O ESPÍRITO SANTO E O “ESPÍRITO” DO VATICANO II

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Fonte: Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora | Hojitas de Fe, 218
Tradução:
Dominus Est

Domingo celebramos a festa de Pentecostes, isto é, a vinda do Espírito Santo, que Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu enviar a seus Apóstolos, para completar a obra que, segundo os desígnios do Pai celestial, devia Ele deixar incompleta, para que a terceira pessoa da Santíssima Trindade a culminasse. Pois bem, é importante observar o modo como o Espírito Santo se manifesta neste mistério, e os principais sinais deste divino Espírito, sobretudo hoje em dia, em que devemos ter um critério para discernir se o concílio Vaticano II é obra do Espírito Santo, como toda a hierarquia da Igreja não deixa de repetir.

1º Verdadeira ação do Espírito Santo

O Espírito Santo, ao vir sobre os Apóstolos, tem uma missão concreta. Assim como Cristo, ao apresentar-se a este mundo, encontrou-se com todo um plano de vida já traçado de antemão, que Ele devia cumprir sem dele apartar-se nem um único til, a fim de manifestar-se como o Messias prometido, como o Filho de Deus, como o Salvador anunciado; do mesmo modo o Espírito Santo tem seus sinais distintivos, que serão os sinais de toda a sua obra. Quais são estes sinais? Nosso Senhor Jesus Cristo os deixou claramente indicados aos Apóstolos.

1º Primeiramente, o Espírito Santo animará toda a Igreja católica, estará dentro dela, e somente operará através dela.

“E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito [outro Consolador], que ficará para sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não pode aceitar, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e está em vós”. (Jo 14, 16-17).

Assim como o Espírito Santo animou todos os atos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, do mesmo modo este mesmo Espírito deve animar agora a Igreja, que é seu Corpo místico. E assim como em Pentecostes o Espírito Santo plenificou toda a casa onde os Apóstolos estavam reunidos, do mesmo modo o Espírito Santo plenificará a Igreja católica, e fora dela não se poderá encontrá-Lo: foi necessário que os Apóstolos acudissem ao Cenáculo para receber os dons deste Espírito, é necessário acudir à Igreja Católica para receber de sua hierarquia os sacramentos e as graças do Espírito Santo.

2º Em segundo lugar, o Espírito Santo vem com a missão específica de glorificar a Cristo Nosso Senhor.

“Quando, porém, vier o Paráclito que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim… Ele me glorificará, porque receberá do que é meu para vos anunciar”. (Jo 15 26, 16 15).

Ou seja, o Espírito Santo nunca deixará a doutrina ensinada por Cristo, nem a religião fundada por Cristo, do mesmo modo que Cristo jamais se afastou da vontade de seu Pai; e a razão para isso é que procede de Cristo, assim como Cristo procede do Pai. O propósito do Espírito Santo é, então, exaltar a Cristo, mostrando, através da Igreja e perante todos os povos, a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, seu reinado sobre as almas, famílias e sociedades; manifestar sua inocência, sua santidade, seu caráter como único Salvador e Mediador. E é isso mesmo o que pregam os Apóstolos, sob a luz e a caridade do Espírito Santo:

“Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho diante de vós com milagres, prodígios e sinais que Deus por ele realizou no meio de vós como vós mesmos o sabeis, depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios… Pois bem, a esse Jesus que vós crucificastes, Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, e o constituiu Senhor e Messias… Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados… Ele é a pedra que foi desprezada por vós, construtores, e se tornou a pedra angular. Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 2 22, 36, 38, 4 11-12).

O Espírito Santo, então, centra as almas no mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo, santifica-as pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, incorpora-as na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

3º Em terceiro lugar, o Espírito Santo ilumina os Apóstolos sobre a verdade que Cristo lhes houvera ensinado, não sobre qualquer outra coisa.

“Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará… Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 16 12-14; 14 26).

Em outras palavras, o Espírito Santo, em sua missão de assistir a Igreja, só pode recordar, explicar, defender e guardar a verdade ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

4º Finalmente, o Espírito Santo condenará o mundo e todos aqueles que não aceitaram Nosso Senhor Jesus Cristo.

“E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em mim. Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis; ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado” (Jo 16, 8-11).

É por isso que o Espírito Santo, através da Igreja, sempre condenou falsas religiões, e as considerou iníquas, instrumentos de pecado, obras de demônios; e igualmente condenou o mundo, o homem ateu, aquele que se faz Deus e se levanta contra Deus com seus ideais de independência total: igualdade, liberdade, fraternidade.

Este é, portanto, o Espírito Santo tal como se manifesta em Pentecostes, e tal como continuará se manifestando sempre em toda a Igreja que Ele próprio anima. Vejamos agora, então, se esse Espírito é o mesmo que presidiu o Concílio Vaticano II.

2º O “espírito” do Vaticano II.

