CATECISMO DE SÃO PIO X – DA PENITÊNCIA – PARTE 1

pio§ 1º. – Da Penitência em geral

670) Que é o Sacramento da Penitência?

A Penitência, chamada também Confissão, é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.

671) Por que se dá a este Sacramento o nome de Penitência?

Dá-se a este Sacramento o nome de Penitência, porque, para obter o perdão dos pecados, é necessário detestá-los com arrependimento e porque quem cometeu uma falta deve sujeitar-se à pena que o Sacerdote impõe.

672) Por que este Sacramento se chama também Confissão?

Chama-se este Sacramento também Confissão, porque, para alcançar o perdão dos pecados, não basta i detestá-los, mas é necessário acusar-se deles ao Sacerdote, isto é, confessá-los.

673) Quando Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência?

Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência no dia da sua Ressurreição, quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados.

674) Como deu Jesus Cristo aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados?

Jesus Cristo deu aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados, soprando sobre eles, e dizendo: Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.

675) Qual é a matéria do Sacramento da Penitência?

Distingue-se a matéria do Sacramento da Penitência em remota e próxima. A remota é constituída pelos pecados cometidos pelo penitente depois do Batismo, e a matéria próxima são os atos do próprio penitente, isto é, a contrição, a acusação e a satisfação.

676) Qual é a forma do Sacramento da Penitência?

A forma do Sacramento da Penitência é esta: Eu te absolvo dos teus pecados.

677) Quem é o ministro do Sacramento da Penitência?

O ministro do Sacramento da Penitência é o Sacerdote aprovado pelo Bispo para ouvir confissões.

678) Por que o Sacerdote deve ser aprovado pelo Bispo?

O Sacerdote deve ser aprovado pelo Bispo para ouvir confissões, porque, para administrar validamente este Sacramento, não basta o poder da Ordem, mas é necessário também o poder de jurisdição, isto é, a faculdade de julgar, que deve ser dada pelo Bispo.

679) Quantas são as partes do Sacramento da Penitência?

As partes do Sacramento da Penitência são: a contrição, a confissão e a satisfação da parte do pecador, a absolvição da parte do sacerdote.

680) Que é a contrição ou a dor dos pecados?

A contrição ou a dor dos pecados é um desgosto da alma, pelo qual se detestam os pecados cometidos, e se propõe não os tornar a cometer no futuro.

681) Que quer dizer esta palavra contrição?

A palavra contrição quer dizer fratura ou despedaçamento, como quando uma pedra é esmagada e reduzida a pó.

682) Por que se dá o nome de contrição à dor dos pecados?

Dá-se o nome de contrição à dor dos pecados, para significar que o coração duro do pecador em certo modo se despedaça pela dor de ter ofendido a Deus.

683) Em que consiste a confissão dos pecados?

A confissão consiste na acusação distinta dos nossos pecados ao confessor, para dele recebermos a absolvição e a penitência.

684) Por que é que a confissão se chama acusação?

Chama-se a confissão acusação, porque não deve ser uma narração indiferente, mas sim uma verdadeira e dolorosa manifestação dos próprios pecados.

685) Que é a satisfação ou penitência?

A satisfação ou penitência é a oração ou outra boa obra, que o confessor impõe ao pecador em expiação dos seus pecados.

686) Que é a absolvição?

A absolvição é a sentença que o Sacerdote pronuncia em nome de Jesus Cristo, para perdoar os pecados ao pecador.

687) Das partes do Sacramento da Penitência, qual é a mais necessária?

Das partes do Sacramento da Penitência, a mais necessária é a contrição, porque sem ela nunca se pode obter o perdão dos pecados, e com ela só, quando é perfeita, pode obter-se o perdão, contanto que esteja unida com o desejo, ao menos implícito, de confessar-se.

§ 2º. – Dos efeitos e da necessidade do Sacramento da Penitência e das disposições para bem recebê-lo

688) Quais são os efeitos do Sacramento da Penitência?

