Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est
Trecho da entrevista concedida por Dom Bernard Fellay à MaikeHickson (MH) de OnePeterFive, sobre o centenário de Fátima e a crise da Igreja. Nota: as perguntas foram enviadas ao Bispo Fellay em finais de 2017, mas em razão de vários contratempos a entrevista foi concluída somente no presente mês.
MH: Cada vez mais muitos observadores parecem ver paralelos entre os princípios em que a Fraternidade São Pio X (FSSPX) baseou sua própria resistência contra certas novidades anteriormente vindas de Roma, e entre os princípios agora aplicados por aqueles críticos do documento exortatório do Papa Francisco, Amoris Laetitia. O próprio Professor Seifert repetidamente fez referência explícita em analogia ao seu próprio caso. O senhor poderia nos explicar esses princípios fundamentais na medida em que os vê em alguma correspondência mútua e reforçada?
Temos almas para salvar. A Igreja não é nova. Se seguimos o que a Igreja sempre fez, e o que os santos sempre fizeram, temos a certeza de estar no caminho seguro para o Céu. Em todos os tempos, a Igreja considerou perigosas as novidades e o fruto do orgulho. Podemos, hoje, dizer que há uma doença de novidade e mudança. Mas Deus não muda. A fé não muda. Os mandamentos não mudam. Seja fiel ao que a Igreja sempre ensinou em seus catecismos e você terá a certeza de estar no lado certo dessa luta por Deus e Sua glória.
MH: A FSPX desde cedo se opôs a certos aspectos do ecumenismo e da liberdade religiosa. Como o senhor relataria essa resistência anterior ao debate atual sobre a indissolubilidade do matrimônio à luz do fato de que essas outras religiões muitas vezes não acreditam neste dogma?
Uma vez que muitas religiões rejeitam a indissolubilidade do casamento, podemos pensar que as medidas tomadas por Roma se inspirariam no ecumenismo, mas não tenho certeza de que exista necessariamente uma ligação. Penso que o problema é uma relativização geral da verdade e, consequentemente, uma aplicação frouxa da lei e compreensão dos mandamentos de Deus. Ou, seguindo os princípios do personalismo, tal insistência na pessoa humana, no sentido de que a ordem de Deus não está em primeiro lugar. (Em outras palavras, o homem se torna Deus.) Você encontra isso no nível da religião e mesmo da legislação hoje. João Paulo II descreveu isso como antropocentrismo. Agora vemos isso aplicado ao matrimônio. Todos querem uma vida fácil…
MH: À luz da apostasia aparentemente crescente da Fé Católica dentro da Igreja Católica, o senhor poderia nos dizer como vê sua própria missão e a missão e o papel específico da FSSPX?
Poderíamos dizer que a Fraternidade São Pio X, pela Divina Providência, não por nossos próprios méritos, representa o passado da Igreja, o que chamamos Tradição. Isso não pode ser apagado da Igreja Católica ou da vida católica. Então, nossa missão é lembrar disso. Não somos simplesmente um monumento ao passado; somos um testemunho vivo da Tradição na Igreja, que está acima de todas as mudanças e modas do mundo moderno. A Fé continua a ser a nossa missão, especificamente revivendo o espírito cristão, especialmente para os sacerdotes da Igreja Católica. Nosso papel específico é ajudar a restaurar o sacerdócio, em toda a sua pureza, à Igreja. Cada aspecto da vida cristã e até mesmo da Igreja segue por consequência desse princípio. Se você quer ajudar a restaurar a Igreja, é preciso começar com o sacerdócio.
MH: O senhor tem algum conhecimento sobre os rumores de que em breve o Papa Francisco tambémirá alterar ou minar o Motu Proprio Summorum Pontificum?
Não, não tenho conhecimento disso.
MH: O senhor tem alguma expectativa quanto à relação oficial da FSSPX com Roma, especialmente à luz do fato de que o senhor pessoalmente tenha assinado a Correção Filial sobre Amoris Laetitia? As negociações com Roma foram agora efetivamente paralisadas ou adiadas?
Não creio que haja qualquer correlação específica entre a minha assinatura da Correção Filial e o nosso status com Roma. De certa forma, estamos paralisados por enquanto, mas as coisas permanecem abertas a novas discussões.
MH: Há algumas palavras finais que nos ajudariam a crescer em amor leal por Nosso Senhor e Nossa Senhora à luz da mensagem misericordiosa e da advertência de Fátima?
Se a Santíssima Virgem Maria fez o esforço para falar com o mundo, deve ser importante. Então, ouçamo-la, bem como às suas palavras. Cresçamos em grande devoção ao Imaculado Coração de Maria. Ela manterá e protegerá nossa fé, esperança e caridade e nos guiará, como prometeu, ao Céu.