Preparação próxima para o Matrimônio
A preparação próxima não mais depende dos pais, pertence aos jovens. E para isto, há uma instituição toda particular: o tempo de noivado.
A religião católica cuida de um modo especial e com tato particular do noivado. Não é um tempo de embriaguez, de fantasias e quimeras, e sim uma época de estudar a si mesmo, e o futuro companheiro de vida.
A) O noivado é tempo de estudo sério de si mesmo. Estudo que se deve realizar invocando-se o auxílio particular de Deus. Há com efeito, na vida humana, um momento mais importante, em que haja mais necessidade da direção divina, que o da escolha de um esposo? Não é esta a significação do provérbio russo: “Partes para a guerra? Reza uma vez. Vais andar pelo oceano? Reza duas vezes. Vais casar? Reza três vezes”.
a) É impossível que um jovem sério, no momento de casar-se, não faça um profundo exame de consciência, pois empreende uma grande tarefa. Eu vou fundar um lar. Deverei ocupar-me de uma mulher e de filhos. Contentar-me com alegrias silenciosas e puras. Trabalhar desinteressadamente. Renunciar, muitas vezes, tantas coisas… Eis a primeira parte deste exame de consciência.
A segunda parte oferece pensamentos consoladores e confortantes: serei o chefe responsável de um pequeno e feliz reino. Meu trabalho sustentará minha família. Meu amor edificará uma vida nova, e eu é que hei de assegurar a felicidade deste novo ninho.
Será isto difícil, será uma tarefa penosa, um sacrifício perpétuo, mas serei indenizado de tudo isto, ao cêntuplo, quando ouvir estas palavras: “Papai, Papai”.
b) É impossível que também uma jovem séria, no instante de casar-se não faça, igualmente, um bom exame de consciência.
Deve refletir: Serei uma boa esposa, boa mãe de família, boa dona de casa? Há, em mim bastante fidelidade e amor, bastante espírito de renúncia e amor ao trabalho, bastante energia e indulgência, bastante profundidade e amor de Deus, para realizar esta tríplice e pesada tarefa de esposa, mãe e dona de casa? Há, em mim, mais vida interior que vaidade? Amo eu mais o lar, que a vida mundana? É isto difícil, penoso, será um perpétuo sacrifício, mas serei mil vezes indenizada de todas estas renúncias, de todas estas vigílias, de todos estes trabalhos, quando ouvir estas palavras: “Mamãe, Mamãe!”
O noivado é, pois, um tempo de sério estudo de si mesmo.
B) Mas é também o tempo de aprender a estudar seu futuro esposo.
a) Os casamentos infelizes podem ter múltiplas causas, a mais freqüente é a precipitação com que eles foram realizados. Viram-se ontem. Amam-se hoje, e casam-se amanhã. Juram uma “eterna fidelidade”, mas não sabem a quem. Não sabem qual o temperamento do outro, quais suas idéias, seus hábitos, seus defeitos e seus planos… Pode-se ir para frente na vida com tal leviandade? Tem-se o direito de se casar por um entusiasmo irrefletido sob a impressão embriagadora de uma noite passada no baile?
b) A Igreja precisamente destinou o noivado para os interessados refletirem sobre este passo definitivo e se conhecerem reciprocamente não só nos dias de festas, mas ainda nos dias de semana.
Um poeta alemão compôs uma encantadora poesia intitulada “A prova do amor”. Ensina ele, à jovem, só dar o seu coração ao moço que for capaz de apanhar um lírio, com tal delicadeza que não lhe caia uma gota de orvalho. Que profundo símbolo este belo pensamento! Que aviso! Jovens, não esqueçais de exigir um do outro uma grande e profunda delicadeza de alma.
Sim, eis o que é importante, e não o que poderão dizer de vosso noivado o astrólogo, a cartomante e a quiromante. Não se pode acreditar que haja pessoas, que consultem pássaros ou outros animais acerca da felicidade de seu casamento.
O noivado, na intenção da Igreja, deve permitir aos jovens verificar se eles possuem as condições necessárias para um bom casamento:
Quais são estas condições? Falaremos delas proximamente: mesmo porque ainda temos que expor uma outra idéia a respeito do noivado.
