A TRAGÉDIA DA AUTORIDADE

Uma dupla homenagem: Corção e Santa Maria das Vitórias | Fratres in Unum.com

Gustavo Corção

Todos nós sabemos que o mundo moderno está envolvido numa guerra mais mundial, porque mais geral e mais penetrante, do que as duas anteriores. Uma torrente histórica vem de longe, recebendo afluentes, engrossando, para desaguar num estuário de anarquia e desordens com que os visionários pretendem contestar a obra de Deus e dos homens, pretende repelir a ideia de continuação e tradição, e até ousa pretender uma revolução mundial a fim de voltar à estaca zero para a recriação do mundo do homem a partir desse zero, ex nihilo.

Uma das peças essenciais do jogo é o princípio da autoridade que nunca esteve tão molestado e nunca foi tão contestado. E uma das consequências desse estado de coisas é o mau exercício da dita autoridade por todos que dela se acham investidos. Há uma razão profunda na raiz de tamanho mal: a autoridade, em seus variados níveis, é uma exigência da lei natural. Sem essa ideia é impossível a família, é impraticável a Cidade, é impensável uma Civilização.

Por outro lado, há na ideia de autoridade algo que parece soar falso, ou que parece antinatural: como poderemos admitir que um homem se torne rei ou chefe da multidão de homens feito do mesmo barro? A ideia de autoridade aparece logo como antagônica do ideal de igualdade que parece ser uma das metas do dinamismo da história: os séculos trabalham para produzir um nivelamento humano, dizem os vários seguidores do anarquismo revolucionário. A autoridade será então, no dizer deles, uma categoria anti-histórica. O senso comum, ao contrário, nos diz que o sucesso de qualquer obra humana exige unidade de ação, e essa unidade exige que uns mandem e outros obedeçam. Mas o senso comum é a primeira vítima das correntes revolucionárias. E o mundo moderno, desaguador de uma civilização que durante quatro séculos apostou tudo nas revoluções, está aí para nos oferecer uma amostra do que será o próximo mundo cada vez mais moderno, condenado a ser continuamente moderno. Continuar lendo

SERMÃO SOBRE A FALSA VERGONHA DE SE CONFESSAR OS PECADOS

A confissão perfeita e a confissão sacrílega

São João Crisóstomo

Todos nós, irmãos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo é bom, clemente, misericordioso, e não deseja a morte do pecador, mas que este se converta e viva. Vigiai, todos, e estai preparados, pois não sabeis a hora em que Nosso Senhor virá. Vinde, escutai suas palavras: arrependei-vos, pois se aproxima o reino dos céus. De resto, irmãos, o Juízo Final está às portas; haverá muitas lágrimas, gemidos e preces; sendo a oração necessária não apenas hoje, mas também amanhã.

A oração é, pois, o tesouro infinito de todo o bem, porto de calmaria, causa de tranquilidade, remédio do espírito, santificação do corpo e da alma; a oração abre as portas do céu, aproxima de Deus todos os homens, pequeno e grande, rico e pobre, e todo aquele que, com todo o coração, rezar todos os dias, tornar-se-á tão grande quanto os anjos.

Contudo, que dizem muitos com indiferença?

Sou pecador – um diz – oprimido e coberto de desonra. Não me atrevo a contemplar a grandeza do céu, pois pequei muito por pensamentos, palavras e obras, desperdiçando todos os dias, todas as horas de minha vida em coisas vãs. Com que liberdade posso me aproximar da igreja? Como abrirei minha boca indigna e impura? Como moverei meus lábios e pedirei perdão pelas minhas indignas ações perante Deus? Continuar lendo

ALEGRIA DE SER FILHO DE DEUS

Artigo - Um Padre Rezando - D.A Online

Garrigou-Lagrange, O.P.

[Nota da Permanência] Quando Garrigou-Lagrange escreveu estas linhas sobre a alegria que é preciso conservar no meio das tribulações, a sua França, “la douce France”, havia sido derrotada e ocupada pelos nazistas. Também a nós se aplicam estas reflexões, que vemos nossa Pátria na iminência de ser saqueada por revolucionários bolivarianos e nossa Igreja invadida por modernistas.

“Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós,
e para que a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11)

As Sagradas Escrituras dizem-nos insistentemente que, nos tempos de provação, o verdadeiro católico deve tanto quanto possível confortar os aflitos, levar-lhes a paz e algo desta alegria divina que ergue os corações e lhes permite seguir viagem contra ventos e marés até o porto da salvação.

Convém, portanto, nas tristezas presentes, falar da alegria de sermos filhos de Deus e do dever de transmitir algo desta alegria aos que não a possuem.

Se, na tristeza comum, a alegria superficial é importuna, irritante, quando não exasperante, a alegria cristã, ao contrário, consola. Esta deveria ser a alegria do domingo, e o domingo a produz de fato quando, pela Missa, pela oração, torna-se verdadeiramente o dia do Senhor; ao contrário, para muitos, pela cessação do trabalho, torna-se o mais triste dos dias, porque não é santificado, porque não passa de um dia de distrações, dedicado a uma alegria puramente exterior, vazia e imbecil, da qual muitos não podem fazer parte, e que fatiga ao invés de repousar. Não sabem mais o que fazer de seu tempo, porque não o dão a Deus; eis uma prova pelo vazio ou em baixo relevo da necessidade de santificar o domingo.

Ao buscarmos tão-somente uma alegria inferior, nos privamos de outra singularmente mais preciosa. Continuar lendo

A FABULOSA HISTÓRIA DE D. GABRIEL GARCÍA MORENO, EX-PRESIDENTE DO EQUADOR

Gabriel García Moreno – Wikipédia, a enciclopédia livre

[Nota Permanência] Como soará a divisa de S. Pio X, “Instaurare omnia in Christo” aos leitores modernos, tão acostumados ao liberalismo que hoje triunfa nas nações? Utopia? Arcaísmo? O exemplo de D. Gabriel García Moreno, ex-presidente do Equador e mártir da Fé, contudo, é resposta contundente, tanto pelo sucesso de seu governo como pela aclamação de seu povo. É a resposta que um católico deve dar, é o modelo daquilo que devemos buscar, mormente nestes tempos de eleição, para o governo de nossa pátria, cevada, também ela, com o sangue de mártires (ver também o artigo “Os Protomártires do Brasil).

Que Nossa Senhora Aparecida nos proteja a todos os brasileiros, e com estes augustos exemplos nos ajude a tornar esta terra digna de sua padroeira!

******************************

Nota do Blog: Um excelente e completo livro do Pe. Desiderio Deschand sobre Gabriel Garcia Moreno pode ser comprado na Editora Santa Cruz clicando aqui.

******************************

A FABULOSA HISTÓRIA DE D. GABRIEL GARCÍA MORENO

O valor do ex-presidente do Equador D. Gabriel García Moreno se descobre pelo que nos narra J. M. VilleFranche, “Pio IX chorou D. García Moreno como vinte e sete anos antes tinha chorado o conde Rossi. Em muitas das suas alocuções elogiou o presidente do Equador, como o campeão da verdadeira civilização, e seu mártir. Mandou-lhe fazer exéquias solenes numa das basílicas de Roma, dispondo e ordenando que seu busto fosse colocado em uma das galerias do Vaticano. Moreno não pertencia à sua época; estava atrasado dois séculos na política, e deveria ter nascido na época de S. Luís…” Com estas palavras fica feito seu maior elogio.

Mas tão altas homenagens D. Gabriel Garcia Moreno não as recebeu apenas do Clero. Com efeito, qual outro presidente de nossos dias poderá gloriar-se de honras como as que abaixo reproduzimos, prestadas a ele pelo Senado e pela Câmara da República do Equador, reunidos em Congresso?

