Não se deve prolongar demasiadamente esses colóqios, que assim perderiam todo seu valor; tampouco, jamais impô-los; aí, ainda, é necessário muito tato e intuição.
Abstenhamo-nos de insistir inabilmente quando percebemos que não estamos sendo ouvidos, a fim de não provocarmos enfado pela reflexão interior, fator tão importante na educação dos nossos filhos.
Vós me direis: Mas isto não é educação, é sugestão! Ao que responderei: A educação é uma sugestão, uma insinuação lenta, persuasiva e progressiva dos princípios imutáveis que devem reger toda vida. A sugestão educativa normal não tem a menor relação com o magnetismo ou hipnotismo; raciocinada, razoável, ela age sobre o consciente, desperta os bons hábitos, tornando-os firmes e, por assim dizer, inconscientes.
Somente aqueles que amam verdadeiramente a criança encontram sugestões felizes, que contrabalançarão com as outras pernicosas, que ela terá de enfrentar no correr dos anos, seja por meio de colegas, de livros ou de cinema. Implantemos, pois, solidamente os bons princípios na alma de nossos filhos; que sejam os primeiros a dominá-la. Evitemos sempre empregar negativas, dizendo: “Você é preguiçoso, mentiroso, mau”, acabaríamos por estabelecer um fato que a criança aceitará, acreditando na irresistibilidade de suas tendências. Pelo contrário, devemos persuadi-lo de que ama a verdade, para que venha a amá-la e que, se mentiu, foi por engano ou brincadeira. Se é preguiçoso, vamos dizer que hoje não estudou bem, mas certamente, amanhã estudará melhor. Despertemos a bondade em sua alma; a meiguice, os carinhos, os afagos de um pequenino revelam suas disposições para a bondade. À medida em que for crescendo, será preciso explicar-lhe que ser bom é agir. Agir, para o bem daqueles que amamos, no interesse deles ou simplesmente para lhes dar prazer, aceitando algumas privações ou esforço de algum trabalho. A verdadeira bondade não é apenas sentimental, é virtude da bondade. “Ter coração, é saber dedicar-se”.
É preciso ensinar a criança a repartir, a não bater nos seus irmãos. Os irmãos podem brigar, diz o povo, isto não prejudica os seus sentimentos. “Prejudica sim, mais do que imaginamos, se for frequente e será frequente se o tolerarmos” (H. Vénard).
No Natal e Ano-Novo, as crianças devem ajudar na confecção dessas árvores de Natal, que tantas associações organizam; podem enviar algum de seus brinquedos novos, ou então, que tirem do cofre algum dinheirinho ganho, não por terem prestado algum serviço a mãe, o que é normal, mas sim, fazendo algum trabalho caseiro: aos sete anos, nos dias de feriados, elas podem enxugar a louça, pôr a mesa, descascar legumes, etc. Aprederão assim a dar valor ao dinheiro ganho pelo trabalho e o bom uso que dele deve-se fazer.
Ensinemos aos pequeninos, pelo nosso exemplo, a amar os fracos, os pobres; apesar da socialização do mundo, “haverá sempre pobres entre nós”; a amar os que sofrem, os infelizes. Um ato de caridade deverá ser inspirado, sugeirdo, mas nunca imposto: a bondade não deve ser um constrangimento e, nesse domínio como em muitos outros, é preciso não forçar, mas saber esperar. “Desenvolvamos a sensibilidade nos seus primórdios: orientemo-la quando for demasiadamente acentuada, quiçá mórbida, pois aparentar sensibilidade não é formar o coração. Eduquemos a sensibilidade normal” (Jacquelina Voncent).
Finalmente, despertemos na alma de nossos filhinhos e sob o calor do nosso amor, as qualidades e sentimentos que desejaríamos ver germinar em seus coraçõeszinhos. “É despertando os bons sentimentos, diz Ch. Baudouin, que preparamos a sua realização e, ao mesmo tempo, expulsamos os maus”. Sejamos bons semeadores e jamais desanimemos. Saibamos, também, que não são os pais que mimam em demasia os filhos, que os enchem de presentes ou de carinhos, que mais os amam; os beijos, as expansões exageradas nada significam: provêm de uma natureza ardente e impulsiva que procura sua própria alegria nas manifestações exteriores e sensíveis, (para não dizer sensuais); porém, o que importa no amor materno e no amor paterno, não é o próprio prazer e alegria, mas sim, a felicidade e o bem dos seres aos quais demos a vida, em detrimento, se preciso for, da nossa própria satisfação. As criancinhas, aliás, não apreciam muito as manifestações e demosntrações de uma afeição exagerada; quando não as tornam egoi´stas, importunam-nas; proporcionemos-lhes, pois, os nossos carinhos criteriosamente, a fim de que conservem todo o seu valor. Se não existe algo de mais sublime do que o instinto materno, saibamos, entretanto, que ele não resume todo o amor.
“O instinto materno ama as crianças egoísticamente. O amor materno ama a criança pela criança. O instinto materno só atende às coisas sensíveis, externas e passageiras. O amor materno prende-se às coisas invisíveis e imperecíveis”. Somente ele sabe despertar as almas, porquanto só ele aprecia o seu valor. É paciente, benevolente, generoso, desinteressado, estável. É muito mais do que um ímpeto, uma emoção, um impulso; é um dom.
A educação é uma obra de amor.
Os dez mandamentos dos pais – Vérine