DEDICAÇÃO, UMA VIRTUDE AO SERVIÇO DO BEM COMUM

Os Priorados e as Capelas precisam da presença e da ação de todos os seus membros e da dedicação entusiasta de cada um.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Caros amigos e benfeitores,

Os economistas modernos, em sua maioria, consideram que o homem, em sua ação, é movido apenas por interesses egoístas e cálculos de eficiência em seu benefício próprio. Mesmo a realização de uma ação altruísta seria apenas um anteparo à busca de um bem individual, por exemplo, no fato de que uma boa ação procura a satisfação do amor próprio.

Esta é uma visão simplista do homem: pode revelar-se pertinente saber quantos clientes irão a um supermercado num determinado dia (porque os seres humanos parecerão corresponder pontualmente, em sua ação, a esta definição colocada pelos economistas), mas é falso se alguém pretende aceitá-lo na realidade da vida.

A primeira pergunta da Suma Teológica de Santo Tomás sobre a caridade, a mais sublime e sobrenatural das virtudes, poderá parecer surpreendente a um espírito imbuído dessas “concepções econômicas” de um homem exclusivamente egoísta. O Doutor Angélico começa por se perguntar, com efeito, se a caridade é uma amizade. A amizade é algo tão natural, tão trivial em alguns aspectos, que seria surpreendente vê-la conciliar-se com aquela virtude propriamente divina que é a caridade, que nos faz amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor de Deus.

Mas, na verdade, para Santo Tomás, a caridade é a extensão, num plano superior, e a plena realização (embora não devida, em si, à natureza), do movimento natural do homem que o impele a amar o Criador, Bem Soberano, e outros homens que a Ele se assemelham. Quem de nós, aliás, não passou por esta situação: em um país estrangeiro, ou em um ambiente desconhecido, naturalmente nos aproximamos de outro francês brasileiro (*), ou de uma pessoa que fala com o sotaque provinciano que é nosso, quando em outras circunstâncias nem sequer prestaríamos atenção a essas pessoas? É o efeito daquele amor espontâneo do homem pelo homem, que a caridade fraterna elevará e sublimará sobrenaturalmente.

Na mesma linha, deve-se dizer que a sociedade humana não se baseia em uma “negociação” em torno dos interesses egoístas de cada um, como os economistas liberais nos querem fazer acreditar: na verdade, a sociedade humana é baseada em virtudes.

Virtudes muito humildes, antes de tudo, próximas do simples hábito: polidez, pudor, rigor, etc. Virtudes ligeiramente superiores, como amor ao trabalho bem feito, perseverança, atenção aos outros, honestidade, veracidade, etc.

Certamente, essas virtudes naturais, inscritas na razão e transmitidas pela educação, são iluminadas, fortalecidas, elevadas pelas virtudes sobrenaturais, cardeais, teologais e dons do Espírito Santo.

Mas tudo isso, que é muito necessário, não seria suficiente para fazer a sociedade funcionar sem uma disposição fundamental, uma virtude central cuja existência facilmente esquecemos, quando sobressai diante de nossos olhos no cerne da vida social: a dedicação. Sem dedicação dos pais para com seus filhos, professores para com seus alunos, funcionários para com sua empresa, policiais para com a ordem pública, soldados para com a pátria, médicos para com seus pacientes, a sociedade simplesmente não poderia existir, ela entraria em colapso. Se todos os professores deixassem de se preocupar com seus alunos quando toca o sinal, quantas crianças permaneceriam ignorantes! Se todos os médicos deixassem o hospital no exato momento em que terminasse o plantão, quantos pacientes morreriam! Se todos os policiais deixassem os bandidos agir porque findou o turno, quantos crimes seriam cometidos! Então, mesmo que haja pessoas egoístas, preguiçosas, aproveitadoras na humanidade, devemos estar cientes de que é a dedicação, antes da busca do interesse próprio (mesmo que este tenha seu devido lugar), que estrutura e mantém a sociedade humana.

Mas há uma sociedade que exige uma dedicação particular, porque não busca nesta terra nenhum interesse humano, nenhuma riqueza temporal, nenhum bem ultrapassado: é a Igreja. Se a sociedade humana em geral se baseia na dedicação, o que dizer dessa sociedade sobrenatural, e antes de tudo através de seus padres, religiosos e religiosas, que deixaram tudo para se dedicar à glória de Deus e à salvação do próximo?