O Sacramento da Penitência confere a graça santificante, com a qual são perdoados os pecados mortais e também os veniais que se confessaram e de que haja arrependimento; comuta a pena eterna em temporal, da qual também é perdoada uma parte maior ou menor, conforme as disposições do penitente; faz reviver o merecimento das boas obras feitas antes de se cometer o pecado mortal; dá à alma auxílios oportunos para não recair no pecado e restitui a paz à consciência.

689) É o Sacramento da Penitência necessário a todos para se salvarem?

O Sacramento da Penitência é necessário, para se salvarem, a todos aqueles que, depois do Batismo, cometeram algum pecado mortal.

690) É bom confessar-se com frequência?

Confessar-se com frequência é coisa ótima, porque o Sacramento da Penitência, além de apagar os pecados, dá as graças necessárias para evitá-los no futuro.

691) Tem o Sacramento da Penitência virtude de per. doar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam?

Sim, o Sacramento da Penitência tem virtude de perdoar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam, contanto que se receba com as devidas disposições.

692) Quantas coisas são necessárias para fazer uma confissão bem feita?

Para fazer uma boa confissão, são necessárias cinco coisas:

1º exame de consciência;

2º dor de ter ofendido a Deus;

3º propósito de nunca mais pecar;

4º acusação dos próprios pecados;

5º satisfação ou penitência.

693) Que devemos fazer, antes de tudo, para bem nos confessarmos?

Para bem nos confessarmos devemos, antes de tudo, pedir de todo o coração ao Senhor que nos dê luz para conhecer todos os nossos pecados e força para os detestar.

§ 3º. – Do exame de consciência

694) Que é o exame de consciência?

O exame de consciência é uma diligente investigação dos pecados que se cometeram, desde a última confissão bem feita.

695) Como se faz o exame de consciência?

Faz-se o exame de consciência trazendo diligentemente à memória, na presença de Deus, todos os pecados ainda não confessados, cometidos por pensamentos, palavras, obras e omissões contra os Mandamentos de Deus e da Igreja, e contra as obrigações do próprio estado.

696) Sobre que mais coisas devemos examinar-nos?

Devemos examinar-nos também sobre os maus hábitos e sobre as ocasiões de pecado.

697) No exame, devemos investigar também o número dos pecados?

No exame devemos investigar também o número dos pecados mortais.

698) Que é necessário para que um pecado seja mortal?

Para que um pecado seja mortal são necessárias três coisas: matéria grave, plena advertência e consentimento perfeito da vontade.

699) Quando há matéria grave?

Há matéria grave, quando se trata de uma coisa notavelmente contrária à Lei de Deus e da Igreja.

700) Quando há plena advertência no pecado?

Há plena advertência no pecado, quando se conhece perfeitamente que se faz um mal grave.

701) Quando, no pecado, há o consentimento perfeito da vontade?

Ha. no pecado, o consentimento perfeito da vontade, quando se quer fazer deliberadamente uma coisa, embora se reconheça que é culpável.

702) Que diligência se deve usar no exame de consciência?

No exame de consciência deve usar-se aquela diligência que se usaria em um negócio de grande importância.

703) Quanto tempo se deve empregar no exame de consciência?

Deve empregar-se no exame de consciência mais ou menos tempo, conforme a necessidade, isto é, conforme o número e a qualidade dos pecados que sobrecarregam a consciência, e conforme o tempo decorrido desde a última confissão bem feita.

704) Como se pode facilitar o exame para a confissão?

Facilita-se o exame para a confissão, fazendo todas as noites o exame de consciência sobre as ações do dia.

§ 4º – Da dor ou arrependimento

705) Que é a dor dos pecados?

A dor dos pecados consiste num desgosto e numa detestação sincera da ofensa feita a Deus.

706) De quantas espécies é a dor?

A dor é de duas espécies: perfeita ou de contrição; imperfeita ou de atrição.

707) Que é a dor perfeita ou de contrição?