Tornou-se comum referir-se ao Vaticano II como um novo Pentecostes da Igreja. Pois bem, o Pentecostes, estritamente falando, é o momento da fundação ou pelo menos da promulgação da Igreja. Portanto, falar do Vaticano II como de um novo Pentecostes, é afirmar que se trata de uma nova promulgação da Igreja, de uma nova Igreja.

Assim pareceu entender o papa João Paulo II. Para ele, no Vaticano II, deu-se o início, ou, ao menos, começou-se a preparar a era do Espírito Santo. O Antigo Testamento fora a era do Pai, a era do temor; o Novo Testamento fora a era do Filho, a era da Igreja hierárquica; faltaria agora a era do Espírito Santo, a era do amor, e esta iniciava-se, ou pelo menos preparava-se, com o Vaticano II, na qual o próprio Espírito estaria promulgando uma Igreja mais espiritual, mais livre de todas as estruturas.

Nesta nova Igreja, fruto do Novo Pentecostes, o Espírito Santo teria acrescentado ao depósito revelado novos conhecimentos. O Papa não poderia fazê-lo, certamente, porque o Espírito Santo não fora prometido ao sucessor de Pedro para fazer novas revelações. Mas nada impede que o mesmo Espírito os faça em pessoa, descendo sobre os Padres conciliares. Com isso, o Espírito Santo levou a Igreja Católica a ter consciência de si mesma: “Igreja, o que dizes de ti mesma?” E nessa consciência de si mesma, a Igreja viu como se renovavam suas relações com o mundo moderno, com as outras religiões.

1º Com efeito, o “espírito” que operou no Vaticano II é um “espírito” que não mais opera somente na Igreja Católica, mas também nas demais religiões: “O Espírito Santo não deixa de se valer das outras religiões como meios de salvação”.

2º Por essa razão, esse “espírito” não mais glorifica Nosso Senhor Jesus Cristo, mas considera dignas de respeito todas as outras religiões, e sabe nelas ver elementos de salvação. Aos judeus não mais se argui sobre infidelidade, mas são chamados de “irmãos maiores na fé”; aos protestantes já não mais se argui de heresia, nem aos ortodoxos de cisma, mas são chamados de “irmãos separados” e se lhes reconhecem elementos de salvação. O concílio vai mais longe, e aprecia a profunda “espiritualidade” budista, que tanta ênfase diz dar à oração e no desprendimento das coisas deste mundo.

Este “espírito” já não mais recorda as verdades ensinadas por Cristo, mas ensina diretamente novas verdades: a liberdade religiosa, o ecumenismo, o valor salvífico de toda religião tradicional, a salvação dos crentes de todos os credos, fora da Igreja Católica. É um “espírito” de inovação total e radical, que a tudo tornou novo: novo Pentecostes e, portanto, nova Igreja, novo catecismo, nova liturgia, nova missa, novos sacramentos, novo direito canônico, nova evangelização, novo olhar sobre as outras religiões, novos dogmas, nova moral, tudo novo… Uma Igreja que se renova em tudo, isso seria o que o “espírito” teria produzido no Concílio.

4º Finalmente, esse “espírito” não mais condena o mundo, mas o ama profundamente e adota seus ideais. “Todo o trabalho do concílio – reconheceu o cardeal Ratzinger na época – consistiu em assimilar os valores nascidos em dois séculos de cultura liberal… A igualdade, a liberdade e a fraternidade dos direitos humanos, da revolução francesa, deviam ser incorporados à doutrina da Igreja; e é isso que tem sido feito”.

Conclusão

Não podemos negar que o “espírito” que atuou no Concílio anda demasiado desorientado para ser o Espírito Santo, o qual não pode sofrer nenhuma “crise de identidade”. E assim, resta apenas que seja outro “espírito”, o “espírito que não proclama a Cristo” (I Jo. 4 3), e sobre o qual São João nos adverte, porque é o espírito de apostasia, o espírito diabólico, que recebeu a permissão de Deus para entrar na Igreja Católica, assim como em outro tempo ele obteve a permissão para torturar a Cabeça (Cristo). E por isso:

1º Devemos pedir ao Espírito Santo que nos mantenha fiéis à verdade que a Igreja sempre ensinou, sem alteração. Ele é o Espírito da Verdade: que Ele nos ilumine.

2º Também devemos pedir-lhe que nos santifique pelos meios que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deixou: a sua graça, os seus dons, os seus sacramentos.

3º Devemos pedir-lhe que, como aos Apóstolos, centre-nos na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo; que no-lo dê a conhecer, faça-nos amá-lo e imitá-lo, transforme-nos nele e a Ele submetamos tudo o que nos concerne. Que esta festa de Pentecostes nos renove em nossa fidelidade e amor à Santa Igreja Católica e a tudo o que ela significa; para que assim estejamos seguros de contar com a presença do Espírito Santo entre nós e dentro de nós, e assim cheguemos, um dia, à verdade total, à visão beatífica.