BELEZA FEMININA E MODÉSTIA – PARTE 2/2

Esta é a segunda parte de um sermão proferido pelo Pe. Louis Pieronne, FSSPX. O tema específico dessa parte é beleza e adoração. A Primeira Parte pode ser lida clicando aqui.

Fonte: SSPX USA  Tradução: Dominus Est

A riqueza perdida da civilização cristã

A perda dos princípios foi o que provocou a perda dos costumes que os incorporavam. Os costumes podem evoluir e ainda assim expressar as mesmas coisas. O Cristianismo expressou-se de forma diferente no Oriente e no Ocidente. O que preocupa não é a evolução dos costumes, mas a mudança nos princípios que os inspiram. Estamos perdendo os costumes cristãos, e um espírito ateu e materialista está entrando no vazio deixado por eles. Os costumes cristãos nascem do espírito de fé. É de fé vivida. O desaparecimento da moral e dos costumes cristãos equivale ao fato da fé não ser mais vivida. Significa que nossa fé é frágil e está em risco. Devemos apegar-nos firmemente a um estilo de vida cristão: não como uma moda, mas como um espírito que anima os detalhes do quotidiano. O costume dá vida a um princípio e o transmite. É um instrumento e pode ser mudado. Podemos mudar os costumes, mas não os princípios, nem um espírito, porque não mudamos a fé.

Viver o Plano de Deus

Acreditamos que a diversidade da criação é um reflexo das riquezas superabundantes de Deus. Quando Deus se dá na Trindade, Ele se dá perfeitamente e cada pessoa possui todas as qualidades divinas. As três Pessoas são absolutamente iguais. Quando Deus cria, Ele concede um ser limitado, uma medida de qualidades, compartilhadas para a harmonia do todo. As criaturas são desiguais para serem harmoniosas em sua imperfeição. Quanto mais há desigualdade e diversidade, mais qualidades são expressas, e assim o reflexo de Deus se torna ainda mais perfeito.

Deus coloca o reflexo de Suas qualidades mais nobres em Suas criaturas espirituais. Dizem que cada anjo tem uma natureza diferente. O homem também tem um lugar muito especial nesse reflexo de Deus. O Gênesis nos diz que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Deus faz da humanidade uma vasta multidão, para que cada indivíduo seja único e a sua vida possa enriquecer a harmonia da criação, expressando um aspecto único dessa mesma natureza humana à imagem de Deus.

Deus desejou que houvesse diversidade de indivíduos, temperamentos, raças e culturas na humanidade e, acima de tudo, estabeleceu na criação a diversidade mais marcante e mais complementar, aquela entre homem e mulher. Podemos, portanto, procurar conhecer a missão própria do homem e da mulher especificamente como reflexo das qualidades divinas. Essa questão é muito importante porque o ser humano, como agente consciente, não cumpre o seu papel de forma cega: ele conhece a sua missão e a cumpre livremente. O homem e a mulher precisam, portanto, compreender e cumprir de bom grado a missão particular que Deus lhes confiou para torná-los diferentes. Há uma missão comum a todas as mulheres e uma missão comum a todos os homens, embora ainda mais enriquecida pela especificidade de cada indivíduo.

Esta missão exprime-se no costume cristão, através do qual cada homem e mulher cumprem e transmitem aquela responsabilidade original que harmoniza a criação e a humanidade, enriquece o indivíduo e torna mais conhecida a riqueza do Criador.

A missão da beleza

A beleza é aquele reflexo particular de Deus que corresponde à feminilidade, e o homem jamais ousou contestá-la. A beleza é transcendental como a verdade e a bondade: a beleza criada é de fato um reflexo da beleza eterna.

O ser humano é composto de corpo e alma, e a beleza de uma pessoa está em ambos, a beleza da alma transbordando para o corpo. A beleza humana não é uma mera beleza física, mas uma beleza viva e espiritual. Da mesma forma, ser mulher não é uma mera realidade biológica, pois o corpo ajuda a formar a pessoa como um todo: a feminilidade envolve também a alma. A beleza feminina é a coroação do universo físico precisamente porque toca o espiritual. Essa beleza humana integral é o mais alto grau de beleza visível.

Dissemos que a beleza pertence à mulher como seu privilégio. Esta beleza é obra de Deus, fruto da Sua intenção. Possuída por um ser dotado de razão e consciente de que é um dom, a beleza se torna uma responsabilidade, pois tem um propósito: a glória de Deus. Seremos, portanto, obrigados a prestar contas desta beleza em nosso julgamento.

