– São duas, não é verdade, padre, as causas principais dos matrimônios infelizes? A ignorância e a presunção.
– Sim, duas mesmo, como já expliquei. E em primeiro lugar a ignorância, que leva a profanar o Sacramento. O Sacramento do matrimônio é de fato o Sacramento em que se cometem mais pecados e sacrilégios.
– Mas de que maneira?!…
– Pelo motivo bem simples, que aos outros Sacramentos em geral se preme-te uma boa preparação religiosa, por exemplo, a primeira confissão, a primeira Comuhão, a Crisma e até a Unção dos doentes; esta preparação habitualmente falta para o matrimônio.
Sobre os outros sacramentos os próprios pais dão instrução mais ou menos suficientes; e para ele muitas explicações se acham no catecismo, nos livros espirituais ou se ouvem na pregação. Para a formação dos jovens em preparação ao matrimônio, poucos há que direta e suficientemente se interessam. E todos sabem, como em geral os noivos, por infelicidade deles, se dispensam facilmente dos sermões e do catecismo.
O outro coeficiente do fracasso de tantos matrimônios é a presunção. A juventude julga saber tudo, conhecer tudo, estar a par de tudo. Mas o que é ainda pior, se algo ignora, vai aprendê-lo da boca de companheiros sem virtude e suspeitos, de pessoas de pouca ou nenhuma prudência, ou na leituta de livros libertinos. Assim em vez de subir, desce; em lugar de instrui-se, envenena-se.
– Então é dever mesmo instruir-se suficientemente e pedir conselhos a pessoas sábias e criteriosas?
– Perfeitamente. Instruir-se pelo estudo do Catecismo e de bons livros, escritos propositalmente para os noivos e os esposos; e aconselhar-se com pessoas prudentes, sábias e idôneas, como por exemplo: o Vigário e o Padre Confessor. Não imitar o fulano que foi ter com um advogado.
– Com advogado? … Conte, Padre; deve ser interessante.
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– Escuta, então! … Era um mocetão, com seus trinta anos, bom como a marmelada, mas ingênuo e simples como criança. Cansado de ficar sem uma companhia e também de pagar a taxa imposta, em seus país, aos solteiros, foi pedir conselho a um advogado. Lá diante do legista, tímido e embaraçado, volvendo e resolvendo o chapéu nas mãos, começou a dizer:
– Senhor advogado, queria casar.
– Muito bem, case, sim.
– Mas estou com dúvida; tenho medo de me arrepender.
– Sim, sim…É o acontece a muitíssimos.
– Portanto?
– Portanto não case.
– Mas não casando, não tenho ninguém que me faça companhia… ninguém a quem deixar os meus haveres! … E então?
– Então case.
– E se casando, caisse em companhia de uma esbanjadora, vaidosa, egoísta e avarenta?…
– Nada mais fácil. Terá que adaptar-se!
– Ai de mim! … e de meus poucos haveres! … E então?
– Então deixe de casar.
– Mas não casando, quem cuidará de mim, quando doente? quem derramará uma lágrima à minha morte? Quem fará uma prece por mim?! …
– Ótimo, ótimo! … Case então.
– Fácil dizê-lo. Mas …se…depois…
– Com os mas…, com os se…, com os depois nada se conclui.
Toda coisa tem o seu lado bom e o seu lado ruim, o bem e o mal, a esperança e o perigo. Aqui convém decidir-se, ou sim ou não !!!
– O senhor me atrapalha… eu queria fazer as coisas… ir devagar… pensar bem.
– Pois não …, pense e reflita bem; depois voltará.
– Muito bem, senhor advogado, assim gosto; vou pensar ainda … muito obrigado … até a volta…
– Um momentinho! Pague primeiro o incômodo!?
– Que incômodo?
– Os conselhos que lhe dei.
– Que conselhos?
– O conselho de casar e de não casar, de esperar e de pensar melhor.
– Pois sim! Compreendi. E quanto devo pelos conselhos?
– Mil liras.
– Misericórdia! … Mil liras! Oh! quanto custa casar!!!
E lá se foi, esfregando o queixo.
Casai-vos bem – Pe. Luís Chiavarino