O OTIMISMO

optimism-400x400O educador deve ter uma dose inesgotável de otimismo. Senão as decepções o desencorajarão e acabarão com seu entusiasmo, que é uma das condições mais necessárias para o bom êxito.

É cansativo ensinar a ortografia, o cálculo, o bom procedimento, a boa linguagem, a polidez. A criança é distraída, esquecida, despreocupada, ilógica. Ora se cansa por seu nervosismo, ora desanima por um torpor quase animal. Há ainda os ditos “inferninhos”. E há as desilusões causadas pelos melhores alunos! E há as incompreensões dos pais e talvez dos diretores! E as ironias dos colegas!

Então nos tornamos irascíveis, rabugentos, intratáveis! Enervamo-nos. Ficamos até com dor na laringe.

Repitamos que cada criança apresenta algum lado bom: é preciso tomá-lo como ponto de partida. Há um ângulo por onde se pode compreendê-la. Fazendo-a ver suas possibilidades, pode-se chegar a transformá-las. Até mesmo a mais ingrata natureza faz parte da obra de Deus. Parece que o próprio Cristo quis nos dar uma lição de confiante otimismo: entre os doze apóstolos, todos fracos e covardes, num momento grave, conta-se um medroso que o chegou a negar por três vezes, e esse é o chefe! E um outro, pérfido até ao beijo hipócrita e aos trinta dinheiros! Todavia o Cristo depoista neste grupo a confiança de lhes entregar o destino de Sua boa-nova. Para nos encorajar ao otimismo, ouçamos São Francisco de Sales extasiar-se diante das secretas possibilidades que até os homens maus oferecem; sua pena não hesita em escrever: “Ah, as belas almas dos pecadores!”.

Luís Veuillot justifica esta confiança em dois reconfortantes versos:

O mundo do mal é forte, mas Deus o contém.
O mundo do bem é fraco, mas Deus o sustém.

Numa peça de Alexandre Dumas há esta réplica muito justa: “Enfim, por que sempre se quer o que é mau no mundo? – Sem dúvida, porque ninguém o observa por muito tempo”.

Com efeito, na vida se dá o mesmo que num colégio: os maus fazem mais barulho e logo salientam. Um vidro mal lavado nota-se com facilidade; limpo demais, não parece interpor-se entre os olhos e o objeto que se encontra atrás dele.

O cardeal Verdier gostava de citar uma confidência de D. Ruch, bispo de Estrasburgo: “Se eu não tivesse um desgosto por dia, eu acabaria desanimando; mas como tenho uns oito ou dez, um incômodo afasta o outro, e assim permaneço calmo e otimista”. As desgraças de que se fala sem cessar, nem sempre acontecem: as pessoas que anunciam a tempestade têm razão um dia ou outro; mas as que predizem o bom tempo também a têm.

Para salvaguardar este precioso otimismo, não nos detenhamos nas insuficiências, incapacidades e indocilidades de nossos alunos. Encaremos também os lados bons. “Se o meu amigo é cego de um olho, diz um provérbio, eu o lharei de perfil” e, evidentemente, do lado em que tem o olho bom! O deputado inglês definia pitorescamente o pessimista como “o homem que, tendo diante de si uma garrafa de gin até à metade lamenta-se de que ela esteja metade vazia”. Educadores, amigos meus, façamos o contrário e alegremo-nos pelo que há de bom em toda parte e em todos.

Tenhamos, pratiquemos a virtude da esperança, “essa pequena filha do nada, dizia Péguy, mas que tudo seduz”. E se alguém tentar extinguir nosso entusiasmo, fazendo-nos a pergunta: “Para que serve?”, respondamos cristãmente: “Para quê? Para ser bom!”. As dificuldades não devem abalar aquele que acredita na Providência. Ele é que as deve abalar, fazê-las ruir por terra. Mauriac nota com grande espírito de fé, na vida de Jesus: Aconteça o que acontecer, os amigos do Mestre apenas têm que levantar os olhos para ver o céu aberto”.

Mesmo humanamente, o otimismo é uma sabedoria e uma força. Nada é mais desmoralizador que o desânimo. O vento da derrota traz a derrota. O poeta bretão Teodoro Botrel observa que mesmo a natureza prega o timismo:

Eu disse: A vida desencanta!
O eco respondeu: Canta!

E era um excelente psicólogo aquele médico ao qual uma cliente nervosa e quse neurastênica pedia um remédio, um meio de se curar; sabeis o que lhe receitou? Otimismo!

Quantos males não cura esta preciosa medicina numa classe! E sem dizer ainda que ela garante a boa saúde do mestre.

As pequenas virtudes do educador – Henri Pradel