ASSEIO E ARTE

Resultado de imagem para MÃE CATOLICAAgradável pelo asseio e pela arte; quente e acolhedor pelo teu devotamento; confortável pela ordem e trabalho – farás de teu lar uma – atração e uma saudade.

Não se discute que a falta de asseio desacredita uma dona de casa. Que se refira esse desasseio à casa ou à pessoa de sua dona, é a mesma coisa.

A beleza e asseio de uma casa influem sobre a moral do homem por causa de certa força secreta. Numa casa bem asseada, ordenada, inundada de luz, exercita-se a vigilância, a linguagem e os pensamentos são mais cultos, o caráter é mais alegre.

O contrário se dá em caso de desasseio. É funesta a influência que sobre a família exercem a sujeira e a desordem de uma casa. As idéias, os sentimentos, os costumes ficam num nível baixo.

Por isso, leitora, teu princípio rezará: asseio, custe o que custar. Não temas a luta com o marido e com os filhos para obrigá-los a amar e praticar o asseio. Roupas, sapatos, móveis, utensílios de cozinha, escadas, varandas, hall, jardim, quartos, salas – tudo terá o brilho da limpeza.

O cansaço imposto para manteres o asseio, em tudo e em todos, é um cansaço por Deus. É um mérito que adquires como educadora. Além disso, esse trabalho te prenderá à casa, livrando-te do ciganismo das ruas e lojas.

Não basta o asseio que prende o marido na família, principalmente se ele é operário e passa o dia em lugares cheios de desordem e desasseio. Realizarás ainda aquilo que o verso canta:

Dentro, rendas, cristais, flores…

Em cada canto, a mão da mulher amada e bela

punha um riso de graça…!

Arte e bom gosto não reclamam luxo e despesas. Dependem apenas de um gosto formado e do cuidado em aproveitar os recursos que estão ao alcance mais ou menos de todos. Há palácios onde sobejam decorações e cortinas, mas de onde a arte ugiu. E há moradas, singelamente enfeitadas, que são um sorriso acolhedor.

Em todo homem, mesmo na criança … existe certo amor ao belo. É um amor utilíssimo, porque inspira o progresso e a perfeição. É igualmente nobre, porque engrandece o homem, espiritualiza-lhe os pensamentos e sentimentos…

O talento artístico é poderoso recurso para encantar o marido. Um lar sem arte, sem culto ao belo, é ensombrado demais, com ares de prisão. Imagine-se a leitora uma sala cujas paredes e janelas nada representassem, quebrando a monotonia das linhas! Nem um quadro, nem uma cortina! Sobre a mesa, sobre a escrivaninha, nada! Nem um vaso dentro do qual fanasse uma flor!

Digamos logo que semelhante nudez interior não é conseqüência forçada de pobreza material. Pois até os pobres podem ter lá um ou outro quadro, herdado dos antepassados. Tudo isso é antes uma pobreza moral.

Mostra espíritos muito materializados, ou é o castigo do vício que corrompe as inteligências e embota os corações. Tira à primeira as intuições e ao segundo as emoções artísticas.

Portanto, leitora, ama e cultiva a arte de enfeitar, de colocar um quadro, uma cortina, uma flor. Se podes, ama a música e o canto. Há um rádio em tua casa? Não o ligues para as modinhas e sambas, cuja trivialidade musical só é vencida pelo duvidoso ou escandaloso sentido de seus textos.

Ama a arte e saber fazer-lhe uma critica amável – eis aí teu dever! Crítica amável: porque não deves reprovar sem mais nem menos as preferências do marido, a estátua e o quadro, o compositor e o poeta que ele escolhe.

Triste coisa é ver-se numa família católica alguma pintura imoral. Sobre o piano a estatueta nua e berrante provocação de pensamentos impuros. Isso nunca admitirás, leitora! Mesmo que seja preciso armar uma briguinha com o marido! Tanto as visitas como os filhos se escandalizarão no caso.

Neste ponto muitas donas de casa são bem pouco escrupulosas. Faço votos que estas linhas lhes queimem a alma com vivo remorso.

O verdadeiro belo coincide sempre com o verdadeiro bom. O que não pode ser bom para a pureza da alma, não é, por conseguinte, verdadeiramente belo.

Enorme, inegavelmente, é a influência do belo na formação das crianças. Sob as irradiações do bom gosto artístico gravam-se na alma infantil recordações que não morrem. Isso para o futuro. E agora, no presente, vivem as crianças gostando da casa, para ela voltando alegremente.

Gravuras e decorações apreciadas na infância dificilmente se apagam na memória do adulto. Boas ou más, ficaram e ficam registradas. Lembro-me ainda da profunda impressão causada em minha alma de menino por uma quadro religioso, no qual se mostrava o contraste entre a morte do justo e a do pecador. Estou vendo ainda as quatro pinturas, da sala de visita, olhando-me com um quê de elegância e fineza. Sei que, ao vê-las, parava de falar e pisava mansinho.

Não é, por conseguinte, pequena a responsabilidade de uma dona de casa, na escolha das suas “preferências artísticas”. Preferível lhe seja deixar sem nada uma parede, do que “estragá-la” com algum quadro de mau gosto artístico. Antes faltar alguma coisa sobre a mesa, do que faltar a pureza na alma dos filhos, por causa de estátuas imorais.

Agradável pelo asseio e pela arte; quente e acolhedor pelo teu devotamento; confortável pela ordem e trabalho – farás de teu lar uma – atração e uma saudade.

Será ele amável moldura para tua fisionomia, recordada com amor pelo marido e pelos filhos. Se o deixares pela morte, todos sentirão que és insubstituível.

As três chamas do lar – Pe. Geraldo Pires de Souza