“Considerando que Sua Excelência o doutor García Moreno, por sua distinta inteligência, vastíssima ciência e nobres virtudes, está acima entre os mais ilustres filhos do Equador; que consagrou sua vida e as raras e elevadíssimas faculdades de seu espírito e de seu coração à regeneração e grandeza da República, estabelecendo instituições sociais sobre a sólida base dos princípios católicos; que amou a religião e a pátria a ponto de padecer por elas o martírio; que dotou a nação de imensos e inegáveis benefícios materiais e religiosos: Continuar lendo

03 DE OUTUBRO – DIA DE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

História da autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus – Santuário  Santa Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

TERESINHA, TEMPLO DE DEUS

(No dia 11 de julho de 1937 encerrava-se em Lisieux o 11° Congresso Eucarístico Nacional da França com a consagração da Basílica dedicada a Sta. Teresinha.

O Papa Pio XI, devotíssimo da santa, tencionava pessoalmente presidir as cerimônias. Devido ao precário estado de saúde não conseguiu realizar o seu ardente desejo.

Enviou, então, como Legado Papal, o Cardeal Eugênio Pacelli, o futuro Papa Pio XII. Da admirável alocução do Cardeal Pacelli na consagração da Basílica destacamos o trecho onde enaltece Teresinha).

Tradução de Maria Helena Pinto Fraga

AS ROSAS PARA PIO XI

No alto da nova basílica, brilha a cruz triunfante iluminada pelo sol de junho. No alto do edifício espiritual é também a cruz que a vós se oferece na pessoa do Papa representada, aqui, por seu humilde delegado.

A cruz, porque “se todos que piedosamente querem viver no Cristo sofrem perseguição” são particularmente penosas para o coração do Pontífice atual e lhe arrancam queixas pungentes e solenes protestos as que, em diferentes países, sofrem seus filhos. Mas, nem a violência sacrílega das massas encegueiradas por falsos profetas nem os sofismas dos doutores da impiedade que desejariam descristianizar a vida de todos puderam vencer a resistência e aprisionar a palavra e a pena deste intrépido ancião.

No entanto, e bem o sabeis, fazem alguns meses que a seus sofrimentos morais somaram-se sofrimentos físicos. Nesses dias, a grande família católica por inteiro, de um extremo a outro do mundo, voltou-se com filial ansiedade para o leito de sofrimento do Pai comum prostrado por dores agudas suportadas com grandeza heróica e sobrenatural, com coragem viril e cristã. Cada manhã seus olhos acompanhavam os telegramas dos jornais; cada noite seus ouvidos abriam-se para o jornal falado difundido pelo rádio; pela manhã e à tarde e mesmo durante a noite uma oração constante partindo dos lábios e do coração de 300 milhões de fiéis animava o mundo a elevar-se, com o incenso de sacrifícios, diretamente ao coração de Deus. Invocava-se esse Coração divino pela intercessão de sua Mãe “a suplicante toda poderosa”, invocavam-se pela intercessão dos santos e das santas, sobretudo daqueles que parecem ser os canais das graças milagrosas. Assim foi principalmente ela a invocada, esta querida santa de Lisieux, por quem o Papa, e se sabia, sentia tão terna e confiante devoção. E veio a consolação depois da cruz. Quando a Igreja festejava a ressurreição do Senhor, a doença alivia o cerco e o Pontífice como que ressuscitando para uma nova vida, surpreende o mundo com a publicação quase simultânea de três Encíclicas. Continuar lendo

APRESENTAÇÃO DA PRÉ-VENDA DO MISSAL QUOTIDIANO LATIM-PORTUGUÊS DA ED. PERMANÊNCIA

A Editora Permanência, em parceria com a Editora São Pio X, está lançando uma nova edição do missal latim-português: MISSAL QUOTIDIANO. Adaptação e revisão do missal Dom Gaspar Lefebvre, de 1957.

Para saber mais sobre esse Missal, CLIQUE AQUI

Se já quer adquiri-lo na Pré-venda, CLIQUE AQUI

PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO MODERNA

Pe. Hervé de la Tour – FSSPX

[Nota da Permanência: O artigo a seguir é uma compilação das conferências que o Pe. Hervé de la Tour proferiu ao corpo docente da Immacule Conception Academy, em Post Falls, Idaho, Estados Unidos, e aos padres da FSSPX do distrito estadunidense, na reunião anual ocorrida entre 12 e 16 de fevereiro de 2001.]

Introdução: A causa do problema da educação moderna

Em 1669, na Festa de Corpus Christi, os monges da Abadia de Saint-Wandrille cantavam Matinas. O quinto trecho era de Santo Tomás de Aquino. Lia-se: “Accidentia sine subjecto subsistunt.” O Doutor Angélico explicava ali que após a consagração, os acidentes do pão permanecem sem a sua substância, que se transformou no corpo de Nosso Senhor. Então algo inacreditável aconteceu. Os jovens monges começaram a assobiar com o intuito de demonstrar oposição a Santo Tomás. Por que tal atitude? Eles vinham estudando a filosofia de René Descartes (1569-1650), o qual rejeita a distinção tomista entre substância e acidente. Descartes recusou-se também a dar uma explicação filosófica ao mistério da Presença Real. Para ele, razão e fé pertencem a domínios inteiramente distintos. Visto que a Presença Real é um fenômeno sobrenatural, seria inútil utilizar a filosofia natural para compreendê-la. Foi por isso que os monges, imbuídos de filosofia cartesiana, rejeitaram o trecho de Santo Tomás e decidiram perturbar o Ofício Divino. O incidente deve ter sido algo marcante, pois foi registrado nos anais do mosteiro. (Continue a ler)

Reflitamos sobre essa anedota. É típica da segunda metade do século XVII, quando, na França, as ordens educadoras (jesuítas, oratorianos, doutrinários, etc) foram aos poucos se contaminando com os erros de Descartes. Até mesmo os noviciados das ordens contemplativas começaram a ensinar filosofia cartesiana, como aconteceu aos beneditinos de Saint-Wandrille. Ilustra também o tema desta conferência, que é a influência da filosofia na educação e, através da educação, na vida espiritual. É preciso entender que o Ofício Divino é o centro da vida do monge. O exemplo acima mostra que a sua paz foi destruída por uma falsa filosofia.  A maneira correta de rezar foi desordenada por causa de uma educação errada.

Em 1969, quando foi promulgado o Novus Ordo, costumávamos dizer “lex orandi, lex credenti.” Rejeitamos a Missa Nova pois não expressa a fé católica. Da maneira que se reza depende a maneira que se crê. Uma liturgia defeituosa pouco a pouco envenena a fé. Pois bem, poderíamos ter dito em 1669, ao testemunhar os monges bagunceiros assobiarem durante Matinas, “lex studenti, lex orandi,”: da maneira que se estuda depende a maneira que se reza. Uma educação defeituosa traz graves conseqüências à vida espiritual. Esse incidente registrado nos anais da Abadia de Saint-Wandrille é portanto simbólico, e será o ponto de partida desta conferência. Continuar lendo

A FALSA BONDADE

Gustavo Corção, Marta Braga (org) - CultorDeLivros

Gustavo Corção

Quando hoje percorremos, já com fastio, as páginas dos novos catecismos, ou dos novos livros escritos e ilustrados à sombra da frondosa pastoral catequética, a impressão dominante que logo nos assalta é a de uma açucarada e viscosa falsificação da bondade produzida pela tenebrosa estupidez, ou pela mais tenebrosa perversidade dos “novos” que aos borbotões se desprendem todos os dias da verdadeira Igreja, una, santa, católica etc, em demanda de outra mais tolerante, e por isso apontada como mais bondosa do que a Igreja de Jesus Cristo e dos Santos que imitaram seu áspero e difícil exemplo.

Seria mais exato dizer que essa edulcoração e esse amolecimento dos valores formam uma espécie de peste rósea que atingiu o mundo, a começar pela civilização ocidental em processo de crepuscular decadência e de desintegração. À Igreja caberiam o alarma e a lição do revigoramento, mas para nosso maior sofrimento, e para imprevisíveis e inimagináveis sofrimentos de nossos filhos e netos, processou-se neste mesmo glorioso século a maior e mais grave trahison des clercs e é na Igreja-egrediente (por derrisão chamada de “progressista”) que se notam as mais espantosas e repugnantes falsificações de tudo, a começar pela falsificação do amor, feita num tom infinitamente repugnante que lembra as vozes das prostitutas do princípio do século, que atrás das rótulas chamavam os pedestres: “entra simpático!”

