João Mazio, homem ilustre e grande defensor do Papado contra os gibelinos, possuía um filho único de 19 anos. Moço distinto e adornado das mais belas virtudes.
Preparava-se o casamento com uma donzela, digna dele, quando traiçoeiramente foi assassinado. É fácil imaginar a dor que sentia D. João ao receber tão funesta nova.
Sem perda de tempo mandou seus vassalos em seguimento do covarde traidor, com a ordem de traze-lo vivo ou morto.
O perseguido tratou de refugiar-se na primeira casa que pôde. E foi exatamente em um prédio que pertencia a D. João.
Voltou um mensageiro a comunicar a feliz noticia ao irado pai.
– Senhor, o criminoso acha-se em vossas mãos, ordenai o devemos fazer com ele.
O primeiro pensamento, que lhe passou pela cabeça, foi dar-lhe a morte com as próprias mãos. Mas pediu que esperasse um instante.
Muito devoto de Maria Santíssima, retirou-se a fim de solicitar conselho.
Ajoelhou-se perante belíssima imagem, em seu oratório. Muito após, levantou-se todo calmo, buscou vultuosa soma de dinheiro e falou ao núncio:
– Dê este dinheiro e meu melhor cavalo ao assassino, e diga-lhe que fuja prontamente.
O criado não compreendeu tal gesto. Estava a pensar que a dor lhe transtornara a mente.
Mas D. João repetiu:
– Obedeça, jamais hei de mudar o que Maria me aconselhou.
O doméstico partiu sem replicar.
O réu, admiradíssimo e confuso, pôs-se a salvo prontamente, envergonhado e arrependido de seu crime.
Voltou D. João resignado a seu quarto, e coisa inaudita! (escreveu Appiani na Vida de Santo Emídio) encostou sobre o genuflexório diante da imagem uma carta escrita de punho próprio por seu filho com os dizeres:
– “Amadíssimo pai, tão agradável tem sido a Deus a generosa misericórdia que, por amor de Maria, haveis usado para com o assassino, que, em prêmio dela, fui logo livre das penas do purgatório que devia sofrer por vários anos. Subo agora para o céu. Dentro de um ano, Deus vos dará outro filho. Continuai a viver cristãmente. Eu rogarei por vós no céu”.
Com efeito, um ano depois, e justamente no aniversário da morte do filho, D. João celebrava o nascimento de outro.
Como poderia gesto tão nobre e generoso não ser premiado por Nossa Senhora!
Como Maria Santíssima é boa! – Frei Cancio Berri C. F. M.