DESPERTAR ALMAS – PARTE 1

MaeFilho1Não pode existir algo de mais comovente e patético do que assistirmos ao despertar de uma alma, às primeiras manifestações do espírito; desde três meses, vemo-lo surgir; como é belo um bebê e sua mamãe que, unidos pelos olhares, procuram um ao outro e se encontram. Se o bebê de três a doze meses pudesse desvendar os mistérios de suas descobertas inefáveis, ficaríamos … maravilhados! Quando um destes pequeninos pousa sobre sua mãe, sorridente e extasiado, o olhar calmo e a fixa com aquela gravidade, que lhes é peculiar, não se poderia duvidar de que esteja recebendo a revelação do mais grandioso amor. Certamente, aos dezoito anos, o amor lhe será manifestado sob outros aspectos, mas o homem, inconscientemente, procura encontrar na mulher esse infinito de amor que aos três meses lhe foi revelado pela mãe. Que coisa extraordinária, a procura de uma emoção, da qual a memória não guardou a lembrança, porque, desse período unicamente ultra-sensível, tudo se desvanece para ir atapetar o subconsciente, que é uma de nossas maiores riquezas!

Mas, é principalmente entre três e sete anos que poderemos ajudar esse renascimento que se impõe, e que traremos à tona aquela potência adormecida que espera de nós um desabrochar feliz; e é somente por nós que a criança tomará consciência de si própria; ajudemo-la a descobrir as possibilidades que lhe são inerentes, a fim de que desde cedo participe da formação de sua personalidade e nela colabore ativamente.

Comecemos pçor criar o clima favorável ao desenvolvimento de sua capacidade criadora, não abafemos essa sensibilidade apaixonante, a única que põe em contato com o mundo exterior; não multipliquemos as ordens, contra-ordens, interdições, ameaças; procuremos descobrir seus gostos, suas aptidões latentes, suas necessidades profundas e ajudemo-la a realizá-las.
Com doçura, porém com firmeza, afastemos os ramos “parasitas” que atrapalham o desabrochar da vinha e das flores; cortemos pela raiz os desejos imprudentes, as tendências inquietadoras, as pretensões absurdas, tudo o que não é razoável e que a criança adota, não somente por ignorância, mas porque ama o excesso, o fantástico, o extravagante.

Tenhamos uma noção justa da autoridade. Geralmente, com grande facilidade queremos impô-la, impelidos pela necessidade íntima de reinar sobre criaturas, e esse desejo de prepotência é tão veemente no homem como na mulher. Nossos filhos estando ao nosso alcance e sob nossa absoluta dependência, usamos mal de um direito que só deveria ser empregado para fins superiores, que o justificassem.

Antigamente a autoridade era autoritária e despótica; procurava essencialmente defender, frear, corrigir, impor, de preferência a levantar, sustentar, estimular. Hoje, peca pelo excesso contrário (as reações excedem sempre a justa medida). Em vez de abaixar as barreiras, suprime-as e tudo consente prtextando que a criança só pode desabrochar numa atmosfera de liberdade; mas esquece que liberdade não é anarquia. Uma sã pedagogia deve conciliar o que existe de fecundo no espírito dos métodos tradicionais e nos processos dos métodos ativos modernos: somente essa liança dos princípios imutáveis da educação com as técnicas do progresso da ciência pedagógica poderá assegurar o resultado que todo educador almeja: dar à criança as forças necessárias para enfrentar a vida.

Os métodos ativos da educação, respeitando a liberdade da criança, ensinam-lhe desde cedo a se servir deles; facilitam o despertar da alma suscitando reações livres, jamais permitindo o que não deve ser feito, sugerindo mais do que impondo. Esses métodos, quando bem empregados, são enriquecedores para a alma, pois procuram obter, antes de tudo, a adesão voluntária da criança. Nada de estável podendo ser realizado sem esse consentimento consciente e livre, tais métodos procuram despertar nos pequeninos o desejo de ser obediente, bom e serviçal.

Os dez mandamentos dos pais – Vérine