Nos tempos de Pio X, quando foi preciso opor uma severa condenação aos abusos do Sillon, pôde o grande e santo pontífice dizer aos desgarrados que se perdiam “levados por um mal norteado amor pelos fracos”, porque nesse tempo o mundo católico ainda guardava a ressonância da doutrina dos dois amores que desde a Didaqué ilumina a cristandade. Nos tempos que correm espalhou-se pelo mundo a pestilencial doutrina de que qualquer sentimento meloso merece o mesmo nome de amor. Continuar lendo

DE PROFUNDIS

Gustavo Corção

Sempre desejei escrever um estudo, um ensaio, um livro, para mostrar, aos que se escandalizam com os desconcertos do mundo, que é esse turbado espetáculo o melhor encaminhamento para uma demonstração da existência de Deus. Não pretendo ter achado uma nova via demonstrativa além das clássicas cinco vias da Escola. Penso apenas que aquele caminho, contraparte ou avesso do argumento baseado na harmonia do mundo, é o mais indicado para nossos tempos de paradoxos e crises. Talvez seja um remédio bom para todas as épocas, a julgar pela ênfase com que a idéia aparece no Antigo e no Novo Testamento. o livro do Eclesiastes, por exemplo, é uma longa demonstração, por absurdo, da transcendência da sorte humana e da existência de Deus, pois se ficamos nos limites traçados “sub sole”, nos limites dos horizontes terrestres, a vida se torna inteiramente absurda. os grandes salmos, as grandes antíteses paulinas, tudo nos leva a crer que talvez seja a estrada real para Deus o escuro caminho das tribulações que desemboca no fundo dos abismos.

Olha em volta de ti, alma atribulada e triste. O mundo, com todas as suas montagens, com todos os seus prestígios, tem o ridículo das coisas frágeis que se julgam enormes. Olha em volta de ti, alma cansada, e considera as farsas, as máscaras, os espetáculos, as galas, os príncipes, as cúpulas, os demagogos, os dirigentes em todos os escalões, e os dirigidos, ah! os pobres dirigidos que se extasiam de admiração diante de quem os desfalca, diante de quem os oprime. Mundo, mundo, triste mundo… É bem verdade que sempre andamos a servir um Deus invisível, um Deus mergulhado nas coisas, um Deus escondido nas aulas que damos, nos artigos que escrevemos. Quando combatemos isto ou aquilo, estamos sempre procurando servir a exatidão e a veracidade das coisas, e assim sendo é sempre Deus, nos seus inúmeros pseudônimos, que estamos servido, consciente ou inconscientemente. Pode ser que nesta ou naquela circunstância o amor próprio tenha entrado com suas amargas exigências, e a doce e santa verdade tenha sofrido o ultrajante eclipse de nossa própria glória. Pode ser. Mas na media em que podemos aquilatar o que dissemos de todos os problemas provocantes que o mundo tem armado como um desafio, talvez nos possamos gabar — se nos permitem um momento de loucura — de termos sempre procurado servir a Deus, servindo o bem e a verdade nas suas difusas, minúsculas e efêmeras manifestações. Continuar lendo

O PODER DO ROSÁRIO EM FAMÍLIA

Cotia Resiste!: No mês do Rosário, o terço em famíliaRetirado de Our Lady’s Digest, 1959 (Permanencia)

Há cerca um século, a noite de inverno já havia lançado seu pálio negro sobre os cais de Dublin quando a campainha de uma das paróquias da cidade despertou seu velho pastor. Estava tão escuro que ele mal podia perceber a mulher à porta. Ela falava rapidamente, como se estivesse ansiosa para ir embora.

“Um pobre homem”, ela disse, “está morrendo além do cais do Muro do Norte. É preciso que um Padre vá lá, não há tempo a perder”. Após entregar sua mensagem, ela atirou-se no escuro da noite.

“Eu irei”, murmurou o velho Padre, enquanto contemplava a figura que partia.

Não havia ônibus naqueles dias, e os bondes elétricos não iam até os cais, de modo que ele foi a pé. Estava muito escuro, e o padre parecia estar andando há muito tempo, mas não dava ouvidos ao cansaço, pois trazia o Santíssimo Sacramento próximo ao seu coração com uma mão e carregava os Santos Óleos na outra. Seu único guia era o farol, piscando a cada dois segundos ao longo da baía. A maré subia alto nos dois lados do cais onde ele andava, e foi mais o som das ondas que qualquer coisa que ele via que o levou, enfim, a um grupo de chalés de pescadores. Instintivamente, parou em um deles e empurrou a pequena porta. Não havia luz, e nenhum som quebrou o silêncio.

Ele entrou, mas não via ninguém. “Quem me levará ao moribundo?”, perguntava-se ansiosamente. Fez uma pausa e escutou. Tudo estava quieto. Então seus olhos, já acostumados ao escuro, perceberam uma pequena escadaria. Enquanto ele punha seu pé no primeiro frágil degrau, uma fraca foz alcançou seus ouvidos. Mas de que ela se queixava?

“Santa Maria… Mãe de Deus… Rogai por nós… Pecadores… Agora… E na hora de nossa morte… Santa Maria…”

E, incessantemente, a fraca voz repetia novamente e novamente a segunda parte da Ave Maria. Gentilmente, o Padre abriu a porta da pequenina sala. Sob um palete estava o pobre moribundo. O homem estava sozinho.

“Meu amigo, você me chamou?”, começou o Padre

“Não, Padre, não chamei ninguém!”

“Vejo que você ama a Santíssima Virgem. Está rezando para ela”

“Não sei quem é a Santíssima Virgem” Continuar lendo

KARL MARX E SATÃ

A verdadeira doutrina defendida por Karl Marx | Instituto Rothbard

Gustavo Corção

Numa excelente revista belga, Bulletin Indépendant d´Information Catholique, no. 150 – número especial com que se despede dos leitores, não podendo manter-se pela simples e clara razão de ser excelente – li um artigo cuja difusão me parece um imperativo dos tempos presentes. Trata-se da recensão do livro Karl Marx et Satan recentemente publicado nas Edições Paulinas – Apostolat des Editions – pelo judeu convertido ao cristianismo Richard Wurmbrandt, que sofreu na URSS muitos anos de trabalhos forçados em razão de sua fé cristã. Seu último livro é revelador de relações estreitas entre o satanismo e o comunismo, que o autor considera como uma encarnação política do Demônio. Segundo A. d´Arian, diretor da revista e autor da recensão, a obra é digna de atenção com algumas reservas no plano da doutrina católica. As linhas que se seguem são de transcrição:

“Muito piedoso desde a sua mocidade, Karl Marx, da alta burguesia israelita, faz um pacto com Satã. Aos vinte anos surge no mundo das letras com um poema intitulado Oulamen, anagrama de Emanuel, no qual lêem-se esses versos: “Quero construir parar mim um trono nas alturas”, que repetem quase literalmente as palavras de Isaías (14, 13), “subirei aos céus, e colocarei meu trono acima dos astros de Deus”, que se referem a Lúcifer.

“Num outro poema, A Virgem Pálida, o miserável ousa escrever: – Já perdi o Céu; minh´alma, outrora fiel a Deus, está marcada para o inferno.

