Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
De acordo com a filosofia política, uma das causas essenciais de qualquer sociedade é a “unidade social”, ou seja, o fato de se ter uma ação comum. Ora, o princípio desta unidade social é a autoridade. Com efeito, um membro de uma sociedade qualquer pode espontaneamente perseguir seus objetivos pessoais. Contudo, se todos fossem deixados à sua própria vontade, não haveria nenhuma ação conjunta. É próprio da autoridade, ao contrário, determinar a ação comum a qual todos participarão, permitindo aos membros “formar a sociedade”.
A recordação destes princípios nos faz entender que a desintegração da autoridade constitui um problema para uma sociedade. E que isso se torna um drama ainda maior quando o eclipse da autoridade alcança as sociedades que edificam o ser humano, principalmente a família, a Cidade e a Igreja.
Ora, é isto o que infelizmente vivemos hoje. Sofremos a ruína da autoridade, os lideres deixam de mandar, os indivíduos se recusam a obedecer. Na família, os pais renunciam enquanto seus filhos contestam. Nas associações civis, nas empresas, ninguém quer obedecer se não for analisada previamente a ordem dada, enquanto os chefes evitam comandar e “delegam”.”Na cidade, os eleitos estão a mercê dos eleitores, enquanto esses últimos se rebelam a qualquer momento.
Mas este também é o caso, infelizmente, da Igreja. As autoridades eclesiásticas, que possuem, portanto, o triplo dever: legislativo, judicial e executivo, ao invés de esclarecer, comandar, punir quando necessário, se subordinam ao seu rebanho, ou até mesmo, o que é pior, do mundo inimigo Deus. “Quem sou eu para condenar, para julgar?”, parecem elas nos dizer, enquanto elas são, simplesmente, … as autoridades instituídas por Deus para isso.
As consequências dessa destruição da autoridade são terríveis. Em primeiro lugar, porque a autoridade é a causa da unidade social, a falta de uma autoridade clara e firme gera a divisão da sociedade. Cada um “cuida dos seus problemas” em seu canto, enquanto o bem comum é negligenciado ou até mesmo contrariado.
Em seguida, isso cria um distúrbio profundo na sociedade. Em 13 de junho de 1849, o príncipe-presidente Luís Napoleão Bonaparte proclamou: “É hora dos bons se tranquilizarem e dos ímpios tremerem”. “Seja qual for o futuro” Imperador dos Franceses “, esse slogan descreve a ordem normal de uma sociedade. Ao contrário, quando a autoridade se desintegra, a situação inversa se instala: os ímpios se sentem tranquilos com suas más ações, enquanto os bons são desencorajados e começam a temer. Pior do que isso, esse enfraquecimento da autoridade paralisa a sociedade, pois os homens medianos, nem bons nem maus – poder-se-ia dizer – em razão de não serem mais dirigidos, caem na omissão. A atividade de toda a sociedade diminui e a inércia (sintoma de morte) cresce gradativamente.
Finalmente, em razão das consequências do pecado original, o homem, que não sente mais acima de sua cabeça o olhar de um chefe tão justo quanto vigilante, se relaxa e cai, progressivamente, em faltas das quais uma autoridade digna deste nome o teria preservado. São Tomás de Aquino, falando da desobediência, nota, aliás, em substância (Suma teológica II-II, q. 105, a.2) que o preceito da autoridade é um grande obstáculo ao pecado.
Essa ruína da autoridade, uma das piores desgraças que podem atingir a sociedade humana, é um castigo de Deus, em razão dos muitos crimes que os homens se mancharam diante de sua face. O profeta Isaías, anunciando as desgraças futuras de Jerusalém, consequência de suas faltas, declarava, com efeito, da parte de Deus: “Dar-lhes-ei crianças por príncipes” (Is 3, 4). Dizer de uma sociedade que seu rei é uma criança significa que o chefe é incapaz de exercer plenamente sua autoridade. E o Eclesiastes nos explica o que é preciso pensar de tal perspectiva: “Aí de ti, terra cujo rei é uma criança!” (Ec 10,16).
Logo, não nos deixemos levar por essa onda de desprezo e de contestação da autoridade. Não é um espírito católico. O espírito católico, ao contrário, é, entre os súditos, uma disposição de profunda obediência aos superiores legítimos que agem legitimamente, e isso por imitação de Cristo que obedece até a morte, como par submissão a Deus, pois “toda autoridade vem de Deus” (Rm 13, 1-7).
Quanto àqueles que receberam a autoridade, eles devem corajosamente e humildemente “cumprir todos os deveres de seu ministério”, “repreender, exortar, ameaçar, pacientemente e doutrinariamente”, ainda que pareça ter chegado o tempo onde os homens rejeitem a sã doutrina e querem viver segundo seus desejos sem suportar nenhuma autoridade (2 Tm 4, 1-5).
Portanto, rezemos para obter do Céu elites dignas desse nome, verdadeiros chefes capazes de assumir suas responsabilidades e exercer com justiça e força sua autoridade na Cidade e na Igreja, pelo bem de todos e a glória do Senhor.
Pe. Christian Bouchacourt †, Superior do Distrito da França da FSSPX