Todos nós sabemos que o mundo moderno está envolvido numa guerra mais mundial, porque mais geral e mais penetrante, do que as duas anteriores. Uma torrente histórica vem de longe, recebendo afluentes, engrossando, para desaguar num estuário de anarquia e desordens com que os visionários pretendem contestar a obra de Deus e dos homens, pretende repelir a ideia de continuação e tradição, e até ousa pretender uma revolução mundial a fim de voltar à estaca zero para a recriação do mundo do homem a partir desse zero, ex nihilo.
Uma das peças essenciais do jogo é o princípio da autoridade que nunca esteve tão molestado e nunca foi tão contestado. E uma das consequências desse estado de coisas é o mau exercício da dita autoridade por todos que dela se acham investidos. Há uma razão profunda na raiz de tamanho mal: a autoridade, em seus variados níveis, é uma exigência da lei natural. Sem essa ideia é impossível a família, é impraticável a Cidade, é impensável uma Civilização.
Por outro lado, há na ideia de autoridade algo que parece soar falso, ou que parece antinatural: como poderemos admitir que um homem se torne rei ou chefe da multidão de homens feito do mesmo barro? A ideia de autoridade aparece logo como antagônica do ideal de igualdade que parece ser uma das metas do dinamismo da história: os séculos trabalham para produzir um nivelamento humano, dizem os vários seguidores do anarquismo revolucionário. A autoridade será então, no dizer deles, uma categoria anti-histórica. O senso comum, ao contrário, nos diz que o sucesso de qualquer obra humana exige unidade de ação, e essa unidade exige que uns mandem e outros obedeçam. Mas o senso comum é a primeira vítima das correntes revolucionárias. E o mundo moderno, desaguador de uma civilização que durante quatro séculos apostou tudo nas revoluções, está aí para nos oferecer uma amostra do que será o próximo mundo cada vez mais moderno, condenado a ser continuamente moderno. Continuar lendo