INVESTIDORES OU ESPECULADORES?

Investidor de risco: clique e entenda mais sobre esses investidores

Fonte: Permanencia

Em tempo de juros baixos, como o atual, muitos tem voltado as costas para os costumeiros investimentos em renda fixa — que hoje já não são garantia de proteção do patrimônio contra a inflação — e demonstrado interesse pela bolsa de valores.

O que pensar de tais investimentos? São lícitos para o católico?

Sobre esse assunto, recomendamos vivamente a leitura do texto do Pe. Peter Scott – FSSPX, que resumimos a seguir, acrescido de alguns comentários nossos.

O padre faz uma distinção importante entre investimento e especulação: se é certo que ambas atividades visam igualmente o lucro, distinguem-se por ser a última uma “colocação de dinheiro a curto prazo” com vistas a um “ganho rápido”. Se ambas não podem ser condenadas como atividades pecaminosas em si mesmas, uma vez que não são contrárias à justiça, a especulação não é tida como algo “moralmente louvável” — a não ser quando exigida por alguma atividade comercial. Em outros termos: a Igreja não condena, mas desaconselha e mesmo critica tal prática como atividade inútil, na qual não se procura o ganho com um trabalho proporcional nem se atende ao bem comum. Por sua vez, o investimento — e aqui subentende-se o investimento em ações — é tratado diferentemente pelo Pe. Scott, que diz logo no início do artigo tratar-se de algo “essencial para o bem comum, pois sem capital não pode haver produção”. Ora, as ações são justamente a porção de capital próprio que financia a empresa — é o dinheiro dos donos.

Os especuladores (ou “traders”, como se autodenominam no seu feio jargão), quando compram ações de uma companhia, não se interessam em saber nada sobre a mesma fora o código de quatro letras seguido por um número que lhes permite negociá-las — muitas vezes, ignoram o setor de atuação da companhia cuja ação adquirem, bem como se ela é solvente ou rentável. Costumeiramente, lançam mão de uma série de procedimentos estatísticos (chamados “análise técnica”) ou gráficos (chamados “análise gráfica”) para determinar a sua “estratégia”. Multiplicam aquisições e vendas em prazo curtíssimo: não raro, compram ações para vende-las no mesmo dia (é o chamado day trade) ou após uns poucos dias ou semanas (é o swing trade) — Normalmente, quem mais ganha com essa prática é a corretora e não os especuladores (assim como é o cassino, e não os jogadores, que ganha com as apostas).

O artigo cita ainda o celebrado Pe. Merkelbach — autor da Summa moralis — para falar de um perigo adicional que, embora não exclusivo dessa atividade, atinge a especulação mais particularmente:

“O costume de se preocupar com especulações monetárias leva a um desejo avassalador de ganhos, ao qual subordinam todas as coisas e todas as atividades; engendra uma ansiedade constante e expõe empresas e famílias a um grande perigo de desperdício, ociosidade e ruína financeira.”

O Pe. Scott conclui: 

“É lamentável que alguns católicos tradicionais considerem que esse modo de vida seja compatível com o Reinado Social de Jesus Cristo, engajando-se, como fazem, em tais comércios pela Internet, sem se perguntarem se esse comércio especulativo poderia servir a Cristo Rei, ou possivelmente seguindo o falso princípio de que os fins justificam os meios.”