OBEDIÊNCIA

Imagem relacionadaNão podem desenvolver-se boas qualidades morais uma moça, que perde seu tempo com vaidades fúteis multiplicando consultas ao espelho. Há, todavia um espelho, no qual as moças deveriam contemplar-se sem perigo de descambar em devaneios fúteis, antes, encontrando na imagem refletida o ideal da virtude. É o sublime espelho de virtudes do Divino Salvador, de quem está escrito: “E foi com eles (os pais) para Nazaré e era-lhes submisso” (Lucas 2,51). Eis aqui um bom espelho, um elevado modelo para ti. Ensina-te a obediência. Se isto aprenderes profundamente, grande vantagem terás logrado para a tua vida futura; poder-se-á dizer que ficarás livre de noventa por cento das penas e aflições a que estão sujeitas as filhas de Eva.

1º- A obediência tem uma grande significação.

Significação universal e geral: Não pode o universo físico perdurar sem a obediência: estabelecer-se-ia uma confusão brutal e devastação monstruosa; não desapareceria a harmonia maravilhosa se os astros não observassem as leis e não seguissem com precisão órbita que lhes traçou o Criador? Não pode o mundo doméstico subsistir sem a obediência. De fato, que será de uma família, se a mulher não obedece ao marido, se os filhos não obedecem aos pais, se os criados não obedecem aos patrões?! Isto causará, sem dúvida, um desajuste, uma completa desorganização da família. O mundo político e social tampouco pode subsistir sem a obediência. No dia em que os cidadãos recusarem obediência aos seus superiores e os funcionários aos seus chefes, estalará a revolução e tudo entrará em confusão e desordem.

Finalmente, não pode o mundo eclesiástico existir sem obediência. Todas as obras propícias da Igreja desaparecerão, se os fiéis seguirem cada qual o seu caminho e não quiserem mais atender à voz do seu pastor espiritual. Disto decorre que toda salvação e prosperidade da ordem física, moral, social e religiosa repousam sobre a obediência; sem esta não pode subsistir nenhuma sociedade. Mas a obediência tem também, e, sobretudo, grande significação para ti mesma, jovem cristã. Ela te proporciona primeiro a exata compreensão da vida e dos deveres. De ordinário, que sabe a jovem a respeito da vida e das suas obrigações? Que sabe das emboscadas do mundo perverso, dos perigos que lhe ameaçam a inocência? Que sabe das enganadoras falsidades dos elogios e da ignomínia do vício?

Transcorre, por assim dizer, de olhos fechados, os anos da sua mocidade e dificilmente percebe as pedras que lhe embaraçam o caminho, e os profundos abismos que se alongam à margem. Mister se faz ter um guia sábio que ela transponha, com felicidade, os perigos! Não será a obediência e a confiança nos pais e superiores que lhe facilitará a verdadeira compreensão e a protegerá eficazmente contra os numerosos perigos?

A obediência, além disso, educa e robustece a tua vontade. A hera é uma planta delicada; incapaz de manter-se ereta; se lhe falta apoio, cairá por terra. Quando se arrima, porém, ao vigoroso carvalho, participa da agigantada força deste e com ele desafia as mais violentas tempestades. Dá-se também o mesmo com a jovem, cuja vontade é ainda fraca e inexperiente. Quando pretende apoiar-se em si mesma, então se quebrará como frágil caniço; mas, se ela se arrima sobre a obediência aos pais ou aos superiores participará da robusta vontade da força que eles adquiriram no combate da vida. Os pais ou superiores serão para ela como o médico fortalecendo-lhe a fraqueza por meio de um medicamento eficiente, e que, lançarão mão de todos os meios para despertar-lhe as forças adormecidas, como a águia perita que instrui os filhotes para vôos arrojados. Assim, pouco a pouco se robustece à vontade no bem e torna-se apta para resistir à atração do pecado e à tempestade das paixões.

A obediência te ajudará a quebrar o capricho. O inimigo que com maior obstinação arma ciladas ao homem, que mais o excita ao pecado e lhe enche o coração de descontentamento e desgostos, é o capricho. Ora, a obediência combate-o do modo mais eficiente. Persegue-o por toda parte, não lhe dá tréguas, enquanto não consegue subjugá-lo.

Diz Hamon, com acerto: “A obediência corrige muito bem o desregramento do capricho. Este é falso e enganador; tudo considera sob o prisma da paixão e do interesse, que ofuscam a visão. É inconstante e leviano: o que hoje deseja, amanhã desprezará; é irresoluto e indeciso: não sabe que posição tomar; é extravagante, age sem motivo razoável e sensato; é obstinado, não quer ceder; a cada contradição mais teimoso se torna; é imperioso e arrogante e não quer concordar com ninguém, mas dominar a todos; é rude e precipitado, torna-se impaciente, queixa-se e se enfurece, quando se lhe não satisfaz imediatamente à vontade”.

Ora, a obediência remedia todas estas faltas. Ao alucinado ela fornece o verdadeiro conhecimento; firmeza, ao indeciso; determinação ao irresoluto; abate o arrogante; acalma o violento; faz retroceder o perverso ou leva-o ao melhor caminho.

O obediente lança por terra o inimigo capital, o porta-bandeira e triunfa em toda a linha. “O homem obediente cantará vitórias”. (Prov., 21,28).

