A HUMILDADE E OS SANTOS

Fonte: Capela Santo Agostinho

Os santos conhecem mais a Deus, por isso são mais humildes. Dizem que São Tomás de Aquino e Santa Teresa, luzeiros da Igreja, gênios sublimes, nunca foram nem sequer tentados pelo orgulho ou vaidade. E por quê? Não tiveram eles um conhecimento tão elevado de Deus? O orgulho é fruto de nossa ignorância do que é Deus e do que somos ou podemos.

“Eu não sei se sou humilde, dizia San­ta Teresinha, mas sei que eu vejo a rea­lidade em todas as coisas”. É jus­tamente o que veem os homens esclare­cidos pela luz superior da fé: a rea­lidade. E haverá maior realidade do que o nosso nada, nossa miséria?

Não é necessário grande esforço para compreender a humildade, basta abrir os olhos e ver a realidade, ver as coisas tais como são, sem ilusões nem fantasias.

Exclamava São Francisco: “Senhor! Senhor! Quem sou eu e quem sois vós?”.

Santa Teresa, falando das graças ex­traordinárias que Deus lhe concedia: “Oh! O Senhor faz comigo como se faz com um muro velho que ameaça cair de todo lado: enche-me de estacas por toda parte pela sua graça”. “Todas as visões, revelações e senti­mentos celestes, diz São João da Cruz, não valem o menor ato de humildade. A humildade tem os efeitos da carida­de”.

O sinal certíssimo da santidade é a caridade na humildade. Dizia o Sagra­do Coração à sua serva Santa Margarida Maria:

“Quero saber, minha filha, por que me perguntas a razão das mi­nhas visitas, descendo até junto de ti?

— Vós sabeis, meu Senhor, que não sou digna.

“Aprende isto, minha filha, quanto mais te esconderes no teu nada, tanto mais a minha grandeza te irá procurar”, respondeu Jesus.

“Senhor! concedei-me o tesouro da humildade”, pedia o santo Doutor de Hipona, Santo Agostinho.

Na sua autobiografia, conta Santa Te­resa que Nosso Senhor, para lhe conceder alguma graça particular e impor­tante, sempre escolhia o momento em que ela acabava de se humilhar profun­damente no seu interior. “A alma verdadeiramente humilde, revelou Jesus à santa, é a que conhece o que eu posso e o que ela não pode”.

“A humildade é sinal de predestina­ção”, diz São Gregório: humilitas signum electorum.

Um dia, Santo Antão viu o mundo todo cheio de redes e laços do demônio, e gemeu de dor:

“Meu Deus, quem se poderá salvar e livrar-se de tanto pe­rigo?” Uma voz lhe respondeu:

“Antão, meu servo, só a humildade escapa com segurança. Quem tem a ca­beça baixa não deve temer o perigo”.

Oh! sim, não há perigo para os hu­mildes, no caminho da salvação.

Nosso Senhor mostrou a Santa Margarida de Cortona, a penitente franciscana, um trono de glória que lhe estava preparado entre os serafins pela humil­dade da santa aqui na terra. A humildade é a glória no Céu e é remédio eficaz na terra para todos os males.

“A humildade é unguento bom para todas as feridas”, diz Santa Teresa.

E a santa fundadora Sofia Barat cos­tumava dizer: “a humildade é uma agu­lha que remenda todos os buracos e ras­gões, maravilhosamente”.

Oh! sejamos humildes em todas as circunstâncias de nossa vida.

A humildade é nosso tesouro. A ora­ção de Santo Agostinho esteja sempre em nossos lábios: Senhor, que eu vos co­nheça e que eu me conheça!

Santa Teresinha com o seu pequenino caminho da infância espiritual nos en­sina a humildade no seu grau mais ele­vado — quer que sejamos criancinhas como nos ensina o Evangelho. E nada mata o amor próprio como o espírito de infância, diz Mons. Gay. Todos queremos ser grandes. Ninguém se conforma com a sua pequenez, com as suas misérias e fraquezas. Poucos aprendem aquela ciência de se gloriar das próprias enfermidades no ex­pressivo dizer de São Paulo. E para se aproximar de Jesus, diz Santa Terezinha, é preciso ser bem pequenino. Oh! há muito poucas almas que gostam de ser pequeninas e desconhecidas!

A humildade para a santinha era o que Santa Teresa, a Matriarca do Carmelo, definia: “a humildade consi­ste na verdade. Eu não sei se sou hu­milde, mas sei que vejo a verdade em todas as coisas”.

Pouco antes da morte, naquela terrível agonia de 30 de setembro de 1897, a Superiora do Carmelo disse a Teresinha para a consolar:

“A minha filhinha está bem preparada para comparecer diante de Deus porque sempre com­preendeu a virtude da humildade”.

E ela confirmou em doce paz. — “Sim, eu o sinto bem. Minha alma nunca pro­curou outra coisa a não ser a verdade… Sim, eu compreendi a humildade de coração”.

Felizes os que compreendem a humil­dade de coração como o Anjo do Carmelo de Lisieux!

Para ser humilde basta ser verdadei­ro. Nosso Senhor apareceu a Santa Ca­tarina de Sena e lhe disse: — “Sabes mi­nha filha, o que és e o que eu sou?”

Se aprenderes bem estas duas coisas serás bem-aventurada. Tu és a que não és, e eu sou Aquele que sou. Nunca o inimigo te iludirá se souberes bem disto. E obterás toda clareza, toda verdade, toda graça.

Que pensamento belo e profundo!

Santa Gertrudes disse Jesus —“Mi­nha filha, todas as vezes que ao pensares na tua indignidade te reconheceres in­digna de meus favores e te entregares ao meu amor, tantas vezes me pagarás a renda que deves dos bens que eu te dei”.

Oh! temos que dar contas a Nosso Se­nhor dos talentos recebidos e fazer ren­dê-los para a vida eterna. Somos, po­rém, tão miseráveis, tão pobres e peca­dores! Como pagar à Justiça Divina?

Sejamos humildes. Pagaremos a ren­da dos bens recebidos, a Deus.

O pensamento das graças recebidas longe de nos envaidecer deve nos tornar mais humildes. Quem mais recebeu, mais há de dar. Nosso Senhor revelou ao Irmão Pacífico da Ordem de São Fran­cisco um trono de glória no Céu e dos mais belos e fulgurantes.

“Este Trono, disse o Senhor, que admiras tanto, foi de um Anjo revoltado. Agora será destinado ao humilde Francisco de Assis”.

No dia seguinte à hora do recreio no convento, o irmão perguntou ao seu Pai.

— “Meu padre, que pensa de si?”

— “Eu penso, respondeu Francisco, que sou o mais miserável e o último dos pecadores!”

— “Como ousa dizer isto, meu Pai?”

— “Sim, meu Irmão, replica o Santo, estou bem convencido de que se Nosso Senhor tivesse dado aos outros as gra­ças que me concedeu já eles teriam aproveitado muito mais do que eu”.

Bela resposta! E nós que pensamos das gra­ças recebidas? Podemos nos orgulhar do que Deus na sua misericórdia nos doou? Ah! se outros houvessem recebido as graças de que abusamos! Que motivos para sérias reflexões e profun­do aniquilamento diante do Senhor!

Os santos foram humildes porque vi­viam da verdade, esta verdade que cho­ca o nosso tremendo orgulho: Somos nada, somos miseráveis. Nada somos, nada temos, nada podemos.

Pe. Ascânio Brandão