Apresentamos abaixo uma pequena biografia de D. Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Para saber mais sobre sua vida há um documentário em vídeo que pode ser adquirido clicando aqui ou aqui
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Dom Marcel Lefebvre, um Bispo se levantou
Sacerdote missionário, Arcebispo de Dakar, Delegado Apostólico da Santa Sé para a África francesa, Superior da Congregação do Espírito Santo, membro da Comissão Preparatória do Concílio Vaticano II e fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, Dom Marcel Lefebvre foi uma grande figura da Igreja.
Permanece nas memórias como o bispo que se opôs à Nova Missa e às reformas do Concílio Vaticano II. A sua vida nos ajuda a compreender o porquê.
Marcel Lefebvre nasceu no norte da França, em Tourcoing, no dia 29 de novembro de 1905, sendo o terceiro de oito filhos, dos quais os cinco mais velhos se consagraram a Deus: dois sacerdotes e três religiosas. Marcel foi batizado no dia seguinte a seu nascimento e recebeu uma educação profundamente católica em uma família piedosa da burguesia industrial. Seu pai era dono de uma fábrica de fios de lã. Fez sua primeira comunhão em 25 de dezembro de 1911 e participou da Cruzada Eucarística das crianças, sendo cruzado em 1920.
Sacerdote e missionário
Em 25 de outubro de 1923, o jovem Marcel entra no Seminário francês de Roma, dirigido naquela época pelo Padre Henri Le Floch. É tonsurado em 19 de setembro de 1925 na igreja do Seminário romano do Latrão, por Dom Giuseppe Palica. Recebe as ordens menores de hostiário e leitor em 20 de março de 1926 das mãos do Cardeal Pompilj, na basílica de São João de Latrão. Recebe as ordens menores de exorcista e de acólito no dia 3 de abril de 1926.
Marcel Lefebvre tem que interromper sua formação sacerdotal para fazer o serviço militar na França. Depois das aulas no campo de Mourmelon, é enviado em dezembro de 1926 ao regimento 509 de tanques ligeiros na região de Valenciennes, com a patente de sargento.
Em 17 de novembro de 1927, retorna a seus estudos no Seminário francês de Roma, dirigido a partir desse ano pelo Padre César Berthet. De 1927 a 1930, Marcel Lefebvre será mestre de cerimônias do seminário. Dom Carlo Raffaele Rossi o ordena subdiácono em 30 de março de 1929, no Seminário do Latrão, e o Cardeal Pompilj o ordena diácono em 25 de maio de 1929, na basílica de São João de Latrão. Ao mesmo tempo, Marcel termina seus estudos eclesiásticos na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde obtém seus doutorados em Filosofia e em Teologia.
Ordenação sacerdotal
Marcel Lefebvre é ordenado sacerdote em 21 de setembro de 1929 por Dom Liénart, na capela de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Lille, França, sendo nomeado vigário em Lomme, um subúrbio da mesma cidade. Movido pelo desejo de ser missionário na África, entra em 1931 no noviciado da Congregação dos Padres do Espírito Santo, onde faz sua profissão religiosa em 8 de setembro de 1932. No dia 12 de novembro desse mesmo ano, embarca em direção ao Gabão.
Missionário no Gabão
Inicialmente, o bispo de Libreville, Dom Tardy, o encarrega da formação dos sacerdotes africanos no seminário de Libreville, onde o Padre Marcel ensina Teologia Dogmática e Sagrada Escritura. Em 1934 é nomeado diretor do seminário. Em 28 de setembro de 1935, pronuncia seus votos perpétuos de religião. Três anos depois, é enviado à floresta do interior do país para evangelizar vários lugares ao redor das cidades de Donguila, Lambaréné e N’djolé, onde aprende a língua local, o fang. O Padre Marcel se torna assim superior de diversas missões no Gabão até 1945, quando o Provincial da França o chama.
Nesse período, Marcel Lefebvre perdeu sua mãe, que faleceu santamente em 1938, e também seu pai, René Lefebvre, detido em 1941 pela Gestapo, por suas atividades na resistência francesa à invasão alemã. Morreu em fevereiro de 1944, no campo de concentração de Sonnenburg, com o terço na mão, vítima da loucura nazista.
Bispo
Em 16 de outubro de 1945, o Padre Marcel Lefebvre é nomeado diretor do Seminário de Filosofia de Mortain, na França, onde é outra vez encarregado da formação de futuros sacerdotes. Mas, em 12 de junho de 1947, o Papa Pio XII o nomeia Vigário Apostólico de Dakar. É sagrado bispo pelo Cardeal Liénart, bispo de Lille, em 18 de setembro de 1947, em sua paróquia natal de Nossa Senhora de Tourcoing. Dom Marcel Lefebvre assume seu cargo em Dakar no dia 16 de novembro de 1947.
No ano seguinte, em 22 de setembro de 1948, o Papa o nomeia Delegado Apostólico para a África francesa, que abarca nesse momento dezoito países. Durante quinze anos, repetirá em escala maior o trabalho missionário dos seus anos no Gabão, fundando em vários lugares novas dioceses, seminários, escolas e conventos. Por ser muito unido a Pio XII, viaja a Roma ao menos uma vez por ano para informar-lhe sobre seu trabalho e receber suas diretivas. O Pastor Angélico o elege para ser o primeiro Arcebispo de Dakar, onde Dom Marcel é entronizado solenemente pelo Cardeal Tisserant em 14 de setembro de 1955. Recebe o pálio em 12 de junho de 1958.
Depois da eleição de João XXIII, Dom Marcel Lefebvre é relevado de seu cargo de Delegado Apostólico, mas continua sendo Arcebispo de Dakar. Torna-se presidente da Conferência Episcopal da África Ocidental e, em 5 de junho de 1960, é convocado para participar na Comissão Central Preparatória do Concílio Vaticano II, convocado no ano anterior. Em 15 de novembro de 1960, é nomeado pelo Papa Assistente ao Trono Pontifício. No ano seguinte, é nomeado bispo de Tulle, na França, tomando posse do cargo em 23 de janeiro de 1962. Dom Lefebvre deixa a África depois de haver organizado vinte e uma novas dioceses.
Bispo de Tulle e depois Superior Geral dos Espiritanos
Em Tulle, a situação é sombria, as vocações e a prática religiosa diminuem. Os sacerdotes vivem na miséria e se desanimam. Dom Lefebvre põe mãos à obra, recebendo com muita bondade cada um de seus sacerdotes, visitando-os, animando-os, mostrando-lhes a importância da missa bem celebrada, inclusive quando são poucos os fiéis que a assistem. Contudo, depois de somente seis meses, o arcebispo é chamado a Roma, onde a Congregação dos Padres do Espírito Santo acaba de elegê-lo Superior Geral, em 26 de julho de 1962. O Papa o honra então com o título de Arcebispo de Synnada, Frigia (atualmente Şuhut, Turquia).
Muito impressionado pela diferença entre a missão florescente que deixava e a desolação que encontrava na França, compreende que o abandono da batina acompanha muitos outros abandonos inspirados pela secularização e pela laicidade da sociedade e principalmente pelo slogan enganoso de “abertura ao mundo”, tão contrário ao verdadeiro zelo missionário.
Pouco depois de sua eleição como Superior Geral, é aberto o Concílio Vaticano II, em 11 de outubro de 1962.
O Concílio Vaticano II
Dom Lefebvre está presente em todas as sessões do Concílio e participa ativamente no Coetus Internationalis Patrum, grupo que ele preside. Durante os debates, essa associação se opõe com coragem aos inovadores e à tendência liberal que toma preponderância na aula conciliar.
O pós-concílio justificou plenamente os temores dos conservadores, principalmente a partir da aplicação das reformas. As paróquias se esvaziam, a vida religiosa e sacerdotal se deteriora, os conventos e os seminários fecham por falta de vocações. A Congregação dos Padres do Espírito Santo, muito vigorosa, com mais de 5.000 membros e aproximadamente sessenta bispos, não escapa à tormenta. Para não ter que promover um aggiornamento que ele prevê como catastrófico, Dom Lefebvre apresenta sua renúncia como Superior Geral durante o Capítulo extraordinário que é aberto em Roma no dia 8 de setembro de 1968. Não é capaz de atenuar com sua autoridade os transtornos na vida religiosa e litúrgica que devem ser aplicados em nome do “espírito do Concílio”.
Dom Lefebvre e a Fraternidade
Dom Lefebvre continua sendo consultor da Sagrada Congregação para a Propagação da Fé (o será até 1972) e vive retirado em Roma, na rua Casalmonferrato, perto da Via Tuscolana. Recebe a visita de jovens desamparados, que desejam uma formação sacerdotal conforme à Tradição da Igreja. Ele os envia à Universidade de Friburgo, Suíça, cujo ensino continua sendo correto. E assim, em 13 de outubro de 1969, abre nessa cidade a “Residência Internacional São Pio X” com o apoio do bispo local, Dom François Charrière.
