O conhecido jesuíta Alexandre Baumgartner viajava certa vez com dois companheiros pela Islândia. De uma feita tiveram de pernoitar numa quinta, pertencente a uma família protestante, onde foram servidos de maneira modesta e simples, mas sincera e leal. No momento de separação, o Pe. Geyer, um dos companheiros de Baumgartner, convidou a senhora da casa a escolher como lembrança uma das três imagenzinhas que lhe foram apresentadas: a de Cristo, a da Mãe de Deus, e a do Anjo da guarda. A senhora fixou bem as três imagens e escolheu a da Mãe de Deus. Perguntou-lhe então o Pe. Geyer se ela venerava também a Maria. Sem delongas respondeu a protestante: “Certamente, pois Ela é a Mãe de Nosso Senhor!”
Se essa mulher que não tinha a felicidade de pertencer à nossa Igreja Católica, possuía tais sentimentos para com a Bem-aventurada Virgem Maria, não se esforçará uma boa católica, muito mais ainda, em honrá-lA fielmente e com todo o zelo? Faze-o também e alcançarás muitas bênçãos.
1º- Venera, fielmente, a Bem-aventurada Virgem Maria, por Sua relação íntima com o Salvador.
Nenhum homem, por mais perfeito, nenhum anjo, ainda o mais puro e mais elevado, esteve em relação tão intima e tão estreita com Deus como a Virgem Maria. O Filho Eterno e consubstancial de Deus, quando assumiu no tempo a natureza humana para nossa salvação, A escolheu para Sua verdadeira Mãe carnal. Ela trouxe, portanto, em Seu seio virginal Aquele que o Céu dos céus não pode conter; deu à luz, no tempo, Aquele que desde toda a eternidade foi gerado pelo Pai Celeste; recebeu diariamente em Nazaré provas de reverência e obediência Daquele cujo aceno obedecem os anjos do céu.
Ela se acha numa relação toda singular e extraordinária para com o Divino Salvador; criatura alguma pode nisto equipar-se a Ela. Se amamos a Jesus Cristo sobre todas as coisas, se Ele é nosso tudo, como realmente deve ser, porventura não será também Maria digna de veneração toda particular? Objetos que se relacionam com o Divino Salvador apenas de modo extrínseco e transitório têmo-lo nós os cristãos por santificados; pensamos, com amor e veneração na Sua Gruta; na Sua Cruz e no Seu Sepulcro. Maria, que conviveu com Ele, na mais íntima relação que podemos imaginar, não será mil vezes mais digna da nossa veneração?
Se o Divino Salvador nos tratou com tanto amor, poderia porventura mostrar-se frio e indiferente para com Maria e considerá-lA como outra mulher qualquer? Tal frieza não seria diretamente desprezar o Seu próprio Filho?
2º- Venera fielmente a Bem-aventurada Virgem Maria, pois, assim, corresponderá à insistente vontade do Divino Salvador.
É um fato, por si mesmo compreensível que todo filho bom e nobre muito se compraz em ver sua querida mãe estimada e honrada. Temos no Evangelho um episódio donde devemos inferir que Jesus Cristo exige de nós veneração a Sua Mãe Santíssima. Quando a Virgem Maria visitou Sua prima Isabel e foi por esta alegremente saudada, proferiu as seguintes palavras dignas de atenção: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc., 1,48)
Não era mesmo uma palavra arrojada?
Houve muitas princesas e rainhas ilustres, que foram honradas e festejadas por seu povo; senhoras e donzelas houve que, dotadas de notáveis dons de espírito, de coração e de corpo, e colocadas em brilhante posição, se distinguiram entre milhões, e por isso, vaidosas, recebiam com prazer, homenagens; todavia, nenhuma delas pode dizer com verdade: todas as gerações futuras me honrarão e exaltarão. Somente uma, apenas Maria, pronunciou esta palavra resoluta e audaz e quando assim se exprimiu era uma simples donzela desconhecida, de quem ninguém falava na pequena e insignificante cidade onde nascera. E, contudo, quão maravilhosamente se realizou a célebre profecia! Ainda hoje, depois de vinte séculos. Maria é louvada e exaltada por milhões de todas as condições e de todas as classes da sociedade.
Enquanto as mais ricas e mais notáveis senhoras que viveram na terra caíram no esquecimento, a modesta e humilde donzela de Nazaré ainda hoje é honrada em toda a parte: para este fato singular existe uma única explicação: foi o próprio Divino Salvador
– que Ela, quando pronunciou aquela palavra inaudita e audaz, trazia no Seu seio virginal – que Lhe pôs nos lábios o vaticínio e se incumbiu de realizá-lo. Somente Deus estava em condições o fazer. Mas, estas palavras vêm do próprio Divino Salvador e, portanto, Ele quer que se cumpram; quer que nós veneremos sua Mãe. “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”.
