ARRUINAR A FAMÍLIA ENFRAQUECE A BASE DA RELIGIÃO

Ruiner la famille sape la base de la religion • La Porte Latine

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A religião é absolutamente necessária. Não apenas porque devemos prestar a Deus o culto que lhe é devido, mas porque sem ela certamente corremos o risco de cair, senão no absurdo, pelo menos em uma decadência tal como o Apóstolo dos Gentios a descreveu no início da Epístola aos Romanos: “E, como não procuraram conhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, que os levou a fazer o que não convém”(*). E essa decadência tem por nome a modernidade, que nada mais é do que o abandono da religião. Este erro funesto tem uma consequência contra a qual, seja quem for, devemos reagir. 

A beleza de uma sociedade outrora cristã repousa na verdade baseada em uma relação com o Criador que imprimiu em todas as relações uma diversidade e uma harmonia que refletia a beleza divina. A desigualdade é o grande princípio no fundamento dessa harmonia. “A razão natural obriga o homem a submeter-se a um superior por causa dos seus limites, experimentados em si mesmos e em relação aos quais precisa ser ajudado e dirigido por um superior”. Eis o que afirma Santo Tomás, homem de bom senso e santo. Como não citar o Doutor angélico que se extasia, de sua maneira um tanto especulativa é verdade, diante da majestade divina: “Devemos reverenciar a Deus pela excelência que ele possui. Se essa perfeição é encontrada em certas criaturas, nunca é em condições de igualdade, mas de simples participação. A veneração com que cercamos Deus é, portanto, diferente daquela que atribuímos à excelência criada. Isso é religião, no caso dulia. Passando a expressar externamente nossos sentimentos internos de respeito, damos certas marcas de reverência às criaturas proeminentes.”

Santo Tomás, por vezes chamado de “boi mudo” por ser “quieto”, reconhece, no entanto, uma excelência criada. Deus certamente não precisa de nós, mas nos dá a graça de sermos agentes subordinados; Ele nos associa ao seu governo divino. E essa participação é hierárquica. “É uma lei divina estabelecida de forma imutável, que os seres inferiores voltem a Deus por meio dos seres superiores”, afirma Dionísio, retomado por Santo Tomás “o Criador”, nome este dado ao Doutor Angélico por Gilbert Chesterton!

As relações humanas, sociais e mesmo familiares se afastam cada vez mais desta verdade que é, no entanto, um princípio, isto é, na qual devem se basear. A paixão – agora violenta – pela igualdade, inerente à nossa democracia, é francamente oposta ao princípio hierárquico (até a palavra desaparece, porque vem do grego hieros, sagrado, e de arkhé, princípio). Sabemos muito bem disso. O último bastião que a favorecida modernidade cultural e sociopolítica tenta destruir, é preciso dizê-lo por Roma, está se desintegrando: a família está se desvanece. A paternidade, que é a base deste relacionamento essencial a Deus, é consumida pelo espírito do clientelismo. Se o pai chama seu filho à existência, se o preserva dando-lhe os meios para viver e favorece sua educação para uma vida humana e virtuosa, é bom que ele governe seu filho. E este último aprenderá com essa dependência respeitosa marcada pela deferência para com seu querido pai. Essa criança estará pronta para se abrir à vida social, pois a família não pode reivindicar para si a realização de um homem cuja natureza exige essa vida política. Já é na família que o menino bem educado descobrirá o que o pequeno Tomás certamente observou na abadia de Monte Cassino, onde chegou aos cinco anos: “a bondade da criação não seria perfeita sem uma hierarquia de bens segundo a qual alguns seres são melhores que outros; sem ela, todos os graus de bem não seriam realizados e nenhuma criatura se pareceria com Deus por sua preeminência sobre as outras. Além disso, a beleza suprema dos seres desapareceria com essa ordem feita de distinção e disparidade; ademais, a supressão da desigualdade dos seres implicaria a supressão de sua multiplicidade. ” 

Nada resta do nebuloso projeto de substituir uma cristandade sagrada abolida pela cristandade secular. A modernidade tomou seu lugar e está abolindo a religião porque ela não seria mais necessária. Engano universal.

Felizmente, ainda temos fé: acreditamos no Deus Belo, retomando o nome de uma famosa escultura de Cristo em Amiens, que nos criou à sua imagem e semelhança.

Pe. Benoît de Jorna, Superior do Distrito da França da Fraternidade São Pio X

(*) Rm 1,28 – Tradução do Pe. Mattos Soares