O CRUCIFIXO FAMILIAR

Imagem relacionadaO que disse até agora, porém, seria incapaz de garantir a felicidade completa no lar. A mesa familiar é, sem dúvida, um móvel necessário em uma família feliz, mas em si é insuficiente. Uma outra peça de mobília é, pelo menos, necessária: o crucifixo de família.

Esta palavra crucifixo, eu a entendo no sentido literal, no sentido físico.

Não posso representar um lar realmente cristão, onde não se encontre, em um lugar de honra, a lembrança perpétua da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo: o crucifixo.

O crucifixo, porque ele recorda constantemente os sofrimentos e o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando-se assim um encorajamento e uma consolação ao lar doméstico. Muitas vezes, os esposos constatarão a verdade desta máxima: “A felicidade conjugal se faz com grandes coisas e se desfaz com pequenas“. Doenças e desgraças podem provar a família, privações e desentendimentos podem surgir entre milhões de esposos, e quem os ajudará senão a Cruz de Cristo?

Muitos esposos verificarão ser o casamento também uma cruz. Mas que consolo, se podem olhar o crucifixo e se lembrar das sábias palavras da Imperatriz Maria Teresa à sua filha Maria Cristina: “Não negligencieis nunca vossos deveres de religião; no matrimônio tem-se necessidade, mais que em qualquer outro lugar, da oração e do socorro de Deus“.

De fato, divergências de vistas, choques, diferenças de opiniões, são inevitáveis, onde vários levam existência comum; mas se os esposos lançassem então um olhar ao seu crucifixo ouviriam este aviso da Sagrada Escritura: “Carregai os fardos um dos outros e deste modo cumprireis a lei de Cristo” (Gál. 602). É, então, que se realizará para eles esta outra palavra dos livros santos: “O senhor está convosco, quando estiverdes com Ele; se vós O procurardes, acha-lO-eis, mas se O abandonardes, Ele vos abandonará” (II Cr. 15,2).

Eis-nos em presença deste profundo pensamento que o crucifixo familiar, móvel necessário, quer nos indicar: o verdadeiro espírito religioso com suas conseqüências: disciplina e domínio de si. O crucifixo não deve estar só na parede, mas sim viver na alma dos esposos. É necessário para assegurar a felicidade do casamento.

Citarei apenas alguns exemplos.

Há momentos, às vezes meses, talvez anos, em que os esposos são obrigados a observar a continência, como se não fossem casados; assim, por exemplo quando um deles está doente, ou quando seus deveres afastam um do outro, por muito tempo, ou ainda se os esposos, por [graves] dificuldades materiais, não podem receber os filhos. Se, nestas circustâncias, falta a disciplina religiosa necessária, então chega o pecado, e com ele também o fim deplorável da felicidade familiar.

E agora, quais são os que podem observar a continência forçada? Só os esposos em cuja alma vive o crucifixo. Aqueles, porém, aos quais falta uma idéia religiosa bastante profunda, encontrarão, ao contrário, muito estreito o âmbito do matrimônio conforme a moral.

Mas não é só no terreno moral, é também no ponto de vista material que é preciso, hoje, mostrar muita renúncia e sacrifício, por causa das dificuldades atuais da existência.

O Pe. Hardy Schilgen, na “A Criação”, faz ouvir este aviso: “Feliz par! Sereis eternamente feliz, se não vos deixardes seduzir, desejando mais do que tendes, e querendo saber mais do que vos é necessário“.

Querendo saber mais do que vos é necessário“, este não é o perigo que ameaça muito os homens atuais. Outro perigo ameaça muito mais a tranquilidade e a harmonia da família, é “querer mais do que tendes“.

Renúncia, simplicidade, saber contentar-se com o pouco … qual a esposa que disto é capaz?

Só aquela cuja alma for animada pelo amor de Cristo que Se sacrificou. A que nada sabe da pobreza de Cristo será uma esbanjadora, terá pretensões exageradas, e cavará assim a ruína da felicidade familiar.

E para que estas mães de família sejam realmente destas mulheres fortes, ser-lhes-ia útil examinar um pouco sob este ponto de visto o culto de Maria. O culto da Santa Virgem é uma das mais poéticas e ardorosas manifestações da vida religiosa católica. Mas, infelizmente, muitas moças e mulheres representam a Virgem sob um só aspecto: com um belo vestido azul e branco, auréola dourada e olhos levantados para o céu.

