Sou teu neto…
Estou cansado de teus discursos, de tuas promessas de renovação.
De novos planos, de novos brios…Já basta!
Sou jovem, mas não sou tolo.
Tenho um vazio, mas tu te empenhas para que eu não o preencha.
O tempo de esperança chegou ao limite,
Cansei de esperar, na dureza do inverno a primavera que nunca virá.
O ar que entrou pela janela me sufoca, me asfixia, me mata.
Tenho sede…
Tu tens um copo de água fresca e não queres me dar.
Exijo que me devolvam aquilo que uma geração hippie se atreveu a me tirar antes de eu nascer…
Me tiraram o leite materno, a segurança de estar nos doces braços de uma mãe, o beijo terno de alguém que me ama!
Filhos de seu tempo! O que me deixaram?
Tu trocaste meu leite por fel amargo…
Me arrebataste dos braços de minha mãe e me entregaste aos de uma rameira!
Em vez de um beijo de amor recebi uma boifetada!
Devolvei-me a fé, restiuí-me a cruz, a vivência Cristã pela qual meus avós sorriam…
Por que nunca a conheci…
Nem no calor de casa..
Nem nos muros de minha paróquia…
Tu me arrancaste tanto
Dize-me como fazer a genuflexão, dize-me como confessar-me,
Dize-me como rezar,
Dize-me como ser cristão…
Esse jardim primaveril regado pelo sangue dos mártires, apenas o vejo em livros velhos e lembranças passadas…
Minha realidade é um charco pantanoso, estéril, sem vida, sem beleza…
Essa beleza não a vejo…
Me falam dela…
Mas não está em minha realidade.
Não vivo de sonhos, cansei de tuas promessas.
O que tu removeste de mim?
O que tu me deste em lugar daquilo que me arrancaste?
Por que tu te adiantaste em pensar por mim?
Por que tu fizeste experiências em mim como rato de laboratório?
Tenho alma, não te importou a minha salvação?
Restitui-me o que me arrancaste, te restituo o que me deste em troca…
Aquilo com o qual tu fizeste experimentos em minha alma.
Restitui-me o altar, te devolvo a mesa.
Restitui-me o mistério, te restituo o que entendo e não vivo.
Restitui-me o calvário, te devolvo o mistério pascal.
Restitui-me o sacerdote, te restituo o presidente da assembleia.
Restitui-me os dogmas seguros, te restituo as opiniões da moda que agora são e depois são jogadas fora.
Restitui-me os genuflexórios, te restituo o conforto dos bancos.
Restitui-me a adoração eucarística, te restituo a ceia pascal comemorativa.
Restitui-me o catecismo, te restituo teu livro de desenhos em que não aprendi nada.
Restitui-me os santos doutores, te restituo os teólogos hereges.
Restitui-me a Sagrada Escritura, te restituo tuas traduções ecumênicas.
Restitui-me o silêncio, te restituo o barulho das guitarras.
Restitui-me a reverência, te restituo a dessacralização.
Restitui-me a modéstia, te restituo as modas.
Restitui-me os detalhes para com Deus, te restituo as torpezas e as inovações.
Restitui-me a jovialidade de 20 séculos, te restituo a velhice de 5 décadas.
Restitui-me a Verdade, te restituo os frutos podres que colheste.
Restitui-me a herança de filho…não posso te restituir nada quanto a isso porque tu não substituíste este tesouro em mim, apenas ocultaste, o fizeste parecer ridículo e sem valor…
Restitui-o a mim, assim o quero, é meu direito.
Dize-me como ser católico, eu te direi como ser um neto do Concílio
Revista Guarde a Fé (FSSPX), nº 46