“A questão da inserção da liturgia nascida do Concílio em igrejas edificadas antes do referido Concílio ajuda a compreender seus fundamentos, implicações e resultados.”
Pelo Pe. Gregoire Célier, FSSPX
A reforma litúrgica foi um dos elementos mais importantes das evoluções decorrentes do Concílio Vaticano II, talvez o mais significativo. Uma citação de Paulo VI, em 13 de janeiro de 1965, entre muitas outras possíveis, recorda-o oportunamente: “A nova pedagogia religiosa que quer instaurar a presente renovação litúrgica se insere, para ocupar quase que o lugar de motor central, no grande movimento inscrito nos princípios constitucionais da Igreja de Deus, tornado mais fácil e mais imperioso pelo progresso da cultura humana.”
Logo, é conveniente se voltar a essa reforma litúrgica para compreender melhor os seus fundamentos, implicações e resultados.
Aqui, propomos fazê-lo por meio do “edifício igreja”. A questão da inserção da liturgia nascida do Concílio em igrejas edificadas antes do referido Concílio é, com efeito, particularmente característica para a apreciação da mudança operada pela reforma.
Para isso, recorremos às reflexões e comentários dos melhores especialistas litúrgicos que escreveram após o Vaticano II. Eles nos permitirão identificar os problemas que surgiram à medida que as novas formas litúrgicas começavam a ser celebradas, e compreender, por sua vez, o que a reforma litúrgica pós-conciliar levou a pensar. Tendo sido publicados durante as duas décadas (1965-1985) de implantação da reforma litúrgica, não é de se surpreender que estes textos sejam redigidos mais no presente, ou no futuro, do que no passado.
RELAÇÃO CONTENTOR / CONTEÚDO
Inicialmente, os autores destacam que uma igreja, como qualquer outro edifício, aliás, reflete, por sua arquitetura, os conceitos daqueles que a edificaram. Construída para uma certa liturgia, um certo cerimonial, uma certa teologia, ela exprime, forçosamente, seus valores. Ela cria, por sua disposição, um clima particular, favorável ao desenvolvimento da forma de expressão religiosa que animou sua concepção. Consequentemente, “interessar-se pela liturgia sem se preocupar com o ordenamento dos lugares onde ela ocorre seria nonsense. Ora, existe uma afinidade profunda entre o espaço organizado conforme a arte, e a liturgia que se desdobra aí”.[1]
Ora, um edifício é, por natureza, um objeto estável, atemporal. “Um edifício não se modifica ao modo de um rito”[2]. Ele trasporta, portanto, o invólucro que um período da vida da Igreja estabeleceu para se mover confortavelmente, em uma época onde, provavelmente, a vida da Igreja mudou profundamente, o que pode provocar uma distorção entre o contentor e o conteúdo. Precisamente, após o Vaticano II, em razão de uma rápida e radical evolução ritual (e teológica), uma liturgia razoavelmente nova deveria brilhar em espaços arquiteturais criados de acordo com outros cânones e para outros usos. Com efeito, “às vezes, a maioria de nossos lugares de culto foi concebida e construída há vários séculos, para necessidades diferentes das nossas.”[3] Os edifícios antigos se mostraram, portanto, mais ou menos inadequados para a implantação de novas normas da celebração cristã.