3º- Venera fielmente a Bem-aventurada Virgem Maria, pois ela é tua Mãe espiritual de graças.
Cristo é nossa cabeça espiritual, donde recebemos toda a vida superior, todas as graças, toda a força sobrenatural, toda a beleza. Nós somos seus membros que vivem por Ele e
para Ele. Maria é a verdadeira Mãe de Cristo, a Mãe da nossa Cabeça e por isto, nossa mãe também; pois a mãe da cabeça, é também a mãe dos membros. Se, porém, Maria é nossa Mãe de graças, devemos então amá-lA e venerá-lA como tal, porque um filho deve a sua mãe veneração e amor.
Perguntaram certa vez a Santo Estanislau Kostka se também amava Maria. Cai-lhe dos olhos uma lágrima, coram-se-lhe as faces e alegremente comovido pronuncia estas palavras: “Porque não deveria eu amar a Maria, se Ela é minha Mãe?” Não censuramos com toda razão ao filho que não ama sua nobre mãe? Não seríamos dignos de todo vitupério se nos mostrássemos frios e indiferentes para com a nossa Mãe de graças? Poderemos acaso admitir que tal desprezo possa agradar ao Divino Salvador, nossa Cabeça espiritual? De modo algum.
4º- Venera fielmente a Bem-aventurada Virgem Maria, porque te será isto infinitamente útil e salutar.
Os Santos Padres exaltam a Maria como dispensadora das graças de Deus. Não nos devemos surpreender com semelhante distinção. De fato. Se o Divino Salvador, autor de todas as graças, no altíssimo mistério da Encarnação se deu a nós por meio de Maria, será para estranhar que faça as Suas graças descerem a nós pelas mãos dEla, sendo esta a Sua vontade? Podes, portanto, firmemente confiar que, se apresentares as tuas súplicas a esta poderosa intercessora, receberás muitas graças por meio dEla.
E aquele comércio espiritual, que na tua piedade e veneração manténs com Ela, não será altamente salutar? Com sobeja razão sustenta o provérbio: “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Se o convívio com os homens bons e perfeitos atua sobre ti enobrecendo-te, não ganharás moralmente no trato espiritual, com a mais pura e mais nobre criatura que já existiu sobre a terra? E esta é Maria. Um olhar íntimo para Ela, a mais humilde das virgens, não te fará também modesta e humilde? A oração dirigida a Ela, a mais pura das rainhas, das virgens, não levará também ao teu coração o amor à pureza e à virtude.
É o que indica um delicado retábulo que se encontra numa antiga igreja da Alsácia. Uma jovem, ajoelhada aos pés de Maria, mostra-Lhe, com a mão direita o coração. Maria, cheia de clemência, lança um olhar sorridente sobre jovem e a mimoseia com um alvo e delicado lírio. Sobre o quadro lêem-se estas poucas, mas significantes palavras: “Presente por presente”.
Como o culto a Maria se acha tão fundamente estabelecido, e te é tão benéfico, presta-lhe com fidelidade, e perseverança. Cada dia dirige à Mãe de Deus alguma prece. Seja o terço a tua oração predileta; recita diariamente pelo menos uma dezena dele (um mistério), se não tiveres tempo de rezar um terço de cinco dezenas.
Segundo a vontade da Santa Igreja, o sábado era consagrado ao culto particular de Maria. Assinala a Sua festa por meio de uma devota recepção da Santíssima Eucaristia. Traze consigo por amor a Ela o escapulário e, quando puderes, inscreve-te nalguma associação ou confraria que esteja sob a especial proteção e observa-lhe depois, conscienciosamente os estatutos. É provável que exista em tua paróquia, uma congregação mariana, e qual pode fazer, grande benefício se bem dirigida.
Se desta maneira, ou de outra semelhante, te esforçares por ser uma boa filha da Bem-aventurada Virgem Maria, então, certamente Ela te mostrará grande benevolência e grande amor; alcançarás, por seu intermédio, muitas graças; no decorrer de toda a tua vida será tua Mãe amorosa e tua protetora. Referindo-se a Ela, diz São Bernardo: “Se Maria te sustentar não cairás; se Ela te proteger, nada temerás; se Ela te guiar; não te cansarás; e se Ela te amar, chegarás ao porto da paz”.
Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid