Obstinada, egoísta, sem coração!
Tais, eram os títulos que me davam a sogra, as cunhadas, minhas irmãs. E tudo por que? Porque eu deixava meu bebê gritar dois, três, até cinco minutos, sem lhe atender as manhas. Queria obrigá-lo a seguir o horário para as mamadas, para o repouso. Bem abrigado o punha à sombra de umas árvores no jardim, para que respirasse o ar puro. Não queria a cada momento tomá-lo nos braços, passeando-o pela casa, despertando-lhe a curiosidade, cantando-lhe no ouvido delicado.
– Essa maezinha merece medalha pelo juízo e critério que demonstra, como elogio pela coragem vencedora de velharias e rotinas. De fato, leitora, não sorrias, julgando a criança incapaz de certa disciplina. Acredita que o inocente bebê já é um ser como hábitos, com certa intuição das vontades vacilantes que o cercam, dos amores extasiados e febris timidezas de seu ambiente. A mãezinha tem medo de tudo. Tudo faz mal ao filhinho; frio, calor, fome, indisgestão, ruído, silêncio. É muito pronta em se inclinar diante das ordens desta pequena majestade.
Nossa depoente continua:
Em tudo isso há um erro, há um preconceito, há carradas de respeito humano. Quantas vezes, certa de que nada faltava ao meu bebê, deixei-o gritar e espernear no seu bercinho. Sabia que o descanso lhe era necessário. E o meu pequeno tirano acabava cedendo, adormecendo. Ia revê-lo. Sua respiração estava no rítmo certo. Doce e suave lhe era o sono. Passado algum tenpo, meu tesouro já estava inteirado de que seus gritos de nada valiam, de que, colocado por mãezinha no berço, ali teria de ficar sem tiranias inúteis.
Jovem mãe, queres amar teu bebê, para seu bem e não para tua satisfação, distração, arrebatamento amoroso? Queres amá-lo para a sua paz, sua saúde, sua felicidade, para todo o seu futuro?
Então grava na tua memória este princípio:
O bebê precisa de calma, de horário, de discrição. O que menos se lhe dá é a calma e o silêncio. Vive como boneca de braço em braço. todo mundo há de brincar com ele. Sob o pretexto de diverti-lo, levam-no por toda parte, excitam sua curiosidade, obrigam-no a rir, gritam ao seu ouvido, sacodem chocalhos, falam-lhe sem cessar, sacondem-no, mostram-lhe tudo. E a cabecinha do bebê não pode receber e registrar tantas impressões de uma vez. Quanto mais precose o pobrezinho se mostra, tanto mais o martirizam.
O tal recreio de bebê deve ser curto e em geral preceder às horas da mamadas, ou da refeição. E depois, berço para esse inocente tirano das mães inexperientes!
As três chamas do lar – Pe. Geraldo Pires de Souza