A dama patrícia da Campânia que fazia exibição das suas jóias respondia Cornélia designando os filhos: “São estas as minhas jóias e os meus adornos”. Aspirava à hitória menos pelo facto de ser filha de Cipião o Africano do que por ser mãe dos Gracos.
Com a graça de Cristo a mais, e orgulho pagão a menos, é ou não um sentimento análogo o que inspira a Senhora Martin? A filha mais velha conta a este respeito um episódio significativo:
“Eu tinha então sete anos: um dia em que estreávamos vestidos de setim de lã azul-escuro, a minha mãe mandou-nos chamar todas quatro, às minhas irmãzinhas e a mim, para nos ver antes do passeio que íamos dar. Olhou para nós demoradamente, com enternecida complacência, e depois disse-nos: ‘Vão agora, minhas filhinhas’. Mas evitou fazer algum elogio aos nossos vestidos, que eu achava tão bonitos, para não nos provocar qualquer sentimento de vaidade”.
Aquela mãe tão despreocupada de aparecer, que com grande desespero da Maria, detestava qualquer requinte no próprio trajar e troçava sem dó nem piedade do que ela denominava “a escravidão da moda”, cuidava gostosamente do vestuário das filhas, sem todavia se afastar da simplicidade. As mães não serão insensíveis a este delicioso esboço da Celina aos dezesseis meses:
“Fi-la estrear no dia do Corpo de Deus, o vestido encantador que lhe deu a madrinha; se visse como lhe me sentia orgulhosa da minha filha! Levava também um lindo chapéu de pena branca; enfim era encantador, tudo. Habituámo-nos a vestí-la de branco, e já não sai senão com vestidos brancos, muito simples; é tão bela assim! Nunca vesti as outras filhas tão bem”.
Fora também com todo o carinho que preparava o enxoval de Teresa na época em que esperava o seu próximo regresso a Alençon.
“Já tenho em vista para ela um vestido azul celeste, com sapatinhos zuis, um cinto azul e uma linda touca branca. Há-de ser um encanto. Já me alegro toda na expectativa de vestir aquela boneca”.
Teria faltado qualquer coisa ao feminismo ideal desta “mãe incomparável” se não tivesse dado mostras dum certo gosto pelo adorno das filhas. O Senhor Martin que gracejava agradavelmente a respeito das suas compras de vestuário partilhava, no fundo, desse orgulho. É que ambos eles, certos de terem o perfeito domínio do seu rebanho, entreviam, para além da beleza sensível, uma beleza mais alta, que a matrona romana não podia conceber. Sabiam que os filhos se tornam para os pais recompensa, ou castigo, conforme a educação que receberam. Com esforços conjugados cultivavam para o Senhor aquelas almas que o Senhor lhes confiara. Era essa a sua suprema ambição e a sua única razão de viver.
História de uma família – P. Stéphane Joseph Piat