Pensem-no embora os naturalistas e os pais mais ingênuos ou cegos de mal entendido amor, não há crianças sem defeitos. Por bem dotadas que sejam, sempre o terão. Se muito fortes, as próprias qualidades os trazem consigo. Por isso é de necessidade a correção.
Deus a ordena – “Quem poupa a vara odeia o filho; mas quem o ama corrige-o na hora oportuna” (Pv 13,24). (Não tomemos a palavra ao pé da letra, como apologia do castigo físico… falando a linguagem dos homens do seu tempo, a Bíblia quer inculcar a necessidade da correção, que é o essencial no seu pensamento, sendo o meio a parte acessória. Aqui, como em muitos outros passos da Escritura, devemos lembrar a sua própria advertência: “A letra mata, mas o Espírito vivifica”).
“Não poupes a correção à criança” (Pv 13,24). “Aquele que ama o seu filho corrije-o com freqüência, para que se alegre mais tarde” (Eclo 30,1). E São Paulo, escrevendo aos efésios: “E vós, pais, não provoqueis vosso filhos à ira, mas educai-os na disciplina e na correção, segundo o espírito do Senhor” (Ef. 6,4).
A razão a requer – A situação do homem em face da moral não é apenas um dado da fé. Faz parte da Revelação, é fundamental ao Cristianismo, porque o Senhor veio para restituir-nos a graça, perdida na queda do pai da humanidade. São Paulo diz que não faz o bem que quer, e sim o mal que não quer; e sente no corpo uma força que luta contra a força do espírito (Cf. Rm 7,19-23). São Pedro, na sua primeira Epístola, fala igualmente “dos desejos da carne que combatem contra a alma” (2,11).
A razão nos mostra a verdade desta situação. Cada um de nós pode repetir o poeta francês que sentia dois homens em si – um que anseia pelo ideal, outro que se inclina para os instintos, arrastando-se para erros e desvios, que requerem correção. Correção maior ou menor, própria ou alheia – conforme o caso.
A criança a exige – Sem uso da razão, ou com este apenas começando, movida pela sensibilidade em pleno domínio, a criança não tem capacidade para discernir o bem do mal, nem vontade suficiente para deter-se em face das solicitações instintivas. É o educador que a deve orientar para fazer o bem e evitar o mal, corrigindo-a, quando ela errar. Sem essa correção, corre a criança o risco de confundir noções contrárias, cuja distinção é essencial à vida moral. Para a criança o bem é o que os pais lhe permitem, o mal o que eles lhe proíbem.
A experiência o confirma – Em todos nós estão os germes de virtudes e vícios, lançados pela própria natureza. Nos cristãos, o Batismo infundiu as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. Mas importa cultivar o campo, a fim de que a boa semente brote, cresça e frutifique, e o joio seja erradicado. Deixado a si o terreno, despontam mais facilmente os espinhos que a boa semente.
É esta a lição da experiência: sem orientação e correção, crescem as crianças estragadas e viciosas; enquanto os frutos de virtude sazonam nas que tiveram o cultivo dos educadores.
Corrija o seu filho – Mons. Álvaro Negromonte