SANIDADE E SANTIDADE

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Sobretudo no que se refere a sexo, os homens nascem desequilibrados; poderíamos quase dizer que nascem loucos. Raramente atingem a sanidade antes de atingirem a santidade“. – GK Chesterton.

Fonte: SSPX Great Britain – Tradução: Dominus Est

Noverim Te, noverim me, rezava Santo Agostinho — ‘Que eu Vos conheça e que eu me conheça.‘ Deus é puro Espírito, imortal e invisível; nós somos corpo e alma. Em nosso corpo, somos como os animais; em nossa alma, somos como Deus. E Deus criou o homem à Sua imagem; criou-o à imagem de Deus: macho e fêmea os criou. Na alma, a luz do intelecto e a graça santificante nos fazem à imagem e semelhança de Deus. Em nosso corpo, somos como os animais e temos os mesmos fortes instintos que são o motor do reino animal. Os mais fortes deles são os instintos de preservação de si mesmo e preservação da espécie que, por vezes, parecem ser mais fortes do que nós. Como podemos controlá-los?

Foi a graça santificante que fez dos nossos primeiros pais os filhos prediletos de Deus. Ora, Deus não achou conveniente que os seus filhos não controlassem facilmente os seus instintos animais, por isso deu-lhes, junto à graça santificante, o dom da integridade. Mas Deus avisou Adão e Eva: no dia em que pecardes, morrereis. Algumas pessoas consideram esse fato como um sinal de despotismo da parte de Deus. Um déspota é um governante que insiste que seus caprichos irracionais sejam obedecidos ao custo de punições terríveis. Contrariamente à opinião do falso profeta Maomé, Deus não é um déspota. Quando Deus disse: no dia em que pecardes, morrereis, isso mostra o que um pai quer dizer quando se dirige a um filho, ‘No dia em que correres na frente de um ônibus de dois andares, morrereis; ou o que um sargento pode dizer a uma classe de paraquedistas em treinamento, ‘No dia em que pulardes do avião sem paraquedas, morrereis’. Nada disso são ameaças, são afirmações do óbvio. Deus está dizendo: “Foste feito para mim, eu sou a vida da tua alma; no dia em que me rejeitares, não deixarás de morrer, porque a fonte da tua vida desaparecerá”.

A tragédia que se seguiu, a conhecemos pela revelação; a conhecemos melhor pela experiência cotidiana. Quando perdemos a justiça original e os dons preternaturais que a acompanhavam, nossas paixões ficaram desordenadas, e os instintos animais por prazer ficaram seriamente fora de controle. A carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito desejos contrários a carne: estas coisas (a carne e o espírito) sao contrarias entre si, para que não façais tudo aquilo que quereis. De fato, nossas paixões podem estar tão fora de controle que nenhum homem consegue manter todas as suas paixões sob controle por muito tempo sem ajuda. Essa ajuda vem com a graça santificante, que também é conhecida como graça curadora.

É por isso que, parafraseando Chesterton, as paixões animais estão muito próximas da loucura em nós, e só as dominaremos com a graça santificante. O caminho para a sanidade é a santidade. A alma só controlará o corpo se estiver habitada pela vida divina.

Agora, há aqui algo estranho: se a alma não dominar o corpo, o corpo dominará a alma e obrigá-la-á a cumprir suas ordens em um nível totalmente diferente, que o corpo nem sequer compreende. Algo semelhante acontece no lar onde uma criança está no comando. A criança é dominada por desejos desordenados que ela não compreende e precisa de um pai que lhe imponha a lei. Se o pai impõe a obediência, haverá paz, com turbulências ocasionais, à medida que a criança graduamente aprende a virtude. Mas se o pai não exigir obediência, os caprichos da criança tornar-se-ão a regra do lar, e o pai desculpar-se-á com ela. O mesmo fenômeno está em todos nós: ou nossa alma controla o corpo, exigindo que o corpo se conforme à razão, ou então o corpo controlará a alma e exigirá que o intelecto invente fábulas para justificar os caprichos do corpo. A alma, intimidada pelas paixões, torna-se então maliciosa e torna-se muito pior do que um pecado puramente corporal poderia ser: ela peca contra a luz — talvez até mesmo contra o Espírito Santo — chamando o bem de mal e o mal de bem. Porque é que não hei de amar quem eu quiser? Deus não gostaria que eu fosse infeliz! A repressão é má para ti. Amor é amor!

É aqui que o Bispo intervém, o pastor das almas: carregando às costas a Cruz de Cristo, levando na mão esquerda um cajado para conduzir as ovelhas.

Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, corrige, admoesta com toda a paciência e doutrina, porque vira tempo em que (muitos) não suportarão a sã doutrina, mas acumularão mestres em volta de si, ao sabor das suas paixões, (levados) pelo prurido de ouvir. Afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às fabulas.

Esse é o dever do pastor fiel: advertir os fiéis contra as fábulas inventadas para justificar os desejos desordenados do corpo e alimentar os cordeiros com a doutrina da verdade e os meios práticos para praticar a virtude da castidade.

Que Deus vos abençoe,

Pe. David Sherry, FSSPX, Superior do Distrito Britânico