O propósito da beleza é refletir Deus e elevar a alma. Tal como a autoridade da paternidade, ela é um dever e um encargo. Cada uma de nós tem um dever para com a beleza, mas para a mulher esse dever é maior e mais íntimo: ela está encarregada da beleza não de uma obra, mas de si mesma.

Receber a beleza como herança significa ser responsável pelo efeito produzido em cada olhar que ela atrai. O poder da beleza é formidável, capaz, desde a Queda, do melhor e do pior. A partir de então, a beleza da carne é capaz de conspirar contra a beleza da alma, a paixão contra a virtude. A beleza sensível é fonte de paixões que podem rebaixar ou elevar o homem: concupiscência ou admiração; sedução ou cortesia.

A modéstia agora é necessária para que a beleza continue a ser um reflexo de Deus. A beleza nobre e virtuosa continua a elevar as almas. O pecado não tirou dela a missão da mulher, assim como não tirou a autoridade do homem. Apenas tornou ambas as missões mais difíceis de serem cumpridas.

Embaixadora de Deus

Como reflexo de Deus, a beleza deve saber manifestá-Lo, mas também como eclipsar-se diante dele, não se tornando um ídolo ao ocupar o Seu lugar. A beleza tem um papel de embaixadora.

Um embaixador é o representante de um soberano. Ele recebe honras em nome de seu mestre e também fala em seu nome. Entretanto, quando o próprio soberano é recebido, o embaixador não é mais do que um simples servo em sua presença. Prestar homenagem a um embaixador quando o seu mestre está presente seria um insulto ao mestre e não mais uma honra. Se o embaixador subir ao palco na presença do seu mestre, já não estará a servir a sua autoridade, mas sim a usurpá-la.

A mulher é como uma embaixadora da beleza divina. Consequentemente, ela não deve receber homenagem na presença de seu Senhor, ou estaria usurpando Sua glória.

Portanto, quando uma mulher oferece ao mundo o brilho da feminilidade que Deus lhe deu, ela honra o seu Criador e cumpre a sua missão. No entanto, quando ela cruza o limiar do santuário e entra na presença da beleza invisível e eterna, torna-se ofensivo que a sua beleza esteja demasiado em evidência.

O Santuário da Beleza Invisível

Atrair atenção e admiração na igreja é ser um ídolo no santuário e roubar a glória de Deus. Feito de forma consciente, é um pecado contra o primeiro mandamento: somente a Deus adorarás. Esse é o caso, por mais pura e nobre que seja a beleza pessoal de alguém. O reflexo deveria eclipsar-se diante da fonte. Se Deus brilhasse em Seus templos de maneira visível, todo brilho da criação desapareceria em Seu brilho; mas como Ele se esconde, tudo o que não é objeto de adoração deve esconder-se para não usurpar.

O homem fica com a cabeça descoberta na igreja como forma de apresentar diante de Deus o sinal de sua autoridade, normalmente usado na cobertura da cabeça. Aqui, somente Deus é Mestre. A mulher não consegue remover a sua beleza e por isso ela se vela (com um véu). Velar é esconder. A mulher esconde a sua beleza visível diante da beleza invisível a quem ela serve. “Non nobis, Domine, sed nomini tuo da gloriam.”

Abandonar a própria beleza ou a própria autoridade na presença de Deus é uma forma de colocar o peso da responsabilidade diante dEle, de modo a prestar contas. É uma forma de descanso que Deus nos concede, alguns momentos em que podemos desaparecer sem assumir a responsabilidade de ser a luz do mundo: um momento de renovação, permitindo que Deus reabasteça nossa alma com Sua beleza invisível para que ela possa brilhar mais intensamente no mundo.

Eclipsar-se desta maneira diante da presença de Deus torna-se um hábito da alma, uma espécie de necessidade para todos aqueles que têm a sua beleza como uma missão divina, uma responsabilidade exigente e, ao mesmo tempo, a sua honra e a sua grandeza.

A Oblação da Beleza

Sendo a beleza uma missão, não deve ser velada pela feiúra, que nunca poderia estar a serviço da beleza divina. Negar a própria beleza através do desleixo, da vulgaridade ou da negligência é recusar a missão divina. A maneira de vestir-se no santuário permanece bela, mas uma beleza velada, que se esconde. Uma religiosa não busca a feiura; ela renuncia ao seu brilho porque a sua consagração a coloca continuamente na presença de Deus e, portanto, escondida diante Dele. Ela testemunha a presença daquela beleza invisível que conquistou seu coração tornando-se de certa forma invisível, transparente, perpetuamente velada. Para outras mulheres, essa beleza deveria ser revelada ao deixar a casa de Deus: O Ite missa est é um retorno à sua missão no mundo. Quando uma mulher cristã deixa a igreja onde o seu Deus está entronizado, ela não está mais no santuário, mas o santuário está nela. Ela é mais uma vez a embaixadora da beleza que nela habita e que é sua missão expressar.

Não há nada mais nobre ou mais simbólico do que ver uma mulher cristã voltar lentamente pelo corredor da igreja, os olhos baixos em recolhida ação de graças, a testa encoberta pelo véu, ela mesma escondida em Deus; e então cruzar o limiar da igreja, aparecer à luz do dia, colocar modestamente o véu sobre os ombros e oferecer a todos o brilho de um sorriso transfigurado pela presença divina que nela habita.

A reunião dos fiéis nos degraus da igreja depois da Missa é um tesouro da sociedade cristã: a beleza dos filhos de Deus unidos na graça da comunhão e partilhando a sua alegria. Em nenhum lugar a beleza das mulheres é mais pura e transparente, em nenhum lugar a autoridade do homem é mais nobre do que quando eles se levantam dos joelhos. Cada um foi fortalecido para cumprir a missão divina de restaurar todas as coisas em Cristo. Esses momentos são como um eco do jardim perdido do paraíso e uma antecipação do céu, onde a beleza dos corpos gloriosos será uma pura expressão da graça divina.

A verdade lança luz sobre a beleza

O uso do véu na igreja não é, portanto, uma questão de pureza ou modéstia, mas de adoração, de homenagem prestada a Deus. O problema da modéstia não tem relação direta com a presença na Igreja. É óbvio que uma beleza sensual que atrai o pecado não tem lugar na casa de Deus, e não tem lugar algum na vida cristã. A sua presença num local sagrado acrescenta um aspecto de sacrilégio, como acontece com qualquer outro pecado cometido no templo de Deus.

Existem consequências para esta compreensão do véu. A moda cristã do momento nem sempre corresponde a tal visão. O véu torna-se novamente um véu: não é uma declaração de moda, não é um abrigo contra as intempéries, não é uma cesta de flores para reuniões da alta sociedade. É o véu que esconde, na humildade e no recolhimento; o véu que permite que se desvaneça em segundo plano. (Embora não devamos ser muito exigentes: leva tempo para que as ideias se estabeleçam profundamente).

Sob a mesma luz, reconhecemos mais claramente a grande diferença entre o Cristianismo e o Islã. Para um muçulmano, Deus não vive na alma. Não existe conceito de graça santificante. A mulher cristã considera-se templo de Deus. Esta presença brilha através da beleza nobre e modesta que Deus lhe deu não apenas para agradar ao marido, mas para refletir a Sua própria glória. Para o Islã, a mulher não pode refletir nada de Deus, que é autoridade sem amor. Sua beleza física só pode despertar paixões, e essas paixões terrenas estão reservadas ao marido. Logicamente, então, ela deveria esconder sua beleza de todos, exceto dele. O Cristianismo distingue a parcela de beleza íntima que a esposa deve efetivamente oferecer àquele que ela escolheu (São Paulo nos lembra que a esposa tem o dever particular de agradar ao marido), e a parcela de beleza que brilha através de sua feminilidade sobre todos aqueles com quem ela compartilha a vida em sociedade.

Sabedoria da Igreja

A Igreja é a guardiã da modéstia e também do papel espiritual da beleza, querida por Deus como caminho de civilização e de contemplação. Roupas modestas deveriam esconder o corpo o suficiente para silenciar o instinto ferido, mas também devem transmitir a feminilidade da mulher, mais pela elegância do gosto e menos pela ênfase na forma física. Segundo o Gênesis, o vestuário é um dom de Deus que preserva a missão da mulher para com o homem e o seu brilho necessário à civilização.

A beleza tem um objetivo, tem uma responsabilidade. O seu abuso como sedução é criminoso, a sua profanação sensual é vergonhosa, a sua negligência preguiçosa é uma indignidade. Infelizmente, tal como os homens hoje abandonam a responsabilidade da autoridade, as mulheres abandonam as exigências da beleza virtuosa. Como resultado, a sociedade fica cada vez mais desfigurada. Mas surgirá uma geração jovem, zelosa pela glória de Deus, zelosa por restaurar todas as coisas em Cristo, redescobrindo o sentido perdido do dever. Que estas reflexões ajudem a inspirar essa heróica juventude de Deus.

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