SERMÃO DE D. LEFEBVRE PELA FESTA DE TODOS OS SANTOS – 1976

Sermão proferido por D. Lefebvre, em Ecône, em 1º de novembro de 1976: a sublimidade do céu, que é nosso destino final, o Sermão da Montanha, as bem-aventuranças.

O SERMÃO PODE SER OUVIDO CLICANDO AQUI

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Meus queridos irmãos,

Siga o “código do caminho do céu “

A Igreja, sempre preocupada em dispensar-nos um ensinamento apropriado à festa que estamos celebrando, faz-nos ler hoje na Epístola como que um vislumbre do Céu. Abre-nos um pouco do mistério que já desejaríamos conhecer aqui na terra; que gostaríamos de penetrar, de uma certa maneira, para saber o que o Bom Deus prepara para aqueles que Ele escolheu, para seus eleitos.

E no Evangelho, a Santa Igreja recorda-nos que ainda estamos aqui na terra e que temos que seguir o que poderíamos chamar de códigos do caminho do Céu, que não são mais do que aquelas magníficas bem-aventuranças seguidas por todos os ensinamentos de Nosso Senhor, proferidos sobre a montanha.

Assim, na Epístola, a Igreja esforça-se para atrair nossos olhos ao céu, a fim de atrair nossos corações e nossas almas. Porque, definitivamente, somos peregrinos do Céu; estamos, de fato, nesse estado de viajantes e, portanto, temos que olhar para o destino para a qual caminhamos.

O céu é inefável

Como será o Céu? O que é o Céu para os que estão lá, para os eleitos? No Apocalipse, então, São João tenta nos descrever de uma maneira provavelmente muito imperfeita, porque nenhuma palavra pode descrever o que se passa no céu. É o próprio São Paulo que diz isso, ele que foi arrebatado no céu durante um tempo. Ele mesmo diz que é impossível encontrar as palavras que possam demonstrar a grandeza, a beleza, a sublimidade do que viu (cf. 2 Cor 12, 2-4).

São João descreve-nos estas imensas multidões não só do povo judeu, mas de todas as partes do mundo, de todas as nações, que adoram o Senhor e que cantam seus louvores (Ap 7,9).

Honra, glória, todo poder ao Deus Criador pelos séculos dos séculos. E se podemos tentar ter uma ideia do que pode ser a alegria dos eleitos e do arrebatamento em que se encontram, parece-me que devemos, por esses fatos que estão descritos no Evangelho, que podemos de alguma forma nos aproximar do que os eleitos podem ver e compreender no Céu.

Lembrem-se da Transfiguração. Os apóstolos são como que lançados ao chão pelo esplendor que Nosso Senhor descobre em seus olhos, um esplendor mais belo que o sol, dizem eles.

O céu é Jesus Cristo

Nosso Senhor, antes de sua Paixão, antes da provação que os apóstolos iriam sofrer, mostra-lhes o que ele era na realidade, porque Nosso Senhor deveria ter esse esplendor e essa luz de maneira natural, dado que tinha a visão beatífica, que ele estava no céu. Não apenas que ele estava no céu, mas que ele era o céu. Nosso Senhor é o Céu: Ubi Christus ibi Paradisus: “Onde está Cristo, ali está o Paraíso”.

E, portanto, era normal que Nosso Senhor desvendasse o que era, que era Deus. E os apóstolos ficaram tão felizes que pediram para montar três tendas para ficar naquele lugar por toda a eternidade, de certa forma.

E sabemos também que pelo seu esplendor, pela sua luz, Nosso Senhor ressuscitado, também lançou os guardas ao chão, deslumbrados e estupefatos, maravilhados com a luz que saía do sepulcro de Nosso Senhor.

Assim, podemos pensar que tudo é luz lá em cima; tudo é grandeza; tudo é esplendor.

As visões do céu pelos santos

E sabemos também pelos Santos do céu que – com a permissão de Nosso Senhor – vieram aparecer para os escolhidos aqui na terra, que essas aparições reais, as aparições reconhecidas pela Igreja, essas pessoas também se viram arrebatadas, fora de seus sentidos.

Lembremo-nos de Bernadette que, ao ver a Santíssima Virgem, já não sentia a dor da chama que se aproximava das mãos e que queimava, de certa forma, os seus dedos. Bem, ela não sentia, porque ficou encantada com a beleza e a sublimidade da Santíssima Virgem Maria.

Assim, podemos pensar que o Céu é algo que nos deleitará, que será tão belo, tão esplêndido, tão comovente que também seremos transportados de alegria e alegria ao nos aproximarmos daquele que é o nosso Deus. Aproximar-se de Deus é aproximar-se da caridade; é aproximar-se do amor. E, portanto, as almas que estão na presença de Deus, sem dúvida, não podem medir o tempo. Não existe mais tempo. As coisas acontecem fora do tempo. É muito difícil para nós conceber essas coisas, mas, no entanto, é a realidade e tudo o que podemos conhecer sobre o Céu nos faz ter a esperança que um dia também nos unamos aos que já estão lá e desfrutam da felicidade eterna.

Nem todos conseguem

Mas há condições a se cumprir para ir para o Céu e Nosso Senhor, no seu Sermão da Montanha, não se esquece de nos dizer que o caminho é estreito. É neste Sermão da Montanha que ele nos lembra que o caminho que leva ao Céu não é um caminho fácil e que, infelizmente, nem todos conseguem.

Sem dúvida, aqueles que não conseguem, o fazem por sua própria culpa e não por culpa de Nosso Senhor.

O Sermão da Montanha e as bem-aventuranças

É por isso que devemos meditar sobre este Sermão da Montanha. A primeira parte é a das bem-aventuranças.

E ficamos maravilhados com essas bem-aventuranças que contradizem o espírito do mundo, que contraria aquela felicidade da qual já gostaríamos de participar aqui na terra. Então Nosso Senhor nos diz que bem-aventurados os que são perseguidos aqui, bem-aventurados os que sofrem e os que são amaldiçoados, contra os quais serão lançadas calúnias, eles terão uma grande parte no Céu e participarão do Reino do céu.

Nada disso está de acordo com que o mundo quer. O mundo não ama o sofrimento, o mundo não gosta de ser desprezado.

Mas isso não é tudo. Depois, Nosso Senhor nos fala de uma caridade ainda maior do que a dos escribas e fariseus. Ele fala de uma caridade que vai além do que podemos pensar. Se alguém nos pede para acompanhá-lo por uma certa distância, Nosso Senhor não hesita em dizer: Fazei o dobro, acompanhai-o sempre mais.

Se alguém vos despreza e é vosso inimigo, ame-o; ame vossos inimigos. Não ame apenas vossos amigos. Os senhores têm uma caridade exterior, manifestem vossa caridade; bem, não apenas exteriormente, manifestem-na interiormente também. E se forem tentados pelo pecado, não sigam essas tentações, mesmo as interiores.

Ele vos diz explicitamente: Não basta não cometer adultério, ainda é necessário não ter um simples desejo no coração. E quando rezarem, não rezem apenas externamente; não manifestem sua oração para que as pessoas o vejam, o admirem e o estimem. Mas rezem em seus quartos; tranquem-se em suas celas e roguem realmente a Deus.

E é neste momento que Nosso Senhor nos ensina a magnífica oração do Pater noster, o Pai Nosso. Se querem ser perfeitos, sejam perfeitos como seu Pai Celestial é perfeito. E isso resume todo o Sermão da Montanha: Quão perfeito é o vosso Pai Celestial.

E é na oração do Pai Nosso, que Nosso Senhor diz que a vontade de Deus deve ser feita tanto na terra como no céu. O Bom Deus, portanto, nos pede uma perfeição muito grande. Ele é exigente conosco. E esta caridade tão grande, tão exigente que o Bom Deus nos pede. Ele nos dá os meios para cumpri-la. Ele nos dá primeiro através da oração. Se queremos ser perfeitos, devemos rezar. Devemos pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois por nós mesmo não podemos alcançar essa perfeição. Somente pela graça de Nosso Senhor que podemos alcançá-la.

A prática da perfeição cristã

Como obteremos esta graça de Nosso Senhor, esta graça sobrenatural que nos torna filhos de Deus? Nós a obteremos pela oração e pelos sacramentos. Devemos, portanto, amar receber os sacramentos, participar deles, em particular, dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Assim receberemos verdadeiramente dentro de nós aquela vida de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos ajudará a praticar aquela perfeição que Jesus nos pede.

E isso, especialmente hoje, é muito importante para nós, para nós que queremos seguir Nosso Senhor Jesus Cristo; que queremos considerá-lo como nosso Rei; que queremos considerá-lo como um exemplo. Não digamos apenas da boca pra fora, mas pratiquemo-lo. Mostremos a todos os que nos criticam, a todos os que pensam que nos afastamos de Nosso Senhor, que nos afastamos da Igreja, demonstremos, ao contrário, que somos verdadeiramente filhos da Igreja, filhos de Deus, filhos de nosso Senhor Jesus Cristo. E isto, praticando as virtudes que Nosso Senhor Jesus Cristo quer que pratiquemos. Em particular, a caridade; a verdadeira caridade, não a caridade que consiste em compromissos, que consiste no abandono, mas a caridade que é a caridade da verdade, que é a caridade da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Peçamos a Santíssima Virgem Maria que nos ajude a caminhar segundo este código de perfeição que Nosso Senhor pregou na montanha. Peçamos a Maria Santíssima que nos conceda esta graça de cumprir os conselhos que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá. E assim, teremos a esperança de nos juntarmos àqueles que estão no Céu.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amem.

D. Marcel Lefebvre