Ora esta não é a imagem completa de Maria. A imagem completa de Maria é a que caminha através das planícies e montanhas, sem conhecer a fadiga, unicamente para vir ajudar Santa Isabel nos dias que seguiram ao nascimento de São João Batista. A esta imagem pertence Maria, semblante sorridente, sofrendo ao lado de seu Filho o frio chão do estábulo de Belém e as privações de fuga para o Egito. A esta imagem pertence ainda Maria, alma heróica postada ao pé da Cruz onde espera Seu Filho.

Eis o que ensina, para um matrimônio feliz, este objeto indispensável, o crucifixo.

Mas a idéia religiosa simbolizada pelo crucifixo é ainda necessária para garantir a felicidade eterna dos esposos. A tarefa mais bela, mais sublime é, com efeito, velar não só pela sorte terrestre, mas também pela felicidade eterna. É a questão única na qual a mulher tem o direito de ser ciumenta de seu marido. Pelo menos é o que diz Santo Agostinho, quando escreve: “As mulheres devem ter ciúmes de seus maridos, não por causa de seus corpos, mas sim por causa da salvação eterna. Eis por que a isto eu vou obrigo, vo-lo recomendo, vo-lo ordeno: é o bispo que manda, é Cristo quem manda por mim”.

É também uma grande alegria, quando a mulher pode dizer a seu marido: “É a ti que devo o ter possuído em minha existência um companheiro corajoso, e filhos tão bons”. Grande também é o júbilo quando o marido pode dizer à sua mulher: “Agradeço-te o teres sido para mim uma esposa tão atenta, e a doçura do meu lar”. Maior, porém, deve ser a alegria, quando ambos puderem dizer um dia: “É a ti que devo o ter chegado à vida eterna”.

Agora que chegamos ao fim desta instrução, e conhecemos as condições necessárias para um casamento feliz, é nos preciso reconhecer que não é fácil realizar esta felicidade.

Como parte desinteressada, como padre a quem se dirigem ,muitas vezes, os lamentos dos fiéis, devo reconhecê-lo: de fato, não é coisa fácil ser boa esposa. Acolher sempre amável e sorridente o esposo que entra em casa fadigado e aborrecido. Não se abandonar aos próprios caprichos e fantasias, mas fazer unicamente o que é razoável. Cuidar sempre dos filhos, com amor, mesmo se o menor é mais aborrecido, o segundo é turbulento e o terceiro é mais peralta. Sempre e com paciência praticar, entre eles, a justiça, ainda que o primogênito seja insuportável, questione dez vezes por dia com seus irmãos e irmãs. E ainda cuidar da cozinha. Da casa. E da limpeza. E praticar a economia. E fazer a lavagem e os consertos. Saber como se recebem e se fazem visitas … Sim, não é fácil ser uma boa esposa.

Mas não me queiram mal por isto, se constato o mesmo para a outra parte: “De fato é difícil ser um bom esposo“. Ter sempre em primeiro plano as necessidades materiais da família apesar das dificuldades da vida atual. Novos vestidos que serão necessários, ou a pintura do quarto, ou ainda lições às crianças, ora isto, ora aquilo. Apesar das preocupações e dos cuidados do pão quotidiano, deve achar tempo para ser pai de família e não somente um empregado de escritório.

Saber, ao mesmo tempo, fazer companhia à esposa e brincar com os filhos. Sentindo o peso da vida, saber em casa pôr de lado todo o amargor e todo o nervosismo. Não se preocupar se o jantar está um pouco atrasado, não discutir se o prato favorito não sai bom, suportar pacientemente os brinquedos barulhentos dos filhos … Sim, não é fácil ser um bom marido.

Se contudo, isto não é fácil nem para o esposo, e nem para a esposa, qual a conclusão?

Garantir o auxílio de uma terceira pessoa – o auxílio de Deus poderoso, que uniu os esposos.

E está será a lição final de nossa instrução.

Dois caminhos humanos que se encontram entre as mãos de Deus.

dois destinos humanos que resultam da vontade divina,

dois corações que batem no ritmo divino,

duas vidas humanas reunidas pelas mãos paternais de Deus,

eis o segredo final do casamento feliz.

Amém.”

Casamento e família – Mons. Tihamer Toth