Nesse contexto, “surgiu um duplo questionamento: como utilizar os lugares de culto tais como nos foram deixados e como conceber novos mais adaptados ao nosso modo de vida urbano e à situação da Igreja de hoje?”[4]
O MONUMENTO OFERECE UMA CERTA IDEIA DE DEUS
Desde o início, a questão é esta: “Como garantir que a liturgia de hoje ocorra da melhor forma possível em um espaço previsto para a liturgia de outras épocas?”[5] Com efeito, como notava o padre Congar a propósito de São Pedro de Roma (porém sua observação se aplica, de um modo equivalente, às outras igrejas), “toda uma eclesiologia já está inscrita na disposição dos lugares.”[6]
O padre Quellec explica de modo mais claro o que está em jogo: “A configuração exterior de um edifício, a distribuição e a organização de seus espaços internos, o estilo dos objetos que aí são distribuídos, já formam uma imagem mais ou menos nítida do Deus que encontramos nele. (…) Nosso modo de ocupar o espaço de nossas igrejas, de dispor o mobiliário, de arrumar o santuário, como também a escolha de uma cruz, de um ícone ou de um altar, implica que nos referimos, quer queiramos conscientemente ou não, a imagens diversificadas de Deus. Frequentemente, tem-se destacado que a imagem de Cristo da eucaristia é demasiada diferente conforme o altar se parece a uma simples mesa ou a um túmulo monumental. (…) É preciso notar que, na maioria dos casos, não tivemos a oportunidade de fazer escolhas reveladoras de uma espiritualidade: recebemos a igreja, quase como está, daqueles que a conceberam e organizaram. É necessário notar, outrossim, que, muito frequentemente, existe um tipo de hiato entre a sensibilidade e as ideias religiosas contemporâneas e aquelas que animaram a construção de um edifício.”[7]
Por exemplo, “os altares retábulos do século XVII, concebidos, como requeria o Concílio de Trento, para a adoração, representam uma certa visão da fé. Temos agora uma outra ideia da presença real.”[8] “Desde a época da Contrarreforma, a santa reserva foi frequentemente ligada ao Altar Mor com o qual ela aparecia como o centro vital do edifício. Mas a renovação atual da celebração litúrgica, restaurando o valor próprio de cada momento da celebração, revalorizou os outros modos da presença do Senhor.”[9]
DOIS MODELOS DE IGREJA NASCIDOS DE DUAS TEOLOGIAS DIFERENTES
“À primeira concepção da Igreja, aquela anterior ao Vaticano II, corresponde, a título de exemplo, uma arquitetura de igreja na qual o santuário é desmedidamente enorme, bem separado do povo, dominando o conjunto dos fiéis, corpo insignificante (no verdadeiro sentido do termo) com uma cabeça hidrocéfala. À teologia do Vaticano II corresponde, ao contrário, uma arquitetura na qual santuário e nave se integram no mesmo plano, em um conjunto harmonioso.”[10]
Ora, a arquitetura sacra “deve apresentar uma imagem da Igreja que seja plenamente coerente com aquela que se esforça a dar, por sua vez, a liturgia.”[11] É por isso que “não há, até a mudança, lugares de culto que não tenham sofrido os efeitos da renovação.”[12]
A REFORMA LITÚRGICA IMPLICA, TAMBÉM, UMA MODIFICAÇÃO DAS IGREJAS
A única solução possível consiste, ao redefinir a disposição dos volumes e dos objetos, em organizar o espaço arquitetônico. Contudo, essa reconversão é difícil, em razão da inercia característica do edifício. “Celebrar em um edifício antigo gera problemas técnicos, problemas de proteção e problemas que estão ligados à evolução da liturgia: desde o Vaticano II, a pregação, as celebrações eucarísticas, por exemplo, não requerem absolutamente os mesmos movimentos que antes.”[13]
