É sempre fácil começar a ação e meter-se ao caminho?
Eis um ponto que, segundo parece, só um ato positivo e enérgico da vontade poderá realizar.
Será preciso que a vontade se converta numa mola, impulsionada pela indicação do dever e que salte num ímpeto até ao seu pleno desenvolvimento, isto é, até ao cumprimento do que é preciso fazer. Que a vontade seja como que um chefe de serviço bem adestrado, que recebe as ordens e as faz executar sem discussão, sem hesitação, sem demora.
Qual é a virtude que esta energia supõe necessariamente?
É o dominio de si mesmo, isto é, a autoridade própria da inteligência e da vontade sobre as faculdades inferiores, a imaginação, a sensibilidade, a memória e, por elas, sobre os próprios sentidos.
Qual é o primeiro meio de desenvolver esta energia nas crianças?
É o de evitar tudo o que conduz ao sensualismo e à preguiça.
“Esta preguiça, a que se liga pouca importância é, contudo cheia de perigos; torna incapaz de todas as virtudes, abre a porta a todos os vícios, rouba todas as energias ao caráter, impede a formação da vontade, deixando a alma sofrer o jogo do corpo, e este mesmo fica sem força e sem vigor.”
(Renovamento da vida cristã)
Tem-se notado que aqueles que foram submetidos a uma disciplina severa mostram uma energia moral mais intensa do que outros que foram tratados com doçura execessiva.
Praticamente, que convém fazer para escapar a este perigo?
É preciso proibir à criança os alimentos e as bebidas que não tenham outro fim senão lisonjear o paladar; que a cama seja um tanto dura; que os vestuários sejam modestos; que o corpo seja tonificado pelo uso da água fria; que os divertimentos não sejam demasiados nem fatigantes.
Não se deve esquecer que os concertos, os jogos carnavalescos, os teatros, os bailes infantis, produzem impressão prejudicial na alma e amolecem a vontade.
E sobretudo não se tolerará a preguiça.
A preguiça é o mais pernicioso dissolvente da vontade, porque é a negação do trabalho, forma ordinária do esforço.
Pedimos um dia a uma pessoa que nos desse por escrito o relato dos atos de sensualidade e moleza, que reconhecia cometer, ordinariamente, em cada dia; hiavia páginas inteiras, a maior parte, hábitos de má educação.
Qual é o segundo meio de desenvolver a energia nas crianças?
É a obediência.
A experiência ensina-nos que as crianças habituadas, desde a mais tenra idade, a obedecer, adquirem uma força de caráter pouco vulgar.
Por que é a obediência um fator de energia?
1º – A obediência é um fator de energia, porque ela dispõe para a disciplina e, por assim dizer, porque prepara o terreno à vontade, que não avança. nem pode avançar, sem uma regra.
“Com efeito, para obedecer verdadeiramente, é preciso que a vontade reprima as revoltas do espírito e da independência, tão natural às nossas almas; e ela não pode dominar esta inevitável oposição, sem que se desenvolvam grandes esforços. Ora, são precisamente estes esforços que aumentam a soma das energia.”
(Vítor Rocher, A mulher sensata cristã)
2º – A obediência é um fator de energia, porque se ela está submetida a uma autoridade séria, que tanto dirija como modere, dará à vontade um impulso que decuplica as forças.
3º – A obediência é uma fator de energia, porque habitua a vontade a dirigir-se a fins claramente determinados, Porque “para querer, é preciso querer qualquer coisa“
(Paul Gaultier, A verdadeira educação, p. 208)
4º – A obediência é um fator de energia, porque ela fortifica a vontade.
Para obedecer, é preciso fazer calar as preferências, contradizer os gostos, impor esforços a si mesmo.
Qual é o terceiro meio de desenvolver a energia nas crianças?
É ajudar as crianças a fazer o que elas devem fazer.
1º – Quando se haja esclarecido o seu espírito com a verdadeira luz da vontade de Deus, esforçar-nos-emos por levá-las a praticar aquilo que é bom.
Deve fazer-se-lhes compreender que Deus é que é o Mestre; que Ele tanto manda os pais e as mães como manda as crianças; que é preciso obedecer sempre a Deus; que se elas obedecem prontamente, agradarão a Deus e a seus pais, que estão no lugar de Deus; que é o Céu que está prometido em recompensa àqueles que se sabem sacrificar.
Iluminem-se estes conselhos com exemplos tirados da Bíblia, da vida dos santos, etc.
2º- Sustentem-se os seus esforços por uma vigilância discreta e afetuosa. Os homens são fracos.
E as crianças muito mais.
É preciso, pois, ajudá-las.
Por exemplo, pode-se-lhes sugerir pela manhã um certo número de atos de vontade a praticar durante o dia, e á noite faça-se com eles um exame dos seus atos. Podem-se também animar as crianças a submeter à apreciação dos seus confessores o resultado obtido no decurso da semana.
3º – Se elas opuserem alguma resistência, procurar-se-á intimidá-las branda e afetuosamente. Se a criança não obedecer, o pai e a mãe serão obrigados a castigá-la e fazê-la obedecer, apesar da sua relutância. Então obedecerá custe o que custar, e terá causado desgosto a todos.
Catecismo da Educação – Abade René de Bethléem