CARÁTER DA MULHER

caraterÉ evidente que o caráter feminino difere em muitos pontos do homem. O traço dominante que, segundo Heymans, dirige todas estas diferenças, é a grande emotividade da mulher. A mulher é mais emotiva que o homem. Esta maior emotividade faz-se sentir em toda a vida psíquica.

Em primeiro lugar nas aptidões intelectuais:

A mulher nota melhor que o homem o que lhe interessa e menos o que a deixa indiferente. Nada lhe escapa da toilette da sua interlocutora ou dos sentimentos que despertam a respeito do seu rosto. A afetividade dirige também a sua memória: nada esquece das coisas que a impressionaram ou a interessaram; retém verdadeiramente com o coração. A mesma influência da emotividade sobre a imaginação, que é geralmente mais concreta, mais rica, mais viva que a do homem.

Julga-se muitas vezes que a mulher é menos inteligente do que o homem. Heymans insurge-se contra esta afirmação. Segundo ele, a inteligência da mulher não é inferior a do homem, mas sob a influência de maior emotividade, a mulher lança-se para outros objetos, e segue nas suas pesquisas outras direções.

No trabalho propriamente intelectual e sobretudo no trabalho científico, o homem sobrepuja nitidamente a mulher.

Se do trabalho científico passamos ao estudo ordinário, como se pratica no ensino universitário, ensinam-nos os inquéritos que, em geral, as rapaigas são mais aplicadas, mais conscienciosas, observam melhor e compreendem mais rapidamente que os homens. Estes, poré, superam-nas pelo método, pela reflexão pessoal, rigor lógico e poder de abstração; o homem sabe melhor que a mulher fazer uso da sua inteligência sem deixar falar o coração e dar provas de iniciativa no seu trabalho.

Todas estas diferenças se explica, segundo Heymans, pela ação da emotividade.

O trabalho científico é, pois, na mulher, obejto de atenção voluntária, mais que de atenção espontânea.

Para o trabalho intelectual, não é a inteligência, mas o gosto que falta à mulher. O mesmo se diga na produção artística. A mulher é menos artista, apesar de ser mais emotiva que o homem; é que para fazer obra de artista não basta experimentar a emoção; é preciso também concentração para expressão, manejar a técnica. A emotividade da mulher torna-lhe esta tarefa mais difícil e consegue menos êxitos que o homem. Contudo, a mulher não cede ao homem na inteligência prática, como se manifesta na vida quotidiana: sem dúvida, mesmo aqui, é inferior ao homem em largueza de vistas e em poder pessoal de reflexão, mas avantaja-se-lhe no conhecimento do próximo, na rapidez de compreensão, no senso prático e talento de observação. A sua grande força é, neste campo, a intuição, o tato, a adivinhação. Não analisa como o homem, aprende as coisas globalmente.

A sua falta de lógica é simplesmente aparente, pode-se confiar no seu juízo, sempre que ela não sofre a influência deformativa da emotividade.

A vida afetiva da mulher é móvel e variável. Os desejos da mulher são precipitados e violentos; enquanto que o homem sabe orientar os seus desejos, discuti-los, a mulher entrega-se-lhes inteiramente. A esperança e a expectativa prolongada convertem-se em verdadeiro sofrimento. O medo da dor é lhe mais penoso que a própria dor.

Esta sede de emoções explica o seu atrativo para o teatro, para as cenas dramática e, por vezes também, para o que lhe é proibido. A mulher é muito acessível ao sentimento do medo. Não suporta de modo algum impertinências, nem a ironia. Possui um vivo sentimento religioso, que se manifesta quer pela afeição às normas religiosas tradicionais, quer pela paixão exaltada das novas seitas. É menos aberta que o homem aos sentimentos intelectuais e ao sentimento estético. Não possui alegria de compreender, de conhecer, de indagar; é incapaz de se dar ao incômodo de resolver um problema não resolvido ou insolúvel. Em geral, a mulher tem pouco gosto pela política, fraco sentimento patriótico, mas apaixona-se mais que os homens pela pessoa dum chefe ou monarca simpático.

No domínio da atividade e das tendências, encontra-se mais na mulher do que no homem, a imitação impessoal, a impulsividade, mas menos rotina. Muito frequentemente a mulher procede em contradição com seus próprios princípios. Em consequência da sua grande emotividade, muda facilmente a direção da sua conduta. Daí a impossibilidade das suas reações, que lhe fazem mudar completamente de um dia para o outro a sua maneira de proceder.

Diz-se por vezes que as mulheres têm vontade fraca. Não é verdade, diz Heymans. Segundo ele, a vontade das mulheres é fraca a respeito de tudo o que se encontra fora da esfera dos seus deveres ou dos seus interesses vitais; é, ao contrário, forte, quando se trata de coisas que lhe dizem respeito. A mesma mulher que é mais corajosa que o homem durante uma operação penosa em tempo de doença, no cuidado dos enfermos e dos doentes, deixar-se-á possuir de terror num barco que começa a oscilar. Permanecerá calma num incêndio, mas perderá toda a presença de espírito à vista dum rato.

Como a sua percepção, a sua dedicação é total. Quando se dão, dão-se completamente. Adaptam-se mais fácil a um novo meio, a ocupações novas, o que explica, em parte, a sua graça, que contrasta com a dureza dos homens nas mesmas circunstâncias. Mais vezes que os homens, vivem regularmente ocupadas, trabalham até durante seus momentos de descanso, habituadas a atacar corajosamente e a levar a cabo uma tarefa, dando preferência aos hábitos de ocupação sobre as ocupações facultativas.

Se considerarmos as suas tendências, notamos que as mulheres são em geral, mais sóbrias e mais comedidas que os homens e menos inclinadas ao prazer. Entre as necessidades espirituais, são sobretudo as de simpatia e as de vida social que têm a primazia. As mulheres são mais vaidosas, mas menos ambiciosas que os homens.

Em geral são mais poupadas. As suas tendências altruístas são menos desenvolvidas; parecem feitas para se dedicarem, e observa-se geralmente que são mais serviçais, mais compassivas que os homens. Tanto as suas inclinações verdadeiras e profundas, como as suas aptidões mais sólidas predispõem-nas excelentemente para a educação, para o cuidado dos doentes, para dedicação paciente, engenhosa, delicada, no seio da família.

Na mulher são sobretudo os sentimentos que as guiam nas ações. O homem vê, a mulher sente o que deve fazer. Encontrar-se-á, pois, muitas vezes no homem, mais lógica, mais coerência, mas também mais dureza. A mulher é mais maleável, adapta-se mais facilmente a todas as modalidades da situação, mas sob a influência da emotividade deixa-se mais facilmente transviar por simpatias e antipatias.

Recordemos, ao terminar, que a maior parte dos caracteres são na realidade o resultado de diversas combinações e que, procurando adquirir as qualidades que não nos couberam em herança, é que chegamos a aperfeiçoar-nos, a equilibrar-nos e a dar quanto é possível esperar de nós. Fazendo esforços e pedindo a graça de Deus, chega o homem a reformar-se, como mostra o estudo das Vias Espirituais.

A Vida Espiritual explicada e comentada – Adolph Tanquerey