“Visto que a reforma litúrgica provocou modificações na disposição do espaço, deve-se ver que essas mudanças não acontecem sem dificuldade, sobretudo quando intervém em edifícios concebidos de acordo com outra lógica. Por exemplo, hoje ocupamos pontos deste espaço onde não fora previsto que palavras seriam pronunciadas. Então, violentamos o lugar. A arquitetura violentada não entra mais em ressonância com a assembleia. Ela só pode – ela só pode responder – se a mantivermos no lugar correto.”[14]
TODAVIA, ESSA MODIFICAÇÃO OCASIONA DIFICULDADES REAIS
“O problema da reconversão das igrejas tradicionais, percebemos devidamente, não é simples nem fácil de resolver. Em primeiro lugar, a forma de nossas antigas igrejas não corresponde às mudanças desejadas pelo concílio.”[15] Por exemplo, “uma vez o altar definitivo instalado (voltado para o povo), será preciso considerar a supressão, o deslocamento ou qualquer outra decisão para o antigo altar. Tal operação não pode acontecer sem a opinião de um arquiteto competente. A arquitetura de uma igreja foi concebida frequentemente em função do altar no fundo do coro. Mudar o altar não modifica somente o mobiliário, mas transforma as linhas arquitetônicas.”[16]
“As igrejas dificilmente correspondem a usos distintos daqueles pelos quais foram concebidas: na maioria delas, o conjunto é concebido para assembleias “compridas”. Desde algum tempo, o plano das igrejas mudou: elas são concebidas para assembleias “largas”, onde as pessoas se veem, onde as pessoas podem se entender, se comunicar. Às vezes, pode-se adaptar uma igreja antiga nessa perspectiva: é sempre difícil.”[17] “É indubitável que nossas belas igrejas alongadas e cheias de uma floresta de colunas favorecem mais a oração solitária que a reunião de um povo; as igrejas novas nos impedem, ao contrário, de nos isolar.”[18]
CONTUDO, NÃO É POSSÍVEL MANTER AS COISAS COMO ESTÃO
Como a qualidade da celebração, de acordo com as novas normas litúrgicas, depende de um ambiente arquitetônico apropriado, não é possível deixar as coisas como estão. O padre Gélineau nota, com efeito, “a dificuldade demasiada óbvia que encontram ao querer inscrever a liturgia pós Vaticano II em espaços e volumes concebidos para uma liturgia de um tipo muito diferente.”[19]
Os liturgistas não cedem: “Destacamos ainda que os padres são convidados a prosseguir a mudança das igrejas em função das exigências da liturgia. Em particular, é-lhes recomendado colocar o Santíssimo Sacramento em uma capela distinta da nave principal da igreja, e dar um novo lugar aos tesouros de arte sacra, se for necessário retirá-los de seu local atual.”[20]
Logo, é preciso considerar a modificação da disposição das igrejas tanto quanto for necessário e possível, para adaptá-las à nova liturgia. Notar-se-á que, desde o início, algumas disposições são mais favoráveis que outras. “Uma igreja do tipo semicircular, onde todos se veem uns aos outros, se sentem próximos, permite, certamente, uma melhor aplicação da reforma pós-conciliar que uma nave alongada, construída de acordo com os cânones estéticos e religiosos.”[21]
AS ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS
Porém, dado que, muito frequentemente, este não é o caso, é preciso mergulhar “na transformação da adaptação interior das igrejas através do mundo, em vista da renovação da celebração da eucaristia.”[22] Logo, é preciso instalar o altar de frente para o povo[23], projetar o ambão, situar novamente a reserva eucarística, redistribuir os assentos. “Este espírito nos leva mais adiante ainda: a escolha de bancos no lugar de cadeiras (a fim de evitar os movimentos de viragem e o barulho que eles ocasionam), a supressão dos genuflexórios (o fiel deve ficar de pé ou sentado durante a ação litúrgica).”[24]
Em resumo, devemos reconsiderar a adaptação geral da domus ecclesiæ. “Esta prescrição severa em relação aos altares menores (a saber, sua supressão) vale, a fortiori, para os múltiplos objetos de devoção que ainda se espalham tão frequentemente pelas paredes e colunas de nossas igrejas: via-sacra, estátuas, confessionários indiscretos, etc.. Se se situamem capelas separadas do espaço principal da igreja, eles dispersam a assembleia quando esta, na eucaristia, é chamada a dar um sinal de unidade.”[25]
