O dom de Inteligência nos é dado pelo Espírito Santo para que a nossa fé seja mais viva; assim, esse dom de Inteligência nos faz, de certo modo, ver ou pelo menos “adivinhar” Deus.
O dom de Ciência vai também ajudar-nos a crer ainda melhor, pois faz-nos compreender a palavra de Deus: a História Sagrada, o Evangelho, o catecismo…
Há nos Salmos uma bela frase, que diz o seguinte:
“Tua palavra, ó Senhor, é uma luz, e ela dá a inteligência aos pequeninos.”
Bernadete tem quatorze anos: não sabe ler nem escrever. Pequena, magrinha, sofrendo de crises de asma que a impedem de desenvolver- se, apesar disso, ajuda a mãe a cuidar dos irmãozinhos, na miserável casa em que vivem em Lourdes.
A casa é tão pobre e escura, que é conhecida como “o calabouço”. Bernadete vai por vezes passar algumas semanas, ou até meses, com sua ama numa aldeia vizinha. Lá, toma conta dos carneiros na montanha. A ama gostaria que a menina aprendesse a ler. Afinal, ela já tem quatorze anos. E a boa mulher procura ensiná-la. Mas não há meio! É incrível, como Bernadete tem a cabeça dura!
– Não entra nada nessa cabecinha! diz a ama. Não entra nada!
Nem o catecismo, que ela tenta fazer Bernadete decorar, também não entra. É de desanimar! Como poderá Bernadete fazer a sua Primeira Comunhão, se não é capaz de guardar as respostas obrigatórias do catecismo?
As únicas orações que ela sabe são: o “Pai Nosso”, a “Ave Maria” e talvez o “Creio em Deus Pai”. É só! Mas na alma dessa menina ignorante, tão pouco dotada humanamente, o Espírito Santo infundiu a Ciência dos Santos. E, em breve, todo mundo terá de reconhecê-lo.
Em Massabielle, a Virgem Santíssima vem conversar com Bernadete. Nossa Senhora fala-lhe do Céu e dos pecadores, pelos quais é preciso que todos os cristãos façam penitência. Confia-lhe recados. Confia-lhe segredos. E Bernadete que pelo dom de Inteligência compreende perfeitamente tudo quanto lhe explica a Santa Virgem, graças ao dom de Ciência sabe também escutar a sua mensagem e pô-la em prática.
A menina não tem medo nem dos soldados, nem do prefeito, nem do padre, que se mostra muito severo para ter certeza de que ela não está inventando nada e de que diz a verdade. Suas respostas sensatas, límpidas como a água do rio Gave que desce da montanha, causam espanto ao comissário de polícia, aos doutores, aos padres e até aos bispos. Para fazê- la cair numa tolice, perguntam-lhe:
– Quando é que você se sentiu mais feliz, Bernadete: quando recebeu Jesus, no dia de sua Primeira Comunhão, ou quando conversou com Nossa Senhora?
E ela responde acertadamente:
– As duas coisas não podem ser comparadas.
Bernadete mostra que compreendeu perfeitamente a mensagem da Virgem Maria: tudo o que é da terra não dura, e por isso não lhe devemos dar muita importância. O essencial é conhecermos a Deus, e amá-lo. E alcançarmos o Céu e procurarmos lá conduzir os pecadores que não pensam na sua salvação, rezando e fazendo penitência por eles.
“Não te prometo fazer-te feliz nesta vida, mas na outra” – dissera- lhe a Virgem Santíssima.
Mas a menina não julga por isso que possa fazer o que quiser…
– Serei feliz! Sim, mas atenção! Se fizer o que devo fazer, se andar direitinho. Tenho de ganhar o meu Paraíso!
Ela compreende muito bem que as criaturas devem levar-nos a Deus, e não se tornar uma barreira, um obstáculo, por menor que seja, que impeça nossa aproximação de Deus, ou que não deixe passar a luz divina. Bernadete compreende que mesmo o sofrimento pode ser um verdadeiro presente do bom Deus.
Depois que a menina conversou com Nossa Senhora, toda a gente quer vê-la, agradá-la, fazer-lhe presentes. Não seria nada mau que a sua família, tão pobre e necessitada, recebesse alguns presentes! Mas Bernadete não aceita nenhum! Recusa todos… até o rosário de correntinha de ouro que um bispo lhe oferece em troca do seu!
Um dia em que um bando de gente a acompanha e a cerca, chamando-a “a santinha”, querendo até cortar um pedacinho de seu capuz para dele fazer uma “relíquia”, Bernadete consegue afinal escapar e sacode os ombros, aborrecida:
– Que bobos! Essa gente está maluca?!
Até a sua morte ela aceitará alegremente sofrimentos, doenças, humilhações, sem se admirar de que a Virgem Maria, que cura tantas pessoas na gruta de Lourdes, deixe que ela continue sempre doente.
– Nossa Senhora talvez queira que eu sofra! dizia simplesmente Bernadete.
Havia no seu coração a firme certeza de que Deus há de cumprir tudo quanto nos prometeu. Pelo dom de Ciência, ela compreendia, cada dia melhor, que a verdadeira vida não é a da terra, mas sim a do Céu. Isso é que fazia Bernadete ficar tão triste, quando pensava nos pecadores que vivem como se o Céu não existisse. E também por isso é que ela se conservava tão serena diante de tudo quanto lhe acontecia de penoso ou desagradável.
Eis o que o Espírito Santo pôde fazer na alma de uma pobre menina, que todo o mundo chamava de “tola e ignorante”.
É que ele infundiu na alma de SANTA BERNADETE, que não lhe fez obstáculo, a mais maravilhosa de todas as ciências: a Ciência dos Santos.
As Sete Velas de meu Barco – M.D. Poinsenet