NEO-MALTUSIANISMO – UM GRANDE GOLPE DO INIMIGO

CONTRA“Qualquer uso do matrimônio, em que pela malícia humana, o ato seja destituído da sua natural virtude geradora, é contra a lei de Deus e da natureza, e aqueles que ousem cometer esses atos tornam-se réus de culpa grave”. (Encíclica Casti Connubii – Papa Pio XI)

Os erros vêm de longe quando atingem o terreno moral.  O individualismo racionalista tem velhas raízes. A Renascença iniciou muita desgraça, que os erros acumulados foram alastrando. A Reforma protestante, sendo também  um fruto, inclinou ainda mais rapidamente, caindo em abismos. O Comunismo é o último deles – e não sabemos se é possível virem outros piores. Do individualismo religioso do frade apóstata sairia facilmente o individualismo pedagógico e político de Rousseau ou o individualismo econômico de Adam Smith.

Outros individualismos viriam. Ou melhor novas formas e aplicações do mesmo sistema, em que o indivíduo se coloca no centro do mundo e da sociedade, fazendo que tudo gire em torno dele. Assim é que veio o individualismo demográfico de Malthus.

Robert Malthus, economista inglês, pastor protestante, é o responsável mais próximo por um dos mais desgraçados crimes do individualismo. O homem, levantando-se contra a comunidade, irá perseguir a espécie nas suas próprias fontes, estancando-as. O bem social da propagação da espécie humana vai reverter em mero instrumento de prazer individual sem ônus. Pouco importa que com isso se desrespeitem as mais evidentes leis da natureza. Triunfe o indivíduo, embora pereça a espécie!

Homem de pouca visão. Malthus se impressionou com o empobrecimento crescente do solo da Inglaterra e com o espantoso aumento de população nos Estados Unidos. Jogando com estes dois dados, conclui, erradamente, para todo o mundo, que as populações cresciam em progressão geométrica, enquanto a terra produzia em progressão aritmética. O remédio estava em diminuir os nascimentos.

APLICAÇÕES IMORAIS

Para alcançar seus fins propunha Malthus meio honesto: – a continência. [não para o caso tratado] Os seus continuadores tiraram conseqüências mais próximas da malícia e da fraqueza dos homens. Ensinaram o emprego de meios positivos para impedir a geração. Realiza-se o ato sexual, mas se lhe frustra o fim natural e primeiro. É o prazer sem a geração. O neo-maltusianismo teve logo numerosos propagadores tanto na Inglaterra como na França e principalmente nos Estados Unidos.

Preconizaram-se mil modos de burlar a finalidade que a própria natureza aponta à função do ato sexual. Hoje é um dos crimes mais divulgados do mundo. Tem feito a ruína de inúmeras almas, corrompendo os corações, animalizando os sentimentos, manchando a dignidade dos leitos conjugais, rebaixando as esposas à desgraçada condição de instrumento de prazer aos homens paganizados deste século.

Os que usam do matrimônio, empregando meios para evitar a geração, cometem um gravíssimo pecado mortal. Enumeremos as razões:

1º – É contra a mente de Deus

O ato sexual foi instituído por Deus para a geração. Para isto criou o homem e a mulher… Aparelhou-os orgânica e psicologicamente para o nobre mister da reprodução. Associou-os à Sua obra de Criador, porque os pais geram o corpo e Deus infunde a alma a cada novo homem que vem ao mundo. Atraiu-os e compensou-os dos encargos da geração com os prazeres dos sentidos e as alegrias espirituais da vida conjugal. Portanto, transformar o ato sexual em meio de prazer, impedindo-lhe a finalidade geradora, é agir contra a mente de Deus.

2º – É contra a natureza

A natureza indica o fim da união dos sexos. Estão no homem e na mulher, os germes de uma nova vida. Entre os animais a união só se dá para a geração: realizada esta, a fêmea se recusa sistematicamente. O ato, é, pois, realizado primariamente para a geração, embora não o seja unicamente para isto. Admite fins secundários; mas não admite que se impeça e destrua o fim primeiro. Não se pode proceder contra a natureza.

O Catecismo, na sua linguagem enérgica, enumera o pecado sensual contra a natureza entre os “pecados que bradam aos céus e pedem vingança a Deus.” Para que se lhe aquilate melhor da perversidade, basta considerar que a prostituição ou mesmo a infidelidade conjugal – embora pecados mortais – são menos graves do que ele.

3º – É contra o matrimônio

No contrato matrimonial faz-se a doação dos corpos em vista da geração dos filhos, portanto. Os cônjuges se unem no matrimônio para o exercício da função sexual. Ela constitui matéria e finalidade do próprio contrato matrimonial. O cônjuge, dá-se ao outro para colaborarem ambos na procriação, que é o termo natural da função conjugal. E não se dá para nenhum ato contrário à natureza mesma do contrato – como seria realizar a união excluindo por meios positivos o seu fim natural.

