A BOA CORREÇÃO – PARTE 2

Resultado de imagem para correção filhos7.º) Oportuna

Há tempo de calar, e tempo de falar“, lembra-nos a Bíblia (Ecle 3,7). Como a semente, que parte de nossa mão e se realiza no seio da terra, assim a correção é, o mais das vezes, de iniciativa nossa, mas se completa no educando, por obra sua. E como a semente não pode ser plantada em qualquer época, porque “há tempo de plantar, e tempo de colher” (ibd. v.2.), também a correção há de aguardar o momento oportuno. Só a propomos (ou impomos), na esperança de êxito. E este depende do acolhimento que só pode ser favorável, se as circunstâncias também o forem.

Na hora da zanga – a tendência é mais para repelir que para aceitar qualquer sugestão de emenda. Em presença de pessoas estranhas, de colegas e mesmo de irmãos, quando implica humilhação, também não será nem aceita. Espera-se que a tormenta passe, aborda-se o educando a sós, e, na calma de lado a lado, propõe-se a desejada medida.

As mães cristãs têm excelente oportunidade quando, depois da oração da noite, vão ver se os filhos estão bem acomodados no leito. Falando em voz mansa e amorosa, sentada à beira da cama, é muito difícil não ser a mãe bem acolhida.

Aguarde-se, pois, o momento oportuno.

Tratando-se de crianças pequenas, não convém protelar muito a correção. Elas esquecem facilmente que cometeram a falta, não estabelecem a necessária ligação entre o erro e a emenda, podem achar injustas as medidas impostas, e então o efeito será contrário.

Em fase desses perigos, podemos recorrer às práticas corretivas sem aludir aos fatos “esquecidos”, alcançando os mesmos resultados, sem as contra-indicações.

Já o dissemos acima, mas uma repetição deste feitio faz sempre bem: exige-se o momento oportuno também para o educador, que só deve agir quando pode revelar, pelo domínio de si, que fala nele a razão, e não a paixão, que procura o bem da criança e não o desabafo da própria cólera.

8.º) Perseverante

Da parte da criança, vontade frágil porque ainda em formação, compreende-se que haja desfalecimentos, no constante recomeçar após as faltas. Da parte dos pais, não! Eles hão de querer sempre a correção dos filhos. Sempre – sincera e decididamente. Paciente, mas obstinadamente. Santa obstinação! Não desanimarão com as recaídas, não se abaterão com os insucessos, não se cansarão com as recomendações das mesmas práticas.

Não contarão com resultados fáceis, nem se acovardarão com as dificuldades. Sobretudo, não se resignarão aos defeitos dos filhos; mas lutarão para corrigi-los.

E não será uma luta episódica, descontínua, mas sistemática, branda e permanente. Não é temporal do verão, mas a chuvinha mipuda e teimosa, que o povo chama “chiadeira”, porque umedece o solo em profundidade.

Aquele amor de mãe que não conhece canseiras nem vê sacrifícios, quando se trata da saúde dos filhos, não se há de mostrar menos dedicado e admirável nas restaurações morais.

O amor ensinará aos pais a serem bondosos até a ternura, mas decididos e persistentes, porque “quem perseverar até o fim é que será salvo” (Mt 10,22).

9.º) Firme

É por amor, o bem entendido amor, aquele que quer o bem, que a correção há de ser firme- não frágil nem indulgente, mas segura, decidida e forte.

Observa o grande pedagogo suíço Foerster (“Instrucion ética de la juventud”) que a tendência para a condescendência, característica de nossos tempos, é própria de homens fracos, incapazes de suportar as conseqüências de seus atos, e que se justificam procurando evitá-las também nos outros. De fato, a fraqueza dos responsáveis por crianças e adolescentes gerou e multiplica a “juventude transviada” e a complacência dos responsáveis pela segurança social impulsiona a maré montante de imoralidades e crimes, que a falta de formação religiosa desencadeou.

Condenando os processos da força, sou, no entanto, pela educação forte. A tolerância com os defeitos da crianças leva-as muitas vezes ao crime. E a tolerância com os crimes multiplica os criminosos e agrava os delitos.

A indulgência, ao contrário do que pensam os superficiais, é prejudicial ao educando. Os que a defendem para a primeira falta, guardam a energia para as outras, tão certos estão de que elas virão. Quando mais lógico é ser firme logo que o mal aparece, para evitar que prossiga. “A cobra se mata na cabeça“, diz a sabedoria popular. Um tratamento adequado na primeira falta evitará provavelmente a segunda. Isto está na lógica da correção e na psicologia do faltoso.

– Na lógica da correção, porque, ao menos quando se trata de lei moral violada, a expiação é exigência indeclinável. Em materia de Moral, ninguém pode ser tolerante, pois todos lhe estamos igualmente sujeitos.

– Na psicologia do educando, porque se ele associar à primeira falta uma reação desagradável, ficará inclinado a evitá-la; ao passo que, se nenhuma corrigenda lhe foi exigida, é provável que se sinta estimulado a prosseguir no erro.

– Podemos também confundir a criança: ela pensava ter feito realmente um ato mau, esperava reação dos pais, e estes nem ligaram… Então, o ato não é tão mau, pois ninguém ignora que as atitudes dos pais são para os filhos pequenos o critério do bem e do mal. E está aberto o caminho às reincidências…

Porque queremos a correção de todos – menores e adultos – é que reclamamos antes firmeza que indulgência. Esta é geralmente tomada como fraqueza, e nada impressiona tão negativamente as crianças e jovens como a autoridade fraca.

Lembremos finalmente que firmeza não significa rudeza, mas requer a compreensão da criança e a bondade de modos, também necessárias, como já ficou acentuado.

10.º) Curta

As correções muito longas são antes castigos. Na verdade, cansam as crianças, dão-lhes a impressão de injustiças, sendo repelidas – e não produzem efeito, ou o produzem contrário. Certas medidas são mais punitivas que educativas: – um mês sem sair de casa, uma semana tomando as refeições a sós, etc.

Pecam, sobretudo, por tirarem o estímulo à melhora. Se provocarmos desânimo em vez de coragem, não estaremos impulsionando a criança para a perfeição.

Para ajudar na formação de bons hábitos, mais valem medidas mais freqüentes, embora de curta duração. Não, porém, tão rápidas que não dêem para sentir o erro, e nem tão longas que façam esquecer a ligação com a falta, gerando irritação, que é contraproducente.

Cumprindo com facilidade o que lhe sugerimos, sem se cansar, mas até sentindo que era capaz de fazer mais, a criança aceitará com amor o trabalho de corrigir-se, estimulada a novas tarefas, quando necessário. Isto é vital para a correção.

11.º) Esquecida

Tanto mais a criança recai, tanto maior necessidade tem de ajuda. recai porque a tendência lhe é muito forte, ou a vontade ainda muito fraca. Não consegue andar sozinha: precisa de nossa mão. Se, estendendo-lhe a mão, a empurrarmos, ela cairá mais depressa; se a magoarmos, ela receará nossa ajuda; se a irritar-mos, ela nos fugirá. Tanto mais freqüentes as recaídas, tanto mais ela deve ser estimulada.

Ora, nada é tão desestimulante como lembrarmos as faltas cometidas, o número de vezes que propusemos emenda, e o pouco fruto colhido.

Cuidaremos de cada falta como se fosse a primeira. Se a criança multiplica as faltas ou retarda a emenda mais do que seria de esperar, tomaremos as necessárias medidas, sem contudo “amontoar brasas sobre a sua cabeça” (Prov 25,22).

Humilhada com as nossas alegações, ela virá talvez a concluir que não se corrige mesmo, que é inútil lutar, caindo no desânimo que dificultará, se não impossibilitar, o almejado fim.

Devendo acompanhar a vida moral da criança, o educador não lhe pode esquecer as faltas nem os esforços para corrigir-se, mas não lhe dará a entender que guarda essas lembranças, não lhe  falará do passado, dando a impressão de que o que passou está esquecido.

E agirá em função desse “esquecimento”, a menos que o passado se ligue diretamente com o problema do momento.

Muito se aborrecem os educandos com a recapitulação de suas faltas, feita cada vez que vão ser corrigidos. É natural: sentem-se envergonhadas. Os que julgam contribuir assim para emendá-los esquecem a força pedagógica do otimismo. E não pesam quando diminui com isso a confiança das crianças. E quando a confiança dimunui, aumentam as dificuldades da educação. Bem haja o educador que sabe manter a confiança das crianças tanto nele quanto em si mesmas.