C) Não é curioso que a Igreja, desejando vivamente para seus filhos um feliz casamento, sente, contudo, temores a seu respeito, durante o noivado, sente uma certa angústia, que alguns julgam exagerada? De um lado ela quer que o noivado seja um tempo de conhecimento mútuo de outra parte, porém, proíbe-lhe com firmeza inexorável muitas coisas a que o coração apaixonado dos noivos não poderia renunciar senão com pesar.
a) Muitos não compreendem isto. Muitos se lamentam com amargura que “A Igreja não confie neles atribuindo-lhes maus pensamentos”. De outro modo ela não exigiria que eles se encontrassem só na presença de seus pais ou conhecidos e não no abandono de uma entrevista particular. Por que não poderia eu fazer, com meu noivo, um passeio no fim da semana, ou viagem mais longa? Por que não poderíamos permanecer a sós, um com o outro? Como a nossa religião tem pouca confiança em mim, dizem amargamente muitas moças e moços.
Ora, não é de vós que a Igreja desconfia, nem de um tal moço ou de uma tal moça, mas sim do homem, da natureza humana tão fraca e inclinada ao pecado.
Se vós e vossa noiva fôsseis de madeira ou pedra, a Igreja não se insurgiria contra as excursões a sós, os passeios de lancha a sós, as voltas de motocicleta sozinhos, os weekend a sós. Mas vós sois jovens, e não sois de madeira nem de pedra. Sois criaturas humanas. Acreditai na experiência milenária da Igreja. Ficai sabendo que por mais puro que seja o vosso amor, no íntimo de todo o coração humano, e do vosso também, tumultuam impulsos perigosos. E a Igreja, pelas suas leis, aparentemente muito rigorosas, quer somente impedir que as paixões cegas se desencadeiem dentro de vós.
b) Mas, realmente, é muito pouco o que a nossa religião permite aos noivos (…). Se eu não manifesto, porém, o meu amor ao meu noivo ele se afastará, deixar-me-á…
Ao contrário, pela atitude recatada da moça séria, adquirirá esta uma confiança e uma estima ainda maior de seu noivo. Atualmente eu não estou unida a ele, definitivamente, não lhe pertenço ainda, e eis por que eu o trato com uma delicada reserva. Ele pode, contudo, confiar em mim, pois, quando eu lhe pertencer, serei unicamente dele e nunca de um outro. Mostrei-lhe que sei ser forte…
Cada jovem par noivo não deveria pensar assim?
Quando os jovens se casam, a Igreja e o Estado registram oficialmente este acontecimento, e no fim indicam, em estatística, quantos casamentos foram celebrados, qual a idade dos nubentes, qual sua nacionalidade, a classe social a que pertenciam e assim por diante.
O que, porém, a estatística não diz é quais os casamentos felizes ou infelizes; as cifras esquecem as alegrias e os dramas que se desenrolam. Quem conheceria as lágrimas silenciosas de tantos jovens casais, derramadas no silêncio das noites de insônia? Quem poderia conhecer a terrível herança que filhos e pequeninos trazem consigo, no seu organismo arruinado, só porque este ou aquele, entre os esposos, ou talvez os dois não quiseram viver antes do casamento de acordo com o mandamento divino?
Ah! de vossos lábios caem facilmente queixas contra o rigor da Santa Igreja, porque ela não permite “viver a própria vida” e “divertir-se” fora do casamento; vós, a cujos ouvidos retumbam as sedutoras palavras de “casamentos de amigos” ou “casamento de experiência” ou “casamento de weekend”, olhai para a bela flor, que se abre aos raios do sol primaveril. Sobre ela pousa uma borboleta… suga-lhe o mel… este, porém, rapidamente se acaba… a borboleta voa para uma outra flor, pois há milhares delas… Mas a pequena flor abandonada lá ficou, corola emurchecida, fanando-se na solidão e no abandono… Assim também, para a flor humana que, igualmente jovem e bela, quiser, porém, gozar de sua juventude contra a lei de Deus…
Moços e moças, olhai essa dolorosa imagem, antes, de abrirdes os vossos lábios numa queixa contra o sexto preceito da lei divina, ou antes que tenhais calcado aos pés, a proibição divina…
Não terminarei, porém, com esta nota triste, e sim com a bênção que o salmista lança sobre a família do homem temente a Deus: “Felizes todos aqueles que amam o Senhor, e que andam em Seus caminhos. Alimentar-te-ás com o trabalho de tuas mãos, e serás feliz, e coberto de bens. Tua esposa será no meio da casa como a vinha fecunda; teus filhos serão ao redor de tua mesa, como novas plantas de oliveiras. Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. Que o Senhor te bendiga de Sião… e possas ver os filhos de teus filhos” (SI 127). Amém.
Casamento e Família – Mons. Tihamer Toth