabalho, correi sempre, pois sois vós que preparais as verdadeiras colheitas, colheitas das almas, tesouros de virtudes, de sabedoria e de prosperidade.

Seja assim entre vós, senhoras.

Oxalá que possais, depois de terdes sofrido muito, assistir um dia a essas ceifas espirituais, no interior de vossas famílias, quando os corações de vossos filhos e de vossos maridos, como cachos de uvas, pareçam aproximar-se de vós, na vossa passagem, convidando-vos a colhê-los; quando vosso marido e vossa família se reunirem em derredor de vós como os feixes de centeio de que falava o jovem José, e vos oferecerem a homenagem do seu respeito, do seu amor e do seu reconhecimento: Putabam nos ligare manipulos in agro et quasi consurgere manipulum meum et stare, vetrosque manipulos circumstantes adorare manipulum meum. (Gen. XXXVII,7).

Não quero terminar esta instrução sem me levantar também para vos proclamar cheias de piedade filial, e vos agradecer paternalmente todos os vossos bons sentimentos, durante a curta doença que sofri, e todas as vossas excelentes orações.
O resultado harmonizou-se com os vossos votos, e eu posso hoje cumprir à letra a palavra da Escritura, que modificarei levemente, para vos dizer, mudando-lhe um único termo: – O arcebispo pode levantar-se, também, para louvar e agradecer à mulher forte: Surrexerunt filii ejus, et laudaverunt eam; vir ejus et laudavit eam.

A Mulher Forte –  Mons. Landriot