GOLPE PROFUNDO

mat2O primeiro e mais profundo golpe no matrimônio nos tempos modernos foi vibrado pelo Protestantismo. Os “reformadores” do século XVI negaram-lhe qualquer caráter religioso e sacramental. Lutero renovou os erros dos gnósticos e albigenses, ensinando que o matrimônio é tão imoral como o adultério e a fornicação.

Mas, incoerente e desabrido, dizia que a concupiscência da carne é invencível – e concluía, contraditório e inconsequente, pela obrigatoriedade do matrimônio e pelo absurdo da virgindade e do celibato. Para tirar-se do impasse, afirmava que Deus não impunha aos homens as desordens do matrimônio.

Uma verdadeira seara de erros perigosíssimos.

a)O matrimônio não é religioso, mas profano. Eis a primeira e mais terrível “profanação” do matrimônio. Calvino chegou a dizer que o matrimônio é tão sagrado como o trabalho do campo… Daí nascerão todas as demais profanações, como de sua fonte.

b)As teorias da “necessidade fisiológica”, da nocividade da continência, etc., hoje tão correntes e perniciosas, estão em Lutero.

c)A equiparação da vida conjugal com as desordens extra-conjugais, ensinada por ele, levaria os costumes às facilidades atuais.

O resto é conseqüência.

Os evolucionistas ensinaram que a constituição da família veio tardia, por imposição da sociedade, no desejo de organizar-se. Negavam assim ao matrimônio caráter religioso, tanto quanto os “reformadores”, e punham o matrimônio às mãos dos homens, à sua mercê, como obra deles, por eles criada e afeiçoada, por eles também, decerto, desmontável e reformável!

Os próprios comunistas, declarando o matrimônio uma invenção burguesa e artificial, nada acrescentavam. E só inovaram nos processos de nivelamento com as uniões livres – nivelamento que Lutero teoricamente ensinara e que os evolucionistas insinuavam, mas sem coragem de realizar.

Sacudindo o jugo divino e fazendo-se árbitros dos destinos humanos, os Estados (preparando a hipertrofia totalitária), arrogaram-se o direito de fazer casamentos! Assim, não somente desconheciam o caráter sagrado do matrimônio, mas o negavam, considerando nulo e inexistente o verdadeiro matrimônio, dando força legal apenas ao chamado “casamento civil”.

Se podiam fazer, podiam também desfazer: veio o divórcio!

A propaganda

A dignidade do matrimônio, seus fins, seu caráter religioso, seu vínculo indissolúvel, sua própria necessidade estão padecendo uma espécie de guerra total.

Livros e folhetos – desde a publicação ligeira, de pura divulgação popular, ao livro sedizente científico – andam de mão em mão. Editores se especializam na infeliz empreitada. A idéia central é sempre substituir o conceito de matrimônio como instituição divina e natural, por um conceito inteiramente humano, que deixa o casamento nas mãos dos homens como coisa sua e a seu bel-prazer.

Ou fazer tábua rasa de tudo o que não seja o amor – palavra com que romances e folhetins denominam a paixão impura, para assim soltar mais facilmente as rédeas do instinto. Desde que se amem, é tudo permitido!

Recrudesceu, desde há tempos, a campanha neomaltusiana. Uma enxurrada de livros mal orientados justifica e ensina o mais desabrido anticoncepcionismo, alimentando o egoísmo dos cônjuges, abrindo caminho à infidelidade de esposas, derrubando a barreira que ainda protegia certas virgindades condescendentes…

… Na mesma esteira navegam os divorcistas. Seus argumentos refutados nas escolas e nos seminários, em livro de alto saber, grande tomo e muito preço, andam na mão do povo, quebrando resistência, fazendo corrente, firmando convicções, preparando ruínas.

Muito mais difundidos e eficazes vêm outros meios de propaganda antimatrimonial.

cinema martela sem cessar os temas amorosos, num amoralismo absoluto, com desprezo da organização doméstica em favor da mais desenfreada liberdade de costumes. Não admira que os temas sejam divórcios, adultérios e amor livre, quando os “astros” e as “estrelas” outra vida não vivem, na realidade.

Os teatros, as emissoras radiofônicas, as revistas descem às raias do incrível, na desmoralização do casamento e da fidelidade conjugal, na glorificação do amor livre, no culto da pornografia e da obscenidade.

E é dever ver como são preferidas as peças mais desabridas, os programas mais incovenientes, os “artistas” mais audaciosos, as sessões mais apimentadas. As anedotas correm de boca em boca, as piadas reventam gargalhadas soezes, as facécias se firmam em modismos de falar. É a aceitação inconsciente pela opinião pública.

Os erros, difundindo-se, criam uma mentalidade de vício e dissolução. O daltonismo moral chega a tais deformações que o vício passa a ser aceito, defendido e louvado, enquanto a virtude passa a ser mal vista e ridicularizada.

E os homens vão cedendo à pressão da propaganda. Relaxa-se a resistência moral, condescendem os tribunais, modelam-se novas leis à feição das capitulações, a sociedade inteira se acomoda…

Só a Igreja resiste! E Ela só! Porque mesmo os católicos vão capitulando. Sem formação, sem doutrina, sem resistências morais porque sem prática e sem Sacramentos, são vítimas igualmente fáceis dos erros correntes.

Esses erros extremamente perniciosos – reconhece a Encíclica Casti Connubii – e esses costumes depravados começaram a difundir-se mesmo entre os fiéis, e tendem a insinuar-se insensível e cada vez mais profundamente“.

Noivos e Esposos – Pe. Álvaro Negromonte