Mortui sumus cum Christo (Rom., 6,8)
Mortos somos com Cristo.
… O Cristianismo … é a religião por excelência do sacrifício. Tudo converge para o altar. Todos os benefícios descem da cruz. A Santa Igreja mesma com seus canais de graça, os sacramentos, nasce do Coração transpassado de Jesus.
Todas as cerimônias começam e terminam pela cruz, todas as consagrações, todas as bênçãos se fazem com o sinal da cruz, todas as grandes solenidades, quer religiosas, quer profanas, são marcadas com o sinal da cruz. E quanto mais se penetra nesse pórtico da Igreja, na sua vida íntima, na alma que a move, tanto mais se percebe o sacrifício.
Milhares de mártires fecundam-se com seu sangue em todas as partes do mundo, e esta imolação, que não cessou em nossos dias, abrange todas as idades e todas as condições.
Perseguições intermítentes, lutas internas, cismas, heresias, apostasias, conservam sempre aberta, no seio da Igreja, a chaga que lhe fizeram os tiranos dos primeiros séculos…. Não há ninguém no mundo que possa escapar à dor. O sofrimento, seja físico, ou moral, espreita todas as criaturas sem distinção. Deus quer, na sua justiça e misericórdiosa bondade, que todos, bons e maus, tenham sua parte na medida e proporção prevista por sua infinita sabedoria.
Sobre a cruz, o bom e o mau ladrão sofriam o mesmo suplício. Um representava a humanidade impenitente, descrente e proferindo blasfêmias; o outro, a humanidade reconquistada por Jesus e arrependida de suas faltas.
Mas Jesus quer continuar, de um modo particular nas almas que lhe pertencem, sua vida e sua paixão. Quanto mais a alma O ama, mais Jesus a ama e por sua vez, a atrai, identifica-Se com ela e manifesta nela Sua vida divina. Quanto mais a alma se abandona a Jesus e aceita o cálice do Mestre, tanto mais ela se deliciará com o desejo de sofrer ainda mais e de ser co-redentora.
Enfim, quanto mais veemente é esse desejo, mais também Jesus salva por elas as almas e lhe dá influência sobre a marcha da humanidade e sobre os acontecimentos da história.
O sacrifício, amorosamente aceito em união com Jesus Imolado, é a essência da vida espiritual de cada alma, como é o ponto central da Igreja, como é o resumo da vida de Jesus.
Se assim é, minha alma, podes recusar amar a cruz e entregar-te a Jesus?
Um dia, Santa Lutgarda pedia a Jesus que a deixasse morrer, para que ela pudesse unir-se-Lhe depressa no Céu. Apareceu-lhe, porém, Jesus coberto de chagas e sangue e disse-lhe: Lutgarda, ajuda-me, pois a salvar os pecadores.
Nós temos a eternidade para gozar de Deus, mas não temos senão alguns anos para sofrer e imolar-nos.
Não te assustes diante dessa perspectiva de uma vida de imolação. Ser vítima com Jesus não é positivamente estar sujeito a grandes tribulações ou suportar angústias extraordinárias. Não! é estar sempre pronto a aceitar, de Sua mão, o doce e o amargo, as coisas agradáveis como as penosas, a saúde como as moléstias, a consolação como as dores interiores.
Ser vítima, é prestar-se por amor a todas as exigências de Jesus: a colher, de antemão, não importa que gênero de sofrimentos, que espécie de tribulação interior ou vexames exteriores, que doença ou gênero de morte, e nem o momento.
Ser vítima, enfim, é imolar-se todos os dias, em mil circunstâncias, acontecimentos, contratempos, diversidades de temperamento ou de caracteres, diferenças de vistas ou de opiniões. É estar sempre contente com tudo, sempre meigo e paciente, sempre sorridente, por amor da Grande Vítima, que, enquanto A maltratavam, enquanto A imolavam, nem sequer abriu os lábios.
Toda alma amante pode e deve ser assim vítima de amor, prolongamento de Jesus e co-redentora.
Ó alma vítima! tua vida na sua simplicidade é sublime. Passaste inteiramente ao serviço de Jesus. Sem sofrer mais do que outros, és contantemente imolada pelo amor. Sem interrupção, celebras com o Sacerdote Eterno o Sacrifício do Calvário. Tua vida é uma Missa contínua e tua morte será o último golpe que imolará a vítima.
Então virá o triunfo. De teu túmulo brotará para milhares de pecadores a vida, a ressurreição, e tu mesma, purificada em teu próprio sacrifício, irás aumentar o número desses bem-aventurados que São João viu no Céu, revestidos de vestes brancas e trazendo palmas nas mãos (Apoc., 7,9)
O Divino Amigo – Pe. Joseph Schrijvers