RAÍZES…PARA QUE FIM?

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Quanto mais um homem nutre suas raízes naturais e sobrenaturais, mais frutuoso se torna, e quanto mais frutuoso se torna, mais suas raízes se fortalecem.

Fonte: Bulletín Apostol  – Tradução: Dominus Est

Em tempos de crise, o equilíbrio humano e sobrenatural é o que enfraquece o apego aos ofícios. Certamente mais difícil de manter. O homem em crise é frequentemente um homem fascinado, emocionalmente perturbado, pronto para todos os excessos e todos os erros. Mas não é nada catastrófico: a crise, seja pessoal, familiar ou social, também pode ser uma oportunidade de crescimento. No entanto, nessa crise sem precedentes que a Igreja e a sociedade atravessam há várias décadas, surgiu um problema de equilíbrio entre os católicos. 

Como assim? 

É um cabo de guerra: de um lado, o dever de resistir aos desvios doutrinários e morais, e de outro, a necessidade de não se fechar em si mesmo. Essa tensão pode levar a duas atitudes opostas:

  • uma que consiste, em prol de uma autopreservação, a se fechar e recuar; 
  • a outra que, no desejo de agradar, quer ser “como todo mundo” e seguir a direção do vento (neste caso um vendaval muito desagradável). 

É interessante notar que basicamente essas duas atitudes procedem de um medo. A primeira atitude origina-se do medo de ser arrastado pela corrente dominante e a segunda do medo de ser marginalizado. Qual a solução então? O enraizamento, precisamente, que deve ser feito em dois níveis: natural e sobrenatural.

O enraizamento natural é composto por três elementos: o país, a família, a profissão. Quando o homem tem laços fortes nessas três áreas, ele tem o terreno fértil para seu desenvolvimento natural:

  • por seu apego a um país, o homem se reconhece como participante de uma civilização da qual se sente responsável e pela qual está disposto a ceder suas forças e sua vida, se necessário; 
  • pelos seus laços familiares, o homem recebe dos pais o carinho e a educação necessários ao seu equilíbrio pessoal; 
  • por suas raízes profissionais, o homem desenvolve-se em suas ações, aperfeiçoando-se num campo de atividade específico[1]

É interessante notar também que, nesses três aspectos, as sociedades modernas causam danos significativos: a instabilidade geográfica que prejudica o apego ao país e sua própria terra; as leis contrárias ao matrimônio que destroem os laços familiares e, finalmente, a instabilidade profissional que (na quais existem muitas formas), na maior parte das vezes essas raízes não dependem de nós, uma vez que não escolhemos o nosso país ou nossa família e que a escolha da profissão depende, sobretudo, de parâmetros fora do nosso controle. No entanto, é possível cultivá-los e lutar para preservá-los.

No nível sobrenatural, as raízes serão simplesmente as da vida cristã. A recepção dos sacramentos, a prática das virtudes, o aprofundamento da vida interior, o desenvolvimento do conhecimento religioso: tudo o que contribui para este enraizamento necessário para o cristão.

Se esse duplo enraizamento, natural e sobrenatural, for bem realizado, o católico não tem nada a temer. Não deve temer ser levado pela corrente da decadência, porque está seguro de suas raízes, nas quais reconheceu um vetor de profunda estabilidade e felicidade. Ele não deve temer ser marginalizado, porque compreendeu que a opinião dominante pouco importa, que os valores do mundo moderno são falsos e não trazem nem alegria nem paz duradouras. Digamos melhor: não só o católico não terá nada a temer, mas será capaz de se abrir e brilhar. Santo Tomás observou: “Assim como é mais belo iluminar do que brilhar sozinho, também é mais belo transmitir aos outros aquilo que se contemplou do que contemplar sozinho”. As raízes, de fato, quando são sólidas e bem nutridas, assegura ao vegetal seu desenvolvimento exterior.

O cristão não é apenas chamado a não vacilar, o que seria uma maneira muito estranha de conceber a vida humana e cristã[2], mas a dar fruto (cf. Mt 13,8). É mesmo necessário afirmar a influência recíproca das raízes no desenvolvimento: quanto mais o homem mantém as suas raízes naturais e sobrenaturais, mais dá frutos, e quanto mais dá frutos, mais suas raízes se fortalecem. A vida dos santos mostra isso: a profundidade da sua vida interior é a fonte do seu apostolado, e o seu apostolado permite-lhes aprofundar sua vida interior. Portanto, isto é o que devemos manter: um enraizamento sereno que não teme nenhuma crise, mas que dá frutos e que se fortalece ao os dar.

Pe. Guillaume Scarcella, FSSPX

  1. É bastante obvio que, quando uma mulher desiste de uma profissão para cuidar de seus filhos, ela própria desiste de uma “atividade profissional” para exercer uma atividade ainda mais necessária à sociedade, que é a educação.
  2. Poderíamos imaginar a caminhada como uma forma de escapar da queda? Mesmo assim, muitos cristãos vêem a vida cristã principalmente como uma fuga do pecado, o que dificilmente é inspirador.