A obediência é uma fonte de alegrias e felicidade. Se fores obediente, saberás pôr-te de acordo com Deus e teus superiores. Ainda que estes últimos ordenem alguma coisa, que não corresponda em tudo à prudência e, portanto, não seja inteiramente justa, ao se perturbará por isso a tua paz interior. Enquanto a coisa ordenada não estiver em manifesto desacordo com a vontade de Deus, tens o dever de obedecer. Nada terás que temer quanto ao presente, porque fazes o que Deus quer; nada, em relação ao futuro, porque não és responsável pelas conseqüências, e até, pelo ato de obediência ganharás merecimento. Em qualquer hipótese, portanto, poderás ficar tranqüila e satisfeita, e esta alegre disposição contribuirá de modo favorável, para o teu trabalho e adiantamento. Assim, pois, a obediência te proporcionará extraordinárias vantagens. Surge agora esta pergunta.

2º – Como deverá ser a obediência, para atingir a perfeição?

Há de ser, antes de tudo, sobrenatural; deves como Cristo, exercitar a tua obediência por um movimento sobrenatural; obedecerás por amor de Deus. Cumpre que não obedeças com o fim de granjear a benevolência dos teus superiores, ou por te proporcionar outras vantagens; mas simplesmente para satisfazer a vontade de Deus: é por amor de Deus que deverás ser obediente. Esta obediência sobrenatural é de grande valia aos olhos de Deus, e alcança-te grande benemerência. Se a possuíres, não te deixarás jamais induzir a executar uma ordem que se oponha os mandamentos de Deus. Obrarás, então, sempre de acordo com aquela palavra:

“É preciso antes obedecer a Deus que aos homens”. (Atos 5,29)

Em segundo lugar, há de ser alegre e pronta. A alegria aumenta o mérito da obediência, torna-a mais suave e mais agradável a Deus e aos homens. A isto se aplica também as palavras do grande Apóstolo: “Deus ama a quem dá com alegria”. (II Cor., 9,7) Um presente, que nos fazem de má vontade e com rabugem, causa-nos pouco prazer. Assim também, não agrada um ato de obediência, que se pratica de má catadura. Obedece, pois, sempre de coração e com prazer; não sejas como a criança mal habituada, que só atende à vontade e a ordem dos pais quando estes lhe acenam com uma remuneração, um prazer ou algum presente. Já não é isto obediência, e sim desprezível satisfação do tresloucado amor próprio.

A obediência servil opõe-se ao espírito cristão. Obedece sempre com ânimo alegre e sereno, de modo que se possa reconhecer que, não constrangida, antes por amor de Deus, presta obediência. Nem tampouco obedeças de mau humor, como um escravo; que só por violência e temor do castigo, executa, externamente, a ordem do senhor, mas no seu íntimo murmura e enfada-se, e, percebendo que não é vigiado, tudo despreza e faz apenas o que bem lhe apraz. Obedece, também, com singeleza e pontualidade, ainda quando longe das vistas de teus pais e superiores: não sejas bajuladora.

Se for alegre tua obediência, será conseqüentemente pronta. Sim, obedece à primeira palavra, até ao mais leve aceno. Quando te ordenarem alguma coisa, reflete: é vontade de Deus que eu obedeça, é como se Deus me chamasse; mas, quando Deus chama, não se deve contemporizar.

Tua obediência há de ser, em terceiro lugar, geral. Presta obediência em todas as coisas que não sejam pecaminosas, mesmo naquelas que não se adaptam ao teu temperamento, ou que te parecem difíceis e árduas. Já jovens que obedecem pontualmente, quando lhe ordenam algo de que gostam, porque sentem por aquilo certa predileção; mostram-s, porém contrariadas e só obedecem murmurando, ou desobedecem, quando se lhes ordena o eu lhes não convém, ou não condiz com o seu temperamento. Cumprir alegremente ordens agradáveis não é coisa extraordinária, não denota grande virtude: até o pagão pode fazê-lo. Pelo contrário, nos encargos e ordens desagradáveis, combater com valor a repugnância interna e obedecer com diligência é coisa perfeita, sinal de verdadeira virtude.

Seja, enfim, tua obediência constante e duradoura. Há jovens que obedecem conforme o seu capricho. Quando alegres e bem dispostas, não opõem a menor dificuldade em matéria de obediência; se, porém, no seu interior não reinar bom tempo, se estiverem agastadas e melancólicas, não permitem uma só palavra contra o seu capricho; fazem, pelo contrário o que bem entendem. Outras há que, até aos quinze ou dezesseis anos, ainda aceitam alguma observação, mas, depois querem ter plena autonomia. E, no entanto, é justamente nestes anos que começa aquela quadra da vida em que a direção se lhes torna, sobremodo, salutar e necessária; fase, em que abandonadas a si mesmas, poderão cometer os mais graves deslizes e ser vítimas funestos enganos.

O barquinho da vida de muitas jovens precisamente nesta fase é destroçado, por desgraça, em ásperos rochedos. Por isso, no tempo da tua mocidade, enquanto estiveres sob o domínio de teus pais ou de outros superiores, mostra-te sempre obediente e aceita de bom grado os conselhos que te derem. Nesta fase da vida uma boa orientação te seria benéfica. Ofereceu-te o Divino Salvador um magnífico exemplo. Foi obediente não até aos quinze ou dezesseis anos, mas durante a sua mocidade toda, até o começo do seu ministério público. A todos estes anos se aplica o texto de São Lucas: “Foi com eles a Nazaré, e era-lhes submisso”. (Lc., 2,51). Segue este modelo divino e atrairás sobre ti a prosperidade e as bênçãos de Deus.

Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid