TRÊS GRAÇAS ESPECIAIS QUE NOS ALCANÇA A INTERCESSÃO DE SÃO JOSÉ

O que é o Manto Sagrado de São José

Fonte: Hojitas de Fe n° 238 – Tradução: Dominus Est

Toda a grandeza de São José provém das estreitíssimas relações que teve, pela própria Providência de Deus, com a Santíssima Virgem e o Verbo Encarnado: escolhido para ser esposo da Mãe de Deus, guarda de sua virgindade e de sua reputação, o solícito guardião do Filho de Deus feito homem, o representante do Pai eterno aos olhos do divino Jesus. E esta mesma glória e grandeza que fez a Igreja reconhecê-lo como seu Patrono universal: tendo essas duas vestes preciosíssimas sob seu cuidado e tutela, coube-lhe agora ter a santa Igreja de Deus sob sua tutela; tendo sido o protetor de Jesus em sua pessoa, ele teve que zelar por Jesus em seu corpo místico.

A Igreja se dirige especialmente a São José e ao seu Patrocínio nos momentos calamitosos que tem que viver, e isto é muito compreensível: a ação de São José foi mais evidente quando teve que salvar a vida ameaçada do Menino Jesus, quando teve que libertá-Lo daqueles que procuravam matá-lo. Por isso, o Papa Leão XIII pediu que a devoção a São José se difundisse cada vez mais entre os fiéis e, por isso, o proclamou solenemente Patrono da Igreja Universal, em 1870, quando a Igreja entrava em uma desencadeada perseguição contra ela por todos os inimigos de Deus, e que ainda continua a ocorrer.

Há muitas coisas que San José deve proteger, muitas coisas que devemos lhe pedir. Mas há três graças que lhe são especialmente confiadas, por ter uma relação especial com a missão que recebeu na Sagrada Família; três graças que correspondem a três bens seriamente ameaçados hoje, especialmente na juventude: 1º – a castidade perfeita; 2º – a vida interior; 3º – a perseverança final. Vejamos.

1º – A castidade perfeita

São José foi, incontestavelmente, um exemplo completíssimo e perfeito de castidade. Se a Sagrada Escritura exalta a castidade do antigo patriarca José, por ter respeitado a esposa de seu senhor e negado o pecado impuro, o que diremos de São José, que não só respeitou a Santíssima Virgem, mas também recebeu a excelsa missão de ser o guardião e testemunha de sua virgindade perpétua? E se a própria Igreja exalta o exemplo de santos como Santo Tomás, que, tendo sido fiel à virtude da castidade, foi adornado por Deus com o dom de uma preservação vitalícia de toda tentação impura; como São Luís Gonzaga, constituído padroeiro da juventude sobretudo por sua vida angelical em matéria de pureza; o que devemos dizer sobre São José, que praticou esta virtude de modo muito mais excelente do que todos eles? Como não invocar o seu patrocínio para adquirir e conservar esta virtude?

Sim, sabemos que São José foi casto, puro, virgem, e com sua virgindade acompanhou a virgindade da Santíssima Virgem. As palavras da Virgem ao Arcanjo São Gabriel, que anunciou sua maternidade divina, nos mostram a mesma coisa: “Como pode ser isso, se não conheço varão algum?”. É uma Virgem casada que dá esta resposta. Ora, uma mulher casada não pode fazer o voto de virgindade perpétua em seu casamento sem o consentimento de seu marido, e ainda assim, ela não poderia estar totalmente segura e tranquila em seu voto, se o marido não se obrigasse a se comportar como ela. E é isso que a tradição nos afirma de São José: que ele não só permitiu que Maria fizesse seu voto de virgindade perpétua, mas que ele mesmo o fez junto com ela.

A virgindade e a castidade de São José foram de corpo e alma. Foi corporalmente, isto é, ele renunciou a todo uso do casamento com a Santíssima Virgem, e podemos facilmente imaginar qual seria o controle de seus sentidos, sua imaginação e suas paixões que gozava São José, para que a Virgem se sentisse perpetuamente segura e protegida com a companhia de São José. E foi também da alma, uma vez que o estímulo, ou o motor desta castidade, não era outro (assim como do sacerdote e do religioso) senão a excelente intimidade que gozava com Jesus e com Maria, que lhe exigia não ter o coração dividido, mas totalmente dedicado a eles.

E com isso passamos à consideração da segunda graça.

2º – A perfeita vida interior

De pouco haveria servido a São José a castidade material se não a tivesse usado como meio de ascender à uma união perfeita com Deus, com o Verbo Encarnado, e alcançá-Lo pelo meio mais perfeito, que é Maria. Santo Tomás ensina que um ser se torna impuro ao misturar-se com coisas que lhe são inferiores, de modo que o amor e o apego às coisas criadas é para nós uma forma de impureza interior, enquanto se torna puro com a mistura e união com as coisas que lhe são superiores: a graça, Deus, a Virgem. Foi o caso de São José. E é isso que nos explica também a profunda vida interior deste santo Patriarca.

São José é realmente o santo padroeiro das almas interiores, o padroeiro da vida interior. Toda a sua vida foi inteiramente consagrada a Maria, e por Maria a Jesus. E nesta vida de consagração a eles, alcançou a maior intimidade que se pode imaginar em qualquer outro santo. Se Moisés desceu transformado pela luz divina através dos quarenta dias de intimidade que gozou com Deus no Monte Sinai, se São João Batista foi declarado pelo Salvador o maior homem nascido de mulher no Antigo Testamento por causa da íntima união que sua missão lhe deu com Ele, ou seja, anunciá-Lo com tamanha proximidade, o que diremos de São José, que não só conviveu com o Verbo Encarnado durante quarenta dias, mas trinta anos? Que não só teve que anunciá-Lo com tamanha proximidade, mas também alimentá-Lo, protegê-Lo, guardá-Lo? Que não só gozou da presença de Jesus e Maria, como os outros contemporâneos judeus de Nosso Senhor poderiam ter gozado, mas também se aplicou com todas as suas forças para conhecer, amar e imitar Jesus, e fazê-lo por Maria?

São José foi realmente o primeiro a viver o lema “A Jesus por Maria”, e desde então é impossível para qualquer outra pessoa vivê-Lo como ele o fez; e não só isso, mas necessariamente qualquer pessoa que aspire reproduzir este ideal de vida deve necessariamente fazê-lo como discípulo e protegido do grande São José, padroeiro e modelo de almas que aspiram a viver em perfeição.

3º – A perseverança final

A terceira graça que São José nos faz alcançar, e não menos importante que as duas anteriores, é a da perseverança final. A razão é muito simples: ele foi o único homem na terra que teve o privilégio de entregar sua alma nas mãos de Jesus e Maria, assistido pessoalmente por eles. Ora, como salientou São Luís Gonzaga, “os Santos têm um poder especial para obter, para aqueles que os invocam, as virtudes em que mais particularmente se destacaram”. Desde então, São José tem um poder especial para conceder a seus devotos essa mesma graça que recebeu e de certa forma mereceu, ou seja, morrer com a assistência de Jesus e Maria. É a perseverança final, a graça das graças.

Mas esta perseverança final, em São José, foi preparada por outra longa perseverança, e foi a absoluta fidelidade e correspondência deste Patriarca ao longo da sua vida, às graças recebidas de Deus. A Sagrada Escritura, e toda a Liturgia da festa de São José, destaca este aspecto do “vir fidelis“, do homem eminentemente fiel, mais do que qualquer outro, ao que Deus lhe exigiu. A fidelidade à graça de Deus, momento após momento, dia após dia, é o que prepara nossa alma para corresponder sempre às graças de Deus, e a ser dócil, portanto, à última e decisiva, que é a boa morte e a perseverança final na graça.

À pequena fidelidade que se observa nas obrigações diárias é seguida pela grande fidelidade, que é confirmada pela glória: “Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, eu te constituirei fiel no muito; entrai no gozo do teu Senhor”. Acaso não é isso que Jesus deve ter dito a José em seu leito de morte, aplicando-o a seu pai nutrício como não se pode aplicar a nenhuma outra alma?

Conclusão

Nenhum cristão fiel, hoje, pode ignorar quão sistematicamente esses três bens da castidade, vida interior e perseverança e fidelidade, são combatidos por todos os meios e em todas as frentes, pois são três elementos constitutivos da Santidade.

– Com a maré de impureza e sensualidade que invade e submerge o mundo, é muito difícil não cometer pecados contra a bela virtude, seja no pensamento, no olhar ou na ação.

– Da mesma forma, com toda a sedução das coisas do mundo, suas riquezas, suas comodidades e com todo o ruído das notícias, curiosidades, entretenimentos, atividades, é muito difícil ser verdadeiramente uma alma interior.

– Finalmente, não é preciso ser demasiado perspicaz para ver também até que ponto o diabo e o mundo atacam e conseguem destruir, com maior ou menor esforço, em mais ou menos tempo, a fidelidade e perseverança de muitas almas na fé e na graça.

Estaremos nós entre os que sucumbem? Bem, podemos estar.

E para que essa desgraça não nos aconteça, temos o remédio em San José. “Ite ad Joseph“. Sejamos seus devotos de coração e peçamos-lhe, frequentemente e com confiança. estas três graças que devemos reservar para nossas súplicas a este Santo Protetor:

1º Peçamos-lhe a graça de uma perfeita pureza de corpo e alma: que ele, por sua intercessão, nos livre das muitas ciladas que hoje tendem à virtude da castidade; que nos conceda a graça de um grande amor a esta virtude; que ele nos revele o segredo para praticá-la, ou seja, um amor sincero e total por Jesus e Maria; e que ele também nos dê a fortaleza para tomar os meios, por vezes exigentes (como mortificação corporal e fuga das ocasiões), para mantê-la intacta.

2º Peçamos também a São José, com constância, a graça de sermos verdadeiras almas interiores, nem mais nem menos do que ele foi, e à sua imitação, isto é, indo a Jesus por Maria; a graça de uma grande intimidade com a Santíssima Virgem, vivendo bem a nossa consagração a Ela; a graça de obter o conhecimento interior e o amor perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo amor de Maria.

3º Peçamos-lhe, finalmente, a docilidade e a perfeita fidelidade à graça de Deus, aos seus mandamentos, ao nosso dever de estado, à nossa própria vocação, a fim de alcançar com esta disposição de alma a perseverança final, com a qual seremos seus companheiros na glória, depois de tê-lo imitado na terra.