“Nessa época, Karl Marx combatia as idéias socialistas na revista alemã Rheinische Zeitung, escarnecendo ao máximo da classe operária. Mas, espantado, recebe a advertência de Moses Hess de que o socialismo pode ser uma boa isca para atrair os intelectuais e as massas para o seu ideal diabólico. O amigo convenceu-o. Fiéis a essa idéia, os soviéticos, desde a primeira hora, tomarão como lema: – Expulsemos os capitalistas da terra e Deus do Céu! Continuar lendo

A IGREJA E SEUS INIMIGOS

Gustavo Corção, Marta Braga (org) - CultorDeLivros

Gustavo Corção

Uma das características da camada exterior que desfigura a Igreja em nossos dias, e que se propõe ao mundo como figura verdadeira, modernizada, da Igreja de Cristo, é o impudente exibicionismo que faz dessa falsa Igreja uma “notícia” e quase sempre um escândalo; outro traço não menos deplorável da dita camada exterior é a incontinência verbal, é a tagarelice que se manifesta todos os dias em pronunciamentos, notícias, protestos; o terceiro traço desse make-up que desfigura a Igreja de Cristo é a infinita multiplicação de grupos quase microscópicos que falam engrossando a voz, num plural majestático, como faz agora a subentidade CIEC surgida em São Paulo nas chocadeiras da arquidiocese.

Nós, que conhecemos a Igreja sem essa hedionda desfiguração, que a conhecemos no tempo em que se podiam bem discernir as lições da Mãe e Mestra, mestra do valor da Palavra e mestra do valor do Silêncio, dificilmente podemos suportar sem gemidos de dor ou sem gritos de cólera o que fazem hoje os inimigos da Igreja, ou os amigos desses inimigos.

Não suponha o leitor que eu esteja aqui, romanticamente, imaginando alguma época em que a Igreja aparecia a nossos olhos transfigurada como um dia com a graça de Deus a veremos na Pátria verdadeira. Não julgue o leitor que eu ignore tão completamente não apenas a história da Igreja como também o mistério de sua paixão, e o mistério de nossa mediocridade que não deixa ver, senão na obscuridade da fé, o brilho de sua santidade interior. Nossa Mãe, nos mais gloriosos dias, teve sempre seu mato manchado por nossas faltas, e até rasgado pelas urzes dos caminhos que andou trilhando e por onde correu atrás das ovelhas tresmalhadas, sempre foi Rainha andrajosa por ser Pastora diligente, Mãe eternamente moça e eternamente afatigada. Continuar lendo

APRENDENDO A DIZER OBRIGADO

Irmãs da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Jeremias desembrulha o presente de aniversário, olha para a história em quadrinhos que ganhou: “Ah! Essa já tenho…” Larga o pacote ao lado, enquanto seus pais, levemente ofendidos, não ousam dizer nada: “Ele ao menos poderia ter dito obrigado…”

É Natal, mas o Sr.e a Sra. Durand estão sozinhos: as crianças cresceram, foram embora. O dia passa sem que nenhuma delas pense em ligar, ainda que para desejar um rápido feliz Natal. “Pelo menos poderiam ter pensado na sua mãe”, resmunga o Sr. Durand.

Esses dois exemplos (imaginários?) mostram que a gratidão mais elementar não é mais natural para nós desde o pecado original. Três obstáculos se juntam para isso.

O primeiro é o orgulho. Se devemos ser gratos, é por um serviço recebido, e recebido muitas vezes porque não conseguimos prestá-lo a nós mesmos: há uma inferioridade que estamos relutantes em reconhecer. Aqui somos constituídos devedores, dependentes dos outros, e nossa autoestima dá um passo atrás. Essa é a razão pela qual algumas crianças sentem embaraço e teimosamente se recusam a pronunciar educadamente o ‘muito obrigado’ que a mãe pede. O que fazer? Armar-se de paciência e coragem para não ceder: mamãe não vai soltar o prato da Paulinha que acabou de servir até ouvir o devido agradecimento. Continuar lendo

ESTO VIR!

Salão dos Heróis: Classe de RPG 1.2 - Cruzado ou CavaleiroTemplário

D. Tissier de Mallerais

Após definir a fortaleza e mostrar em que consiste a disciplina, tratarei do papel da educação na aquisição dessas virtudes segundo Dom Lefebvre. Irei também considerar os defeitos e as virtudes ligadas à fortaleza e à disciplina. Isso nos fornecerá diretivas práticas segundo o modelo de um homem exemplar.

Definições de fortaleza

Disciplina é o controle de si, a ordem interior da alma e do corpo, que é a fonte da ordem exterior das coisas e dos homens. É fruto do dom de sabedoria (ordenar é próprio do sábio) e do dom de fortaleza (“sou mestre de mim mesmo e do universo”, são as palavras que o dramaturgo Corneille põe na boca do Imperador Augusto).

Fortaleza, ou coragem, é uma das virtudes cardeais; é assistida pelo dom de fortaleza, um dos sete dons do Espírito Santo. O seu objeto é dominar o temor a fim de obter o bem difícil, seja na ordem temporal, como uma grande obra, uma vitória militar, ou na ordem espiritual, como a santidade e a salvação eterna.

O papel da educação e da escola na aquisição dessas virtudes

Essas virtudes e esses dons do Espírito Santo devem ser postos em prática desde a primeira infância, em casa ou na escola, para que sejam adquiridos de maneira estável.

O Marechal Foch, comandante supremo das forças aliadas na Primeira Guerra Mundial, via no infatigável trabalho do jovem a fonte do controle de si e da confiança, sobretudo na arte militar, que ele mesmo aprendeu na escola em Metz. Continuar lendo

LANÇAMENTO DA REVISTA INFANTO-JUVENIL “A TRILHA”

Imaginem uma floresta com todas as aventuras possíveis e imagináveis que ali se escondem. Daí a imaginar a Trilha do conhecimento e da leitura foi só um pulo, foi só um sonho….”

A Revista “A Trilha” é uma publicação mensal da Editoria Permanência destinada ao público infanto-juvenil, ilustrada, com design atrativo para as crianças. Nela vocês encontrarão textos ricos para a formação moral e intelectual dos nossos pequenos leitores, além de jogos e passatempos interessantes para todas as idades. Os textos podem ser lidos para crianças que ainda não leem, mas são próprios para as crianças lerem sozinhas nos primeiros anos após a alfabetização. Agradam também os maiores, de até 12 anos ou mais.

Para comprar o primeiro número clique aqui, e para assiná-la clique aqui

ESPERAMOS MUITO DE NOSSO DIRETOR ESPIRITUAL, MAS O QUE DEVEMOS FAZER PARA COLHERMOS OS BENEFÍCIOS ESPIRITUAIS DE SUA DIREÇÃO?

A direção espiritual

Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPX

A primeira e mais importante obrigação do dirigido é total sinceridade e transparência do coração, porque, sem isso, é completamente impossível que a direção produza frutos. O diretor precisa saber tudo: tentações, fraquezas, propósitos, boas e más inclinações, dificuldades e estímulos, triunfos e derrotas, esperanças e ilusões – tudo deve ser revelado com humildade e simplicidade. Alguns autores espirituais até recomendam que se revele a falta de confiança que se pode estar começando a ter em relação ao diretor.

É errado – e inútil para fins espirituais – revelar apenas coisas boas ou menos más, revelando nossas maiores misérias e pecados apenas a outro Padre. Sem sinceridade e abertura, seria melhor abandonar uma direção espiritual que, nesse caso, será pura e simples hipocrisia, enganação e desperdício de tempo.

Porém, não é necessário exagerar. Tudo que é importante para a vida espiritual deve ser revelado com total sinceridade ao diretor; mas seria um exagero evidente dar-lhe contas até dos menores detalhes da vida íntima da pessoa dirigida. Muitas coisas de menor importância podem e devem ser resolvidas pelo dirigido. Continuar lendo

COMO DEVEMOS NOS ABANDONAR À PROVIDÊNCIA

Resultado de imagem para ajoelhado igreja"Reginald Garrigou-Lagrange, O. P.

Em outro momento, disséramos porque devíamos nos confiar e abandonar à Providência: por causa de sua sabedoria e bondade, temos de sempre nos dirigir a ela, de corpo e alma, sob a condição do cumprimento do deveres cotidianos e da lembrança de que, se permanecermos fiéis nas pequenas coisas, obteremos a graça para o sermos nas grandes.

Vejamos agora como devemos nos confiar e abandonar à Providência, segundo a natureza dos acontecimentos que dependem ou não da vontade humana, do espírito desse abandono e das virtudes em que se deve inspirar.

DOS DIFERENTES MODOS DE SE ABANDONAR À PROVIDÊNCIA SEGUNDO A NATUREZA DOS ACONTECIMENTOS(1)

Para entender esta doutrina da santa indiferença, convém notar, como amiúde o fazem os autores espirituais2, que o abandono não se deve exercer do mesmo modo em face dos acontecimentos que não dependem da vontade humana, das injustiças dos homens e das faltas e suas conseqüências.

Caso sejam fatos que não dependam da vontade humana, como acidentes de impossível previsão, doenças incuráveis, o abandono nunca seria demais. Seria inútil a resistência, e só serviria para nos infelicitar; por sua vez, a aceitação em espírito de fé, confiança e amor conferirá grandes méritos a esses sofrimentos inevitáveis3

Em circunstâncias dolorosas, cada vez que se diga fiat, haverá novos méritos; a verdadeira provação tornar-se-á santificante. Mais ainda, no abandono lucraremos as provações possíveis, que talvez não se abatam sobre nós, como lucrou Abraão ao se preparar com perfeito abandono para a imolação do filho, a qual o Senhor depois não mais exigiu. A prática do abandono modifica as provações atuais ou futuras em meios de santificação, e tanto mais quanto for tal prática inspirada por um imenso amor a Deus. Continuar lendo

14 DE SETEMBRO – EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Está página é extraída do Boletim de Nossa Senhora da santa Esperança, de Março de 1903 (reeditada em Le Sel de la Terre, no. 44, consagrado ao Pe. Emmanuel-André). O Padre Emmanuel pronunciou o seu último sermão na festa da Exaltação da Santa Cruz, no Domingo, 14 de Setembro de 1902, seis meses antes de morrer. Trata do espírito da Cruz, que é “a participação do próprio espírito de Nosso Senhor, levando a Cruz, pregado à Cruz e morrendo na Cruz”. 

Páscoa é época de renovação. Veja como alguns países celebram a data | UNG

O ESPÍRITO DA CRUZ

O último sermão do Padre Emmanuel

Irmãos, há muito tempo que não me vedes aqui; não venho aqui com frequência.

Vou falar-vos de uma coisa da qual nunca falei, nem aqui, nem algures. E essa coisa desejo-a a todos; sei bem que o meu desejo não chegará a todos. Vou falar-vos do espírito da Cruz.

Quando o Bom Deus cria um corpo humano, dá-lhe uma alma, é um espírito humano; quando o Bom Deus dá a uma alma a graça do batismo, ela tem o espírito Cristão.

O espírito da Cruz é uma graça de Deus. Há a graça que faz apóstolos, e assim por diante. O que é o espírito da Cruz?

O espírito da Cruz é uma participação do próprio espírito de Nosso Senhor levando a Sua Cruz, pregado à Cruz, morrendo na Cruz. Nosso Senhor amava a Sua Cruz, desejava-a. Que pensava Ele levando a Sua Cruz, morrendo na Cruz? Há aí grandes mistérios: quando se tem o espírito da Cruz, entra-se na inteligência destes mistérios. Existem poucos Cristãos com o espírito da Cruz, vêm-se as coisas de modo diferente do comum dos homens. Continuar lendo

A GUERRA FÚTIL DA “OUTRA” CONTRA O CATOLICISMO

Espanha e Portugal

Robert Morrison

Como vários católicos atentos observaram, o Motu Proprio Traditionis Custodes, de Francisco, encerrou abruptamente a confusa campanha da “hermenêutica da continuidade”, que tinha por objetivo convencer o mundo de que, apesar de tudo o que transparecia, as reformas do Vaticano II estavam em continuidade com a religião Católica de sempre. Como deixa claro a carta que acompanha Traditionis Custodes, é necessário escolher entre as crenças e práticas que os católicos mantiveram por quase dois mil anos e aquelas que decorreram do Vaticano II. Ora, se fossem as mesmas, por que seria necessário escolher entre elas?

Ao passo que a tentativa de eliminar a ruptura entre o Catolicismo e a religião animada pelo Vaticano II (a Outra[1]) tenha sido sempre irremediavelmente frustrante e fútil, avaliar as diferenças entre as duas religiões é, em comparação, simples e iluminador. Para esse fim, vale considerar: o papel da Outra na guerra movida por Satanás; como e por que as duas religiões são diferentes; o propósito da nova religião; por que o Catolicismo é a única religião rejeitada pela Outra; e, finalmente, quão incoerente é a Outra.

O papel da Outra na guerra movida por Satanás

Poderíamos nos ver tentados a considerar a situação atual da Igreja como uma refutação de sua indefectibilidade. De fato, muitos abandonam a Fé porque acreditam erroneamente que a Igreja foi derrotada. Todavia, Deus tem nos dado razões abundantes para nos mantermos firmes na Fé, mesmo se parece que os inimigos triunfaram: temos a promessa de Nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão (Mt 16, 18), e dois mil anos de história onde vemos a Igreja resistir a assaltos aparentemente insuportáveis.

Além disso, há importantes aparições da Santíssima Virgem Maria trazendo avisos proféticos sobre a infiltração na Igreja. No início do século XVII, María del Buen Suceso de La Purificación (comumente conhecida como Nossa Senhora do Bonsucesso) apareceu à Venerável Madre Mariana de Jesus Torres, uma freira de clausura do Convento Real da Imaculada Conceição em Quito, Equador. Sua mensagem a respeito de eventos que ocorreriam no século XX é de particular interesse para os católicos de hoje: Continuar lendo

UM ATO BOM

Gustavo Corção - Edições Cristo Rei – Edição e Publicação de Obras Católicas

Gustavo Corção

Se nós tivéssemos de discutir com o Senhor a salvação de nossa cidade, como se vê no capítulo dezoito do Gênese que Abraão o fez para a defesa de Sodoma, deveríamos deter o regateio da misericórdia na condicional existência de uns quinhentos justos. Se Sodoma precisava de dez, nossa gloriosa e populosa cidade precisará cinquenta vezes mais. Digamos quinhentos.

Tomando o termo no sentido sobrenatural, como convém às passagens da Sagrada Escritura, e procurando-os entre os pobres, os oprimidos, as criadas de servir, os religiosos, os simples, facilmente apresentaríamos a Deus, creio eu, os quinhentos ou mais justos que obscuramente, na invisível comunhão, afastam de nós o fogo dos céus. Mas se transpusermos o problema da ordem sagrada para a profana, e se quisermos achar quinhentos homens de bem entre os que visível e oficialmente respondem pelas vigas das instituições e pelo arcabouço temporal da República, então veremos, com profunda apreensão, que nem a décima parte conseguiríamos reunir. Homens bons, graças a Deus, conheço muitos; mas homens públicos honestos, creio que não conheço cinquenta. Conhecerei quarenta? Trinta? Vinte? Ah! Se tivesse a certeza de poder contar dez!

Antes de continuar devo definir o que entendo por honesto e o que entendo por homem público honesto. O termo honesto, no tempo de Cícero, tinha uma austera significação que se estendia por toda a ordem moral. “Ita fit, ut, quod bonum sit, id etiam honestum sit”. Das letras clássicas o termo ingressou no vocabulário da filosofia escolástica para significar aquilo que é moralmente bom e que se distingue do bom deleitoso e do útil. Com o advento da moral burguesa, que sabidamente é uma regra de exterioridades, o termo entrou na linguagem comum com uma significação diferente. Ou melhor, com duas significações. Para homens: honesto é o que não tira o dinheiro do bolso do outro diretamente com a mão; e o que não se descuida de pagar suas contas em dia certo. Para Senhoras: honesta é a excelentíssima senhora que não dorme com homem que não seja o seu marido. Note, porém, o leitor, que o homem, nessa nova acepção do termo, pode dormir com uma senhora, que não seja exatamente aquela a que o ligaram os doces laços do himeneu, sem deixar de ser honesto. E a senhora pode enganar a cozinheira na conta dos dias, sem se tornar desonesta. Continuar lendo

HÁ HOJE UMA CRISE NA IGREJA

Pe. Mathias Gaudron, FSSPX

  1. HÁ HOJE UMA CRISE NA IGREJA? 

Seria preciso cobrir os olhos para não ver que a Igreja Católica sofre uma grave crise. Esperava-se, nos anos 1960, na época do Concílio Vaticano II, uma nova primavera para a Igreja, mas o que aconteceu foi o contrário. Milhares de padres abandonaram seu sacerdócio; milhares de religiosos e de religiosas retornaram à vida secular. Na Europa e na América do Norte, as vocações se tornam raras, e não se pode nem mais computar o número de seminários, conventos e casas religiosas que tiveram que fechar. Muitas paróquias permanecem sem padre, e as congregações religiosas devem abandonar escolas, hospitais e asilos para idosos. “Por alguma fissura, a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus” – essa era a queixa do Papa Paulo VI, em 29 de junho de 1972 (1).

