QUATRO UTILIDADES DO NASCIMENTO DE CRISTO

partUm menino nasceu para nós, para que imitemos sua pureza e humildade, para sermos comovidos pela sua amabilidade e termos confiança na sua misericórdia. 

[1] Este pequenino nasceu para nós em sacramento de pureza. Narra a Escritura (Mt 1, 21): ele salvará o seu povo. Comenta são Bernardo, “eis que o próprio Cristo nos purgará de nossos delitos, eis o que limpará nossas misérias”. E santo Agostinho: “Ó bem-aventurada infância, pela qual foi reparada a vida de nosso gênero humano. Ó tão grato e deleitável vagido, pelos quais escapamos do pranto e ranger de dentes. Ó felizes panos, com os quais se limpou a sordidez de nossos pecados” 

[2] Nasceu para nós como exemplo de humildade. Diz São Bernardo: “Tratemos de imitar este pequenino; aprendamos dele que é manso e humilde de coração. Certamente, o grande Deus não se fez pequenino por nada. Por isso é intolerável atrevimento, após ter a própria Majestade rebaixado-se, inchar-se e engrandecer-se o  vermezinho.” 

[3] Nasceu para nós para acréscimo de caridade (Lc 12, 49): Eu vim trazer fogo à terra. Diz São Bernardo: “O Senhor grande, digno de todo louvor, fez-se pequenino e amável. Um menino nasceu, diz a Escritura. Ele nos é de todo amável, Ele que é pai, irmão, Senhor, ministro, recompensa e exemplo”. Noutro lugar: “Quanto mais humilhou-se ao tomar nossa humanidade, tanto maior revelou-se sua bondade. E quanto maior revelou-se sua bondade, tanto mais inflamou-se nosso amor”. 

[4] Nasceu para nós para consolo da esperança e segurança (Heb 4, 16): Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, isto é, Cristo, a fim de alcançar misericórdia, i. é, remissão dos pecados precedentes, e de encontrar graça , para sermos socorridos em tempo oportuno. Santo Agostinho: “Ò dia tão doce em que Cristo nasceu, dia que viu a compunção chegar aos infiéis, o ímpio ser tocado pela misericórdia, o arrependido esperar o perdão, o cativo não desesperar da liberdade, o doente procurar remédio; dia em que nasceu o Cordeiro que tira o pecado do mundo; em cuja natividade mais docemente se alegra o de consciência tranqüila, e mais fortemente teme o de consciência má; mais fervorosamente reza o bom; o pecador suplica devotíssimamente”. Ó doce dia, sobretudo para os penitentes, dia que traz o perdão. Prometo-vos, filhinhos, e estou seguro de que se alguém se arrepender neste dia de todo seu coração, e não retornar ao vômito do pecado, obterá tudo o que pedir”     

(De humanitate Christi)

Meditationes ex operibus S. Thomae – Pe. Mézard, O.P.

Tradução: Permanência