“As igrejas, com efeito, mesmo as tombadas, são, acessoriamente, apenas museus. Em primeiro lugar, elas cumprem uma função cultual precisa. Logo, é normal que sua adaptação, seu mobiliário, respondam às necessidades da liturgia do momento. Ora, esta implica novos modos de se reunir; ela exige um mobiliário realmente móvel; ela conduz ao abandono do uso de certos objetos litúrgicos; ao reagrupar algumas paróquias, ela deixa algumas igrejas inutilizadas. Tudo isso tem consequências práticas importantes, e é preciso reconhecer que as igrejas antigas nem sempre correspondem às adaptações desejadas.”[26] “A reforma requer criações novas: a adaptação das igrejas, com o altar voltado para os fiéis, o lugar onde é celebrada a palavra de Deus, a cátedra do celebrante, a capela do Santíssimo Sacramento, uma nova concepção do confessionário.”[27]
ESSAS TRANSFORMAÇÕES EXPRIMEM A NOVA ECLESIOLOGIA CONCILIAR
“Modificando o rito, a reforma comportará também uma nova concepção da estrutura de nossas igrejas? Sim, e sob diferentes aspectos. Inicialmente, insistindo sobre o sentido comunitário da missa enquanto assembleia do povo de Deus, a reforma impõe que todo mundo seja capaz de seguir o rito que acontece sobre o altar. De um lado, portanto, ela tende a eliminar todos os ecrãs (colunas, pilares…) que impedem uma visão clara do altar, o que foi tornado possível atualmente pela evolução das técnicas arquitetônicas. Do outro, ela recoloca o altar no centro, não geométrico, mas ideal. E realçando o serviço da assembleia, a reforma torna necessária a busca de lugares convenientes para o celebrante, seus ministros, os leitores, o ambão, etc.. Ela reduz, pelas mesmas razões, os altares menores, nocivos à unidade da assembleia, e simplifica, por isso mesmo, os ornamentos que acabam por ofuscar o altar.”[28]
Não é de se espantar essa necessidade de uma reorganização arquitetônica, pois se o contentor influi sobre o conteúdo, por sua vez, o conteúdo deve reagir sobre o contentor. “A Igreja pós-conciliar conhece uma profunda mutação, e é normal que a igreja-edifício sofra seus efeitos.”[29] Efetivamente, “a reforma litúrgica impõe a muitos uma nova disposição dos lugares de culto.”[30]
“Que (a renovação da liturgia) tenha incidências sobre os lugares de culto, e que estes se encontrem parcialmente inapropriados em razão da evolução sofrida pela liturgia, ninguém pode se espantar. Na medida em que as ações sagradas foram modificadas, na medida em que a ênfase foi posta sobre uma participação mais total do povo fiel, os edifícios construídos em outros tempos e sob uma ótica diferente deverão, eles também, ser adaptados para responder à sua nova destinação.”[31]
É toda a nova visão eclesiológica que se exprime naturalmente nesta estruturação heterogênea do espaço sagrado. “É óbvio que a reforma litúrgica não pode se limitar a algumas adaptações no teor dos textos lidos pelos ministros, ou nos gestos dos celebrantes. (…) Ela transforma a relação entre o celebrante e os fiéis. Ela divide, de modo novo para nós, ainda que profundamente tradicional, as respectivas funções do celebrante, dos ministros, do coro, do povo. Segue-se que ela reclama uma disposição dos lugares de celebração muito diferente do que havia até aqui.”[32]
DE ONDE A NOVA ADAPTAÇÃO DOS LUGARES
Ora, “hoje, a construção e a adaptação das igrejas pode ser feita à luz de uma concepção muito mais completa e elaborada do espaço litúrgico.”[33]
