Quando a inteligência é sinceramente esclarecida, quando se elevou à altura dos princípios, quando se lhe dissiparam as obscuridades numa consulta ponderada, que resta fazer?
Nada mais resta que tomar a decisão e pô-la em prática sem demora.
1º – Que vossos filhos, pais que nos ledes, se habituem a dizer: “Tenho a obrigação de o fazer, faço-o!”
2º – Que acrescentem: “Faço-o imediatamente!”
Que não adotem nunca esta expressão dos covardes: “Eu bem sei, mas…”
Se o fizessem, quando se trata de coisas conscientemente graves, pecariam contra a razão: e isto é terrivelmente perigoso. Se o fizessem quando se trata de coisas naturais, a vontade perderia toda a delicadeza, toda a sensibilidade, toda a prontidão; deformar-se-ia.
É por isso que às pessoas que têm um programa de vida e não o seguem, diremos francamente: “Se não quiserem seguir o seu programa, queimem-no”!
A utilização do poder moral do sentimento
Que é preciso para bem agir?
É preciso acrescentar à luz fria da idéia pura a paixão arrebatadora do sentimento.
“Só o sentimento que move o coração dá impulsos que triunfam da apatia, ou desperta essas emoções favoráveis que contrabalançam e substituem as emoções hostis“.
(Payot, Educação da vontade, t. II, cap. III, em J. Guibert, ob)
Quais são os sentimentos que exercem sobre a vontade uma ação mais eficaz e mais duradoura?
São o temor e o amor.
De resto, o temor não é mais que uma forma do amor. Ele é, diz-nos Bossuet, “um amor que, vendo-se ameaçado de perder o que procura, se inquieta com esse perigo“.
(Conhecimento de Deus e de si mesmo, cap. I, p.6)
Foi esse sentido que Joubert escreveu:
“O amor e o temor. Tudo o que um pai de família diz aos seus deve respirar um e outro“. (Pensamentos)
Qual é a influência do temor sobre a vontade?
“O temor da polícia assusta o malfeitor; o temor dos castigos eternos impede o cristão de pecar até no recôndito do seu coração; o temor dos juízos humanos impõe a honestidade aqueles homens que a consciência, isoladamente, não poderia governar; o temor de desagradar aos olhos de Deus ou de macular a pureza das consciência leva as almas delicadas ao cumprimento dos próprios conselhos de perfeição.”
(J.Guibert)
“O temor tempera as almas como o frio tempera o ferro. A criança que não tiver experimentado grandes temores, não deve ter grandes virtudes“.
(Joubert, pensamentos)
Qual é a influência do amor sobre a vontade?
“Para bem agir, é preciso ser sacudido e arrastado por um grande amor”.
(J.Guibert)
Santo Agostinho, dizia:
“O meu amor… é este o peso que me arrasta; para onde quer que eu vá, é sempre o amor que me leva” – Amor meus pondus meum, quocumque feror amore feror. (…)
Quais os amores que mais impulsionam a vontade?
1º – O amor de si próprio. “Este amor inspira o instinto de conservação, o desejo de progredir, a coragem de se vencer pelo esforço e pelo progresso. Quem desconhece a força da ambição?” (J.Guibert)
2º – O amor dos homens. Quando enche um coração, este amor “leva ao desinteresse e à própria imolação: sacrifícios de tempo, de dinheiro, de paixões, da própria vida, nada parece custar por aqueles a quem se ama“. (J.Guibert)
3º – O amor de Deus. “É o mais poderoso, é o que tem feito mais heróis e mártires. A história da humanidade ensina-nos, com efeito, que o sentimento religioso é o mais profundo, o mais inextirpável, aquele que mais aproxima ou mais divide os homens, aquele que dobra com mais energia as vontades para o cumprimento do dever revelado pela consciência“. (J.Guibert)
Se o sentimento desempenha uma tarefa tão importante e tão necessária na formação da vontade, quais são os meios de o exercitar?
Há três principais, especificados por J.Guibert, que nos serve de guia neste pequeno estudo.
1º- A vida interior.
2º- A influência do meio.
3º- A ação começada.
Como é que a vida interior excita o sentimento?
Desta maneira: aquele que a pratica concentra-se, não para se contemplar, mas para ser senhor de si e recuperar todos os seus poderes; para se esclarecer à luz da razão e da fé; para se excitar ao dever e à virtude, ao amor de Deus e ao temor do Seu julgamento; e também para buscar, na oração e nos sacramentos, os socorros de que tem necessidade.
Qual é a influência da vida interior?
Diz-nos a experiência que é entre os que se habituaram à vida interior que se recrutam os gênios e os santos.
“Perguntando-se um dia a Santo Inácio se estaria disposto a aceitar um sacrifício tão heróico como o do consentimento na supressão da sua Companhia, respondeu:
– Precisaria dum bom quarto de hora de recolhimento para me conformar com isso.”
(J.Guibert)
(…)
Quais são as coisas que podem exercer uma influência funesta sobre nós e sobre os nossos filhos?
São as artes, os espetáculos, a música, etc. Mas é preciso evitar as representações imorais ou simplesmente livres, a música lasciva, os espetáculos perturbadores.
Pelo contrário, é preciso dar à alma o alimento de que tem fome, contemplando belos quadros, executando boa música, assistindo a espetáculos tonificantes. [N.B: leituras que edificam]
Quais são os homens cujas relações devem ser procuradas?
São os homens de valor.
“O grande homem, quando se encontra ao vosso caminho, traz em si uma influência magnética á qual não escapareis, pelo menos se sois acessíveis aos sentimentos nobres. Não há método mais seguro para se tornar grande do que conviver com grandes homens cotados de bondade“.
(Blackie, A educação de si mesmo, p. 95)
Como influem os homens de valor?
1º – Influem pelos seus exemplos.
E é a melhor eloquência.
“As palavras de Ambrósio interessavam Agostinho, mas não o arrastavam; para mover esta grande alma, era preciso o exemplo dos santos: Por que não hei de poder praticar o que este ou aquele puderam fazer”?
(J.Guibert)
2º – Influem pela sua eloquência.
“… felizes as almas que encontram no seu caminho homens capazes de as converterem pela palavra”. (J.Guibert)
3º – Influem pela sua conversação.
A conversação é uma comunhão de almas; quando as almas são grandes e belas, que fonte de consolações, de idéias nobres, de generosos desejos, de sublimes entusiasmos, que enriquecimento mútuo…
4º – Influem pelos seus escritos.
O livro, é verdade, não tem o calor comunicativo da linguagem… mas, em compensação, é mais complacente, mais completo, mais universal. É preciso pois amar os livros, saber escolhê-los, não se agradar senão dos excelentes.
“Quem ama os bons livros vive sempre no meio de almas nobres e de influências fortificantes”. (J.Guibert)
É verdade que a ação começada excita o sentimento e produz a força?
“Não conheço outro segredo de amar senão amar”. (São Francisco de Sales)
“É preciso começar pelos atos”. (São Francisco de Sales)
Catecismo da Educação – Abade René de Bethléem