Quais são as condições gerais da formação da vontade?
Para as crianças, as condições gerais da formação da vontade são:
Umas de preparação geral:
1º – A higiene apropriada ao bom funcionamento dos nervos.
2º – A criação dos hábitos.
Outras preparatórias da decisão:
3º – A iluminação da inteligência.
4º – A docilidade para com a inteligência.
Outras preparatórias de execução:
5º – A utilização do poder moral do sentimento.
6º – A energia da ação.
Outras preparatórias da perseverança:
7º – A duração da decisão.
8º – A duração do esforço.
Capítulo I
A higiene apropriada
A higiene tem uma tarefa a desempenhar na formação da vontade?
Sem entrar em particularidades, diremos somente que o sistema nervoso e o sistema muscular ocupam um lugar importante entre as energias que a vontade põe em jogo para passar da aspiração à realização.
Logo, a vontade depende deles do mesmo modo e da mesma medida que o operário depende do seu instrumento de trabalho.
Como poderá a higiene desempenhar a sua tarefa?
“O organismo será tanto mais condescendente quanto mais inteligentemente for tratado.” (J.Guibert, ob. Cit., p.29)
A alimentação, a digestão, os exercícios corporais influem sobre a saúde geral, sobre a composição e circulação do sangue, e atuam, portanto, necessariamente, sobre o sistema nervoso.
A higiene deve cuidar da alimentação, eliminar as causas de perturbações, tornar os músculos flexíveis para fazer do organismo um servidor dócil à disposição da vontade, não um tirano imperioso que contrarie todas as decisões.
Capítulo II
A criação dos bons hábitos
Que é hábito?
O hábito é “uma tendência adquirida pelo ser vivente para reproduzir certos atos, ou suportar certos estados, tanto mais facilmente quanto mais vezes tenham sido suportados”. (F.Buisson. Educação da vontade, t. I,p. 18)
O hábito é uma segunda natureza.
O hábito, para merecer tal nome, deve ser constante.
A importância do hábito
Qual é a importância do hábito?
É imensa.
Para podermos fazer uma idéia, consideremos sucessivamente a sua influência no sentido do mal e a sua influência no sentido do bem.
Qual é a importância dos maus hábitos?
Os maus hábitos contraem-se mais facilmente e mais depressa que os bons, “porque o mal, considerado em si mesmo, é a inclinação da nossa natureza, e, pelo que ele tem de revolta contra Deus, é a tendência do nosso estado de queda moral”. (Monfat, Os verdadeiros princípios da educação, p. 74).
Cada ato mau diminui a força do bem.
“Quanto mais pecados, tanto mais golpes de machado na raiz; por isso, a árvore não se pode sustentar por muito tempo; inclina-se pelos seus hábitos viciosos; as menores tentações fazem-na vacilar. Os movimentos mais leves imprimem-lhe uma inclinação cada vez mais perigosa.” (Bossuet, Sermão para o III domingo do Advento, 1º capítulo. São Paulo, II Timo, 11,26).
Os maus hábitos convertem-se em tiranias. A alma, por causa deles, sofre o jugo de maus senhores “que a mantêm cativa e a fazem agir à sua vontade”.
1º – Os bons hábitos são outras tantas “naturezas felizes” que facilitam a virtude; que constituem um entusiasmo quase irresistível para o bem; que impedem o desabrochar e desenvolvimento dos defeitos; que geram a felicidade.
2º – A criança a quem se fazem contrair bons hábitos segue, com facilidade e espontaneidade, o caminho da virtude; os seus pais pouquíssimas vezes têm que intervir; só muito raramente têm que repreender e punir. É para todos um alívio e a felicidade. Portanto, toda a educação se baseia nos bons hábitos que as crianças tenham sido obrigadas a contrair.
Os meios a empregar para se fazer contrair um hábito
Qual é a primeira regra a seguir para fazer contrai bons hábitos às crianças?
É a de começar cedo.
Há deste método duas vantagens:
1ª – A primeira é que a criança muito nova depressa adquire hábitos, ao passo que, numa idade mais avançada, opõe resistências físicas e morais quase invencíveis.
2ª – A segunda é que, quando se começa cedo, os bons hábitos superam os hábitos maus, o que é duma importância capital.
Qual é a segunda regra a seguir para fazer contrair bons hábitos às crianças?
É a de obrigar as crianças a praticarem as mesmas ações sempre da mesma maneira e à mesma hora, se for possível. A alteração lança a confusão nas idéias e produz a hesitação nos atos.
Qual é a terceira regra?
É a de fazer repetir muitas vezes os mesmos atos. Se a ação não se repetir, a modificação da alma não adquire essa fixidez que é a condição do hábito.
Qual é a quarta regra?
É a de obrigar a praticar as ações com atenção. (Há, simultâneamente, em muitos atos, um lado material que poderia sem inconvenientes conservar-se automático, e um lado intelectual, moral e sobrenatural que exige, para ter algum valor, uma parcela de atenção positiva.)
1º – Sem este cuidado, o hábito degenera em rotina e deixa de ser completamente bom.
2º – Demais, como se faz sempre de boa vontade aquilo que se faz bem, a fidelidade a esta quarta regra constituirá para a criança uma garantia de perseverança que mais facilitará a tarefa dos pais.
Quais são os hábitos que se podem obrigar a contrair com utilidade?
São: o bom caráter; a sinceridade; a ordem; a probidade; o espírito de sacrifício.
Catecismo da educação – Abade René de Bethléem