DÚVIDAS

duvQueixas-te porque surgem dúvidas que te atormentam. Não te impressiones. O que os jovens chamam dúvidas da fé, geralmente não passa de tentações nem constitui descrença pecaminosa. É verdade que a fidelidade à fé requer de muitos, combate árduo que deve ser levado a bom termo; mas os próprios santos, em geral, não estavam livres deles.

Dificilmente se poderiam encontrar homens cultos que não tenham sofrido as perturbações da dúvida. Ora é um relator de folhetins, a ridicularizar uma ou outra verdade da religião; ora uma revista a atacar um ponto da doutrina cristã, em um artigo “científico”; mais tarde, idéias totalmente errôneas que circulam na sociedade… Que muito, pois, se aparecem hesitações: Quem sabe se é tudo exatamente como nô-lo ensina a fé?

Crer e ter fé! Eis o que o Salvador de nós exige. Durante toda a sua vida, ele queria só uma coisa: “Crêde em mim!” “Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc. 16,16). É o que Ele quer também hoje, caros jovens!

Entretanto agora, no “século das luzes”, levanta-se a pergunta, na mente de muitos moços: “Por que tomou Deus a fé e não a ciência como base da religião? Por que diz Ele: salvo será o que crer? Por que não diz: aquele que entender minha doutrina, compreender minhas idéias e penetrar-lhe as profundezas, este será salvo? Ou por que não: bem-aventurados os ilustrados, os inteligentes, os sábios?

Sabes por que?

Porque Ele baixou à terra para a salvação de toda a humanidade, estabeleceu a religião para todos.

Podem todos ser sábios? Não.

Poderá cada indivíduo em particular fazer estudos mais profundos? Não.

Mas, podem todos crer? Sim. A criança e o ancião, o pobre como o rico, o aluno e o mestre. Todos podem, com igual humildade, crer na palavra de Cristo, embora não a possam entender com compreensão igual. Eis justamente a razão por que a fé é o fundamento da vida religiosa: todo o homem, seja quem for, pode possuir uma fé sólida.

Donde provém pois a incredulidade? Da estultícia e do orgulho dos homens. “Em Deus há três Pessoas e no entanto num só Deus e não três. Como poderá ser isso? Não entendo, portanto, não creio!” — “O sacerdote, na missa, pronuncia sobre a hóstia estas palavras: Isto é meu corpo — e desde esse instante já não há mais pão, mas o Corpo do Salvador. Não posso compreender, não posso crer!” A inteligência limitada do homem não quer crer o que ele não pode compreender. A causa de muitas dúvidas sobre a religião é pois uma estulta pretensão de sabedoria.

Responderás que tuas dúvidas não provêm desse orgulho; que desejarias muito crer com alma humilde, e não obstante sofres de incertezas. Não ternas, são tentações contra a fé, permitidas por Deus, para que aprendas a lutar e saias fortalecido da liça. De tais provações nem as almas piedosas se isentam. Com elas. Deus tem em mira determinado fim. Realmente, qual seria o mérito em acreditar verdades da religião, depois que as tivéssemos compreendido como o 2 x 2 são 4? É merecimento acreditar nos resultados da tabuada? Certo que não. Pois, não há como fugir; nossa razão percebe claramente que só pode ser assim.

Com as verdades da fé, todavia, é bem diferente. Entre elas não já nenhuma que seja contrária à razão, embora muitas estejam, acima de nossa inteligência. Sua aceitação exige a submissão, não só da razão mas ainda da vontade. É nisso que consiste o mérito da fé.

Quanto mais lutas contra as dúvidas, tanto mais meritória a fé. Muitos moços comentam ainda o motivo porque Deus não revelou mais clara e positivamente certas verdades. Por exemplo: “Jesus Cristo ressurgiu dos mortos’”, creio-o. Entretanto, não teria sido muito mais fácil a fé se, em vez de mostrar-se unicamente aos discípulos, O tivessem visto também seus inimigos? Por que não prostrou por terra, com sua aparição, aos escribas e fariseus triunfantes, como o fizera com os soldados no Jardim das Oliveiras?

Ou: “o Papa é infalível quando ensina ex-cathedra uma verdade da fé ou de moral”, eu o creio. Mas, quanto mais fácil seria crê-lo, se Cristo tivesse dito a S. Pedro: “Tu és o chefe da Igreja; quando pois tu ou teus sucessores ensinardes um artigo de fé ou de moral, sereis infalíveis…?”

Por que Jesus não dispôs as coisas assim, bem concreta e explicitamente? pensará alguém. Ora, o ponto de vista acima apresentado, dar-lhe-ia a resposta. Deus não nos quer obrigar à fé, o que não seria meritório para nós; Ele quer que nossa boa vontade tenha seu papel. Ele revelou as verdades com suficiente clareza, para que sem constrangimento possamos reconhecê-las; deixou também algumas coisas às escuras, em mistério, para que a fé, isto é, a humilde e meritória submissão da vontade, tenha também sua parte.

Que farás pois, quando as dúvidas te assaltarem? — Combate o inimigo com suas próprias armas. — “Quem sabe se existe realmente um Deus…, não há além-túmulo…” quiçá venha assim a tentação. Em resposta, reza devotamente o “Credo”! Ou o espírito te insinue talvez: “Será que Jesus Cristo está, realmente, no S. S. Sacramento?” — Ajoelha-te diante do tabernáculo, para entreter-te com o Divino Prisioneiro.

Ao sobrevirem hesitações e dúvidas acerca de dogmas da fé, que ultrapassam nossa fraca compreensão, cuidado! não se obstine tua razão, querendo ver claramente o que não pode alcançar o limitado entendimento humano. Pois, se na ordem material podemos provar a realidade da existência de fenômenos vários, sem sabermos explicar sua essência, não temos direito de duvidar da realidade e veracidade de dogmas, porque não podemos perceber imediatamente o “como”. O mais seguro é expulsar logo da mente esses pensamentos, com decidida energia.

Se as dúvidas surgirem em questões contidas no âmbito da razão, vai-lhes no encalço, procura instruir-te, pois é possível que estas dúvidas sejam um estímulo para que dispenses maior interesse à religião e alcances a clareza desejada. — Lê um bom livro que trate do assunto em que precisas esclarecer-te.

Pretensão e falsa confiança em si mesmo podem levar-nos à descrença. Muito mocinho está convencido de que é inteligente, superior, esclarecido, quando, à boca cheia, anuncia aos companheiros que já não crê na doutrina da religião, que “já não é mais criança” e que deixou de submeter-se às prescrições da fé.

E, no entanto, se ele tivesse um pouco mais de experiência da vida, saberia que “servir a Deus é reinar”. Mas quem se afasta de Deus e já não quer servi-lo, no mesmo momento começa a ser escravo de algum ídolo, do dinheiro, das paixões, da sede de honras e consideração.

Quem retira de Deus a mão, estende-a a Satanás; quem desvia das estrelas o olhar, baixa-o ao lodo da terra, e sua vida perde a nobreza e o valor.

Ó pobre insensata aranha, rompes assim o fio preso no alto, que suspendia a tua teia!

A  Religião e a Juventude – Mons. Tihamer Toth