A dor perfeita é o desgosto de ter ofendido a Deus, porque Deus é infinitamente bom e digno, por Si mesmo, de ser amado sobre todas as coisas.

708) Por que se chama perfeita a dor de contrição?

Chama-se perfeita a dor de contrição por duas razões:

1º porque se refere exclusivamente à bondade de Deus, e não ao nosso proveito ou prejuízo;

2º porque nos faz alcançar imediatamente o perdão dos pecados, ficando-nos porém a obrigação de nos confessarmos.

709) Então a dor perfeita alcança-nos o perdão dos pecados independentemente da confissão?

A dor perfeita não nos alcança o perdão dos pecados independentemente da confissão, porque sempre inclui a vontade de se confessar.

710) Por que a dor perfeita, ou contrição, produz este efeito de nos conceder o estado de graça?

A dor perfeita, ou contrição, produz este efeito, porque procede da caridade, que não pode encontrar-se na alma juntamente com o pecado mortal.

711) Que é a dor imperfeita ou de atrição?

A dor imperfeita ou de atrição é aquela pela qual nos arrependemos de ter ofendido a Deus como nosso supremo Juiz, isto é, por temor dos castigos que merecemos e nos esperam nesta ou na outra vida, ou pela própria fealdade do pecado.

712) Que condições deve ter a dor para ser boa?

A dor, para ser boa, deve ter quatro condições: deve ser interna, sobrenatural, suma e universal

713) Que quer dizer: a dor deve ser interna?

Quer dizer que deve estar no coração e na vontade, e não só nas palavras.

714) Por que a dor deve ser interna?

A dor deve ser interna, porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar para Deus, detestando o pecado cometido.

715) Que quer dizer: a dor deve ser sobrenatural?

Quer dizer que deve ser excitada em nós pela graça do Senhor, e a devemos conceber levados por motivos que procedem da fé.

716) Por que a dor deve ser sobrenatural?

A dor deve ser sobrenatural, porque é sobrenatural o fim a que se dirige, isto é, o perdão de Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna.

717) Explicai melhor a diferença entre a dor sobrenatural e a natural.

Quem se arrepende por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser amado, por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia intrínseca do pecado, tem dor sobrenatural, porque estes são os motivos fornecidos pela fé. Quem, ao contrário, se arrependesse só pela desonra ou castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria dor natural, porque se arrependeria só por motivos humanos.

718) Por que a dor deve ser suma?

A dor deve ser suma, porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males, visto ser ofensa de Deus, sumo Bem.

719) Para ter dor dos pecados, é porventura necessário chorar, como às vezes se chora pelas desgraças desta vida?

Não. Não é necessário que materialmente se chore pela dor dos pecados; mas basta que no íntimo do coração se deplore mais o ter ofendido a Deus, do que qualquer outra desgraça.

720) Que quer dizer que a dor deve ser universal?

Quer dizer que se deve estender a todos os pecados mortais cometidos.

721) Por que a dor se deve estender a todos os pecados mortais cometidos?

Porque quem se não arrepende, ainda que seja de um só pecado mortal, continua sendo inimigo de Deus.

722) Que devemos fazer para ter dor dos nossos pecados?

Para ter dor dos nossos pecados, devemos pedi-la de todo o coração a Deus e excitá-la em nós com a consideração do grande mal que fizemos, pecando.

723) Como fareis para vos excitardes a detestar os pecados?

Para me excitar a detestar os pecados considerarei:

1º o rigor da infinita justiça de Deus, e a deformidade do pecado que enfeiou a minha alma, e me tornou merecedor das penas eternas do inferno;

2º que perdi a graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus, e a herança do Paraíso;

3º que ofendi o meu Redentor que morreu por mim, e que os meus pecados foram a causa da sua morte;

4º que desprezei o meti Criador, o meu Deus; que Lhe voltei as costas, a Ele, meu sumo Bem, digno de ser amado sobre todas as coisas, e servido fielmente.

