O que é o bom caráter?
“É esta disposição natural e adquirida, feita de afabilidade, de doçura e de complacência, que impõe a lei de nunca ofender pessoa alguma voluntariamente, que, depois de haver enfraquecido as tendências más da natureza, dá a preponderância às inclinações nobres; e que põe nas nossas mãos todas as nossas energias morais, como soldados à disposição do capitão, que os disciplinou para a luta.”
(Segundo J.Guibert, O caráter, p.24-25).
Quais são as vantagens do bom caráter?
Aqueles que possuem um bom caráter são felizes e fazem outras pessoas felizes.
Quais são os incovenientes do mau caráter?
Aqueles que tem um mau caráter são infelizes e tornam infelizes outras pessoas. Fénelon escrevia para o duque de Borgonha:
“Acautelai-vos sobretudo do vosso mau humor: É um inimigo que levais para toda a parte convosco até à morte: encontrará nos vossos conselhos e vos trairá, se o escutardes. O mau humor faz perder as ocasiões mais importantes; dá caprichos e aversões de crianças, com prejuízo dos mais valiosos interesses; faz resolver os casos mais graves pelas razões mais leves ou mesquinhas; obscurece todos os talentos, deprime a coragem, torna o homem desequilibrado, fraco, arrebatado e insuportável. Desconfiai deste inimigo.”
(Citado por Mons. Dupanloup, ob. cit., t. I, p. XXI)
Quais são os meios a seguir para formar um bom caráter?
São de duas espécies:
1º – Meios negativos, que consistem em suprimir tudo o que predispõe para o mau caráter: os excitantes, os choros fingidos e os amuos.
2º – Há um meio positivo: o desafogo na educação.
Quais são os excitantes que é preciso suprimir?
1º – A alimentação excitante;
2º – As palavras maldosas ou perturbadoras;
3º – Os exemplos de descontentamento, de aspereza, de rancor, de vingança ou de cólera.
Como se pode impedir uma criança de se tornar choramingas?
Não atendendo nunca a lágrimas sem motivo.
“Se sofrer, é preciso curá-la; se está triste, consolá-se, pelo menos algumas vezes, porque muitas vezes a criança não tem desgostos senão na medida da importância que os pais ligam a esses pesares. Se chora para que lhe façam a vontade (pois essa é para ela a forma de mandar) não se deixar comover pelas suas lágrimas; se persistir, compreenderá que nada tem a ganhar, e calar-se-á“.
(Abade Simão, A arte de educar as crianças, p. 104 e 207)
O amuo é nocivo ao caráter da criança?
Enormemente.
Nicolay chega a dizer que “uma hora de amuo faz mais mal do que o bem que lhe fariam os bons exemplos de toda uma semana“.
O amuo não será antes um efeito do que a causa do mau caráter?
É uma e outra coisa.
O efeito. – Quando se manifesta, revela o orgulho ofendido de um mau caráter.
A causa. – Se não é combatido, radica e desenvolve os sentimentos que lhe deram origem.
Como proceder quando a criança tem amuos?
É preciso parecer que não se notou essa má disposição da criança. Depois procurar-se-á despertar o brio da criança, lembrar-se-lhe-ão os seus deveres religiosos; mostrar-se-lhe-á o ridículo da sua atitude. Por vezes, uma leve troça pode dar resultado.
Qual é o melhor meio a empregar para fazer tomar ás crianças o hábito do bom caráter?
É fazer a educação numa atmosfera desafogada e afetuosa.
1º – Os pais esforçar-se-ão por ser alegres.
“Notai que é essencial para as crianças ter pais alegres, que compreendem a alegria, e não se incomodem com a expansão natural da infância, mas, pelo contrário, tomem parte no contentamento dos filhos, e até o animem. Os homens de bom caráter são aqueles que tiveram pais alegres; os neurastênicos são aqueles que tiveram pais tristes – cui non ridere parentes. – Quase não há pais alegres: é que têm de quarenta a cinquenta anos. É um desastre para uma geração ter pais que são como folhas secas.”
(Faguet, Da família, p. 91)
2º – Ao menos os pais darão o exemplo de bom humor, duma disposição de espírito sempre equilibrada e senhora das suas impressões.
3º – Os pais observarão o que é de natureza a despertar o riso nas crianças, e utilizar-se-ão desse meio, discreta e inteligentemente.
4º – Os pais concederão a seus filhos uma expansão conveniente.
“Um santo triste, é um triste santo”, declarava São Francisco de Sales, que se insurgia contra esses homens “rigorosos, agrestes e selvagens, que não querem para si, nem permitem aos outros nenhuma recriação“.
“O bom rei São Luís entendia as coisas como o bispo de Génova, pois costumava dizer, quando os religiosos lhe queriam falar de coisas transcendentes, depois do jantar: ‘Agora não é ocasião de conversarmos acerca disso, mas sim de nos entretermos com histórias alegres; e cada um conte o que lhe agradar, mas sem ofensa da honestidade’“.
(Bauchesne, Educação, p. 178)
5º- Evitarão os arrebatamentos e excessos que aterrorizam, tornam as fisionomias carregadas e fecham os corações.
6º – Tornarão tão curtos quanto possível os momentos de severidade e, uma vez feita a correção, devem esquecê-la por completo, nunca mais falando dela.
Catecismo da Educação – Abade René de Bethléem