Nota do Blog: Santo Agostinho diz, anteriormente, que os Romanos dilataram seu império por se moverem por desejo de glória humana (a boa fama pública), mas que isso lhes mereceu a glória e recompensa terrenas (a recompensa já lhe foi dada nesta vida, e não na próxima).
Vivemos em tempos brutais e sem caridade, e os maus mestres da Internet (os exemplos são vários, basta meditar um pouco) perderam a vergonha de mostrar, publicamente, sua paixão de domínio.
Livro V, Capítulo XIX – Diferem entre si a paixão da glória e a paixão de domínio
É evidente que há diferença entre a paixão da glória humana e a paixão de domínio. Com certeza que quem põe todas as suas complacências na glória humana está inclinado a também desejar ardentemente o domínio; todavia, os que aspiram à verdadeira glória, mesmo que seja a dos louvores humanos, põem todo o cuidado em não desagradar aos bons julgadores. Há efetivamente muitos aspectos bons do comportamento que muito avaliam corretamente embora deles careçam. É por esses bons aspectos que aspiram à glória, ao poder e ao domínio aqueles de quem fala Salústio:
Segue o verdadeiro caminho.
Mas aquele que, sem ter ambições de glória que provoca o temor de desagradar aos bons julgadores, deseja o poder e o domínio, procura quase sempre obter o que ama mesmo por meio de crimes evidentes. Por isso o que deseja a glória, ou “segue o verdadeiro caminho” ou pelo menos procura-o com manhas e mentiras, querendo parecer o homem de bem que não é. Assim, para o que tem virtudes é uma grande virtude desprezar a glória, porque este desprezo Deus o vê mas escapa ao juízo dos homens. […]
Mas o que, desprezando embora a glória, é ávido de domínio, supera as bestas, quer pela crueldade quer pela luxúria. Tais foram certos Romanos. Tendo deixado de se preocupar com a reputação, não lhes faltou a paixão de domínio. A história nos refere que muitos disso foram exemplo. Mas foi Nero o primeiro César que atingiu o cume e como que o cúmulo deste vício: tamanha foi a sua luxúria, que dele parece nada havia de viril a recear — e tamanha foi a sua crueldade, que, se não fosse conhecido, pareceria que nada tinha de efeminado.
Santo Agostinho, A Cidade de Deus