Mas a Igreja não é formada apenas por clérigos e religiosos: os leigos constituem a imensa maioria dos cristãos. E para que a Igreja viva, se desenvolva, conquiste almas para Deus, é absolutamente necessário que os cristãos leigos, no seu lugar, segundo as graças do seu estado, se dediquem na Igreja e para a Igreja.

Para falar apenas da Fraternidade São Pio X, há muito o que fazer em nossos Priorados e em nossas casas, tantas possibilidades diferentes para um leigo prestar um serviço precioso, tantas oportunidades para se dedicar e participar na vida da nossa Congregação, da Tradição, da Igreja em geral, que é impossível descrevê-las todas. As peregrinações a Chartres e Lourdes (à Aparecida, no Brasil(*)) são exemplos famosos. Certamente, os padres pregam, celebram a Missa, ouvem confissões, oferecem certas meditações. Certamente, as freiras cuidam dos enfermos e deficientes. Mas sem a ação de tantos leigos que se dedicam à organização material, à constituição dos capítulos, às meditações, à animação destes capítulos, estas peregrinações, que são uma imensa fonte de graças e uma manifestação da vitalidade da Igreja, simplesmente não poderiam acontecer.

Convido, portanto, todos e cada um dos fiéis, segundo as circunstâncias, segundo as necessidades, segundo as possibilidades, a se dedicarem aos seus Priorados e às suas Capelas, sob a direção paterna dos padres, para o bem maior de todos da Igreja e de suas almas.

Porque a característica do bem comum (e dedicar-se ao seu Priorado é obviamente servir ao bem comum) é ser um bem que se difunde mais amplamente do que o bem particular. A busca do meu bem particular é uma coisa boa, pois assim progredirei no meu ser, na perfeição. Mas buscar o bem comum promoverá a sociedade à qual me dedico (família, empresa, priorado, pátria, etc.), promoverá cada membro dessa sociedade e me fará progredir, mais do que se tivesse buscado apenas meu bem particular. É neste sentido que Aristóteles afirmava que o bem comum é um bem “mais divino” do que o bem particular, na medida em que se difunde mais, de acordo com a sua natureza específica, sendo o bem difuso por si mesmo.

Se eu me dedicar à minha Capela ou ao meu Priorado, participando do coro, ou do serviço da Missa, ou na preparação das flores, ou na organização da quermesse, ou de secretariado, ou conduzindo um padre quando isso é útil, ou realizando qualquer outra tarefa similar, é óbvio que melhoro a vida do Priorado ou da Capela. Também é claro que outros se beneficiarão disso, porque a liturgia será mais bonita, porque eles receberão o boletim do Priorado a tempo, porque o doente poderá acolher a visita espiritual do padre, etc. Mas também não há dúvida de que participando dessas tarefas, muitas vezes humildes, repetitivas, monótonas, cansativas, terei a oportunidade de lutar contra meu egoísmo, minha preguiça, minha má propensão para a independência, minha intemperança, minha vaidade. Também, nesta ocasião, posso fazer belos encontros e assim formar amizades cristãs úteis, porque nada aproxima mais os seres humanos do que o trabalho feito em conjunto. Participarei dos frutos das orações feitas pelos benfeitores da Capela ou do Priorado. E assim, longe de ser prejudicado, meu bem particular progredirá pelo bem comum, e mais do que se eu o tivesse buscado diretamente. 

Os Priorados, as Capelas precisam da presença e da ação de todos os seus membros, da dedicação entusiasta de cada um. Confio esta intenção particularmente a São José, que obscuramente se dedicou à Sagrada Família, participando da obra mais sublime de toda a Criação, a Redenção pela Cruz, e adquirindo por esta generosa devoção imensos méritos e uma magnífica recompensa.

Pe. Benoît de Jorna, FSSPX, Superior do Distrito da França

Retirado da Carta aos Amigos e Benfeitores do Distrito da França – n° 92

(*) Fizemos apenas uma pequena adequação no texto para trazermos à realidade brasileira