4º – É contra o amor

Os homens corrompidos acordaram em chamar amor à função sexual. A sublimidade da palavra escusa-lhes a baixeza dos sentimentos. É-lhes vantajoso o disfarce. Mas a dignidade do amor não se compadece. É o amor conjugal um misto das atrações da carne e de aspirações morais. O amor tem no homem outras faces e se pode elevar às alturas do puro espiritual. Não é esta a natureza do amor conjugal. Mas seria bestial colocá-lo na esfera do instinto e confiná-lo ao sexo.

Mesmo entre cônjuges chega-se ao amor espiritual, sem o sexo; mas nunca merecerá o nome de amor a fome de sensualidade que tanto se sacia com a esposa como procura a mercenária.

Amor…

“Amor” comprado a dinheiro nas feiras da volúpia!

“Amor” que abandona a esposa, quando esta não ceva a besta humana!

“Amor” que só vê o sexo, e despreza a pessoa!

Se fosse isto o amor, como chamaríamos à dedicação desinteressada das almas nobres, ao devotamento de uma esposa cujo marido a moléstia inutilizou para tais funções, ao afeto espiritualizado de dois velhinhos em quem a idade extinguiu o fogo da paixão? A verdade é que a função sexual é separável do amor – e os que a procuram por ela não sabem o que é o amor. São tremendos egoístas – e nada mais contrário ao amor do que o egoísmo.

CONSEQÜÊNCIAS

Gravíssimo pecado mortal, tão contrário às leis divinas e naturais, à própria condição do matrimônio e do amor, é ainda o neo-maltusianismo uma sementeira de males.

1. A ciência médica condena os vários processos anti-concepcionais como nocivos à saúde, principalmente da esposa. Distúrbios nervosos e psíquicos, perturbações do aparelho genital, repercussões patológicas no sistema glandular, fibromas, adenoma uterino, etc., além dos inevitáveis perigos de infecção local, são o triste cortejo desses degradantes processos.

Copio de Ensaios de Biologia, do capítulo “A esterilidade voluntária e sua patologia“, de Barbosa Quental, algumas opiniões.

A mulher está toda organizada em vista da maternidade; a falta de reprodução ou a insuficiência de reprodução vicia todo o seu metabolismo“.

(Dutalollis, em Troubes, Funcionels et Dystrophies en Gynecologie)

Todas as vezes que o útero não produz filhos tende a fazer fibromas“.

(Pinard)

Todos os processos anti-concepcionistas são de natureza a lesar a saúde daqueles que os usam regularmente“.

(Max Marcuse)

O uso repetido dessas práticas não pode deixar de influenciar a saúde num sentido desfavorável e de provocar perturbações mentais“.

(Max Cann)

Sabido como é… que no útero e no colo uterino uma tal irritação é produzida pela introdução de produtos químicos, pelas injeções anti-sépticas e pela presença prolongada de corpos estranhos como pessários oclusivos, etc., há sérias razões para crermos que o aumento acusado dos cânceres genitais esteja ligado às práticas desta natureza“.

Os que desejarem um conhecimento mais largo do assunto vejam La Limitation des Naissancesde Raoul de Guchteneere e La Vie Intime des Époux de Gaston Monin. Aliás, é fácil perceber que a natureza nunca deixa violar impunemente as suas sábias leis.

2. As conseqüências sociais são igualmente graves. Alarmam-se sociólogos e moralistas com a crescente diminuição da natalidade. Os que aprofundaram o assunto ficaram horrorizados ante as perspectivas. (Ver L’Indiscipline de Moeurs de Paul Bureau, talvez o mais completo estudo sobre a questão) A derrota da França, minada de anti-concepcionismo, era prevista desde há muito, não somente por Mussolini e Rommel, mas pelos franceses a quem o vício não cegara.

No Brasil já temos centros em que o neo-maltusianismo, de mãos dadas às misérias físicas, leva o nível demográfico abaixo da necessidade de estabilidade da população. Os sociólogos chamam “família normal” a que tem três filhos: dois respondem pela falta dos pais e um representa o aumento da população. Menos do que isto constitui inevitável baixa demográfica, verdadeiro suicídio de uma nação. Não estamos considerando agora o aspecto moral, mas o demográfico, deste importante problema.

E mesmo assim vemos que é criminoso o procedimento dos cônjuges que ficam no segundo filho, quando não se contentam com o “filho único”, de tão perigosas perspectivas.

