BELEZA FEMININA E MODÉSTIA – PARTE 1/2

Esta é a primeira parte de um sermão proferido pelo Pe. Louis Pieronne, FSSPX. O tema específico desta parte é beleza e modéstia. 

Fonte: SSPX USA – Tradução: Dominus Est

A miséria do homem

Ao falar de modéstia, nossas imperfeitas palavras podem, às vezes, levar a mal-entendidos. É fato que o pecado vem do coração do homem e não do corpo da mulher. É o coração ferido pelo pecado original e sujeito à concupiscência. O corpo feminino é uma obra de Deus, uma maravilha cuja grande dignidade é ser templo da vida. É o lugar onde todos fomos concebidos e carregados. É o lugar onde todos nós recebemos vida. Nunca poderemos ter respeito suficiente pelo corpo da mulher, onde ocorre um mistério tão grande. Não é este corpo que está contaminado, mas a reação da qual ele pode ser o objeto e a ocasião.

Por que, então, pedimos modéstia à mulher? Se este corpo é bom, por que ela o esconderia? Porquê dar-lhe a falsa impressão de ser uma fonte de corrupção, acusando-a de manchar os outros? Para compreender a situação da natureza decaída e as suas exigências, devemos considerar o plano de Deus.

O Plano de Deus

Deus semeia reflexos de Suas próprias perfeições ao longo de Sua obra, distribuindo entre Suas criaturas todas as qualidades que, de alguma forma, revelam Sua majestade. Há uma qualidade que o homem nunca disputou com a mulher – por mais inclinado que seja a ostentar a sua superioridade em todos os domínios – e essa qualidade é a beleza. Deus deu a beleza à mulher como sua prerrogativa e, como a beleza foi feita para ser contemplada, ela foi ao mesmo tempo um presente para o homem. Esta beleza foi o toque final de Deus na harmonia da criação, levando-a à perfeição.

O mundo já era belo, mas a sua beleza era inteiramente material e impessoal. A partir de agora, a beleza é contemplada em uma pessoa, e essa beleza é uma mistura de material e espiritual, uma deliciosa mistura de qualidades do corpo e do coração que chamamos de feminilidade. A admiração de Adão diante de Eva mostra quão necessária era aquela beleza, bem como seu poder sobre o coração do homem para completá-lo e elevá-lo. Eva foi para Adão o mais belo reflexo da própria beleza e bondade de Deus. Em sua inocência original, Adão contemplou com perfeita pureza essa mulher vinda das mãos de Deus, e a própria Eva foi conduzida com alegria por ser objeto daquela admiração cheia de amor.

O esplendor da beleza quebrado pela queda

Com o pecado, a desordem entrou no mundo e no próprio homem. Após o ato de desobediência do homem, o instinto deixou de estar sujeito à alma, que havia deixado de estar sujeita a Deus. A inocência foi perdida. Deus havia fornecido a Adão esse instinto ao ordenar-lhe que crescesse e se multiplicasse, mas o desejo nele era então inteiramente obediente: Adão teria que decidirr transmitir a vida, em consideração ao mandamento de Deus, e o desejo teria seguido essa escolha de seu razão. Se o gênero humano tivesse se desenvolvido dessa forma, com o dom da integridade original naquele estado de inocência, o instinto jamais teria sido capaz de se manifestar fora da estrutura da virtude conjugal. Jamais o desejo teria atraído o homem para outra mulher que não fosse sua esposa. Jamais isso o teria atraído para a sua esposa sem antes ter sido impulsionado pela razão e pelo amor.

Imediatamente após a queda, no entanto, os dois viram que estavam nus – ou seja, Eva sentiu pesar sobre ela aquele olhar de concupiscência desordenada. Adão, que outrora fora fascinado por uma beleza que o elevava, de repente viu-se obcecado pela visão de um corpo que despertava o seu desejo. Ele já não tinha domínio do próprio corpo e foi obrigado a cobrir sua vergonha com folhas que escondiam os movimentos desordenados que já não conseguia impedir. Assim como não dominamos mais o fato de salivar quando alguém nos fala de uma refeição saborosa, o homem agora fica refém do seu próprio instinto diante do corpo da mulher. Ele só pode desviar sua vontade do que está acontecendo nele. Ele não consegue mais apreciar a beleza porque a paixão cega sua razão e só deixa espaço para o desejo. Adão, lembrando-se de sua inocência, ficou confuso e viu-se obrigado, vergonhosamente, a desviar os olhos daquele que antes havia contemplado. A própria Eva escondeu-se deste olhar sob o qual se sentiu reduzida a um objeto.

