COMO EDUCAR A CRIANÇA PREGUIÇOSA – PARTE 2

Lentidão

1 – Se há crianças (e adultos…) que remancham propositadamente, há também as que são naturalmente lentas. Às vezes, em tudo; outras, só nas atividades físicas, pois são vivazes e rápidas nas mentais.

– Pais e mestres (mal aparelhados) se irritam com elas e lhe dificultam a vida com exigências, prazos marcados para o término das tarefas, comparações odiosas com irmãos ou colegas rápidos, complexando as que assim procedem sem culpa.

– Quando, além disto, os pais são vaidosos, ai dos filhos lentos! Enquanto uns medíocres de inteligência, mas vivazes, são elogiados como “brilhantes” e “de futuro”, outros, na verdade mais inteligentes, refletidos, e realmente de futuro (como os fatos mostrarão) são postergados ou mesmo injuriados. O menos que lhes chamam é de lesmas…

2 – Se a lentidão é propositada, enquadrar-se-á nas causas já expostas, e receberá o tratamento indicado. Se é natural, pouco conseguirão os pais que desejarem quantidade, mas conseguirão os pais que desejarem qualidade. Dou a dois datilógrafos o mesmo trabalho: o primeiro o faz em 40 minutos, cheio de imperfeições que obrigam a reescrevê-lo; o outro gasta uma hora, e o serviço é irrepreensível. Qual é o lento? Qual o preferível? Claro que o ideal será o rápido e perfeito; mas é também muito mais raro…

Mau exemplo

Muitas coisas, portanto, parecem, mas não são preguiça. Mas há crianças preguiçosas… por causa dos pais! A intenção não era esta, mas foi este o resultado.

É “por amor” para com o “filhinho do papai” que:

– lhe dão tudo à mão;

– mandam a empregada arrumar tudo quanto ele desarruma;

– criam-no sem o menor hábito de trabalho;

– deixam-no até os oito e dez anos sem saber atar os sapatos, ou pentear os cabelos, etc., etc., etc.

– e se admiram de que a “belezinha da mamãe” seja um dos “dez mais” preguiçosos do bairro ou da cidade.

Escusam-se certas mães que assim procedem, alegando que “felizmente estão em condições de pagar empregadas para o filho” – como vezes sem conta, com profundo desgosto, tenho ouvido. Quem assim “educa” não se deve espantar de que ao filho, crescido na ociosidade, repugne qualquer espécie de trabalho. Também ao novilho indômito repugna o jugo e a charrua, e ninguém o chamará de preguiçoso.

Se a atitude dos adultos que cercam a criança não é de dedicação, mas de fuga ao trabalho, se as suas máximas são de elogio ao “dolce farniente”, se o ideal é enriquecer para não trabalhar; se invejam os que nada fazem – por que estranham se os filhos pensam e… agem assim? “Filho de fato é gatinho”: filho de preguiçoso… É a hereditariedade…pelo exemplo!

E não se castiga?

Relembro a distinção entre castigo e correção. Ao educador (como ao educando) não é o castigo que interessa, é a correção. O que importa é conseguir que o menor alcance disposição para o trabalho. Não é por castigos que o conseguiremos.

Quem já não sente atrativo para o trabalho ainda menos o sentirá se associar sua idéia à de castigo. Quanto mais me impuserem tarefas desagradáveis, mais repugnâncias lhes votarei.

Há, no entanto, “castigos” que podem e devem ser impostos, em vista de seu caráter natural. Passeio, festa, certas gulosiemas (refrigerantes, balas, etc.) são regalos que se negarão a quem não fez por merecê-los.

É tão arraigada na maioria dos pais a tendência a punir que repito: só os preguiçosos, e em último recurso, receberão esses castigos; os doentes precisam de remédios.

Atitudes gerais

O verdadeiro educador verá no trabalho o mais importante meio educativo natural. O educador cristão, que dá alto lugar aos meios sobrenaturais (oração, sacramentos, amor de Deus, estado de graça, cuidados de santificação), sabe que não há santidade sem sólidos fundamentos humanos, como não há construção duradoura sem alicerces seguros.

Do ponto de vista da higiene física e mental, o trabalho condiciona o desevolvimento harmônico das faculdades e energias necessárias à vida, sem falar da situação econômica, à qual também é ele indispensável, trate-se de pobres ou de biliardários.

Que devem fazer os pais?

Nunca é cedo demais para começar. Muitos trabalhos pode a criança fazer desde pequenina:

– guardar os brinquedos e apanhá-los para jogar;

– deixar nos lugares próprios roupas e calçados que tirar;

– cuidar dos seus livros, etc.