Sabe-se quantos padres abandonaram o sacerdócio nos anos 1960? 

No conjunto da Igreja, entre 1962 e 1972, 21.320 padres foram reduzidos ao estado leigo. Não estão incluídos nesse número aqueles que negligenciaram pedir uma redução oficial ao estado leigo. Entre 1967 e 1974, trinta a quarenta mil padres teriam abandonado sua vocação. Esses fatos catastróficos podem, com algum esforço, ser comparados aos acontecimentos que acompanharam a auto-intitulada “Reforma” protestante do século XVI. 

Há um desastre análogo nas congregações religiosas? 

Quebec, província francófona do Canadá, era, no início dos anos 1960, a região que contava, proporcionalmente, com mais religiosas no mundo. O Cardeal Ratzinger conta, enfatizando que é só um exemplo: 

“Entre 1961 e 1981, por causa das saídas, dos falecimentos e da paralisação do recrutamento, o número de religiosas passou de 46.933 para 26.294. Uma queda de 44%, que parece impossível de conter. As novas vocações, com efeito, diminuíram, durante o mesmo período, ao menos 98,5%. Verifica-se então que uma boa parte dos 1,5% restantes é constituída por “vocações tardias”, e não por jovens, a ponto de as simples previsões permitirem a todos os sociólogos estar de acordo sobre esta conclusão brutal, porém objetiva: em breve (salvo reversão de tendência muito improvável, ao menos ao olhar humano), a vida religiosa feminina tal como conhecemos não será mais que um suvenir do Canadá.”(2)

A situação não melhora hoje, e não se poderia considerar que a crise agora ficou para trás? 

Havia na França, nos anos 1950, por volta de mil ordenações sacerdotais por ano. Desde os anos 1990, não há mais de cem por ano. Havia 41 mil padres diocesanos na França em 1965. Não havia mais que 16.859 em 2004, e a maioria tem mais de 60 anos. O número de religiosos no mundo continua a diminuir(3).  Continuar lendo

A RESTAURAÇÃO DA TRADIÇÃO MUSICAL

Keep Sacred Music Sacred

Pe. Hervé de la Tour, FSSPX

Os momentos mais marcantes da nossa viagem de junho para Winona, à parte as ordenações, foram as reuniões noturnas ao redor das fogueiras no acampamento. As famílias se reuniram para cantar e tocar canções. Os jovens gostam das antigas baladas, que se tornaram clássicos, pois perduraram por gerações, tendo incorporado sentimentos pátrios, familiares e religiosos. Estas canções são parte de nossa cultura: músicas irlandesas e escocesas, cantos da Guerra Civil, canções caipiras, etc. Um dos livros musicais utilizados nos saraus traz o seguinte prefácio:

“’Só o amante canta’. Quão profundas são estas palavras de Santo Agostinho! Porque a canção é o casamento entre a poesia e a música e, como em qualquer casamento, tem por motivo o amor. Quer se cante a Deus, ao amado, ou até à pátria, canta-se por amor. O canto às vezes manifesta alegria, às vezes tristeza, mas sempre é uma manifestação de amor. Quem canta vai além do comum, pois deseja expressar algo que não se poderia expressar de outro modo. Assim como o pintor não só desenha alguma coisa, mas a pinta, o cantor não só diz algo, mas o canta.”

“Só o amante canta. Eis a razão por que o canto é tão natural para o católico. A vida católica é uma vida de amor, porque é uma vida de sacrifício. Daí todas as culturas da Europa Católica possuírem (além do sublime canto litúrgico) sua própria música folclórica, com belas canções e danças. Hoje, porém, não mais se canta. À medida que a cultura se torna cada vez menos católica, a verdade descamba e, juntamente com ela, a excelência, a beleza e, é claro, a caridade. Quando o homem se esquece de Deus, só lembra-se de si mesmo. Um homem egoísta não sabe amar, portanto, não é capaz de cantar.” Continuar lendo

DIVAGAÇÕES A RESPEITO DOS JOVENS

Jovens | DOMINUS EST

Gustavo Corção

Modéstia à parte, tenho sido ultimamente entrevistado, mas permanece inevitavelmente a mesma indagação fundamental: o que penso eu da juventude. Ora, devo confessar que não penso absolutamente nada da juventude. Por mais que me esforce e que esmiúce a pergunta, por mais que analise os conceitos envolvidos no inquérito, só consigo pensar que a juventude é a juventude. Que outro juízo esperam os colegas de mim? Não consigo, sinceramente, descobrir nenhum predicado que convenha a todos os jovens, a não ser a própria juventude. O jovem é jovem, eis aí o pensamento profundo atual, avançado, audacioso, que ofereço a todos os jornais e revistas. E desde já lanço o repto: a quem me provar que o jovem não é jovem entregarei minha casa e meus livros.

Outro dia, entretanto, ouvi alguém dizer, aliás pela milésima vez, que o “jovem é autêntico”, e que o jovem, pelo fato de ser jovem, sofre a pressão ou a colisão das inautenticidades dos velhos. O que quererá dizer isto? Receio que o pressuposto de tal afirmação, se algum existe, é o de só existir, em toda a vida humana, uma estreita faixa etária, como diria o Dr. Alceu Amoroso Lima, em que o mísero bípede implume se encontra consigo mesmo. Eu poderia invocar a longa experiência de vida e contestar o fenômeno. Sim, posso assegurar que já encontrei muitos jovens com todas as características do canalhismo; e até poderia acrescentar, com robusta convicção, que essa peculiaridade da alma humana está equitativamente distribuída por todas as idades.

Lembro-me por exemplo dos moços da extinta UNE, ou entidade máxima estudantil: quase todos os dirigentes que conheci eram canalhas e demonstraram uma virtuosidade capaz de causar inveja a um velho crápula aposentado. Por dois desses fui enrolado apesar de toda a experiência da vida de que me gabei pouco atrás. Mas talvez esteja enganado: os sagazes observadores da eclesialização do mundo ou da secularização da Igreja, e sobretudo os sociólogos dessa índole dirão que observei mal e que confundi canalhismo com atitudes de protesto. Os jovens que praticam atos de canalhice, segundo os padrões tradicionais, não são canalhas porque são jovens e não são canalhas porque estão apenas replicando à deixa da falida geração que só legou taras e misérias. Sim. Um dos postulados que parece presente na base de tudo o que se diz hoje dos jovens é o da total falência do mundo anterior. E aí temos um estranho conflito e até se duvidarem uma estranha revolta: a de um ente de razão contra outro ente de razão, a de um ser abstrato contra outro ser abstrato. Continuar lendo

OS CATÓLICOS INVENTARAM A CIÊNCIA

Pe. Paul Robinson, FSSPX

“Eu arguo não apenas que não há inerente conflito entre religião e ciência, como também que a teologia católica foi essencial para a promoção desta. Na demonstração dessa tese eu primeiro resumi muito dos recentes trabalhos históricos que mostram que a religião não causou a “Era das Trevas” – O conto de que após a queda de Roma uma longa noite de ignorância e superstição teria se estabelecido sobre a Europa. De fato, a Idade Média, foi uma era de profundo e rápido progresso tecnológico no final da qual a Europa ultrapassou o resto do mundo. Além disso, a chamada Revolução Científica do século XVI foi o resultado dos desenvolvimentos iniciados pelos escolásticos no século XI. Portanto, minha atenção inclinou-se para o porquê de os escolásticos interessarem-se pela ciência. Por que a desenvolveram na Europa durante esse período? Por que não desenvolveram outra coisa? Eu achei as respostas a estes questionamentos nas características sem iguais da teologia católica.”   