Beleza no Plano de Redenção

O homem seria para sempre privado de beleza? A mulher seria reduzida apenas a despertar os instintos inferiores? Será que Deus deixaria a humanidade privada da capacidade de contemplar essa reflexão que Ele nos confiou? Em Sua misericórdia, o Senhor não permitiu esse desastre irreparável. Como as Escrituras nos dizem: “Deus deu-lhes vestimentas…”

Sim, Deus criou as roupas (e não a tanga, que serve apenas para esconder a vergonha do homem) para salvar a feminilidade e devolver o tesouro da beleza ao homem e à mulher. Pois quando Adão viu Eva vestida com aquele primeiro vestido, algo que ele nunca tinha visto antes, ele a achou encantadora (tudo o que Deus faz é belo). E percebeu que esta modesta vestimenta escondia o corpo o suficiente para que o instinto não fosse despertado, mas deixava espaço para a elegância e a beleza de que tanto necessitava. E Eva, reencontrando nos olhos de Adão aquele olhar respeitoso, orgulhou-se desta vestimenta que lhe devolveu a dignidade e a capacidade de oferecer uma beleza que eleva. Daquele momento em diante, o modesto adorno da roupa tornou-se o companheiro inseparável, o instrumento necessário, do esplendor da feminilidade. A roupa permite à mulher cumprir o seu dever de beleza para com o homem ferido e tornar-se novamente o reflexo da beleza divina.

Sim, a beleza continua a ser uma missão natural da mulher, inscrita no mais profundo do seu ser, e desde o pecado original esta beleza deve ser redentora.

No entanto, o pecado não trouxe feiura e deformidade ao mundo? O corpo não perdeu, com frequência, a sua beleza? O que então fazer, se a beleza é de fato um dever? Dissemos que a beleza feminina é uma mistura de qualidades materiais e espirituais, de qualidades do corpo e do coração. A beleza do coração pode ser restaurada pela cirurgia da graça, que tem a vantagem adicional de ser gratuita. A feminilidade é sempre bela, e as mulheres se enganam quando imaginam que apenas o corpo é o que conta. Para uma criança, sua mamãe é sempre a mais bela das mães, seja qual for a medida da cintura ou o comprimento do nariz. Ao nosso redor, existem mulheres que nunca seriam contratadas por Hollywood, mas que são ternamente amadas e admiradas. Mais uma vez, o vestuário torna-se um aliado da feminilidade para a recuperação de uma elegância que a natureza recusou e para o reflexo das qualidades do coração. Uma apresentação elegante e de bom gosto consegue mais do que uma grande quantidade de maquilhagem. Os homens são muito mais sensíveis à elegância do que as mulheres supõem, e isso os torna mais atenciosos e ponderados.

A graça da modéstia

Portanto, a modéstia não é, simplesmente, uma restrição exigida pela miséria do homem. Muito menos é uma rejeição desdenhosa do corpo feminino. Pelo contrário, é o único meio, abençoado e concedido por Deus, para preservar não apenas o respeito pelo corpo da mulher, mas também o brilho da beleza da mulher.

O homem casto sofrerá a imodéstia como uma agressão, que despertará seu instinto e fugirá, com desdém, de quem lhe parece uma sedutora. Pelo contrário, sentir-se-á protegido e nobremente atraído pelo brilho da modéstia. O homem sensual tem um orgulho depravado dos movimentos de sua virilidade e buscará a excitação cobiçando a beleza corporal. Mas o seu olhar carnal é apenas um instinto de conquista que não pode ir além do prazer. Seu olhar cego é incapaz de penetrar mais profundamente, até as riquezas da feminilidade, e será necessário um longo e árduo esforço para uma mulher que seduziu através de seu corpo faça um homem perceber que ela é mais do que apenas um objeto…

Sem modéstia o homem não pode reeducar o seu olhar. É a modéstia que opera esta reeducação, libertando-a da cegueira da sensualidade e permitindo-lhe redescobrir a beleza.

Uma ilusão naturalista

Alguns poderiam afirmar que uma educação para a beleza é capaz de reparar esse olhar ferido. No entanto, a história da arte não parece confirmar esta teoria. Quem melhor do que um artista estaria apto a ver a harmonia das formas antes de tudo? Desde sempre, os pintores têm procurado a beleza feminina perfeita. No entanto, a maioria deles terminou como amantes do seu modelo, o desejo da carne seguindo-se à admiração da beleza. Em vez de a arte salvar a beleza, o que tem ocorrido com mais frequência é a escravização da arte à paixão: a beleza colocada ao serviço da sedução.

A arte religiosa – que por vezes sofreu deste mesmo mal, infelizmente, em períodos de humanismo excessivo, esquecendo a gravidade da “queda” – conseguiu, no entanto, imortalizar a beleza feminina em toda a sua modéstia, especialmente através daquele tesouro de imagens em que os artistas se esforçaram para retratar a beleza imaculada da nova Eva, “gloriosa por dentro”. Quantas almas foram sustentadas pelo sorriso dessas estátuas da Santíssima Virgem, por vezes ingênuas nos seus traços, mas sempre majestosas?

Ousamos, portanto, dizer em nome de todos os homens: “Sejam belas e elevem os nossos corações acima da baixeza desses instintos contra os quais lutamos com tanta dificuldade! Não queremos vê-las como um objeto, mas sim admirá-las! Quando Deus tirou Eva do lado de Adão, Ele disse: ‘Façamos-lhe uma companheira como ele.’ Ajude-nos a honrá-las como vocês merecem! Seja para nós redentoras, e não tentadoras! A beleza da sua modéstia será o caminho da salvação para nós.”

Continua…

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