724) Devemos ter grande empenho, quando nos vamos confessar, em ter verdadeira dor dos nossos pecados?

Sim, quando nos vamos confessar, devemos ter muito empenho em ter verdadeira dor dos nossos pecados, porque esta é a coisa mais importante de todas; e, se falta a dor, a confissão não é válida.

725) Quem se confessa só de pecados veniais, deve ter dor de todos?

Quem se confessa só de pecados veniais, para se confessar validamente, basta que se arrependa de algum deles; mas, para alcançar o perdão de todos, é necessário que se arrependa de todos os que reconhece ter cometido.

726) Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma boa confissão?

Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma confissão nula; a confissão além disso é sacrílega, se adverte que lhe falta a dor.

727) Que convém fazer para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais?

Para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais, é prudente acusar, com verdadeira dor, também algum pecado mais grave da vida passada, ainda que já confessado outras vezes.

728) É bom fazer com freqüência o ato de contrição?

É coisa boa e muito útil fazer, com freqüência, o ato de contrição, principalmente antes de se deitar, e quando se tem certeza ou se duvida de ter caído em pecado mortal, para recuperar mais depressa a graça de Deus; é útil, sobretudo, para alcançar mais facilmente de Deus a graça de fazer semelhante ato na ocasião de maior necessidade, isto é, em perigo de morte.

§ 5º – Do propósito

729) Em que consiste o propósito?

O propósito consiste em uma vontade determinada de nunca mais cometer o pecado, e de empregar todos os meios necessários para o evitar.

730) Que condições deve ter esta resolução, para ser um bom propósito?

Para ser um bom propósito, esta resolução deve ter principalmente três condições: deve ser absoluta, universal e eficaz.

731) Que quer dizer: o bom propósito deve ser absoluto?

Quer dizer que o propósito deve ser sem condição alguma de tempo, de lugar ou de pessoa.

732) Que quer dizer: o bom propósito deve ser universal?

O bom propósito deve ser universal, quer dizer que devemos ter a vontade de evitar todos os pecados mortais, tanto os que já tenhamos cometido no passado, como os que poderíamos cometer ainda.

733) Que quer dizer: o bom propósito deve ser eficaz?

O bom propósito deve ser eficaz, quer dizer que é necessário termos uma vontade decidida de perder todas as coisas antes que cometer um novo pecado, de fugir das ocasiões perigosas de pecar, de destruir os maus hábitos, e de satisfazer a todas as obrigações lícitas contraídas em conseqüência dos nossos pecados.

734) Que é que se entende por mau hábito?

Por mau hábito entende-se a disposição adquirida para cair com facilidade naqueles pecados aos quais nos acostumamos.

735) Que devemos fazer para corrigir os maus hábitos?

Para corrigir os maus hábitos, devemos vigiar sobre nós mesmos, fazer muita oração, confessar-nos com freqüência, ter um bom diretor sem mudá-lo, e pôr em prática os conselhos e os remédios que ele nos propõe.

736) Que se entende por ocasiões perigosas de pecar?

Por ocasiões perigosas de pecar entendem-se todas aquelas circunstâncias de tempo, de lugar, de pessoas ou de coisas, que, pela sua própria natureza, ou pela nossa fragilidade, nos induzem a cometer o pecado.

737) Somos gravemente obrigados a evitar todas as ocasiões perigosas?

Somos gravemente obrigados a evitar as ocasiões perigosas que de ordinário nos levam a cometer o pecado mortal, e que se chamam ocasiões próximas de pecado.

738) Que deve fazer quem não pode evitar alguma ocasião de pecado?

Quem não pode evitar alguma ocasião de pecado diga-o ao confessor, e siga os conselhos dele.

739) Que considerações nos auxiliam a fazer o propósito?

Para fazer o propósito auxiliam-nos as mesmas considerações que servem para excitar a dor, isto é, a consideração dos motivos que temos para temer a justiça de Deus, e para amar a sua infinita bondade.