12.º) Cristã

É uma só, mas é infinita a diferença entre o pagão e o cristão: – este é batizado. Assim é também a educação. A cristã faz tudo o que faz a leiga, e contam além disso, com a graça de Deus. A leiga se vale de todos os meios naturais e leva a criança até onde lhe permite a força humana; a cristã continua a subida, amparada nos meios que Cristo ensinou e instituiu para elevar o homem acima de si mesmo e conduzi-lo à perfeição. A educação cristã não contradita a leiga, mas a ultrapassa.

A correção cristã contém elementos que a leiga ignora… quando queremos ensinar a virtude – a mortificação, a paciência, a justiça, a prudência, a fortaleza, a ajuda fraterna, o respeito à lei e às autoridades, a pureza, a dedicação filial – lá está  o Cristo, vivo, integral, perfeito.

E não é para nós apenas um exemplo: é a força que nos ajuda, é  o estímulo da recompensa que não faltará, é o Senhor onipotente que nos pode alimentar no deserto (Mt 14,15-20), salvar do naufrágio (Mt 8,24-26), libertar do demônio (Mt 12,22).

– Temos o recurso à oração, que os naturalistas ignoram.

– Temos a total confiança em Cristo, que só os que a experimentam sabem quanto é boa e poderosa.

– Temos o exercício da presença de Deus, que está em toda parte, “que sonda os rins e o coração” (Sl 7,10), que nos detém em face do pecado, como a José (Cf. Gên 17,1), que nos convida permanentemente à perfeição (Cf. Gên 17,1), e cujo temor é o começo da virtude (Cf. Sl 110,10).

– Temos o exame de consciência, poderoso elemento do conhecimento de si próprio, sonda que penetra até o fundo das intenções, luz que ilumina o nosso íntimo e nos mostra as causas e raízes de nossos atos e os nossos móveis mais secretos, e que nenhum educador deve dispensar, para si e nos educandos.

– Nós católicos temos o contato vital com a Santa Madre Igreja, com o culto vitalizante da Santa Missa, com a força eficaz dos Sacramentos.

Tudo isso eleva e doura a correção que propomos. Tudo serena e se facilita, quando falamos em amor de Deus, para alegrar a Cristo, para não “crucificar de novo o Filho de Deus” (Heb 6,6).

O sobrenatural não tem lugar à parte em nossa pedagogia: como o sangue, ele se difunde em todo o organismo; como a alma no corpo, ele está todo na educação cristã e todo em qualquer parte dela. Só nos que o utilizamos sabemos quanto vale. Entre nós, melhor o sabem aqueles que não o conheciam, mas se converteram e o empregam, penalizados do tempo em que o não usaram, jubilosos das maravilhas que produz.

Feliz o que baseia a vida e a educação dos filhos no sobrenatural. Por grandes que sejam as dificuldades, são sempre menores que as dos outros, e maiores os frutos. “Receberá o cêntuplo e terá a vida eterna” (Mt. 19,29).

Estabelecer princípios

Talvez tenha ficado longa a exposição, e isto dê a impressão de que é difícil a correção dos filhos. Na verdade, tudo isto é conseguido harmonicamente. Fizemos trabalho de análise. É como o andar: fôssemos explicar o mecanismo da nossa marcha, dificilmente daríamos um passo – contraia tais músculos, distenda outros, firme um dos pés quando levanta o outro, assegure melhor o equilíbrio adiantando o braço direito quando adianta o pé esquerdo… Por felicidade não se faz assim: anda-se simplesmente, e se faz tudo aquilo, sem o perceber… Assim é com a boa educação.

Mas, para facilitar um trabalho de unidade, reduzimos tudo a poucos princípios, que não demandem sequer explicações:

1) Saber o que quer: fazer amar e procurar o ideal.
2) Querer com firmeza e continuidade.
3) Ver tudo, dissimular muito, corrigir o necessário. (o termo dissimular na frase, entenda-se como : fazer vista grossa sobre, deixar passar)
4) Ir  às raízes das faltas.
5) Manter a visão do conjunto.
6) Assegurar a confiança das crianças.

Modos de corrigir

Nossa preocupação é levar a criança a praticar a virtude, a fazer bem o que fez mal, evitar a falta cometida, tudo na proporção de suas possibilidades pessoais. Para isto aproveitamos as próprias conseqüências naturais da falta, quando estas se prestam ao aproveitamento pedagógico ou empregamos outros meios proporcionados.

No primeiro caso, as aplicações são variadas.

Algumas, inócuas: a criança adoece quando come chocolate; mas continua a comê-lo sempre que se lhe oferece ocasião. Não tem força de vontade para resistir.

