No século XVII, as forças anticatólicas foram agrupadas em torno dos três grandes heresiarcas: Lutero, Zwingli e Calvino. Embora todos ensinassem diferentes doutrinas e, ao se falar um do outro, expressaram-se em termos pouco claros, estavam unidos em seu ódio contra a “não suficientemente execrada Missa”. Adotando todas as heresias eucarísticas do passado e adicionando outras, eles estabeleceram e propagaram o que hoje chamamos de Reforma.
Já conhecemos os meios usados pelo arcebispo Cranmer na Inglaterra protestante para a destruição da Missa. Cranmer com outros dois líderes protestantes, Ridiye e Latimer, pediram um debate público com teólogos católicos sobre a transubstanciação. Este debate público ocorreu em Oxford em três proposições:
- Na Eucaristia, em virtude das palavras de Cristo pronunciadas pelo sacerdote, o Corpo e o Sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes, sob as aparências do pão e do vinho.
- Após a consagração, não há substância de pão ou vinho, mas corpo e sangue.
- A Missa é um verdadeiro sacrifício proveitoso aos vivos e aos mortos como propiciação de seus pecados.
Após uma disputa de três dias, os protestantes viram-se obrigados a repudiar a autoridade do Quatro Concílio de Latrão “por não concordar com a palavra de Deus”. Embora este repúdio tenha sido uma consequência lógica da doutrina protestante, não deixou de surpreender grandemente os católicos, bem como os teólogos que disputavam como os estudantes que ouviam.
O quê? Exclamou o teólogo católico que presidia “Não admitem o Concílio de Latrão?”
Não, responderam os protestantes; não admitimos.
Nada havia a acrescentar. Eles repudiaram uma doutrina, que indubitavelmente expressava a doutrina católica. Repudiavam a própria ideia da continuidade apostólica da Igreja, em seu desenvolvimento.
Como Karl Adam coloca em The Spirit of Catholicism:
“O catolicismo não pode ser identificado de forma simples e completamente com o cristianismo primitivo, da mesma forma que um grande carvalho não pode ser identificado com a minúscula bolota. Não há identidade mecânica, mas uma identidade orgânica. O Evangelho de Cristo não teria sido um Evangelho vivo se tivesse permanecido para sempre a minúscula semente de A. D. 33 e não tivesse fincado raiz e crescido uma árvore”.
Mas essa era a única coisa que os protestantes do século XVI não podiam admitir e, para contrariar, eles usaram, se não inventaram, essa absurda teoria da história que um historiador realmente chamou de “Caçar a Bolota”. Ou seja, quando você vê um magnífico carvalho, você começa a procurar uma bolota semelhante à que cresceu e diz: “Não preste atenção à árvore, porque é assim que deve ser”.
Além de ser tão evidentemente tolo — quem defenderia, por exemplo, que a Câmara dos Comuns deveria voltar a ser um Witanagemot e se encontrar em Kingston-on-Thames? — Esta teoria também foi manifestamente desonesta. Isso não significava que a prática primitiva fosse seguida em detalhes. Significava apenas que os detalhes foram selecionados da prática primitiva, que eram úteis para desacreditar o costume contemporâneo.
Aconteceu que os Reformadores encontraram o que queriam em alguns registros iniciais. No ano 150 de nossa era, São Justino Mártir escreveu uma carta ao imperador Marcus Aurelius, para convencê-lo de que os cristãos não estavam envolvidos em qualquer atividade criminosa, como seus inimigos os acusavam.
As condições e os ambientes da Missa que São Justino descreve são os de uma Igreja que vive diariamente sob a sombra da perseguição e, portanto, com tudo reduzido a um mínimo de simplicidade. Seu relato provavelmente não é mais representativo do culto normal da Igreja primitiva do que uma carta escrita a partir de um abrigo antiaéreo em meio à Segunda Guerra Mundial, daria um retrato da vida normal na Inglaterra do século XX.
Mas esta carta de São Justino serviu de desculpa aos protestantes, com a vantagem adicional de que este documento denomina o celebrante de “o presidente”, para evitar que a palavra “sacerdote” desse ao Imperador a errônea impressão de identificar o sacerdote católico com o sacerdócio romano pagão.
Com esta base de selecionar ao capricho uma carta escrita em uma ocasião e com um propósito específico, para nela apoiar suas absurdas pretensões, os protestantes inventaram o mito do “cristianismo verdadeiro”, para justificar o seu serviço vernácular de comunhão, substituindo o altar por uma mesa, despojando suas igrejas, removendo todas as imagens e fazendo a Eucaristia uma ceia memorial, no qual o celebrante é o presidente sentado à frente da mesa, olhando para o povo. E desde que durante séculos os fiéis estavam acostumados a considerar a Missa como um Sacrifício, começaram a usar a expressão equivocada: “sacrifício de louvor e ação de graças” ainda usado no “Prayer Book” da Igreja Anglicana, para dar aos assistentes a impressão, embora nesses estranhos ritos de que a ideia do “Sacrifício” não havia sido eliminada.
Para opor-se à heresia, um novo Concílio Ecumênico foi convocado na Igreja, o de Trento, que, além de confirmar os decretos do Quarto Concílio de Latrão, promulgados três séculos antes, promulgou novos decretos e novas definições dogmáticas que ainda são a formulação de nossa Fé Católica, na questão mais importante sobre o Sacrifício da Missa, o Tridentino confirma a antiga e apostólica doutrina da Igreja:
“Se alguém disser que o Sacrifício da Missa é meramente um oferecimento de louvor e de ação de graças, ou que é um simples memorial do sacrifício oferecido na cruz e não propiciatório, ou que ele beneficia somente aqueles que comungam; e que ele não deveria ser oferecido aos vivos e aos mortos, pelos pecados, punições, satisfações e outras necessidades: que seja anátema.”
Depois do concílio, o Papa São Pio V publicou o Missal Romano, para salvaguardar em toda a Igreja a Fé tão combatida pela heresia. A assim chamada Missa Tridentina foi, portanto, prescrita por sua constituição apostólica Quo Primum de 17 de julho de 1570:
“Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que será válida para sempre, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado. Ordenamos a todos e a cada um dos Patriarcas, Administradores das referidas Igrejas, bem como a todas as outras pessoas revestidas de alguma dignidade eclesiástica, mesmo Cardeais da Santa Igreja Romana, ou dotados de qualquer outro grau ou preeminência, e em nome da santa obediência, rigorosamente prescrevemos que todas as outras práticas, todos os outros ritos, sem exceção, de outros missais, por mais antigos que sejam, observados por costume até o presente, sejam por eles absolutamente abandonados para o futuro e totalmente rejeitados; cantem ou rezem a Missa segundo o rito, o modo e a norma por Nós indicados no presente Missal, e na celebração da Missa, não tenha a audácia de acrescentar outras cerimônias nem de recitar outras orações senão as que estão contidas neste Missal. Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, e isto para sempre.”
“Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.”.
Assim, a Missa Tridentina, como uma fortaleza perpétua, opôs-se à heresia até 3 de abril de 1969, quando o atual Papa com sua constituição “Miassale Romanum” introduziu a nova missa vernácula, conforme a prática e os princípios protestantes, que devia celebrar-se em uma mesa com o sacerdote olhando para o povo como o “presidente” da assembleia. A reação na Inglaterra como em outros lugares foi imediata. A instrução papal foi traduzida em 10 de maio de 1969 e, uma semana depois, The Latin Mass Society enviou uma petição ao papa pedindo-lhe a conservação da Missa Tridentina. De acordo com o missal de São Pio V.
Continua….