**************************

Estas não são palavras de um católico, não são palavras de um “lobista” da religião. Ao contrário, elas vêm da boca do sociólogo e historiador Rodney Stark, e elas aparecem em um livro que escreveu para a editora da Universidade de Princeton1. Além disso, ele ressalta que “foi o cristianismo e não o protestantismo que sustentou a ascensão da ciência”; e que “alguns de meus argumentos centrais já se tornaram convencionais entre os historiadores da ciência.”

Neste artigo, vamos defender as afirmações de Stark explicando, primeiramente, o que era necessário para a ascensão da ciência, em seguida, porque esta ascensão não aconteceu antes da Idade Média e por fim, porque a teologia católica deu origem a ciência.

As demandas da ciência

A ciência, como conhecemos hoje, possui um específico método para investigação da realidade que envolve conduzir experimentos na natureza, medindo e quantificando os resultados, formulando teorias sobre suas leis baseadas nessas medições. A razão pela qual podemos falar de “nascimento da ciência” é que esse método não existiu durante a maior parte da história do mundo. Durante esse tempo, ninguém viu a necessidade de escrutinar a matéria de perto e ninguém viu o quão útil a medição e a matemática podiam ser para a compreensão do tecido do mundo cósmico. Desde que o método científico foi inventado, pelos escolásticos medievais católicos, quase todos clérigos, foi empregado com retumbante sucesso para o avanço do conhecimento humano.
Continuar lendo

NÃO SE ADAPTAR, EIS A DIVISA DAS ALMAS FORTES

forte

Pe. Xavier Beauvais – FSSPX

Há em nossos tempos um demônio que nos interessa e que temos o máximo interesse em combater: o demônio mudo, o respeito humano. Como podemos defini-lo?

Dá-se o respeito humano quando um indivíduo, numa ação ou omissão, ao invés de expressar concretamente a sua personalidade e tudo o que ela comporta de idéias, crenças, afeições e sentimentos, leva em consideração a mentalidade dos que o rodeiam e adapta a sua atitude pessoal a ela, de modo a evitar o disse-me-disse, o deboche, os gracejos e críticas de todo tipo. Numa palavra, é culpado de respeito humano quem respeita os homens mais do que a Deus, quem respeita o sentimento geral mais do que a verdade, quem respeita a moda mais do que a moral. Não se pode tornar-se mais escravo, não se pode rebaixar-se mais, nem se tornar mais abjeto e, no fundo, lastimável, do que respeitando tais coisas mais do que a Deus, a verdade e a moral.

É preciso ser de seu tempo, dirão alguns. Não é essa uma maneira bastante hipócrita de se esconder um profundo respeito humano? Seria preciso citar sobre esse tema páginas inteiras de Abel Bonnard(1):

“Os imbecis jactam-se de serem do seu próprio tempo: isto prova que são dele. A verdade é que escapamos à nossa época à medida que desenvolvemos a nossa pessoa. É isto que torna tão cômicos os que, briosos, nos anunciam que são do seu tempo, que o querem ser; isso significa que se atam a si mesmos no fio do telefone, que se fazem servos das máquinas que deveriam servi-los, que vivem segundo um ritmo que lhes é imposto. Orgulham-se de fazer o que se faz, de correr aonde se corre, de comprar o que se vende, de pensar o que se diz, de se vestir segundo a moda do tempo; não se poderia proclamar com maior glória a própria inexistência. Não se adaptar, eis aqui, segundo penso, a verdadeira divisa das almas fortes. Os seres fortes não se adaptam, eles se afirmam.” Continuar lendo

A MISSA É UM FREIO AO GLOBALISMO

Espanha e Portugal

Pe. Xavier Beauvais, FSSPX

Durante este encarceramento a que estamos em vias de nos submeter, vimos surgir um grande furor contra a Missa nas nossas capelas e igrejas.

É certo que, golpeando-se a Missa, a Igreja é enfraquecida. Nós já o vimos em 1969, com o novo rito de Paulo VI. Para que a Igreja vacile no tocante ao dogma e à disciplina, é preciso combater a Missa. Esse era (e ainda é) um dos melhores meios de evacuar e substituir, pouco a pouco, a moral católica, os usos e costumes da catolicidade.

O governo francês atual sabe muito bem disso quando nos impede de celebrar a Missa.

Sabemos que o alinhamento dos costumes de todo o mundo à ética maçônica está o coração do globalismo em marcha. Todo freio – e a Missa é um freio – todo obstáculo a esse projeto deve ser tiranicamente suprimido. O principal adversário do globalismo é a renovação do Sacrifício da Cruz, pois sabemos que a Missa é o remédio individual, social e político ao vírus e aos males dos tempos modernos.

Em face da liberdade desenfreada, ela clama ao dom de si.

Em face da igualdade absoluta, apela ao senso de hierarquia.

Em face da fraternidade fundada sobre o homem, lembra da caridade, ou seja, do amor na verdade que os homens devem uns aos outros, em nome de Deus.

Toda a ordem da civilização repousa sobre o altar, eis o porquê de ser preciso lutar sem cessar pelo tesouro oferecido por Nosso Senhor e gritar: “Devolvam-nos a Missa”.

É justamente nesse espírito que o Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, lançou no dia 21 de novembro um apelo enérgico a uma Cruzada de Orações até a Quinta-Feira Santa, 1º. de abril de 2021. Continuar lendo

QUANDO OS INIMIGOS SE TORNAM AMIGOS

Abbé Philippe Toulza • La Porte Latine

Pe. Philippe Toulza, FSSPX

Como explicar o declínio da evangelização na Europa? A rigor, a resposta a essa pergunta é que qualquer decréscimo no Cristianismo tem como sua causa, ao menos na porção adulta que afeta, uma falta de cooperação com a ação de Deus. De fato, a graça nunca falta; se a evangelização não se consuma, então isso se dá porque o homem, a quem ela está destinada, apresentou um obstáculo a ela. A descristianização ocorre quando, em um grupo humano, uma proporção crescente de almas não mais adere à fé ou, embora se mantendo católica, negligencia seu progresso em direção a Deus ou mesmo abandona a fé (ou a vida católica). Durante o iluminismo, o filósofo Julien de la Mettrie (1709-1751) foi um desses casos; ele nasceu em uma família católica na Bretanha, e seu pai achava que ele poderia ser um Padre. Ele preferiu dedicar-se ao estudo da medicina, o que o levou ao materialismo, ao ateísmo e ao libertinismo; ele espalhou essas convicções em seus escritos e entrou para a história como um exemplo lamentável de secularização. Aqueles responsáveis pela descristianização são, portanto, homens como ele e outros que rejeitam, em maior ou menor grau, para si mesmos ou para aqueles sob seus auspícios conforme o caso, as exigências do Reinado de Cristo.

Essa explicação põe a culpa em várias portas de entrada e, portanto, não é muito específica. Por essa razão, muitos preferem explicar essa descristianização não pelas suas verdadeiras causas, que devem ser buscadas nas almas, mas por aquilo que incita as almas a se afastarem de Cristo. Algumas dessas causas começaram a agir em Pentecostes: o demônio e o mundo. Outras causas estão mais intimamente conectadas a circunstâncias específicas, e são essas causas que nos interessam: quais delas levaram à secularização da Europa?