O padre Roguet, clarividente, discerniu desde cedo o inevitável advento dessa encarnação sensível da renovação. “Algumas reformas, que parecem dizer respeito apenas disposições de textos e ritos, vão modificar insensivelmente alguns acessórios de nossas igrejas, e até algumas de suas estruturas arquitetônicas.”[34] É o que todos poderiam compreender um pouco mais tarde. “A reforma litúrgica visa, com todas as suas forças, a participação plena e ativa de todo o povo. Para que isso seja possível, é preciso uma arquitetura adaptada. (…) A renovação litúrgica e o modo com o qual a Igreja se situa no mundo apelam a um novo tipo de arquitetura.”[35]
AS NOVAS IGREJAS A SEREM CONSTRUÍDAS DEVEM SER MÓVEIS E PROVISÓRIAS
“O caráter monumental e definitivo do que construímos é inadequado à mobilidade presente, sensível na própria Igreja: os problemas, frequentemente insolúveis, gerados pela adaptação das igrejas antigas às necessidades atuais, não existem apenas nas novas formas da celebração litúrgica, correm o risco de surgir, daqui a cinco ou dez anos, para as igrejas que acabamos de construir (…) Nas condições atuais, pareceria normal conceber esse lugar de reunião, à imagem das atividades da comunidade, como um lugar multifuncional, utilizável para outros fins além das cerimônias litúrgicas. Assim, uma domus ecclesiæ que poderia ser obtida em um ou dois andares de um grande imóvel, e contaria, além de algumas pequenas salas (uma delas podendo ser adaptada como oratório para a oração privada e a visita ao Santíssimo Sacramento) e os escritórios dos permanentes, uma grande sala adaptável para diversos usos (conferências, reuniões, festas, recepções, liturgia, etc.) no meio de um mobiliário que seja realmente móvel.”[36]
Ora, “é claro que é preciso abandonar atualmente o conceito mais ou menos pagão e triunfalista do templo, onde predominam os elementos da monumentalidade e do espaço sagrado, para reencontrar o conceito cristão da assembleia, onde predominam os valores da humildade, da interioridade e as relações personalísticas. As igrejas voltariam a se tornar, então, casas-igrejas em vez de santuários do Altíssimo.”[37]
“É preciso ser ouvida uma advertência. Hoje, a liturgia está no cadinho: o que serão as formas de culto no futuro, não podemos dizer. Por essa razão, não se pode projetar igrejas em função da única concepção atual da liturgia, sem correr o risco de vê-las obsoletas na hora de sua realização. Como o movimento litúrgico avança, disso resultam novas ideias sobre o culto (…). Em última análise, os edifícios religiosos devem ser edifícios modernos para o homem moderno.”[38] “O que supõe que um edifício cultual seja, por vocação, inacabado: menos perfectível que evolutivo, disponível, ao menos em certa medida. (…) Não é necessário se preparar para evoluções, reconversões imprevisíveis no interior mesmo da duração de vida provável de nossas construções?”[39]
IGREJA É CHAMADA A SE TRANSFORMAR DE MODO PERMANENTE
Com efeito, “se a Constituição (sobre a liturgia) for observada em sua letra e em seu espírito, a liturgia não corre mais o risco de se fixar, de se tornar imóvel. Como uma árvore que tem fortes raízes e cuja seiva é nutritiva, ela dará, em seus galhos que vivem e se estendem, flores novas e frutos novos.”[40]
É neste sentido que o Cardeal Lercaro, então presidente do Consilium de Liturgia, orientava as pesquisas em sua mensagem ao simpósio dos artistas, realizado em 28 de fevereiro de 1968, em Colônia. “Sem dúvida alguma, dizia ele, uma coisa é muito clara: as estruturas arquitetônicas das igrejas devem ser modificadas tão rapidamente quanto se modificam hoje as condições de vida e as moradas dos homens. Devemos ter em mente, mesmo quando construímos um lugar de culto, o caráter extremamente transitório dessas estruturas materiais, cuja função é uma função de serviço em relação à vida dos homens. Deste modo, evitaremos que as gerações futuras se encontrem condicionadas por igrejas que consideramos hoje como igrejas de