Os neo-maltusianistas pretendem que a limitação na natalidade diminuirá a porcentagem da mortalidade infantil. Enganam-se. Diminuirá evidente e conselheiralmente o número de crianças mortas: nascem menos, morrem menos. Mas até aumentará a porcentagem. De fato, obirth-control elimina precisamente os filhos da classe em que morrem menos crianças. As classes mais desfavorecidas de meios econômicos, educação higiênica, etc. são os que mais procriam, e onde há maior coeficiente de crianças mortas. A razão da mortalidade infantil é outra, se morrem de preferência as crianças da classe mais prolifera não é porque a mortalidade esteja na proporção da natalidade e sim por falta de educação, higiene e meios econômicos.

O remédio está não em estancar as fontes da vida, mas em acudir as classes abandonadas com assistência social, educação e recursos necessários à condigna subsistência.

*A comparação entre a natalidade e a mortalidade infantil de vários países mostra precisamente o que acabamos de dizer. Países com natalidade fraca (como a França) têm grande percentil de mortos, enquanto outros, cuja natalidade é bastante forte (Holanda) têm um baixo nível de mortalidade. Países há (Alemanha, Itália) em que, ao mesmo tempo que a natalidade cresceu, a mortalidade diminuiu, graças à divulgação dos meios de proteção à vida infantil. Esses meios, divulgados entre as classes proliferas, têm conseguido em toda parte, uma sensível diminuição na mortalidade. (NOTA DE RODAPÉ)

Se os neo-maltusianos argumentassem de verdade, deviam proceder de outra maneira. Estão sendo dizimadas as crianças? Corre risco a manutenção do nível demográfico – e então é necessário intensificar a natalidade. Imaginem um economista que reclamasse diminuição de produção por ver escassear o artigo…

Não: o remédio está em eliminar as causas das mortes das crianças – tal como tem feito a ciência com crescente eficácia. E não na solução simplista de eliminar preventivamente os filhos. Assim, ter-se-ia de eliminar muita coisa. Para evitar desastre de avião, suprimia-se a aviação…

3. Do ponto de vista moral são múltiplas as conseqüências, e cada qual mais grave.

a) Já insinuamos quanto se rebaixa o homem que faz o amor apenas a função sexual. Agravemo-lo agora com a degradante circunstância de desvirtuar esta função, arrebatando-a do serviço da espécie para o desfrute pessoal.

b) Precisaria de apontar a degradação da esposa, transformada em mera ceva de incontestável paixão sedenda de prazeres e trânsfuga das responsabilidades? Basta pensar no que exigem da mulher certas práticas anti-concepcionais, mesmo fisicamente…

c) A experiência ensina que a provocação de abortos acompanha quase sempre os cuidados neo-maltusianos. E os crimes vão se acumulando, cada qual mais grave. Abyssus abyssum invocat.

d) O egoísmo passional dos fraudadores vai-se alimentando. A diuturnidade os caleja. Embotam-se os sentimentos elevados. Recurvados sobre si, como um caracol moral, só enxergam a si próprios, seus interesses e seus sentidos, num criminoso desprezo da sociedade, do próximo e dos próprios bens superiores.

e) Atentem os maridos nestas duas últimas considerações que lhes vamos apresentar, sem pretendermos esgotar o assunto:

1) Os desentendimentos a que dá lugar a limitação da natalidade. É este um aspecto que pouco tem preocupado os maridos, e, no entanto, é importante e grave. As mulheres  se tornam, com os processos anti-concepcionais, insatisfeitas, irritadiças – nevropatas. Vai-se a paz, a harmonia do lar. Diminui a resistência espiritual, a capacidade de tolerância, e multiplicam-se os atritos.

Afastada dos Sacramentos da Penitência e da Comunhão, a mulher perde o mais forte esteio em que se apoia a alma, e começa a perder o equilíbrio. E ai de um lar cuja esposa perde a linha justa!…

Eis preparado o caminho para desgraças maiores.

2) A infidelidade conjugal é, muitas vezes, o castigos desses pecadores. Vem primeiro a suspeita. Estes processos frequentemente falham. Mas o marido confia cegamente neles. E a mulher aparece grávida!… Conheço verdadeiras tragédias por isto. São fáceis de imaginar, aliás.

* Sei de um médico que só se convenceu depois do exame de sangue para prova de paternidade. Avaliemos porém, o estado de espírito deste homem durante todo aquele tempo, e a situação doméstica sob tão opressiva atmosfera. (NOTA DE RODAPÉ)

3) As conseqüências espirituais já ficaram insinuadas. Afastamento dos Sacramentos; vida em permanente pecado mortal; progressivo abandono das outras práticas religiosas; insensibilidade espiritual, verdade da fé; extinção das inquietações e do próprio remorso – paz em charco que precede a impenitência final! O quadro é horroroso, porém verdadeiro.

Noivos e esposos – Pe. Álvaro Negromonte