A medida em que cresce, irá aprendendo a bastar-se, atendendo no que lhe é possível às próprias necessidades, como limpar os sapatos, etc. As meninas se encarregarão oportunamente de:

– fazer suas camas;

– arrumas suas roupas;

– varrer o quarto de dormir;

– ajudar na copa e cozinha;

– iniciar-se nas costuras domésticas;

– ajudar a cuidar dos irmãos menores, etc.

Os meninos vão a compras, ajudam no jardim, dedicam-se a trabalhos manuais.

Fazer amar o trabalho

Não com preleções, que a criança desadoram. Mas com meios eficientes, que não faltam.

– Os pequeninos podem associar o trabalho ao jogo, de maneira que farão o que devem, sem distinguir os limites entre a brincadeira e o dever. Assim este lhes irá deixando no espírito reflexos agradáveis.

– Proporcionar condições favoráveis: local apropriado à tarefa, duração compatível com as condições do sujeito, trabalhos agradáveis (aos quais se irão juntando pouco a pouco aos menos aceitos) e de acordo com o temperamento, as circunstâncias de saúde ou de educação.

Despertar interesse

Quando a criança não oferece boa disposição para o trabalho, é preciso despertá-la. Oferecer ocasião para vitórias fáceis, com resultados tangíveis: isto encoraja.

– estabelecer discretas emulações, descobrindo o que mais a estimule: há quem se anime por motivos ideais, quem pelo amor-próprio e quem por vantagens extrínsecas – cabendo ao educador descobrir o ponto sensível e aproveitá-lo pedagogicamente.

– Colocar os menos dispostos entre companheiros laboriosos é de bom efeito, desde que não se estabeleça comparaçõa, que tornaria odiosa a companhia. A própria criança perceberá a diferença, e reagirá, por brio…

– Nada mais justo do que a recompensa ao esforço. Dêem-na, quando as crianças a merecerem. Não a prometam, ou só o façam em casos raros. Não transformem em “suborno” tão valiosa medida pedagógica. Que ela venha como espontaneamente: “Muito bem. Você fez um excelente esforço. Quero dar-lhe uma recompensa extraordinária” – e diga o que é, mas sublime bem o “extraordinário”, mesmo sem chamar diretamente a atenção para isto.

– Outra maneira de estimular é apresentar o trabalho realizado aos amigos e visitas: um discreto louvor é ótimo reconfortante.

Pedir mais

Como a vida, a educação sobe ou declina. Iremos sempre pedindo mais eforços à criança: a idade aumenta, as possibilidades se desenvolvem, a capacidade se amplia – e é preciso que ela produza mais e melhor.

A suma preocupação do educador é formar o caráter: domínio de si, noção de responsabilidade, amor ao dever, buca da perfeição. O trabalho dos menores visa antes à formação moral que ao rendimento econômico.

– No começo, contentar-nos-emos com a limpeza, a constância, o respeito ao tempo previsto.

– Mas apelaremos para esforços gradualmente mais sérios, que produzam mais em qualidade e sobretudo em qualidade.

Motivar bem

Vários são os motivos pelos quais devemos trabalhar:

– Deus o quer;

– Cristo nos deu o exemplo;

– o que fizeram os Santos e os sábios;

– as exigências sociais, a necessidade, os reclamos da saúde física ou mental, etc.

– ou, pelo avesso, a vergonha da preguiça, a inutilidade do preguiçoso, as tristes conseqüências da ociosidade, e quantas outras misérias.

Anotamos que as crianças aceitam mais os motivos menos perfeitos: eles são mais tangíveis, mais próximos, mais compreensíveis. Os mais elevados servem a mentalidades mais altas. Entre uma preleção sobre o Filho de Deus simples operário em Nazaré, e o risco de perder o passeio – a criança “compreende” melhor o risco de perder o passeio…

Isto não significa que não motivemos elevadamente o trabalho. Devemos fazê-lo, sim, mas sem insistências demasiadas. Não faltarão oportunidades para dizermos de passagem uma palavra sobre o assunto:

– uma estampa de Jesus ou São José na oficina;

 uma obra bem acabada;

– a dedicação de um bombeiro, de um médico ou enfermeiro;

– a descoberta de um sábio em favor da saúde ou do bem-estar dos homens;

– a vitória de um homem que se fez por si;

– ou, também pelo avesso, a decadência de um negligente, a ruína do moço que dilapidou a rica herança, a diferença que entre dois irmãos se estabeleceu pelo amor ou negação do trabalho.

Não esqueçamos que a melhor motivação é o exemplo e o ambiente de trabalho que o próprio lar oferece.

Corrija o seu filho – Pe. Álvaro Negromonte