vanguarda, mas que, para elas, correm o risco de serem não mais que edifícios velhos. Experimentamos hoje, por nossa vez, esse condicionamento: sentimos com quais dificuldades as maravilhosas igrejas do passado se adaptam à nossa sensibilidade religiosa, com que força de inércia elas se opõem às indispensáveis reformas da ação litúrgica. (…) Logo, não tenhamos a pretensão de construir igrejas para os séculos futuros, mas contentemo-nos a edificar igrejas modestas e funcionais, que convém às nossas necessidades e diante das quais nossos filhos se sintam livres para repensar novas, abandoná-las ou modificá-las assim como seu tempo e sua sensibilidade religiosa lhes sugerirem.”[41] Essa reflexão de seu presidente correspondia perfeitamente às perspectivas do Consilium de liturgia e de seu secretário, Dom Bugnini, como testemunham os dois textos de sua revista oficial, sobre os quais concluiremos. “O trabalho da reforma litúrgica não acabou, e, conforme o espírito do Concílio, não deve ter fim. A liturgia, como também a Igreja, enquanto a consideramos sob seu aspecto humano, está inevitavelmente sujeita a uma contínua reforma, que nasce da vida eclesial, afim que a Igreja seja realmente adaptada ao tempo atual, à cultura de hoje e ao momento histórico.”[42] “A reforma litúrgica continuará sem limitação de tempo, espaço, iniciativa e pessoa, de modalidade e de rito, afim que a liturgia permaneça viva para os homens de todos os tempos e de todas as gerações.”[43]
Notas:
[1] E. Vauthier, “L’aménagement des églises”, Esprit et Vie – L’Ami du clergé 27, 5 de julho de 1984, p. 393.
[2] Guy Oury, “L’aménagement des églises – Un aspect du renouveau liturgique”. L’Ami du clergé 6, 10 de fevereiro de 1966, p. 89.
[3] “Simple dialogue à propos de l’espace liturgique”, Comunidades e Liturgia 6, novembro-dezembro, 1978, p. 545.
[4] “Simple dialogue à propos de l’espace liturgique”, Comunidades e Liturgias 6, novembro-dezembro, 1978, p. 546.
[5] “O congresso da arte sacra de Avignon”, Notas da pastoral litúrgica 137, dezembro 1978, p. 63.
[6] Yves Congar, Vatican II, Le concile au jour le jour, première session, Cerf-Plon, 1963, p. 23.
[7] Jean-Yves Quellec, “Le Dieu de nos églises”, Comunidades e Liturgia 4, setembro 1981, p. 275 e 278.
[8] Philippe Boitel, “Une église peut-elle être un musée?” Informations catholiques internationales 402, 15 de fevereiro de 1972, p. 5.
[9] “Vêtements, objets, espaces liturgiques”, Notas de pastoral litúrgica 105, agosto de 1973, p. 26.
[10] Lucien Deiss, Les ministères et les services dans la célébration liturgique, éditions du Levain, 1981, p. 8.
[11] Roger Béraudy, “Introduction” in Espace sacré et architecture moderne, Cerf, 1971, p. 7.
[12] Charles Wackeinheim, Entre la routine et la magie, la messe, Centurion, 1982, p. 23.
[13] “O congresso de arte sacra de Avignon”, Notas de pastoral litúrgica 137, dezembro 1978, p. 64.
[14] Paul Roland, “Libre propos sur l’espace liturgique”, Comunidades e Liturgias 4, setembro de 1981, p. 296.
[15] Jean Huvelle, “Réforme liturgique et aménagement des églises”, Revue diocésaine de Tournai, 1965, p. 236.
[16] Thierry Maertens et Robert Gantoy, La nouvelle célébration liturgique et ses implications, Publications de Saint-André-Biblica, 1965, p. 57.
[17] “Bâtir une célébration”, Célébrer 151, abril 1981, p. 14.
[18] Henri Denis, L’esprit de la réforme liturgique, Société nouvelle des imprimeries de la Loire Républicaine, 1965, p. 27.
[19] Joseph Gélineau, Demain la liturgie, Cerf, 1976, p. 29.
[20] “L’instruction sur le culte eucharistique montre que la mise em oeuvre de la réforme est fermement poursuivie”, Informations catholiques internationales 290, 15 de junho de 1967, p. 8.
[21] Jean-Claude Crivelli, Des assemblées qui célèbrent: une pratique des signes du salut, Comission suisse de liturgie, 1980, p. 11.
