Tiremos a Deus do mundo. Que fica? Um ser grotesco que se contradiz em mil particularidades, impregnado pelo veneno da dor e do sofrimento e em cujo têrmo se levanta o espantalho do horror à morte. Bem real é a expressão de Schiller: “Tudo vacila, onde falta a fé!” Verdadeiro é o dito de Plutarco: “Mais fácil é construir um castelo de areia do que uma sociedade sem fé em Deus.”
Quanto mais estudares, meu caro, tanto melhor verás a mesquinhez da existência terrena e tua própria pequenez: do mesmo passo, se pensares no que é eterno, sentirás tua alma dilatar-se em generosidade. A religião, e só ela, é capaz de dar-te a chave de todos os problemas da vida. Ora, se a vida mortal não é mais que preparação para a imortal, perceberás facilmente que sua finalidade não consiste em mergulhar nos prazeres, mas em educar e preparar nossa alma para sua sublime e eterna predestinação.
Conheces o “Fausto” de Goethe? É a personificação do combate contra o mal, em procura do bem. Seu herói tenta tudo, lança mão de todos os meios; mas o poeta encontra apenas uma única solução satisfatória; a fé num Deus remunerador e numa eternidade. A “Divina Comédia” de Dante, a “Missa Sollemnis” de Beethoven, o “Requiem” de Mozart, a “Criação” de Haydn, a “Parsifal” de Wagner, as obras de Bach, Liszt, Brahms, etc., onde ressoa como nota predominante o anelo e nostalgia da alma em busca de Deus, elas todas confirmam a expressão de Tertuliano: “A alma humana é cristã por natureza.”
Sim, em vão procuras abafar a labareda perseverante. Já Homero afirma na Odisséia: “Todo homem tem fome de Deus.”
Embora não tenhas ainda visto muita coisa do mundo e da “vida moderna”, provavelmente terás tido momentos em que defrontaste os grandes problemas da vida. Com o correr dos anos, hás de reconhecer sempre mais claramente, que quanto maior for o progresso da humanidade no campo da técnica e da indústria, quanto mais requintados seus gozos, tanto menos podem essas conquistas satisfazer a alma predestinada a realidades mais sublimes.
O coração do homem suspira por Deus. Por mais que nos esforcemos por satisfazer esse anelo com as maravilhas da civilização, automóveis, teatro, rádio, divertimentos, tanto mais, nas horas tranquilas, nosso coração ansiará por Deus, pela Pátria celeste.
Impossível expulsar a Deus do mundo.
Em muitos escritores incrédulos notamos um curioso paradoxo: mais acirradamente negam a Deus, mais frequentemente Dele falam. Parece que tanto hão de falar contra Deus, porque sua alma está continuamente em conflito com Ele. Tantas vezes enunciam o nome do Criador, porque O querem olvidar.
O grande psicólogo Jeremias Gotthelf (1798-1854) escreveu certa vez: “Qual seria a situação de aflitivo desespero duma alma se não lhe sorrisse um raio de luz do alto, se pão celeste não a fortalecesse, quando os cardos e espinhos da vida ameaçam sufocá-la… Afigura-te um precipício selvagem, onde jamais penetra um raio de sol. Imagina a vida naquele báratro nebuloso e sombrio, entre plantas venenosas e nojentos répteis, sem possibilidade de ao menos galgar as escarpas, a fim de haurir um pouco de ar puro e são. Assim seria, se a luz da graça já não iluminasse o teu íntimo, se a voz de Deus não fosse mais teu sol, a dissipar o nevoeiro de tenebrosas fantasias e tentações.”
O que a luz do sol é para a vida natural, é a Luz Eterna, Deus, para a vida espiritual. Em seu orgulho, os homens se levantam muitas vezes contra Deus, deslumbrados de que se recebem, não adquirem, o que possuem de bom, de belo e atraente… Todos os corações desejam ardentemente um mundo melhor, ideal. Não tem sentido tal anseio? Sim! Deve existir uma perfeição absoluta, completa, Deus.
Não esqueça pois, meu amigo que tanto mais esplêndido florescimento de alma te espera, quanto mais profundamente a encheres do sublime pensamento do eterno e onipotente Pai Celeste, que te ama com ternura infinita.
Muitos, moços principalmente, tentam conquistar a felicidade sem Deus. Temo sempre ao ver jovens de nobres sentimentos, que procuram estultamente acomodar-se sem Deus. É verdade que na maturidade muitos retornam aos ideais abandonados; no entanto, a recordação da juventude desperdiçada os acompanha a vida inteira, como sombra triste.
Goethe vivia na maior abastança, glorificado por todos. E entretanto!… Ouve sua declaração, já na velhice: “A opinião geral faz de mim um homem particularmente favorecido pela sorte. Não me quero queixar, nem censurar o curso de minha vida, embora nada mais tenha sido do que trabalho e luta. Posso afirmar que, ao longo dos meus 75 anos, nem quatro semanas fui realmente feliz.” Há entre os árabes a bonita lenda do pranto do Saara: Nas límpidas noites estreladas, quando suave aura sopra no interminável areal do deserto, bilhões e bilhões de minúsculos grãozinhos de areia se movimentam em leve atrito. Esse fenômeno produz um som plangente, como o gemido lastimoso de animal gigantesco ferido de morte. “Ouçam! diz então o guia árabe à caravana, o deserto chora! Queixa-se porque se tornou estéril; deplora saudoso os jardins floridos, as searas ondulantes, os frutos convidativos que outrora produzia, antes de ser reduzido a deserto seco e abrasador.”
Caros jovens! Desertos áridos e mirrados são os corações dos homens incrédulos. Por fora parece que têm tudo em ordem. Mas no silêncio das noites de insónia, há prantos das almas descrentes e desertas …
Como diz ainda o poeta?
Viver sem Deus é procurar tristeza,
Viver sem Deus é ser pobre, exilado…
Achar a Deus é encontrar riqueza,
Amar a Deus é o céu antecipado!
(Schubert)
A Religião e a Juventude – Mons. Tihamer Toth