O pensamento moderno

Uma realidade tão complexa quanto a descristianização e realizada em um continente inteiro ao longo de vários séculos, necessariamente, é resultado de diversas causas: a perda das raízes [de um povo] devido à industrialização, a subversão das sociedades intelectuais, o apoio eclesiástico à escravidão, o avanço do hedonismo, etc. E alguns fatores trabalharam no sentido de promover outros fatores. Porém, o consenso geral é que a principal causa da descristianização é a modernidade. A começar com o Renascimento, a Europa pensou que estava redescobrindo a grandeza da natureza humana que o teocentrismo medieval, supostamente, havia escondido. Havia dúvida quanto a se a raça humana realmente tinha o pecado original e se o homem realmente precisava bater no próprio peito. Então, com o ímpeto da reforma protestante, toda autoridade religiosa parecia perigosa à liberdade; seguindo Rousseau e, após, Kant, a Europa divinizou a autonomia do homem. Assim como Descartes, no Século XVII, havia recusado argumentos que apelassem à autoridade na Filosofia, os pensadores modernos questionaram o dogma; eles não tinham mais a fé da mãe de Villon. No fim, levantes políticos como aqueles de 1789 desafiaram as instituições. Pedia-se liberdade de expressão do pensamento. A aliança entre o trono e o altar era denunciada. Padres eram suspeitos de serem gananciosos e o jugo da moralidade foi jogado fora; o ódio de Voltaire se espalhava. A diversidade religiosa, mesmo aquela entre católicos e protestantes, tornou-se um pretexto para rejeitar a autoridade dos Padres; havia tantas religiões na terra… o fato do Catolicismo ser a religião de nossos pais bastava para torná-lo mais crível que as outras? Continuar lendo

FORMAÇÃO E DEFORMAÇÃO DO HOMEM

RELIGIÃO E CARÁTER | DOMINUS EST

Dom Lourenço Fleichman

O texto a seguir é a transcrição adaptada e completada de uma conferência pronunciada a um grupo de rapazes católicos, na Capela Nossa Senhora da Conceição, em janeiro de 2012. Foi mantido o estilo coloquial.

Introdução

O meu propósito nesta conferência é tratar um problema muito sério que ocorre na vida de todos, de todas as famílias, de todos os casais. Vocês bem sabem, e não vou entrar neste detalhe, que a sociedade moderna não ataca apenas a religião e a fé, mas perverte também a natureza das coisas. No comportamento dos homens também existem distorções graves, fruto desses duzentos anos de liberalismo e dos quinhentos anos de espírito revolucionário. As transformações foram se fixando e atingiram aspectos essenciais da vida social. Assim, a tese que quero apresentar para vocês é a seguinte: “vocês não são homens”.

Por que posso dizer isso? Porque a atitude geral dos homens casados não é mais uma atitude de homem. E se assim ocorre, se a maioria dos jovens casados ingressa na vida familiar sem uma atitude de homem, é porque não estão sendo formados como homens. Apesar de freqüentarem a Capela, de serem católicos e estudarem o catecismo, vocês respiram esse ambiente cultural decadente. Por isso, preciso alertá-los antes, para que saibam agir como homens agora. Será que as mulheres os aceitarão, quando perceberem que vocês recuperaram a condição e as atitudes próprias dos homens? Talvez não. Será preciso, por outro lado, formar as mulheres, o que é outra tarefa necessária na reeducação da sociedade católica.

O problema não é saber se são homens por terem vida masculina, por usarem calças compridas e agirem exteriormente como homens. Não é a voz grossa ou a força física que falta na nossa sociedade. Eu diria mesmo que quanto menor a atitude essencialmente masculina, mais o homem engrossa a voz e ameaça com os punhos, para tentar impor-se pelo temor. Trata-se de saber o que é ser homem, o que isso significa. O mundo perdeu essa noção, e vocês a perderam juntos.

Paralelamente, o mundo levou a mulher a ocupar o lugar dos homens, a ocupar o vazio deixado pelo homem nos estudos, no trabalho, na prática da autoridade; e isso altera os fundamentos da sociedade. Continuar lendo

NADA SERÁ COMO ANTES – O MUNDO DEPOIS DA COVID – PARTE II

Perguntas e Respostas sobre a Covid-19 | Postal Saúde - Caixa de  Assistência e Saúde dos Empregados dos Correios

Fonte: Permanência

  1. Os efeitos reais do COVID-19

Para não evocar as consequências econômicas que se revelarão no futuro, basta-nos observar as repercussões imediatas das medidas:

– Redução drástica das liberdades: de circulação, de atividade profissional, de cuidados, de educação, encontros públicos e privados, de culto…

– Efeitos sobre as pessoas: efeitos psicológicos observados em consequência do isolamento, do confinamento, do distanciamento: conflitos familiares, dúvidas mórbidas, temor, medo, paralisia e atrofia da personalidade… tanto em adultos como em crianças.

– Efeitos na vida social: divisão entre as pessoas até as raias da denúncia. Um clima de suspeita: o próximo se torna um inimigo temível; cada um se torna um perigo vivo para todos, quer estejamos com boa saúde (incluindo portadores assintomáticos) ou doentes infectados… “Toda pessoa saudável é um doente que se ignora “(Knock, ou o triunfo de medicina, por Jules Romains).

Hoje em dia, a sociedade está dividida em três classes:

– Por um lado, os defensores indiscriminados de máscaras, luvas, viseiras, pulseiras de som, medidas sanitárias de distanciamento, gaiolas de plexiglass, aplicativos de rastreamento, vacina para todos; Continuar lendo

NADA SERÁ COMO ANTES – O MUNDO DEPOIS DA COVID – PARTE I

Perguntas e Respostas sobre a Covid-19 | Postal Saúde - Caixa de  Assistência e Saúde dos Empregados dos Correios

Um mal que espalha terror,

Mal que o Céu em sua fúria

Inventa para punir os crimes da terra,

O COVID (já que deve-se que chamá-lo por seu nome),

Capaz de enriquecer em um dia o Aqueronte,

Faz guerra aos humanos.

Nem todos morrem, mas todos são atingidos …(1)

 Fonte: Permanência

Este último verso prende nossa atenção uma vez que o frisson da morte adquiriu dimensões globais.

A mensagem de alerta internacional de profissionais da área de saúde para governos e cidadãos do mundo lançado pela United Health Professionnals (2), recebe a cada dia novo apoio: “Parem o terror, a loucura, a manipulação, a ditadura, as mentiras e a maior falcatrua sanitária do século XXI”. Em uma escala mais modesta, a Dra. Nicole Delépine, em um recente fórum do France-Soir(3), lançou a questão: Fim de uma epidemia ou de um pânico organizado. Por quê.

Por falta de competência, não nos cabe mais do que uma opinião pessoal. Não podemos nos posicionar sobre assuntos que devem ser reservados a profissionais de verdade, e não a ´cientistas de opereta´, a ilustres anônimos encerrados em um comitê científico ou a profissionais de redes de televisão.

Contudo, o constante assédio da mídia, o zelo frenético das autoridades para intervir, nos conduzem a refletir e tentar entender o que está em jogo nesta agitação planetária (4).

Algumas observações e perguntas

1.1. O Grande espetáculo

Com grande espalhafato de imagens e repercussão televisiva, pudemos assistir os fechamentos de aeroportos, as crônicas do obituário diário, os transportes TGV-COVID, a repetição incessante da mídia sobre a utilidade dos hospitais de campanha ou do plano Branco e Azul, a implementação abortada de drones de vigilância…

1.2. Origem do vírus

Natural ou projetado em laboratório? Este debate sobre a origem do vírus não é sem importância porque é uma fonte de interrogações para a pessoa comum: Se houve manipulação, por qual motivo? mera pesquisa ? objetivo curativo, político? O que é evidente é que o COVID-19 é atualmente objeto de consideração, tanto de autoridades locais como de organismos internacionais, a exemplo do que diz Klaus Schwarb, fundador e presidente executivo da World Fórum Econômico (WEF), mais conhecido como Fórum de Davos (5)“A pandemia apresenta uma oportunidade rara e limitada de repensarreinventar reerguer nosso mundo do zero.” Continuar lendo