[22] Pierre Jounel, “Le missel de Paul VI”, La Maison Dieu 103, 3º trim. 1970, p. 32.
[23] “Não se adotará o altar voltado para o povo definitivo, e as consequências que ele traz, senão depois de uma catequese que poderia ser centrada ou sobre o sentido da assembleia, ou sobre aquele da presença de Deus na comunidade. Poder-se-á explicar aos fiéis que a assembleia cristã não é somente uma assembleia de homens voltados para seu Deus, pois Deus se encarnou nela, e é no interior dela própria que ela tem de descobri-lo” Thierry Maertens et Robert Gantoy, La nouvelle célébration liturgique et ses implications, Publications de Saint-André-Biblica, 1965, p. 16).
[24] Thierry Maertens et Robert Gantoy, La nouvelle célébration liturgique et ses implications, Publications de Saint-André-Biblica, 1965, p. 21.
[25] Thierry Maertens et Robert Gantoy, La nouvelle célébration liturgique et ses implications, Publications de Saint-André-Biblica, 1965, p. 21.
[26] Philippe Boitel, “Une église peut-elle être un musée?”, Informations catholiques internationales 402, 15 fevereiro de 1972, p. 4.
[27] “Interview du cardinal Knox”, La Documentation catholique 1674, 20 de abril de 1975, p. 368).
[28] Cardeal Giacomo Lercaro, “Nouvelle étape de la réforme liturgique: le pourquoi du comment”, Informations catholiques internationales 235, 1º de março de 1965, p. 26.
[29] Philippe Boitel, “Quelles églises pour demain?” Informations catholiques internationales 388, 15 de julho de 1971, p. 22.
[30] “Dimanche et mission pastorale dans un monde paganisé”, Notas de pastoral litúrgica 57, agosto de 1965, p. 10.
[31] Guy Oury, “L’aménagement des églises – Un aspect du renouveau liturgique”, L’Ami du clergé 6, 10 de fevereiro 1966, p. 89.
[32] Commission épiscopale de liturgie, «Le renouveau liturgique et la disposition des églises», Notas de pastoral litúrgica 58, outubro de 1965, p. 41, ou La liturgie, Documents conciliaires V, Centurion, 1966, p. 201.
[33] Frédéric Debuyst, «Quelques réflexions au sujet de la construction d’espaces liturgiques», Communautés et Liturgies 4, setembro de 1981, p. 285.
[34] A.M. Roguet, «Le signe du vin», Notas de pastoral litúrgica 66, fevereiro de 1967, p.43.
[35] F. Agnus, «Architecture et renouveau liturgique», Notas de pastoral litúrgica e 76, outubro de 1968, p. 46.
[36] Pierre Antoine, «L’église est-elle un lieu sacré?», Études, março de 1967, p. 442–444.
[37] Dieudonné Dufrasne, «Contribution à une spiritualité du samedi saint», Paroisse et Liturgie 2, março-abril de 1972, p. 115.
[38] J. G. Davies, «La tendance de l’architecture moderne et l’appréciation des édifices religieux», in Espace sacré et architecture moderne, Cerf, 1971, p. 94, 95 et 99.
[39] Denis Aubert, «De l’église à tout faire à la maison d’église – Expériences à
Taizé» in Espace sacré et architecture moderne, Cerf, 1971, p. 110 e 112.
[40] Mgr H. Jenny, «Introduction» in La liturgie, Centurion, 1966, p.41.
[41] Giacomo Lercaro, “Mensagem ao simpósio dos artistas realizado em Colônia, em 28 de fevereiro de 1968”, Maison Dieu 97, 1º trim. 1969, p. 16-17, ou em Espace sacré et architecture moderne, Cerf, 1971, p. 25-26.
[42] Anschaire J. Chupungco, «Costituzione conciliare sulla sacra liturgia. 15E anniversario», Notitiæ 149, dezembro de 1978, p. 580.
[43] «Rinnovamento nell’ordine », Notitiæ 61, fevereiro de 1971, p. 52.