Outras irritantes, humilhantes, prejudicias, vergonhosas até para os pais… a menina remanchona, que não está pronta à hora da saída para o passeio, não vai passear; o mentiroso não será mais acreditado; e noutras: quem rasgou, por estouvamento, o vestido novo, usá-lo-á remendado; quem estragou o caderno à toa, fica sem caderno.

Outras, realmente proveitosas: a criança que se queimou, mexendo no aquecedor; a que se feriu com os modos estouvados de brincar; a que foi expulsa do jogo pelos colegas, porque perturbava, etc.

No segundo caso, são muito conhecidos os modos de correção, Vejamos.

1) Advertências

Muito úteis, porque previnem a queda: sempre melhor que remediá-las, sobretudo na infância. Justas, oportunas, rápidas, dão bons resultados. (Ver: Jo. 13,8 ; Mt. 26,41)

2) Censuras

São necessárias, para formação do critério moral das crianças … Não sendo censuradas pelo mal que fizeram, podem reputá-lo indiferente ou bom. Também elas serão, como as advertências, justas, breves, oportunas, e feitas com seriedade, a qual lhes é necessária, mesmo quando forem enérgicas. (Ver: Mt. 26,40 ; Mt. 8,26 ; Mt. 14,31 e Lc. 24,26).

3) Elogios

Superiores à censura, preferíveis portanto. Esta por melhor a façamos, é sempre restritiva e deprimente, ao passo que o homem precisa de estímulos para a virtude, pois, em geral, são poucos os nossos impulsos para ela. Enganam-se os que temem formentar a vaidade, com elogios. Desde que justas e moderadas, que visem ao esforço (e não a qualidades naturais, dons gratuitos de Deus), e que despertam entusiasmo para o bem, confiança em si e amor ao ideal, antes importa usá-los que temê-los.

Também Cristo os empregou em sua pedagogia, (Ver: Mt. 8,10 ; Mt. 25,23)

Sempre que o educando se esforça (mesmo que não alcance o êxito desejado), é digno de encômio. Principalmente quando está interessado em emendar-se: elogiemo-lo, mesmo quando ele consegue  apenas diminuir faltas, pois já é progresso.

4) Recompensas

Como tudo que estimula e desperta energias para o bem, são as recompensas elemento valioso na educação. O seu fim é realçar o valor do ato praticado e favorecer a sua repetição. Não somente podem, mas até devem ser outorgadas, dede que:

– contribuam para dar ao educando consciência da obra que praticou, inclinando-o assim a repeti-la;
– levem ao gosto íntimo do dever;
– ajudem a vencer os obstáculos.

Para isto, procuremos evitar:

recompensas que favoreçam as más tendências: mão dar gulodices aos gulosos, enfeites ás vaidosoas, dinheiro aos esbanjadores, etc.;
prometê-las com freqüências – porque assim perderão a finalidade, e até a subverterão, levando a criança a trabalhar antes pelo prêmio prometido que pelo cumprimento do dever;
dá-las com muita freqüência, não só porque isto a banalisa como também porque a criança perde de vista o amor ao dever, passa a trabalhar pela recompensa, e pode até desanimar quando não a receber.

Como gostamos de elogios e presentes, muito se alegram com eles os educandos. E qualquer coisa os contenta, desde que não estejam viciados. De acordo porém, com a finalidade pedagógica, procuremos os que melhor se adaptam ás tendências de cada um – afetuosos, honoríficos, instrutivos, artísticos, lucrativos.

Às vezes, o que alegra a um, deixa indiferente ou decepcionado a outro. É necessário que a recompensa contente, porque despertando otimismo, ajuda e favorece no caminho do dever…

Para que a criança queira corrigir-se é preciso que:

saiba que tem defeitos – o que ela facilmente concede, porque todos neste mundo os têm;
saiba que tem tal defeito – o que é um pouco mais difícil, porque supõe o conhecimento de si e a humildade (que raro procuramos infundir nos educandos);
reconheça que cometeu a falta – pois nada há mais revoltante para a criança e sobretudo para o adolescente do que ver-lhe imputada uma falta que não cometeu ou não reconhece como falta;
esteja intimamente naquelas disposições de penitência, a que acabamos de referir-nos;
aceite a nossa ajuda.

Tudo isto supõe o trabalho educativo lento, indireto às vezes, paciente, dirigido à inteligência e à vontade do educando. Nem sempre é fácil convencê-lo de que errou: ele se coloca numa posição emocional, e não consegue enxergar o que lhe apontamos de nosso ângulo lógico. Então, é preciso que o compreendamos, para que ele nos compreenda.