Com o fim de introduzir um ano de espiritualidade antes do começo dos estudos propriamente eclesiásticos, Dom Lefebvre adquire no ano seguinte um terreno em Écône, Suíça. A antiga propriedade dos Cônegos do Grande São Bernardo reabre suas portas em 1° de outubro de 1970, com a autorização do bispo local, Dom Nestor Adam.
Um mês mais tarde, em 1° de novembro de 1970, nasce oficialmente a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, aprovada e erigida por Dom François Charrière, bispo de Genebra, Lausana e Friburgo. Em 18 de fevereiro de 1971, a obra recebe um decreto de louvor do Prefeito da Sagrada Congregação para o Clero, Cardeal Wright.
Primeiras tensões
Por causa da rejeição de Dom Lefebvre às reformas conciliares, em particular à nova missa promulgada por Paulo VI, muitos candidatos se apresentam em Écône e surgem assim as primeiras tensões, principalmente com os bispos franceses, que creem poder apelidar a instituição de “seminário selvagem”, apesar de todas as aprovações recebidas pela Fraternidade.
Em 1973, com a ajuda de sua irmã, Madre Maria Gabriel, religiosa do Espírito Santo, Dom Lefebvre funda a congregação das Irmãs da Fraternidade São Pio X para receber às jovens interessadas na vida consagrada. Logo depois, são fundados os Irmãos da Fraternidade e as Irmãs Oblatas.
Em 21 de novembro de 1974, depois da visita apostólica ao seminário, Dom Lefebvre publica uma declaração em que proclama:
“Aderimo-nos com todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a conservação dessa fé; à Roma eterna, mestra da sabedoria e da verdade. Negamo-nos, ao contrário, e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II e, depois do Concílio, em todas as reformas que dele surgiram.”
Retirada da aprovação
Em 6 de maio de 1975, o sucessor de Dom Charrière retira a aprovação à Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Dom Lefebvre tenta em vão apelar da decisão. No ano seguinte, em 1° de julho de 1976, é declarado suspenso a divinis pelo Papa Paulo VI por haver continuado a ordenar sacerdotes. Nesse verão, a resistência à “autodemolição da Igreja” adquire uma importância mundial.
Dom Lefebvre concebe muitas esperanças a respeito da eleição do novo papa, João Paulo II, em 16 de outubro de 1978. Este o recebe em audiência um mês depois, em 18 de novembro de 1978, mas as discussões doutrinais com o Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, não conduzem a nada.
Em 1982, Dom Lefebvre abandona o cargo de Superior Geral, que confia ao Padre Franz Schmidberger.
Em 21 de novembro de 1983, Dom Lefebvre publica com Dom Antônio de Castro Mayer, bispo de Campos, Brasil, um manifesto episcopal no qual denuncia “os principais erros da eclesiologia conciliar”: concepção latitudinária e ecumênica da Igreja; governo colegial e democrático; falsos direitos naturais do Homem; concepção errônea do poder do papa; concepção protestante da missa; livre difusão dos erros e das heresias. Os dois bispos concluem seu alerta com estas palavras: “É hora para a Igreja de recuperar sua liberdade e trazer consigo o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Reino de Maria, sem preocupar-se com seus inimigos.”
Sagração de quatro bispos
Dois anos depois, Dom Lefebvre escreve aos cardeais para protestar contra a celebração da assembleia inter-religiosa de Assis (em 27 de outubro de 1986). Em 1987, a resposta das autoridades romanas às dúvidas sobre a nova doutrina da liberdade religiosa o convence sobre a gravidade dos princípios liberais que guiam a Santa Sé nessa época. Apesar de uma tentativa de obter um reconhecimento canônico em 1987-1988 e diante da insuficiência das garantias propostas por Roma para assegurar a perenidade de sua obra sacerdotal, Dom Lefebvre sagra quatro bispos em Écône, em 30 de junho de 1988.
Falecimento
Depois de uma longa doença, falece em 25 de março de 1991, no Hospital de Martigny. É enterrado solenemente no dia 2 de abril em Écône, onde descansa no cemitério do seminário.
De acordo com seu desejo, sobre sua tumba foram escritas as palavras de São Paulo: “Tradidi quod et accepi” (I Cor. 11,23), “Transmiti o que recebi”.