Quando alguns pais acusam o filho de “não querer nada”, se este não é um anormal, a culpa é deles:

– não o preparam desde cedo;
– contentaram-se com castigos (em vez da correção);
– não o levaram a conhecer-se;
– nunca lhe pediram uma atitude interior;
– nunca o mandaram examinar a consciência em face de Deus;
– não lhe disseram as conseqüências de seu defeito;
– nem lhe deram os motivos profundos para emendar-se.

Não é com gritos, humilhações e castigos que levamos alguém a querer o que queremos…

Evitar a correção

Por positivo que seja o trabalho da correção, no fundo ele é negativo: houve uma falta a emendar… Inteiramente positivo seria evitar a necessidade da correção. Se isto é ilusório, porque “os sentimentos e os pensamentos do coração humano são inclinados para o mal desde a infância” (Gên 8,21), é possível, contudo reduzi-la ao mínimo. É o que consegue a sólida formação da vontade, ajudada pela disciplina preventiva.

Isto é toda a educação, e não cabe neste fim de capítulo. Aqui desejamos apenas deixar aos pais cuidadosos a esperança, e dar-lhes alguns marcos que os possam orientar nessa jornada.

Cultivar virtudes

Na terra virgem da alma infantil as vitudes medrarão mais facilmente. Trabalho agradável e produtivo, ele poupará as dificuldades da correção. À medida que a boa semente germinar, o joio que o inimigo lançar brotará sem seiva, mais pronto a mirrar-se que a afogar o trigo. Para estimular virtudes, os pais encorajarão os esforços, habituando a criança à fortaleza e à generosidade espiritual, preparando-a para as vitórias contra as paixões, o ambiente e o demônio.

Começar cedo

Como as más tendências despontam muito cedo, é preciso madrugar com a educação para a virtude. Diga a palavra que alarma os leigos: educação para a santidade. Antes mesmo que a criança revele tendências particulares, já devem ter sido canalizadas no sentido da virtude aquelas que constituem a natureza e a herança de toda a humanidade.

Cuidem os pais:

– não fechem os olhos às manifestações da alma infantil, a pretexto de que é muito criança ainda;
– não temam ser exigentes e enérgicos;
– não se contentem com corretivos superficiais;
– não capitulem ante a pressão de avós e tios que brincam com a criança como a criança brinca com a boneca;
– não pensem em recuperar depois o tempo perdido: o melhor é não perder tempo!;
– tenham pressa e firmeza em “ocupar todo o terreno” (F.Gay), a fim de que, quando os vícios quiserem instalar-se, não encontrem lugar.

Educar para a liberdade

Amanhã, essa criança inevitavelmente se libertará do nosso jugo, e será dona de si mesma. O essencial é prepará-la para fazer o bem por si, quando não tiver mais nossa tutela. Para isto deve saber usar bem da sua liberdade.

Quem conseguir essa aprendizagem, educou, deu o gosto do bem, fez procurar a correção… cuidem os pais de dar aos filhos esse gosto íntimo da liberdade e essa capacidade de usá-la para o bem. Na medida em que o conseguirem, evitarão a necessidade de corrigi-los.

Organizar a vida da criança

Enquadrada em atos regulares e dirigida por uns poucos princípios fundamentais, terá a criança enome facilidade para evitar faltas.

A organização dos atos pertence mais à mãe: faz parte do bom governo da casa. Ela:

– adestra a criança desde cedo;
– exige-lhe esforços na idade escolar;
– ensina o adolescente a dominar-se;
– orienta: a criança já sabe o que fazer, como fazer;
– cria hábitos;
– não deixa ninguém ao léu, desperdiçando tempo e energia, cedendo à ociosidade e à anarquia;
– mas dá a todos possibilidade de usar a própria inteligência e exercitar as forças musculares, expandindo-se normalmente, sem as repressões que a correção acarreta, por melhor que seja.

Os princípios serão poucos, mas fundamentais: marcos para a vida. Normas simples e claras, mil vezes repetidas no lar, mais em conversas do que intencionalmente, que nortearão as ações agora ou no alto mar da vida. A forma positiva é sempre preferível: é melhor sabermos o que devemos fazer – e o que não devemos  fazer vem como conseqüência.

Corrija o seu filho – Pe. Álvaro Negromonte